Seria a Amazônia a fronteira final do capitalismo?

Noam Chomsky é um linguista, filósofo, sociólogo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna”. É professor emérito de linguística no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e leciona na Universidade do Arizona. É autor de mais de 70 livros sobre linguística, conflitos armados, política, mídia e filosofia.

Conversamos com Noam Chomsky sobre as consequências das eleições no Brasil para o mundo, os riscos da expansão da OTAN e as alternativas para as crises social eNoam Chomsky (1928- ) ambiental. Ele retoma a memória dos movimentos sindical e por direitos civis nos EUA e exalta a importância do MST e o MTST na atual configuração da luta de classes.

Em um trecho da entrevista, diante da pergunta sobre a crise ambiental,

Seria a Amazônia a fronteira final do capitalismo?

Chomsky disse:

Pode ser a fronteira final da sociedade organizada na Terra, não apenas para o capitalismo. Assim como foi de conhecimento geral, por um longo tempo, que se as tendências atuais persistirem, a Amazônia, da qual a maior parte é território brasileiro, será obliterada. E, assim, chegaremos a um ponto em que a umidade produzida será insuficiente para sustentar a floresta, e ela se tornará uma savana, ao invés de ser o maior reservatório de carbono, vai se tornar um imenso emissor de carbono.

Isso é um desastre para o Brasil, uma catástrofe que o mundo não terá realmente como superar. Era algo previsto para acontecer em algumas décadas, mas, recentemente, os cientistas brasileiros descobriram que, com o aumento do desmatamento madeireiro ilegal, a mineração, o agronegócio financiado pelo governo Bolsonaro começou a tomar porções da Amazônia que já se encontram em estado crítico — o qual só era esperado para décadas mais adiante.

Uma das piores consequências da eleição desse primeiro turno, foi a eleição de pessoas como Ricardo Salles. Ele é uma liderança da verdadeira campanha para destruir a vida humana na Terra. Isso soa como um exagero, mas não é. É isso que significa a destruição da Amazônia, que é uma das principais formas de comprometer a vida humana.

Voltemos ao dia 8 de novembro nos Estados Unidos. O Partido Republicano pode tomar o Congresso. Eles são 100% negacionistas, não se importam, negam que a mudança climática esteja ocorrendo. E dizem “quem se importa?”. Trump era o mais explícito em relação a isso, mas o resto do Partido Republicano também não se importa, porque está enriquecendo empresas de combustíveis fósseis, cujos lucros estão explodindo.

Muitas outras coisas que estão acontecendo ao redor do mundo e, assim como a destruição da Amazônia, são espantosas. O Ártico tem esquentado bem mais do que os cientistas esperavam, e isso tem como consequência o derretimento do permafrost, que tem uma quantidade astronômica de carbono armazenado e que começa a derreter, liberando consequentemente gases tóxicos na atmosfera.

Uma das principais empresas de energia, a ConocoPhillips acabou de anunciar uma descoberta científica importante. Encontraram uma forma de desacelerar o degelo do permafrost no Alasca, onde exploram petróleo, por um método mediante o qual se introduzem hastes metálicas no gelo. Por que estão fazendo isso? Para que possam endurecer a superfície e extrair o petróleo, mantendo a produtividade. Então não é só capitalismo selvagem — em forma bestial. Atrasaremos o degelo do permafrost para que possamos extrair, precisamente, e mais rapidamente, o material que destruiu o mundo.

Coisas assim estão acontecendo em todo lugar. Muitos estavam bastante empolgados com a incrível proeza de Israel e Líbano terem chegado a um acordo, há poucos dias, sobre uma antiga disputa territorial no mar Mediterrâneo. Mas isso tinha apenas a ver com a repartição das áreas de extração submarina de gás, o que pode ser, na verdade, um golpe de misericórdia mais rápido nos países que possuem costas no Mediterrâneo.

Alguns cientistas descobriram que as estimativas de aumento do nível do mar no Mediterrâneo eram muito moderadas. E a previsão agora é de que, no fim desse século, esse aumento chegará a dois metros e meio. Imaginem isso: dois metros e meio de aumento do nível do mar!

Então, Israel e Líbano estavam discutindo sobre quem vai ter o direito de enfiar a adaga no coração de todas aquelas sociedades. Isso é o que está sendo celebrado. Quando você vai ao sul da Ásia, você presencia coisas similares. É como se aqueles que Adam Smith chamava de “mestres da humanidade” tivessem feito uma aposta para ver quem nos destruiria primeiro.

Alguns dias atrás, a Associação Meteorológica Mundial mostrou sua análise da situação climática global, dizendo que devemos dobrar os investimentos no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis até 2030, poucos anos daqui até lá, se quisermos ter esperanças de sobreviver de forma organizada. Enquanto isso, na Ucrânia, os poderes globais estão investindo recursos escassos na destruição em massa, retrocedendo os esforços limitados que deveriam ser direcionados para lidar com a crise climática. Ao mesmo tempo, condenam a Arábia Saudita por não estar produzindo óleo suficiente para a destruição.

