Depoimentos sobre José Comblin: 1923-2011

:: Faleceu, hoje pela manhã, José Comblin: Bruxelas, 22/03/1923 – Bahia, 27/03/2011 José Oscar Beozzo: Informativo CNLB Sul 1: 27/03/2011
É com tristeza que comunico a vocês que, na manhã de hoje, domingo, dia 27 de março, depois de completar 88 anos, nesta semana, faleceu no interior da Bahia, onde estava assessorando grupos de base, o amigo e mestre de todos nós, José Comblin. Levantou-se cedo, tomou banho, aprontou-se, mas não apareceu para a oração da manhã. Procuram-no e o encontraram-no sentado no quarto e já morto. Rezemos por ele que dedicou praticamente toda sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, no Brasil, no Chile e no Equador e em centenas de assessorias por todos os países. Ele veio para o Brasil em 1958, junto com o Pe. Michel Schooyans e o Pe. Laga, todos doutores por Lovaina, mas que foram dar aulas no seminário menor, para onde os mandou o Bispo Paulo de Tarso! Esteve conosco antes da Conferência de Aparecida, analizando a situação e dando-nos todo apoio, para as iniciativas do Fórum. Perdemos um mestre e um guia inquieto e exigente como os velhos profetas, denunciando sempre nossas incoerências na fidelidade aos preferidos de Deus: o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro. Trabalhou por uma Igreja profética a serviço destes últimos nas nossas sociedades. Que ele siga nos inspirando e acompanhando. Sentiremos e muita sua falta. Um abraço fraterno para todos vocês. Rezemos pelo Comblin, sua família e as igrejas e comunidades que o acolheram, em especial, Talca de Dom Larrain, no Chile, Dom Proaño em Riobamba, no Equador e, no Brasil, Recife do Dom Helder, Paraíba do Dom José Maria Pires e agora Dom Cappio, em Barra, no sertão da Bahia, onde estava residindo. Segue abaixo pequena biografia e bibliografia…

:: Falecimento de Padre José Comblin – Rudá Ricci: De Esquerda em Esquerda – 27/03/2011
O livro do Padre José Comblin sobre a Ideologia da Segurança Nacional foi um dos que marcaram minha politização na adolescência. Hoje recebi a notícia que ele faleceu na manhã deste domingo, depois de completar 88 anos, no interior da Bahia, onde estava assessorando grupos de base. Padre Comblin nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1923. Ordenou-se sacerdote em 1947 e doutourou-se em Teologia pela Universidade Católica de Louvain. Desde 1958 trabalhava na América Latina, começando por Campinas. Logo em seguida foi assessor da Juventude Operária Católica, tornando-se professor da Escola Teológica dos Dominicanos em São Paulo, tendo como alunos Frei Betto e Frei Tito. Em 1965 foi para o Chile. A convite de D. Hélder Câmara voltou ao Brasil para lecionar no Recife, onde foi professor no famoso Instituto de Teologia. A partir de 1969 esteve à frente da criação de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia utilizada para os seminários era adaptada ao ambiente social dos seminaristas. Foi expulso do Brasil em 1971 pelo regime militar. Exilou-se no Chile durante 8 anos, onde também esteve à frente da criação de um seminário em Talca, em 1978. Em seu livro A ideologia da Segurança Nacional, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina. Foi expulso por Pinochet em 1980. De volta ao Brasil, radicou-se em Serra Redonda (Paraíba), onde fundou um seminário rural e esteve à frente da formação de animadores de comunidades eclesiais de base. A metodologia para os seminários foi aprovada pelo papa Paulo VI, mas desaprovada por João Paulo II, quando da ascensão do conservadorismo católico que domina até os dias de hoje a Igreja Católica. Alguns dos seus livros…

:: Adeus Medellín – José Comblin: migrante, guerreiro, teólogo: Paulo Suess: Paulo Suess Blog – 27/03/2011
“Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço de Jacó, num terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José” (cf. Jo 4,5s). Este foi o Evangelho que José Comblin preparava para celebrar a Missa deste 3º Domingo da Quaresma (27.3.2012). Comblin estava de passagem em Simões Filho, município logo ao lado de Salvador (BA), para fazer uma revisão de seu estado de saúde e assessorar um grupo de base. José Comblin, um poço de sabedoria, morreu sentado, junto ao poço de Jacó – a vida toda ao lado de Jesus conversando com a Samaritana, a excluída do templo, da sociedade machista e do pretório. O templo e o pretório nunca lhe perdoaram essa proximidade à Samaritana. O fizeram refugiado em Talca (Chile), Riobamba (Equador) e, por fim, no Brasil, em Barra (BA), no sertão da Bahia, onde o profeta franciscano D. Luiz Cappio, o confessor Jose Comblin e a samaritana leiga Mônica constituíram uma comunidade teológico-pastoral. Comblin marcava anualmente presença em nosso curso de pós-graduação em Missiologia. Provocava os estudantes com sua “Teologia da Enxada”, com sua ênfase ao laicato, com seu espírito libertário, com sua radicalidade missionária e autenticidade vivencial. Comblin sempre soube que vale virar esse mundo, viver e lutar de paixão. No terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José, Comblin era posseiro militante. De cavernas remotas trouxe notícias de vida e sobreviventes. Lutou quando era fácil ceder. Quantas lutas teve que assumir por um poço de paz! Em Medellín, no Congresso dos 40 anos da “Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano”, em 2008, encontrei Comblin uma última vez. Depois de sua palestra, um aceno significativo que parecia dizer: adeus Medellín, adeus companheiros e companheiras. Hoje, dia 27 de março, José Comblin morreu aos 88 anos numa hospedaria de Simões Filho (BA). No brasão desta cidade está escrito: Angelus Pacis, anjo da paz. Que o anjo da paz ampare nosso guerreiro na grande travessia!

