Leonardo Boff critica recuo de Clodovis Boff

Pelos pobres contra a estreiteza do método. Um artigo de Leonardo Boff

“Dizendo diretamente: o texto de Clodovis causa perplexidade e perturbação. A coisa não pode ser assim como ele a expõe e critica. Seguramente a maioria dos teólogos da libertação que conheço não se sentiriam ai representados. Ademais, o autor assume uma postura magisterial que caberia melhor às autoridades doutrinárias que a um teólogo, frater inter fratres”.

O comentário é de Leonardo Boff, teólogo, referindo-se ao artigo de Clodovis Boff, também teólogo, publicado na Revista Eclesiástica Brasileira vol. 67, n. 268, de setembro de 2007 [Teologia da Libertação e volta ao fundamento]. Uma síntese foi publicada nas Notícias do Dia, 04-05-2008 [Documento de Aparecida faz a Teologia da Libertação ‘voltar ao fundamento’, afirma Clodovis Boff]. Recebemos e publicamos o artigo de Leonardo Boff, na íntegra.

 

Destaco cinco trechos no artigo de Leonardo Boff:

“Nos últimos tempos se notou um certo recuo em sua atividade e reflexão, por razões que só a ele cabe dar. O texto que analisaremos (…) dedicado a análises da V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, em Aparecida, revela traços claros deste recuo”.

“A minha suspeita é de que as criticas suscitadas por Clodovis Boff à Teologia da Libertação forneçam às autoridades eclesiásticas locais e romanas as armas para condená-la novamente e, quem sabe, bani-la definitivamente do espaço eclesial. Como as criticas devastadoras provém de dentro, de um de seus mais reconhecidos formuladores, elas podem prestar-se a tal intento infeliz. A impressão que sua argumentação provoca é de alguém que se despediu e já emigrou da Teologia da Libertação, daquela ‘realmente existente’ que, na verdade, é a única que existe e se pratica nas Igrejas. Esta teologia é atacada em seu núcleo definidor porque cometeu, segundo ele, um ‘erro de princípio, grave para não dizer fatal…falha ‘mortal’ que, levada a termo, termina pela morte da Teologia da Libertação’ (REB 1004 e 1006). Esse erro fatal – pasmem – é de ela ter colocado o pobre como ‘primeiro princípio operativo da teologia’, ou de ter substituído Deus ou Cristo pelo pobre (REB 1004). Afirma ainda que ‘do erro de princípio só podem provir efeitos funestos’. Acena para a contaminação em curso de toda ‘pastoral da libertação’ nomeadamente ‘as pastorais sociais’. Por causa deste erro fatal, se instrumentalizou a fé, fé-la cair no utilitarismo e no funcionalismo, ocasionou seu enredamento com a modernidade antropologizante e secularista, pondo em risco a identidade cristã ‘no plano teológico, eclesial e da própria fé’ (REB 1007). Tais acusações são de grande monta e nos lembram os textos acusatórios de figadais inimigos da Teologia da Libertação dos anos 80 do século XX. E pour cause!”

“Podemos imaginar que os que condenaram a Jon Sobrino (Clodovis aprova a Notificação romana), a Gustavo Gutiérrez, a Ivone Gebara, a Marcelo Barros, a José Maria Vigil, a Juan José Tamayo, a Castillo, a Dupuis e a Küng entre outros, se acercarão de Clodovis e lhe dirão satisfeitos e com o peito inflado de fervor doutrinário: ‘Bravo, irmão. Enfim alguém que teve a coragem de desmascarar os equívocos e os graves e fatais erros da Teologia da Libertação'”.

“Por isso, julgo que esta posição de Clodovis tem que ser refutada com argumentos bem fundados, por ser equivocada, teologicamente errônea e pastoralmente danosa. Não apenas por interesses da pastoral e de política eclesiástica mas por razões internas da teologia. Na minha avaliação, suas insuficiências teóricas e teológicas são tantas que invalidam o peso de seus argumentos”.