Alguém assistindo isso do espaço, pensaria que essa espécie está enlouquecendo, a luta de classes se tornando completamente bestial.

Leia a entrevista completa.

Fonte: Bolsonaro é um instrumento da guerra de classes global – Uma entrevista com Noam Chomsky – Jacobin Brasil: 27/10/2022

Morreu John P. Meier (1942-2022)

Morreu no dia 18 de outubro de 2022, aos 80 anos de idade, o biblista norte-americano John P. Meier. Fui contemporâneo dele no Bíblico de Roma. Eu fazia o mestrado, ele o doutorado.

Muito conhecido entre nós por sua monumental obra sobre o Jesus Histórico, Um judeu marginal: repensando o Jesus histórico, em 5 volumes, publicados, em inglês,John P. Meier (1942-2022)
entre 1991 e 2016.

Leia uma resenha do primeiro volume de Um Judeu marginal feita por Johan Konings em 1993.

Confira, abaixo, dois textos sobre ele. Um em espanhol, outro em inglês.

 

Fallece J. P. Meier, autor de la investigación más documentada y extensa sobre la vida de Jesús – El Blog de X. Pikaza – 19.10.2022 Xabier Pikaza

Acaba de morir J. P. Meier, noticia tristísima para todos los “amigos” de la historia de Jesús. Fui compañero suyo en el Bíblico de Roma, aunque no tuvimos ocasión de relacionarnos.

Después he seguido apasionadamente su obra, que he comentado varias veces en RR y en mis libros sobre la historia de Jesus.

J. P. Meier sido un historiador ejemplar. He discutido algunos de sus planteamientos, en especial su manera de catalogar y analizar las parábolas. He respondido a su visión del proyecto de Jesús en mi Historia de Jesús. Pero sin él y muchos como él no podríamos haber conocido la trayectoria del proyecto de Jesús. Editorial Verbo Divino ha publicado su obra sobres Jesús. Descansa en paz, sentimos tu ausencia. Sigues estando con nosotros. A mis amigos y colegas de Verbo Divino quiero dar gracias por haber publicado fielmente tu obra: He was the world’s leading scholar of the historical Jesus.

Compendio de su obra

Sacerdote y teólogo católico norteamericano, nacido en New York. Estudió en la Universidad Gregoriana y en el Instituto Bíblico de Roma. Ha sido presidente de la Catholic Biblical Association y profesor de la Universidad Católica de Washington y de de la de Notre Dame. Ha escrito varios libros sobre Jesús y el Nuevo Testamento: Law and History in Matthew’s Gospel (Roma 1976); The Vision of Matthew: Christ, Church and Morality in the First Gospel (New York 1979); Antioch and Rome: New Testament Cradles of Catholic Christianity (en collaboración con R. E. Brown, Philadelphia 1983).

Es autor de la investigación más documentada y extensa sobre la vida de Jesús: A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus I-IV (New York 1991/2009; versión castellana: Un judío marginal. Nueva visión del Jesús histórico I-V, Estella 1998-2018). Meier presenta a Jesús como pretendiente mesiánico, maestro sabio y carismático asesinado, a lo largo de una obra enciclopédica, escrita de forma clara, atractiva y apasionada que constituye, posiblemente el mejor trabajo histórico actual sobre la historia de Jesús.

Meier ha desarrollado una visión multiforme de Jesús, a quien presenta, por otra parte, como la figura más rica y variada del judaísmo de su tiempo, desde una perspectiva histórica y no dogmática. Su trabajo seguirá marcando el pensamiento cristiano de los próximos decenios.

Así resume su visión de Jesús: «Simplemente, como dato fáctico, podemos decir: ningún judío individual de los que podamos identificar, que viviera en Palestina, en aquel tiempo de cambio de era, ha encarnado en sí mismo y, ciertamente, en una carrera que sólo ha durado unos pocos años esta variedad de funciones: (1) Predicador itinerante, (2) profeta escatológico, (3) heraldo del Reino de Dios, (4) hacedor de milagros (así se le suponía), 5) maestro e intérprete de la Ley de Moisés, (6) maestro de sabiduría y tejedor de parábolas y aforismos, (7) gurú personal y líder de una banda itinerante de discípulos, varones y mujeres, (8) profeta judío de Galilea, que terminó siendo crucificado en Jerusalén por el prefecto romano, a causa de su pretensión de ser Rey de los Judíos. (9) Hijo de David…» (cf. Jesús: Un coloquio en tierra santa, Estella 2004, 107-108) (Pikaza, Diccionario pensadores cristianos)

Leia o texto completo.

