Resenhas na RBL: 28.03.2008

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Joan Cecelia Campbell
Kinship Relations in the Gospel of John
Reviewed by Ritva H. Williams

Daniel K. Falk
The Parabiblical Texts: Strategies for Extending the Scriptures among the Dead Sea Scrolls
Reviewed by Matthew Goff

Karin Finsterbusch, Armin Lange, and K. F. Diethard Römheld, eds.
Human Sacrifice in Jewish and Christian Tradition
Reviewed by Jason Tatlock

John Fotopoulos, ed.
The New Testament and Early Christian Literature in Greco-Roman Context: Studies in Honor of David E. Aune
Reviewed by Michael Labahn
Reviewed by Karl-Wilhelm Niebuhr

Paul M. Fullmer
Resurrection in Mark’s Literary-Historical Perspective
Reviewed by John Dart

Martha Himmelfarb
A Kingdom of Priests: Ancestry and Merit in Ancient Judaism
Reviewed by Henryk Drawnel

F. Rachel Magdalene
On the Scales of Righteousness: Neo-Babylonian Trial Law and the Book of Job
Reviewed by Markus Witte

James K. Mead
Biblical Theology: Issues, Methods, and Themes
Reviewed by James D. G. Dunn

Jean-Marc Michaud, ed.
La Bible et l’héritage d’Ougarit: Mélanges bibliques et orientaux en hommage posthume à Monsieur André Caquot
Reviewed by Paul Sanders

Günter Neumann
Glossar des Lykischen: Überarbeitet und zum Druck gebracht von Johann Tischler
Reviewed by Diether Schürr

Romano Penna
Lettera ai Romani: II. Rm 6-11
Reviewed by Lee S. Bond

Neil A. Soggie
Myth, God, and War: The Mythopoetic Inspiration of Joshua
Reviewed by Ovidiu Creanga

Lena-Sofia Tiemeyer
Priestly Rites and Prophetic Rage: Post-exilic Prophetic Critique of the Priesthood
Reviewed by Reinhard Achenbach

William Varner
The Way of the Didache: The First Christian Handbook
Reviewed by Jonathan A. Draper

Robert Louis Wilken, trans. and ed.; with Angela Russell Christman and Michael J. Hollerich
Isaiah: Interpreted by Early Christian and Medieval Commentators
Reviewed by J. David Cassel

Os zoiloismos de Zóia

Esse antilulismo veio no âmbito de um fenômeno mundial que pegou fortemente na imprensa brasileira, que é esse estilo neocon, dos neoconservadores norte-americanos da Fox (TV), estilo agressivo. De repente foi interpretado pela mídia nossa como se fosse aquele novo jornalismo dos anos 70, como se fosse algo que veio para mudar (…) É como se estivesse na última moda. Ô, meu Deus do Céu, se isso for a última moda, acabou o jornalismo, é o túmulo do jornalismo. Se fosse um ou outro, mas todo mundo querendo fazer isso! Mas tem vários aspectos: a crise da grande mídia, com a entrada dos novos grupos e a falta da visão estratégica sobre como se posicionar, os jornais perdendo tiragem ano a ano, a imprensa de opinião. De repente eles vêem essa chance… (Luis Nassif, Entrevista Explosiva da Caros Amigos de março 2008, ano XI, n. 132, p. 30)

Livro de Sean Freyne foi traduzido pela Paulus

A Paulus lançou a tradução de um interessante livro de Sean Freyne. Veja

FREYNE, S. Jesus, um Judeu da Galiléia: Nova leitura da história de Jesus. São Paulo: Paulus, 2008, 190 p. – ISBN 9788534928946.


Diz a sinopse da editora:
Em Jesus, um judeu da Galiléia, Sean Freyne explica muitos dos dados e do comportamento de Jesus em relação ao seu contexto na Galiléia. O leitor é convidado a uma viagem através da Palestina na perspectiva de Jesus, olhando aquele mundo com os olhos de um judeu plenamente educado nas suas tradições. Este trabalho é enriquecido pelo detalhado e amplo conhecimento que o autor tem das fontes literárias e arqueológicas.


O original [em Paperback] foi publicado em inglês em 2004:


FREYNE, S. Jesus, A Jewish Galilean: A New Reading of the Jesus Story. London: T. & T. Clark, 2004, xii + 212 p. – ISBN 9780567084675.