:: Nota de pesar da Diocese de Guarabira pelo falecimento do Pe. José Comblin – Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena: Bispo de Guarabira, em 27 de março de 2011 [nota no site da CNBB] “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muitos frutos” (Jo 12,24).
A Diocese de Guarabira recebeu com tristeza profunda a notícia da morte do Pe. José Comblin, aos 88 anos de idade, ocorrida, na manhã deste domingo, dia 27, no município de Simões Filho-BA, em plena atividade missionária. O Pe. José Comblin nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1923, e foi ordenado sacerdote em 1947. Dedicou a maioria de sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, chegando ao Brasil em 1958; morou durante vários anos no Estado da Paraíba; atualmente, morava na Diocese de Barra, Estado da Bahia, e a sua última visita ao Santuário do Pe. Ibiapina, a quem ele tinha como exemplo, foi no dia 05 p.p. e que já manifestava o desejo de quando morrer, ser sepultado junto ao Servo de Deus, Pe. Ibiapina, em Santa Fé, Diocese de Guarabira, desejo que será realizado. Sua biografia atesta seu amor a Cristo e à Igreja no exercício de um longo e frutuoso ministério sacerdotal. Esta Igreja particular que está no Brejo paraibano, agradece a Deus pela bênção da presença e ajuda na ação evangelizadora desse sacerdote, pastor, teólogo, professor, escritor e assessor de encontros, cursos e grupos, principalmente no Brasil, no Chile e no Equador; e faz chegar suas mais sentidas condolências aos seus familiares e a todas as comunidades eclesiais que tiveram o privilégio de conviver com o Pe. José Comblin. O corpo do Pe. José Comblin, vindo de Salvador-BA chegará em Santa Fé, município de Solânea-PB-Brasil, Diocese de Guarabira, no final do dia 28, ao início do dia 29; a celebração da Missa de Corpo presente, será na terça-feira, dia 29, às 15h, no Santuário do Pe. Ibiapina, e em seguida o sepultamento no próprio Santuário [sublinhado meu]. Movidos pela fé na Ressurreição, ao Deus da vida, rezamos: “Descanso eterno dai-lhe, Senhor. Brilhe para ele a vossa luz”.

:: Presidente da CRB de Salvador fala sobre a morte de Comblin – Padre Edgard Silva Júnior: Conferência dos Religiosos do Brasil – 28/03/2011
É terceiro domingo da quaresma, o evangelho apresenta Jesus na beira do poço pedindo água a mulher samaritana. Na cidade de São Salvador da Bahia chove muito. Longe do centro turístico, na região metropolitana, bem na divisa entre Salvador e Simões Filho, num bairro pobre e meio esquecido está o “Recanto da Transfiguração” – uma comunidade de consagradas que vivem a espiritualidade trinitária. Foi nesta casa simples e acolhedora que José Comblin se encontrava. Foi cercado de gente simples que ele celebrou há dias atrás, seus 88 anos de vida, com direito a bolo e vela para apagar. Ao lado da capela num simples quarto, na manhã do dia 27 de março, embalado nos braços da Trindade Santa, José foi para casa do Pai. Recebi o telefonema do Frei Luciano da CPT e imediatamente segui para local. No caminho fui avisando aos amigos e amigas, que pudessem ir para lá. Cheguei no Recanto da Transfiguração… Comblin estava na cama onde tinha dado o último suspiro. O semblante tranquilo de quem morreu como tinha sonhado… cheguei bem perto, peguei em sua mão, afagei seu rosto e lembrei naquele instante de pessoas que gostariam de fazer aquele mesmo gesto… e disse baixinho: “José esse aperto de mão é em nome do Beozzo, do CESEP, do CEBI, do Carlos Mestres, da Ivone Gebara, das faculdades de teologia onde você lecionou, do Fr Betto, do Marcelo Barros,do Ir. Bruno de Taizé, das Comunidades eclesiais de base…e tantos e tantas… é também em nome da Teologia da Enxada! Na sala, ao lado do quarto, estavam Frei Luis Cappio, Bispo da Barra (BA), onde atualmente residia Comblin; também Eduardo Hoonaert e a esposa e a Mônica que o acompanhava. Dom Cappio nos convida a celebrar a Eucaristia. Pegamos juntos o corpo do José, levamos para a capela, e numa celebração simples, familiar, de pouco mais de vinte pessoas, entoamos canções que marcaram a história das comunidades. Rezamos, ouvimos o testemunho dos que ali estavam e dos amigos que conviveram com Comblin. Terminada a celebração embalados por canções e preces nos despedimos. Pe José Comblin será sepultado na Paraíba. Lá seu corpo será semeado, no mesmo chão nordestino que acolheu Pe Ibiapina, Padre Cícero, Margarida Maria Alves, Dom Hélder Câmara… Fechei alguns botões da sua camisa; no quarto onde veio a falecer, coloquei no guarda roupa os óculos que ainda estavam sobre a cama. Lá fora a chuva caia fina, algumas pessoas ainda chegavam, quase todos sempre com o mesmo sentimento: Muito obrigado José Comblin! Recordei sua profecia, seus escritos, sua lucidez…e me veio no pensamento a canção:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?”

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