 

Biography

A native New Yorker, Dr. Meier obtained a BA in philosophy from St. Joseph Seminary, Dunwoodie. He obtained a Licentiate in Theology summa cum laude with the gold medal awarded at the Gregorian University, Rome, and a Doctorate in Sacred Scripture summa cum laude with the gold medal awarded at the Biblical Institute in Rome. His doctoral dissertation was published in the Analecta Biblical series of the Institute.

He taught at St. Joseph Seminary, Dunwoodie (12 years) and Catholic University, DC (14 years), before coming to Notre Dame (20 years).

His scholarly interests include the Gospels of Matthew and John, New Testament Christology, the historical Jesus, and Palestinian Judaism around the turn of the era.

His major publication project has been a detailed study of the historical Jesus, entitled A Marginal Jew, presently in five volumes. In retirement, he continues to offer courses at Notre Dame while working on Volume Six of A Marginal Jew.

He was ordained a Catholic priest at the Altar of the Chair in St. Peter’s Basilica, Rome, in 1967, and was made an Honorary Prelate of the Papal Household (Monsignor) by Pope John Paul II in 1994.

Sobre o Mês da Bíblia 2022

Todos os links para as postagens sobre o Mês da Bíblia 2022 no Observatório Bíblico.

Apresentação do livro de Josué – 17.09.2022Livro de Josué - Live de lançamento: 3 de agosto de 2022

Semana Bíblica Paulinas 2022 – 26.08.2022

50 anos do Mês da Bíblia – 20.08.2022

Mês da Bíblia 2022 na ReBiblica – 19.08.2022

Em busca de terra livre: encontros virtuais – 08.08.2022

Em busca de terra livre: uma leitura de Josué – 08.08.2022

Mês da Bíblia 2022 na Vida Pastoral – 27.07.2022

Livro de Josué: live de lançamento – 25.07.2022

O livro de Josué – 19.06.2022

O cerco de Jericó: análise de Josué 2 e 6 – 15.06.2022

Mês da Bíblia 2022, segundo o SAB – 17.05.2022

Mês da Bíblia 2022, segundo Mesters e Orofino – 17.05.2022

Mês da Bíblia 2022: entendendo o livro de Josué – 17.05.2022

Mês da Bíblia 2022: Josué -17.05.2022

Os 60 anos do Vaticano II

Concílio Ecumênico Vaticano II – 60 anos: profecia para o terceiro milênio e a vida da Igreja

Nesta terça-feira, 11/10/2022, celebram-se os 60 anos do início do Concílio Vaticano IIConcílio Vaticano II (11 de outubro de 1962 – 8 de dezembro de 1965)

“Isto é magistério: o Concílio é magistério da Igreja. Ou você está com a Igreja e portanto segue o Concílio, ou, se você não segue o Concílio ou o interpreta ao seu modo, como quiser, você não está com a Igreja. Nesse ponto, temos que ser exigentes, severos. O Concílio não deve ser negociado para ter mais destes… Não, o Concílio é assim! E este problema que nós estamos vivendo, da seletividade em relação ao Concílio, se repetiu ao longo da história com outros Concílios.”

Foi com essas palavras que o Papa Francisco reafirmou o Concílio Vaticano II, em discurso proferido no Escritório Catequético Nacional da Conferência Episcopal Italiana, em 29 de janeiro de 2021.

Leia o texto.

Fonte: IHU – 11 Outubro 2022

Imagem e semelhança em Gn 1,26-27

No capítulo 4 de seu livro, nas páginas 117-177, Catherine L. McDowell trabalha “O significado de Ṣelem e Dəmût em Gênesis 1, 26–27 e o conceito de ‘imagem’ em Gênesis 2,5–3,24”.

Aqui transcrevo algumas anotações de leitura deste capítulo, onde a autora trata do significado de imagem (ṣelem) e semelhança (dəmût) em Gn 1,26-27.

Gn 1,26-27:

  1,26 וַיֹּאמֶר אֱלֹהִים נַעֲשֶׂה אָדָם בְּצַלְמֵנוּ כִּדְמוּתֵנוּ וְיִרְדּוּ בִדְגַת הַיָּם וּבְעֹוף הַשָּׁמַיִם וּבַבְּהֵמָה וּבְכָל־הָאָרֶץ וּבְכָל־הָרֶמֶשׂ הָרֹמֵשׂ עַל־הָאָרֶץ׃

  1,27  וַיִּבְרָא אֱלֹהִים אֶת־הָאָדָם בְּצַלְמֹו בְּצֶלֶם אֱלֹהִים בָּרָא אֹתֹו זָכָר וּנְקֵבָה בָּרָא אֹתָם׃

Ṣelem

Na Bíblia Hebraica, o termo ṣelem aparece 17 vezes e geralmente se refere a uma estátua, figura ou réplica (Gn 1,26.27 (2×); 5,3; 9,6; Nm 33,52; 1Sm 6,5 (2×).11;MCDOWELL, C. L. The Image of God in the Garden of Eden: The Creation of Humankind in Genesis 2:5–3:24 in Light of the mīs pî pīt pî and wpt-r Rituals of Mesopotamia and Ancient Egypt. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2015 2Rs 11,18; 2Cr 23,17; Sl 39,7; 73,20; Ez 7,20; 16,17; 23,14; Am 5,26).