Há uma boa resenha do livro na RBL, escrita por Joshua Ezra Burns, da Yale University, New Haven, e publicada em 18/06/2005.

Outro estudo de Sean Freyne que vale a pena foi publicado no Brasil em 1996. É:


FREYNE, S. A Galiléia, Jesus e os Evangelhos: Enfoques literários e investigações históricas. São Paulo: Loyola, 1996, 256 p. – ISBN 9788515011858.


É a tradução de FREYNE, S. Galilee, Jesus and the Gospels: Literary Approaches and Historical Investigations. Minneapolis, MN : Fortress Press, 1988, 311 p. – ISBN 9780800620899.


Sean Freyne foi professor na School of Religions and Theology do Trinity College de Dublin, Irlanda.

>> Atualização: 06/08/2013 – 10h30
O Professor Sean Freyne faleceu ontem, dia 5 de agosto de 2013.

Blog Philo of Alexandria parou

Hoje Torrey Seland anunciou que está encerrando as atividades de seu blog sobre Fílon, o raro e bem-feito Philo of Alexandria Blog.

Ele diz no post The End:
I have finally made up my mind; this blog has come to its end (…) I have simply come to realize that I don’t have enough spare time to be a blogger on Philo anymore. I will continue to read and write about Philo, but no more blogging here.

É uma pena.

Guerra? Veja porque o diabo gosta…

Prenda a respiração e só olhe se for forte, porque o que se vê da guerra do Iraque aqui, em site de Robert Fisk, correspondente para o Oriente Médio do jornal inglês The Independent, é muito feio…

Recomendado só para adultos.

No site há um aviso:
Please note that some of these pictures are not suitable for small children and those who have weak hearts. These photos are only of a very tiny fraction of the thousands of Iraqi Civilian Victims who have been terrorised, humiliated, injured, maimed and killed through British and American bombing of civilian areas in various cities of Iraq. Due to insecurity, independent reporters could not and still can not reach many areas to photograph and report the atrocities. Several independent reporters and journalists were deliberately bombed to prevent them reporting the atrocities. We kindly request Independent News Reporters to send us photos of the Anglo-American atrocities in Iraq for inclusion on these pages.

Pictures of Destruction and Civilian Victims of the Anglo-American Aggression in Iraq (From March, 2003 onwards). [Obs.: link quebrado – fotos desaparecidas… Observação feita em 10.03.2009]
Clique nos números das páginas para ver as fotos: Page 1, Page 2… são muitas páginas de horror!


É Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, quem avisa:
Guerra diverte – o demo acha. Mas, explica: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos.

Na tradução alemã: ROSA, J. G. Grande Sertão. Roman. Aus dem brasilianischen Portugiesisch von Curt Meyer-Clason. Köln: Verlag Kiepenheuer & Witsch, [1964] 1987. – ISBN 3462018094 isto soa assim:
Der Krieg lenkt ab – so meints der Teufel (…) Der Teufel wirkt im Innern des Menschen, in seinen Eingeweiden, und dann ist der Mensch entweder böse, oder er hat Pech.

Teologia e Literatura: comadres ciumentas

Como disse aqui, o tema de capa da Revista IHU On-Line, edição 251, que saiu no dia 17 de março de 2008, foi a a relação entre Literatura e Teologia.

Só hoje consegui ler todos os textos. Há muitas coisas interessantes, mas o texto que mais me fascinou foi a entrevista de Waldecy Tenório, professor associado da PUC-SP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP. Deixo à curiosidade do leitor a busca desta e das outras entrevistas, mas quero destacar um pequeno trecho, onde ele diz que Teologia e Literatura são comadres ciumentas que disputam o ser humano e que quando elas se beijam é porque não podem se morder:

IHU On-Line – São relações pacíficas ou literatura e teologia são “irmãs inimigas”? Por quê?