“Há três ausências que tiram sustentabilidade à sua reflexão: a ausência de uma adequada teologia da encarnação; a ausência do sentido singular de pobre dado pela Teologia da Libertação; e a ausência de uma teologia do Espírito Santo…”

Leia o texto completo.

Lembro que Leonardo Boff e Clodovis Boff são irmãos e estão entre os mais extraordinários teólogos brasileiros da atualidade.

Leia Mais:
Bibliografia de Leonardo Boff
Bibliografia de Clodovis Boff

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10 comentários em “Leonardo Boff critica recuo de Clodovis Boff”

  1. O Leonardo é a banda podre. Um amigo de assassinos comunistas e apoiador dos governos mais podres q já surgiram na América Latina, abortistas, homonaziatas e, pior de tudo, comunistas, não é teólogo´, é satanólogo. o Clodovis, q sempre achei inteligente demais para ser “da Libertação”, acabou vendo o buraco em q havia se metido e pulou fora. agora, como é normal entre vermes, vão comer o seu fígado justamente os seus amigos de décadas, inclusive o irmão, uma das pessoas mais mentirosas q já passaram pela igreja. Toda essa turma de pilantras adora o Chávez e o Fidel,e o povo de seus países q se dane. Teólogo? conta outra.

  2. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. O princípio da honestidade intelectual obriga a todos a expressarem sua visão de mundo e dos conceitos… revisões são necessárias quando em vez. O debate interno pode ser dolorido mas provoca o surgimento de sínteses menos parciais e passionais. Não será fácil a Clodovis fazer a sua revisão em público porque alguns radicais haverão de querer expulsá-lo definitivamente do barco libertador… Se todos concordarem que cabe alguma autocrítica nas posturas de ordem da TdL, o conjunto eclesial só tem a ganhar, mas se as posições se radicalizarem, nenhum consenso será possível. O próprio Leonardo a algum tempo elogiou nuances dos movimentos carismáticos, algo impensável há bem pouco tempo…

  3. Onde há discussão há mudanças de atitudes. Todo cidadão tem o direito de expressar sua opinião, porém não tem o direito de ofender o próximo com acusações infundadas. Leonardo Boff é um cidadão que representa o q temos de melhor em um mundo marcado pelo egocentrismo. A sua luta se faz presente em cada coração onde impera o Reino de Deus e esse Reino se faz com amor e muita dedicação. A TL vislumbra um mundo de todos e para todos.Estamos perdendo a nossa identidade, pois os Estados Unidos impõem a sua cultura diuturnamente. Todo ser humano é reconhecido por sua identidade e hoje não sabemos quem somos. Como iremos nos libertar desses poderes opressivos? É aí q entra o discurso da TL, iluminado pela palavra de Deus faz com que vejamos o q esta por detrás dos bastidores. Não tínhamos uma teologia latina e em especial brasileira e Leonardo Boff entre outros lutam incansavelmente por uma hegemonia da nossa cultura e, sobretudo uma sociedade mais justa e igualitária.

  4. Em um País que tem uma carência tão grande de bases morais e espirituais, as divergências teológicas deveriam ser desconsideradas, ficarem restritas aos monastérios, para dar lugar e oportunidade a que mais gente tenha fachos de luz em um mundo dominado pela escuridão da ignorância. A Teologia da Libertação fez sentido para muitos, talvez milhões, pois voltou-se ao povo, simples, ignorante, sem entender de fundamentos mais complexos, mas sentindo que ele, o povo, mesmo simples, não pode ser mero detalhe na criação. Frei Leonardo merece o respeito pela luz que jogou e que agora possibilita a muitos outros (inclusive oportunistas de plantão), enxergarem nas potenciais falhas, oportunidade de serem vistos. Não me refiro ao grande teólogo Clodovis, mas aos que em nada contribuíram para a formação de nossa base social.WG

