Credite-se à elite brasileira façanhas anteriores dignas de figurar, como figuram, nos rankings da vergonha do nosso tempo. O repertório robusto ganhou agora um destaque talvez inexcedível em seu simbolismo maculoso: uma rebelião de médicos contra o povo. No levante dos bisturis, ressoa o engenho colonial. Encara-se o privilégio de classe como o perímetro da Nação. Aquela que conta. O resto é o vazio. A boca do sertão, hoje, é tudo o que não pertence ao circuito estritamente privado. Sérgio Buarque de Holanda anteviu, em 1936, as raízes de um Brasil insulado em elites indiferentes ao destino coletivo (Carta Maior – 19/07/2013).
:: Os médicos brasileiros têm medo de quê? – Ricardo Palacios: CartaCapital – 07/07/2013
A exploração por parte do capital é uma novidade para o grêmio médico no Brasil. Recentemente um dos setores mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através da prestação dos serviços. Assim, aqueles que foram selecionados através de provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção (…) A última das batalhas do grêmio médico é, de longe, a mais complexa: o convite a médicos estrangeiros para trabalhar no território nacional. Esse assunto é particularmente sensível porque atinge ao mesmo tempo o status outorgado pelo ingresso às escolas médicas, posturas políticas, questionamento da liderança e o temor de concorrentes novos no mercado de trabalho. O ingresso às escolas médicas no Brasil acontece através de um penoso processo que visa excluir aqueles provenientes de camadas com menores recursos e oportunidades. Na visão oposta, trata-se da seleção dos “melhores”, como se nessa lógica inversa a qualidade de um médico fosse garantida pela seleção que teve para entrar, e não pela formação adquirida dentro da escola médica. Os médicos estrangeiros representam um desafio a esse paradigma.
:: O corporativismo médico vai às ruas – Caio Sarack: Carta Maior – 17/07/2013
Política e economia também são determinantes na saúde e devem, sim, aparecer em preocupações médicas. É um pouco comprometedor um médico que defende a não entrada de médicos cubanos quando a intenção deste mesmo médico é ter no interior e na periferia um trampolim para chegar às ricas capitais.
:: Conservadorismo de branco é a vanguarda do atraso – Breno Altman: Brasil 24/7 – 17/07/2013
As três principais bandeiras nas marchas dos jalecos brancos são elucidativas. São contra a extensão da residência em dois anos, com obrigatoriedade de servir o Sistema Único de Saúde. Não concordam com a vinda de doutores estrangeiros para cobrir déficit de profissionais, especialmente nos rincões do país. Reivindicam a derrubada do veto presidencial sobre o chamado Ato Médico, que fixava supremacia da categoria em relação a outros trabalhadores do universo sanitário. São reivindicações de quem olha para o próprio umbigo.