Waldecy Tenório – Pacíficas nunca foram, nunca serão, e é bom que assim seja. Elas poderiam subscrever, juntas, aquele famoso verso de Petrarca, que começa assim: “Pace no trovo” (não tenho paz), e termina dizendo que “non ho da far guerra” (não posso fazer a guerra). As duas têm a mesma idade, nasceram na mesma época, a poesia era a alma dos ritos religiosos. Com o tempo, a teologia foi se transformando numa senhora sisuda, muito respeitável, uma velhinha que não tira nunca o véu da cabeça, enquanto a outra parece mais jovem, irreverente, a louca da casa, de reputação às vezes duvidosa, e é claro que isso acabou por criar um certo conflito ou uma certa desconfiança entre as duas. Mas acredito que a principal razão disso é que uma tem ciúme da outra porque ambas são apaixonadas pelo ser humano. O ciúme as faz viver de pé atrás, às vezes nem se olham, de forma que, parodiando Bernard Shaw, quando elas se beijam é porque não podem se morder. Essa tensão foi captada por Drummond quando escreve um verso que soa como a encruzilhada do eu lírico desesperado: “Meu Deus e meu conflito”. Ora, esse conflito é muito rico, não pode ser jogado fora nem por uma “literatura edificante” nem por uma “religiosidade melosa” do tipo new age. Por isso é bom que as comadres continuem assim, desconfiando uma da outra.

 

A entrevista

“Meu Deus e meu conflito”. Teologia e literatura

Para o professor Waldecy Tenório, o sagrado e o profano se encontram na literatura, sendo a poesia a última forma de êxtase

Ao falar sobre a ligação entre teologia e literatura, o professor Waldecy Tenório, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), considera profundas as relações entre essas duas áreas. “Dessas que se dão nas camadas subterrâneas do texto. E os teólogos e os críticos, mais do que nunca, estão descobrindo isso”, afirmou, em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line. Para ele, “não seria possível desconhecer o encontro entre a fé e o ceticismo no interior da literatura”.
Tenório é graduado em Letras Clássicas com doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. É autor de A bailadora andaluza: a explosão do sagrado na poesia de João Cabral (São Paulo: Ateliê Editorial, 1996) e de ensaios publicados na grande imprensa e em revistas acadêmicas nacionais e internacionais sobre as relações entre literatura e teologia. Atualmente, atua como professor associado da PUC-SP e é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

IHU On-Line – Como foram no passado e como se desenham hoje as relações entre literatura e teologia?
Waldecy Tenório – Se fizéssemos essa pergunta ao evangelista João, ele certamente diria que no princípio era o Verbo, e não estaria dizendo pouco. Quer dizer, essa relação entre literatura e teologia já aparece na origem, ou na aurora do mundo, como se fosse uma culpa ou um pecado original. Na antigüidade grega, encontramos a doutrina do entusiasmo, que associa a inspiração poética à profecia ou mesmo à possessão por um Deus. No mundo judaico, não se concebe a escrita a não ser dentro de uma ligação muito forte com o divino. O profeta Ezequiel engoliu “goela abaixo” o rolo de um livro e ainda teve de antecipar o prazer do texto de Roland Barthes dizendo, meio sem graça, que o livro lhe era doce como o mel. É claro que não podemos esquecer os poemas que são os textos fundantes de outras grandes tradições religiosas, como, por exemplo, o Bhagavad-Gita. Mas se, por uma questão de método, permanecermos na trilha judaico-cristã, vamos encontrar, a seguir, esse monumental biografema, as Confissões de Santo Agostinho, a empresa editorial de São Jerônimo, a escola de Hugo de San Victor, Dante, São João da Cruz, Teresa d’Ávila, Sóror Juana Inês… E depois – não dá para lembrar tudo – Derrida vem nos dizer que a letra é sempre roubada e o Deus bíblico transmigra para a literatura profana, se esconde na poesia, se disfarça no romance e, por vezes, dá as caras no cinema. Por que já se pôde dizer que o Ulysses de Joyce é um romance teológico? Porque o Deus bíblico é esperto, deixa rastros, e isso de propósito, para não o esquecermos, para ficarmos sempre no seu encalço, nessa agonia que vitimou desde os antigos profetas até uma Simone de Beauvoir: “onde está ele?”. O fato é que o sagrado e o profano se encontram na literatura, sendo a poesia a última forma de êxtase ou, como diz Murilo Mendes, a transubstanciação do leigo no sagrado. Então, resumindo: foram e são relações profundas, essas que se dão nas camadas subterrâneas do texto. E os teólogos e os críticos, mais do que nunca, estão descobrindo isso.