  5. Prof Airton,

    Eu concordei com alguns diagnósticos de Clodóvis Boff, embora discordei em muito de muito da receita dele. quero para poder abreviar, lhe reportar uma conversa que tive uma vez com um padre militante. Estávamos em um evento de Encontro dos Povos do Cerrado, e conversamos, eu contei que gostava de Moltmann. Ele fez uma cara estranha, dizendo que achava Moltmann muito "espiritualista" e "intimista".
    Eu me escandalizei com uma questão-chave. No teólogo alemão, vemos um pouco menos do "pé na poeira" dos teólogos do Sul, pelo próprio contexto social, o que era de se esperar. Mas vemos nele o fôlego da orientação da práxis à esperança. Eu vejo que ele tocava coisas íntimas e questões transcedentes, porque são dimensões da realidade que perpassam a vida de todos, especialmente dos pobres, basta alguém perguntar a eles na linguagem deles. Eles também vivem conflitos íntimos, conflitos com Deus, familiares, dúvidas existenciais, angústias, questões morais, etc., além das questões materiais. Ou serão eles anjos (e Deus sabe que até os anjos caem)?
    Senão, como a religião teria animado a vida de pobres em tantos séculos a despeito dos chavões sobre "ópio", "escapismo"?
    Nesse discurso do padre eu pude ver realmente um esvaziamento da razão de ser da espiritualidade. Tudo o que ele propunha poderia existir sem igreja, elas seriam gastos desnecessários de recursos e tempo. Ou seriam instrumentos de manipulação para programas políticos. E muitas vezes, a despeito de muita presunção intelectualista, o programa de militantes não ia além de um maoísmo ingênuo.

    E se a América Latina se desenvolvesse, fosse um pouco mais além da semiperiferia, como um Leste Asiático tipo Coréia, e daí? O povo foi beatificado? Ficou puro e pode ver a Deus? Aonde se quer chegar de verdade? Se o pobre é o foco, mas é foco pra quê, pra romantizar a pobreza ou melhorar suas condições? Então, logo, caiu-se numa paralaxe: o rico é que seria o alvo da santidade, pois seria o resultado do pobre que não é mais pobre e foi liberto? A missão cumprida?

    Eu penso que a Teologia da Libertação precisa sim de uma auto-crítica para não virar um gueto, mesmo que ela lute contra inimigos com interesses outros. Ela precisa um pouco sim dessa dosagem de "intimismo", "espiritualização" do Moltmann, não apenas para os clérigos confabularem, mas para o povo. Os pentecostais (não os neopentecostais), têm experiências para ensinar como esse "intimismo" e "espiritualismo" libertou muitos que estavam na autoestima tão baixa e desiludidos de tudo que não tinham mais força para encarar o marido bêbado, o filho problemático, a esposa incompreensiva e dura, o ambiente de drogas, violência, de perda de esperança caso não consiga que a família melhore de vida (o que faz parte da realidade, gostemos ou não), ou fique indiferente caso consigam.

    E estes passos estão no Cristo que não é nem o Jesus ebionita nem o doceta. Está no Deus que se auto-revela, onde podemos nos fiar e lutar por saber que é o certo a se fazer, ter sede de justiça e amor pela misericórdia.

  6. "A minha suspeita é de que as criticas suscitadas por Clodovis Boff à Teologia da Libertação forneçam às autoridades eclesiásticas locais e romanas as armas para condená-la novamente e, quem sabe, bani-la definitivamente do espaço eclesial."

    Senhor, escutai a nossa prece! e que os anjos digam amém!

  7. Assim, sobra mais espaço para fazermos a TdO… a Teologia da Opressão, certo? Excelente ideia!

  8. O que se consegue ler nas entrelinhas do texto do Codovis Boff é o seguinte: a teologia correta, fundamental, é que defende os ricos, uma plutologia. Uma outra reflexão, que surge com a Conferência de Aparecida e sua pregação de salvação para todos, fica parecida com o princípio "todos são iguais perante a lei", e o resultado nós estamos cansados de saber.

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