Especificamente, em 1Sm 6,5.11 designa modelos dourados de furúnculos e ratos. No Sl 39,7 denota uma imagem humana fugaz, enquanto no Sl 73,20 descreve a forma física dos inimigos do salmista. Ezequiel aplica o termo a representações da realeza babilônica esculpidas em relevo de pedra e decoradas com tinta vermelha. Cinco vezes, ṣelem denota imagens fundidas, imagens antropomórficas de metal e imagens de Baal, Sikkuth e Kiyyun. Em Gn 5,3, porém, ṣelem se refere a um ser humano, Set, que foi criado à imagem (ṣelem) e semelhança (dəmût) de seu pai, Adão.

Os cognatos (= palavras que têm etimologicamente a mesma origem) aramaicos, ṣəlēm, ṣelem e ṣalm’ aparecem 17 vezes no livro de Daniel. Em todos os casos, com exceção de ṣəlēm em Dn 3,19, o termo denota uma estátua antropomórfica.

Concluímos, portanto, que dentro da Bíblia tanto o hebraico ṣelem quanto o aramaico ṣəlēm, ṣelem e ṣalmʾ normalmente se referem a um objeto concreto feito de metal, pedra pintada ou carne humana, que é uma representação, semelhança ou cópia de um original.

 

Ṣalmu

O cognato acádico ṣalmu é melhor traduzido como “imagem”, que pode assumir a forma de uma estátua, relevo, desenho, constelação, estatueta, forma corporal, estatura ou semelhança.

Os verbos usados ​​em conjunto com ṣalmu demonstram que pode ser um objeto tridimensional que é feito ou fabricado (banû, epēšu), erigido (kunnu [D], zaqāpu), ou montado (šuzuzzu [Š]), ou um objeto bidimensional que é desenhado (esēqu, eṣēru) ou inscrito (šaṭāru). Também pode se referir a sacerdotes ou reis que são descritos como a imagem de um deus.

Em suma, seu alcance semântico é semelhante aos seus cognatos hebraico e aramaico. Refere-se a imagens na forma de estátuas tridimensionais, relevos esculpidos, imagens desenhadas ou pintadas e seres humanos selecionados, especificamente sacerdotes ou reis.

No entanto, ṣalmu não se limita à representação. Nos textos de lavagem da boca e abertura da boca, a estátua divina é referida durante todo o ritual como alam/ṣalmu, mesmo depois de ter sido trazida à vida. Isso sugere que quando aplicado a uma estátua divina, ṣalmu pode se referir a uma manifestação divina, ou seja, uma teofania.

 

Dəmût

O substantivo dəmût, derivado do verbo dmh, “ser semelhante, ser parecido”, aparece 25 vezes na Bíblia Hebraica. Expressa semelhança ou correspondência de um item com outro, seja semelhança literal, como a de um modelo de altar ao seu original, como em 2Rs 16,10, ou semelhança metafórica, como no Sl 58,5, onde a fala dos ímpios é comparada ao veneno de uma serpente.

Na LXX é traduzida com mais frequência por homoíōma, “semelhança, forma, aparência”, ou homoíōsis, “semelhança”. No entanto, em Gn 5 dəmût é traduzido com eikōn (5,1) “imagem, semelhança” e idéa, “aparência, forma” (5,3).

Quase dois terços de suas aparições estão concentradas no livro de Ezequiel, onde o profeta usa dəmût para descrever o conteúdo de suas visões (…). Ele usa o termo para relacionar o desconhecido com o familiar, para colocar em palavras o que desafia a descrição. Ele não viu um humano, mas algo como um humano. Ele não viu um trono, mas algo parecido com um trono. O que Ezequiel observou correspondia e se assemelhava a coisas que lhe eram familiares, mas os próprios referentes eram estranhos. Assim, dəmût refere-se a correspondência e semelhança, mas não parece indicar uma cópia ou fac-símile, como ṣelem. Em suma, enquanto os intervalos semânticos de dəmût e ṣelem se sobrepõem, especialmente na área de representação, esses termos nem sempre são sinônimos.

 

Dəmût e ṣelem em Gn 5,1-3

No entanto, Gn 5,3 pode ser um exemplo onde os termos são, mais ou menos, intercambiáveis. Aqui, dəmût e ṣelem expressam a correspondência entre filhos e pais, especificamente a correspondência da humanidade com Deus e a semelhança de Set com seu pai Adão, mas não sugerem cópia exata, fac-símile ou réplica. Set é de alguma forma semelhante a seu pai, mas não é Adão, assim como Adão e Eva se assemelham a Deus, mas não são Deus. Nenhuma explicação do que constitui a semelhança é dada. Pelo contrário, parece que o filho se assemelha ao pai e, por analogia, os humanos correspondem a Deus, simplesmente porque foram criados por seu pai.

