Teologia e academia no Brasil

Entre a cidadania teológica e a esquizofrenia acadêmica. Entrevista especial com Ricardo Willy Rieth

Com a possibilidade aberta pelo MEC para autorização e reconhecimento de cursos de bacharelado, a partir de 1999, a Teologia alcançou uma espécie de “cidadania” acadêmica”, afirmou Ricardo Willy Rieth em entrevista à IHU On-Line realizada por e-mail. Rieth analisa o percurso da teologia no Brasil, dos projetos encaminhados ao Senado e à Câmara Federal e fala sobre o ensino da teologia no país. Trabalhando com docentes e pesquisadores de diversas áreas, Rieth se diz impressionado com a ignorância teológica presente nas academias. “Mesmo aqueles que professam alguma crença, sofrem de uma “esquizofrenia acadêmica”, ou seja, são incapazes de estabelecer relações entre o saber de sua área específica e o saber religioso”, disse. Ricardo Willy Rieth é teólogo e sociólogo. É doutor em teologia pela Universidade de Leipzig, na Alemanha, onde também obteve o título de pós-doutor. Atualmente, é professor da Universidade Luterana do Brasil – Ulbra e da Escola Superior de Teologia – EST.

Da entrevista, destaco três trechos. Leia a entrevista completa em Notícias do Dia – IHU On-Line: 24/04/2008

IHU On-Line – Como o senhor analisa o ensino da Teologia no Brasil, hoje?
Ricardo Willy Rieth – É notável a expansão de cursos de Teologia em todas as regiões do Brasil. Muitos, inclusive, buscando autorização oficial. As denominações que historicamente mantinham compromisso com uma formação teológica consistente, como a Igreja Católica Apostólica Romana e as igrejas protestantes históricas, seguem nesta linha. Denominações que, no passado, negligenciavam uma formação teológica em nível superior, como algumas igrejas pentecostais, grupos de espiritismo kardecista e cultos afro-brasileiros, estão gradativamente mudando sua postura. Por outro lado, se tal expansão traz consigo um aprofundamento da qualidade do ensino e da formação é algo difícil de avaliar. Tenho percebido que estudantes de Teologia têm agido da mesma forma que universitários em geral nos últimos tempos, ou seja, optando pelo pragmatismo da formação rápida e voltada ao pronto ingresso no mercado de trabalho, em detrimento de uma formação mais pautada pela reflexão crítica acerca dos conteúdos e práticas associados à Teologia. Infelizmente, as instituições de ensino superior têm atendido, ou têm sido levadas a atender a essa demanda de seus “clientes” [sublinhado meu].

IHU On-Line – A possibilidade de criação de um Conselho Nacional de Teólogos muda, de que forma, a relação entre a Igreja e o Estado?
Ricardo Willy Rieth – Penso que não mudaria. As denominações religiosas, cristãs ou não, seguirão determinando os critérios de seleção e designação dos membros do seu clero, independente das normas propostas por um suposto conselho nacional. Eventualmente, as condições do exercício da profissão de teólogo (a) na esfera pública – capelanias militares, por exemplo – poderiam ser afetadas.

IHU On-Line – Alguém que exerça a atividade de teólogo mesmo sem ser diplomado pode ser reconhecido pelo Estado, caso esse conselho seja aprovado. Qual sua opinião sobre isso?
Ricardo Willy Rieth – Para muitos, dentre os quais me incluo, a não-exigência de diploma oficialmente reconhecido colocaria este conselho de antemão em descrédito. Aliás, os teólogos precisam esforçar-se para que seu título, “teólogo”, cujo significado, de fato, é desconhecido para amplos setores da população brasileira, seja digno de crédito e visto de forma positiva. Isso porque muitos, infelizmente, têm associado títulos mais conhecidos, como “pastor”, por exemplo, a vigarista e “picareta”, e “padre”, a pedófilo, muitas vezes com conteúdos tendenciosos apresentados pelos meios de comunicação.