Conclui-se que dəmût e ṣelem em Gn 5,1-3 são, ao que parece, aproximadamente sinônimos. Ambos os termos referem-se a correspondência, similaridade e semelhança. O que Gn 5,3 sugere ainda é que nos humanos, essas qualidades, sejam quais forem, são transmitidas biologicamente por meios reprodutivos.

 

História da interpretação de ṣelem e dəmût em Gn 1,26–27

Apesar do considerável interesse em ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 e da vasta literatura publicada sobre esses versículos, a maioria das interpretações geralmente se enquadra em uma das quatro categorias principais, a saber, imagem e semelhança referem-se à:

1. Semelhança espiritual com Deus – por exemplo: Fílon de Alexandria; Padres da Igreja, entre eles Santo Agostinho; Lutero; exegetas alemães dos séculos XIX e XX
2. Semelhança física da humanidade com a forma corpórea de Deus – forte na teologia rabínica e presente em exegetas alemães como H. Gunkel e B. Duhm
3. Capacidade única da humanidade de se relacionar com Deus – Karl Barth, T. C. Vriezen, C. Westermann
4. Status da humanidade como representante real de Deus na terra – J. Hehn, G. von Rad, H. Wildberger, W. H. Schmidt

 

Resumo e avaliação

Cada uma dessas interpretações tem seus méritos.

Certamente, a capacidade da humanidade de pensar e raciocinar em Gn 2,5-3,24 os distingue dos animais, como Fílon, Lutero e outros afirmaram, assim como o relacionamento divino-humano único retratado em Gn 2,5-3,24, como Barth, Vriezen e Westermann concluíram.

Catherine L. McDowellAlém disso, a noção de que os humanos se assemelham a Deus em sua forma corpórea enfatiza corretamente que ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 devem ser entendidos à luz de Gn 5,1-3. No entanto, essa teoria interpreta os termos de forma muito restrita, pois limita a correspondência à semelhança física e não inclui semelhança funcional, que ṣelem e dəmût implicam.

A comparação de Gn 1,26-27 com a ideologia real mesopotâmica e egípcia foi certamente um avanço interpretativo, e agora é amplamente aceito que ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 se referem ao status real da humanidade.

Em cada caso, no entanto, as habilidades intelectuais da humanidade, seu relacionamento único com Deus e até mesmo seu status como administradores divinamente designados sobre a criação parecem ser o resultado de serem criados à imagem de Deus, e não uma definição do que significa ser feito bəṣelem ‘ĕlōhîm.

Assim, apesar dos méritos de cada interpretação, ṣelem e dəmût no contexto de Gn 1,26-27 permanecem amplamente indefinidos. A pergunta desconcertante sobre o que o autor pretendia comunicar sobre a humanidade e a relação divino-humana ao descrever a humanidade como feita à imagem e de acordo com a semelhança de Deus não foi respondida completa ou satisfatoriamente.

Parece, no entanto, como outros argumentaram, que ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 devem ser entendidos à luz desses mesmos termos em Gn 5,1-3, onde descrevem a relação pai-filho entre Adão e Set.

Que a humanidade é, em algum nível, descrita como o “filho real” de Deus parece muito mais próximo do sentido de ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27. Como Vriezen e outros sugeriram, e como Gn 5,1-3 indica, ṣelem e dəmût não são apenas termos reais, mas podem ser usados para indicar um relacionamento filial.

 

Interpretação de ṣelem e dəmût em Gn 1,26–27

A evidência cumulativa de Gn 5,1–3; 9,5–6; 1,11–27, dos vários textos que identificam Iahweh como o pai de Israel e o rei israelita, e dos exemplos extrabíblicos seletivos de Tukulti Ninurta, Enuma Elish e a “Instrução dirigida ao rei Merikare” demonstram que a terminologia de imagem e semelhança era de fato usada no antigo Oriente Médio para definir a relação entre um deus e sua descendência como sendo de filiação. Além disso, o hino do épico Tukulti Ninurta e a “Instrução dirigida ao rei  Merikare” mostram que os termos podem ser usados ​​como duplos sentidos nos quais a relação entre deus e rei (no caso de Tukulti Ninurta), ou deus-criador e humanidade (no caso de Merikare), foi enquadrado como imagem/estátua e filho/criança.

Sugiro, portanto, que é assim que esses termos funcionam em Gn 1. Ou seja, a natureza do relacionamento divino-humano como é apresentado em Gn 1 tem três componentes principais que estão intimamente relacionados entre si: parentesco, realeza e culto.

Em algum nível os humanos parecem ser membros da espécie divina, o que implica “relacionamento biológico”, metaforicamente falando, com Deus e, especificamente, filiação. Gn 1 usa os termos ṣelem e dəmût para expressar esse relacionamento íntimo e filial, semelhante ao modo como são usados ​​em Gn 5,1-3, onde Adão gera um filho, Set, “à sua semelhança e conforme sua imagem”. Mas claramente, ʿāḏām não é um ser divino, como indicado pelas preposições e em Gn 1,26-27.

Um resultado de ser o “filho” de Elohim é que a humanidade também é rei governando a mando de Deus como seu representante. Em Gn 1 isso é expresso mais claramente pelo mandato de Deus ao primeiro casal humano em Gn 1,28 para encher (mlʾ) a terra e subjugar (kbš) e governar (rdh) a criação. Também está implícito no fato de que ser criado à imagem de Deus traz consigo a responsabilidade de representar Deus e seus padrões no âmbito da lei e da justiça, como em Gn 9,6.

Não podemos ignorar, no entanto, que ṣelem também pode designar uma estátua de culto. Dado o contexto de Gn 1,1–2, – a criação do macrotemplo de Deus (o mundo), que inclui a criação da humanidade – ṣelem em Gn 1,26–27 pode ter sido concebido com um duplo sentido referindo-se tanto à filiação e à humanidade quanto uma “estatueta” real de Deus destinada a manifestar sua presença no mundo. Se assim for, Gn 1 democratiza a designação real-divina de ṣelem para toda a āḏām (humanidade).

A imagem de Deus no jardim do Éden

Estou estudando nestes dias, com os alunos do Primeiro Ano de Teologia do CEARP, na disciplina Pentateuco, os textos da criação em Gn 1 e 2.

Em Gn 1,26-27 lemos que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem (ṣelem) e semelhança (dəmût).

Em Gn 2,4b-3,24 vemos homem e mulher criados por Iahweh Deus e instalados em um jardim, em Éden, e, na sequência, dele expulsos.

Gn 1,26-27:

  1,26 וַיֹּאמֶר אֱלֹהִים נַעֲשֶׂה אָדָם בְּצַלְמֵנוּ כִּדְמוּתֵנוּ וְיִרְדּוּ בִדְגַת הַיָּם וּבְעֹוף הַשָּׁמַיִם וּבַבְּהֵמָה וּבְכָל־הָאָרֶץ וּבְכָל־הָרֶמֶשׂ הָרֹמֵשׂ עַל־הָאָרֶץ׃

  1,27  וַיִּבְרָא אֱלֹהִים אֶת־הָאָדָם בְּצַלְמֹו בְּצֶלֶם אֱלֹהִים בָּרָא אֹתֹו זָכָר וּנְקֵבָה בָּרָא אֹתָם׃

O que isto quer dizer?

Por outro lado, na antiga Mesopotâmia, a criação, animação e instalação de uma estátua divina em seu templo era uma tarefa complexa que exigia um conjunto habilidoso de artesãos e sacerdotes. Os materiais usados para fabricar a imagem e os espaços rituais em que a atividade criativa se desenrolava tinham que ser preparados e purificados de acordo com diretrizes rígidas e confidenciais.

Depois que a imagem era criada, ela tinha que ser “trazida à vida” por meio de encantamentos e rituais apropriados, vestida, adornada com as insígnias apropriadas, instalada em seu templo e alimentada com sua primeira refeição antes que pudesse ser eficaz.

Os rituais que descrevem esses procedimentos e os encantamentos que os acompanham são conhecidos coletivamente pelos títulos babilônicos de mīs pî (“lavagem da boca”) e de pīt pî (“abertura da boca”).

O ‘lavar a boca’ era essencialmente um rito de purificação que preparava o objeto/pessoa para o contato com o divino. Ele lavou as impurezas. O mīs pî era realizado não apenas em estátuas divinas, mas também no rei e sua insígnia real, estátuas reais, sacerdotes, humanos individuais e vários animais e objetos sagrados.

Em contraste, o rito de abertura da boca (pīt pî) era aparentemente reservado para objetos inanimados, como estatuetas e imagens divinas maiores com seus adornos. Era realizado para consagrar, ativar e/ou animar o objeto em preparação para uso cultual.

Quando aplicado a uma estátua divina, a abertura da boca era realizada para animar os órgãos sensoriais e membros da estátua, permitindo que ela consuma oferendas, cheire incenso e se mova livremente. Concluída a lavagem da boca e a abertura, a estátua era considerada uma manifestação viva e em pleno funcionamento do divino.

E no Egito?

A cerimônia de abertura da boca era um dos mais significativos e complexos de todos os rituais egípcios antigos. Abundantes referências textuais e representações artísticas do rito atestam sua proeminência duradoura na vida cultual egípcia desde o Reino Antigo.

O título completo da cerimônia era Realizando a Abertura da Boca na Oficina para a Estátua (tut) de N, mas também era conhecido por duas designações mais curtas, “Abertura da Boca” (wpt-r e wn-r), e “Abertura da Boca e dos Olhos”.

Em sua longa história o ritual foi usado não apenas para “animar” estátuas divinas, mas para animar uma variedade de objetos inanimados, incluindo estátuasMCDOWELL, C. L. The Image of God in the Garden of Eden: The Creation of Humankind in Genesis 2:5–3:24 in Light of the mīs pî pīt pî and wpt-r Rituals of Mesopotamia and Ancient Egypt. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2015. de mortos, múmias, sarcófagos antropoides, estatuetas etc. Em cada caso, o objetivo do ritual era tornar o objeto apto para uso cultual.

Quando aplicado especificamente a estátuas e múmias, o wpt-r era realizado para (re)animar o destinatário, permitindo-lhe ver, ouvir, cheirar, respirar, mover-se e consumir oferendas de comida e bebida.

Existe uma relação entre estes rituais e os textos que falam da criação da humanidade em Gn 1 e 2?

Estou lendo um livro interessante que trata deste assunto.

MCDOWELL, C. L. The Image of God in the Garden of Eden: The Creation of Humankind in Genesis 2:5–3:24 in Light of the mīs pî pīt pî and wpt-r Rituals of Mesopotamia and Ancient Egypt. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 2015, 256 p. – ISBN 9781575063485.

Nas páginas 20-21 da Introdução a autora apresenta a proposta de seu estudo.

Os problemas com os quais este estudo se preocupa centram-se na criação da humanidade em Gn 1,26-27 e 2,5-3,24.

O que significa dizer que os seres humanos foram criados à imagem (ṣelem) e semelhança (dəmût) de Elohim? O que constitui a imagem de Deus, e de que maneira os humanos são semelhantes a ela?

Esta noção está presente em Gn 2,5–3,24, ou era, como comumente se supõe, uma ideia única dentro do corpus bíblico do escritor sacerdotal (Gn 1)? Além disso, qual é a relação entre essas duas narrativas? Gn 2,5–3,24 é uma continuação e comentário de Gn 1,26–27, ou Gn 1,26–27 é uma declaração posterior na qual as sutilezas em Gn 2,5–3,24 são explicitadas?

Para responder a essas perguntas, começarei com um estudo da própria história do Éden (capítulo 2). Onde a narrativa realmente começa, quais são seus limites e como ela é estruturada?

O capítulo seguinte (capítulo 3) apresentará os textos comparativos, os rituais de Lavar a Boca (mīs pî) e Abertura da Boca (pīt pî) da Mesopotâmia, e a contrapartida egípcia, a Abertura da Boca (wpt-r). Após um levantamento de fontes primárias, referências históricas e estudos anteriores, resumirei e analisarei esses textos em seus próprios termos, a fim de estabelecer como, de acordo com essas tradições, uma imagem divina foi criada, animada e instalada ritualmente. Também vou comparar o mīs pî pīt pî e o wpt-r para determinar se as semelhanças entre eles se devem a uma conexão histórica ou se são melhor explicadas tipologicamente.

O quarto capítulo discutirá o significado de ṣelem e dəmût e a presença do conceito de imago Dei em Gn 2,5–3,24. Necessariamente começará com Gn 1,26-27, onde aparecem ṣelem e dəmût, mas também incluirá um estudo desses termos na Bíblia Hebraica em geral e no livro de Gênesis especificamente.

Em seguida, considerarei o desenvolvimento desses conceitos na história do Éden, concentrando-me especificamente em aspectos selecionados de Gn 2,5–3,24 que podem refletir uma consciência das cerimônias de lavagem e/ou abertura da boca.

Estes incluem o papel do jardim como templo de Iahweh, a alimentação e possível instalação (nwḥ em Gn 2,15) do homem no templo-jardim de Iahweh, a afirmação no Sl 8,6 de que Adão e Eva foram coroados com a glória de Deus (wəkābôd wəhādār təʿaṭtərēhû), e a abertura dos olhos (wattippākaḥnāh ʿênê s̆ənêhem) em Gn 3,5.7.22, como um meio de se tornar como Elohim (kēʾlōhîm) conhecendo o “bem e o mal” (yōdə ʿê ṭôb wārāʾ).

Catherine L. McDowell Discutirei também a relação entre Gn 2,5–3,24 e as fontes comparativas, bem como a questão de porque o autor de Gn 2,5–3,24 teria aproveitado esses topoi para (re)definir sua noção de ṣelem e o relacionamento divino-humano.

Os resultados dessas duas indagações – primeiro, o significado de ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 e, segundo, a presença do conceito imago Dei em Gn 2,5–3,24 – exigirão uma reavaliação da relação entre esses dois textos. Este será o assunto do capítulo 5, que incluirá uma breve revisão da história crítica das fontes de ambos os relatos da criação e uma discussão de suas datas de composição, autoria e relacionamento entre si.

No sexto e último capítulo, resumirei as descobertas e discutirei as implicações de nosso estudo para o significado de ṣelem e dəmût em Gn 1,26-27 e para a compreensão geral de Gn 2,5-3,24. Também comentarei sobre a natureza das relações entre Gn 2,5–3,24, o mīs pî pīt pî e o wpt-r e como este estudo contribuiu de forma mais ampla para duas áreas significativas de investigação nos estudos bíblicos: a relevância do material antigo do Oriente Médio para a interpretação bíblica e como se aborda a tarefa comparativa.

Concluirei com sugestões para futuras linhas de pesquisa.

Catherine L. McDowell é Professora de Antigo Testamento no Seminário Teológico Gordon-Conwell em Charlotte, Carolina do Norte, EUA. Este livro é uma versão revisada de sua tese de doutorado na Universidade de Harvard, defendida em 2009.

Como Alexandre tornou-se “o Grande”?

A partir de 21 de outubro de 2022, a British Library em Londres sediará uma exposição intitulada Alexander the Great: The Making of a Myth (Alexandre, o Grande: a criação de um mito).

Filho de Filipe II da Macedônia e de sua esposa Olímpia, o histórico Alexandre nasceu em Pella, capital da Macedônia, em julho de 356 a.C. Em julho de 330 a.C ele haviaAlexandre Magno (356-323 a.C.) derrotado o exército persa, tornando-se, aos 25 anos, governante da Ásia Menor, faraó do Egito e sucessor de Dario III, o “Grande Rei” da Pérsia. Durante os sete anos seguintes, Alexandre criou um império que se estendia da Grécia, no oeste, até além do rio Indo, no leste – antes de sua morte precoce na Babilônia, aos 32 anos.

A exposição, no entanto, não é sobre história, mas a primeira de seu tipo a explorar 2.000 anos de narrativa e criação de mitos. Com objetos de 25 países em 21 idiomas, mostra como uma figura pode servir a tantos propósitos, criando narrativas compartilhadas de apelo universal. O Romance de Alexandre, composto originalmente em grego no século III d.C., estava no centro dessa narrativa. Mas as lendas também encontraram seu caminho na poesia épica e no drama e, mais recentemente, em romances, quadrinhos, filmes e videogames. Exemplos de tudo isso podem ser vistos na exposição.

De aproximadamente 140 objetos, cerca de 86 são das coleções da British Library. Para dar um gostinho do que está por vir, escolhi destacar alguns dos 37 itens de nossas próprias coleções asiáticas e africanas.

A exposição está organizada em seis seções baseadas na vida lendária de Alexandre. Após uma introdução, A Conqueror in the Making explora as diferentes versões das origens de Alexandre, sua educação pelo filósofo Aristóteles e Bucéfalo, seu fiel cavalo de guerra.

Alexandre, o Grande: a criação de um mito será inaugurada em 21 de outubro. Será acompanhada por um livro com o mesmo título. Editado por Richard Stoneman, inclui nove ensaios de importantes estudiosos, juntamente com imagens e descrições dos itens da exposição.

Leia o texto completo.

 

From October 21, the British Library in London will host an exhibition titled “Alexander the Great: The Making of a Myth”. Son of Philip II of Macedon and his wife Olympias, the historical Alexander was born in Pella, capital of Macedon in July 356 BC. By July 330 BC he had defeated the Persian army, becoming, at the age of 25, ruler of Asia Minor, pharaoh of Egypt and successor to Darius III, the “Great King” of Persia. During the next seven years, Alexander created an empire that stretched from Greece in the west to beyond the Indus river in the east – before his early death in Babylon aged 32.

STONEMAN, R. ; NAWOTKA, K. ; WOJCIECHOWSKA, A. (ed.) The Alexander Romance: History and Literature. Gröningen: Barkhuis & Gröningen University Library, 2018The exhibition, however, is not about history, but the first of its kind to explore 2,000 years of storytelling and mythmaking. With objects from 25 countries in 21 languages, it shows how one figure could serve so many purposes, creating shared narratives of universal appeal. The Alexander Romance, composed originally in Greek in the third century AD, was at the heart of this storytelling. But legends also found their way into epic poetry and drama, and more recently into novels, comics, films and video games. You will see examples of all of these in the exhibition.

Out of approximately 140 objects, some 86 are from the British Library’s collections. To give a taste of what’s in store, I have chosen to highlight a few of the 37 exhibits from our own Asian and African collections.

The exhibition is arranged in six sections based around Alexander’s legendary life. After an introduction, A Conqueror in the Making explores the different versions of Alexander’s origins, his education by the philosopher Aristotle and Bucephalus, his faithful warhorse.

Alexander the Great: The Making of a Myth opens on 21 October. It will be accompanied by a book of the same title. Edited by Richard Stoneman, it includes nine essays by leading scholars together with images and descriptions of the exhibition items.

Fonte: Alexander the Great: The Making of a Myth – By Ursula Sims-Williams – Asian and African studies blog: 23 September 2022.

O texto pode ser lido também aqui.