IHU On-Line – São relações pacíficas ou literatura e teologia são “irmãs inimigas”? Por quê?
Waldecy Tenório – Pacíficas nunca foram, nunca serão, e é bom que assim seja. Elas poderiam subscrever, juntas, aquele famoso verso de Petrarca, que começa assim: “Pace no trovo” (não tenho paz), e termina dizendo que “non ho da far guerra” (não posso fazer a guerra). As duas têm a mesma idade, nasceram na mesma época, a poesia era a alma dos ritos religiosos. Com o tempo, a teologia foi se transformando numa senhora sisuda, muito respeitável, uma velhinha que não tira nunca o véu da cabeça, enquanto a outra parece mais jovem, irreverente, a louca da casa, de reputação às vezes duvidosa, e é claro que isso acabou por criar um certo conflito ou uma certa desconfiança entre as duas. Mas acredito que a principal razão disso é que uma tem ciúme da outra porque ambas são apaixonadas pelo ser humano. O ciúme as faz viver de pé atrás, às vezes nem se olham, de forma que, parodiando Bernard Shaw, quando elas se beijam é porque não podem se morder. Essa tensão foi captada por Drummond quando escreve esse verso que soa como a encruzilhada do eu lírico desesperado: “Meu Deus e meu conflito”. Ora, esse conflito é muito rico, não pode ser jogado fora nem por uma “literatura edificante” nem por uma “religiosidade melosa” do tipo new age. Por isso é bom que as comadres continuem assim, desconfiando uma da outra.

IHU On-Line – Há um certo distanciamento entre teólogos e críticos literários. O que acontece? Dogmatismo, positivismo, ateísmo ou desconhecimento mútuo?
Waldecy Tenório – É tudo isso mesmo que se reúne na pergunta, esse coquetel Molotov, cujo ingrediente mais forte é justamente o dogmatismo. Isso é uma doença que vem de longe e contra ela não existe vacina. De um lado, o dogmatismo teológico. Disse antes que, na origem, há cumplicidade entre literatura e teologia. Só como exemplo, lembremos os poetas teólogos de Platão e os cantos líricos em louvor da divindade. Começa assim essa história, e vai indo muito bem, até que a teologia se converte em doutrina e se começa a falar em Verdade, assim, com maiúscula. Ora, diante de alguém que fala desse jeito, o outro é sempre suspeito e passível de condenação. É assim que o teólogo vai se transformando num comissário, guardião de uma doutrina, único depositário da verdade. O crítico literário, por sua vez, é envolvido pelo que já se chamou de o “demônio da teoria”, e esse demônio sempre se disfarça no interior da ideologia da época: o racionalismo, o positivismo, o ateísmo… E aí, quando os demônios põem as garras de fora, acontece uma pororoca: o encontro do dogmatismo religioso com o dogmatismo laico, e então entram em cena as famosas hermenêuticas redutoras. Para piorar as coisas, os teólogos têm um vício muito antigo e insuportável: estão sempre procurando uma ancilla, na pior das hipóteses, um sacristão alfabetizado para ser portador de uma “mensagem”. A literatura, que segundo Barthes, desafia o Pai Político e o Pai Religioso, não aceita esse papel. E o que acontece? Platão expulsa os poetas da República, o Papa os ameaça com a excomunhão e o secretário-geral do Partido diz que são reacionários porque não adotam as “posições corretas” do Grande Irmão. Quando se encontram, teólogos e críticos literários só podem ficar mesmo meio ressabiados e distantes, no mínimo, sem jeito. Diálogo? De um lado, um risinho amarelo – filosófico -, do outro, um risinho amarelo – teologal. E fica nisso.

IHU On-Line – Quando se fala em literatura e teologia, a Igreja é sempre lembrada. Essa lembrança se dá em termos positivos ou negativos. Por quê?
Waldecy Tenório – Essa pergunta é um convite para um pequeno passeio pela história da intolerância religiosa. Os que gostam de erudição poderão começar pelo brado retumbante de Tertuliano: “O que há entre Atenas e Jerusalém?”. Mas não precisamos ir tão longe porque o dogmatismo e o fanatismo são venenos que chegam até os nossos dias. Não é raro se ouvir um inacreditável “Não vi e não gostei” vindo do interior de alguma sacristia ou, se dormirmos no ponto, de alguma repartição pública, para ensinar como é que o romance ou o teatro devem tratar de algum tema. Saramago é um exemplo, sofreu isso recentemente. Quem não se horroriza, pois, só de pensar naqueles “leitores terríveis” de que nos fala Octavio Paz? O arcebispo que perseguia Sóror Juana Inês era um deles. Tudo isso contribui para reforçar o lado negativo da Igreja, quando se trata de pensar a relação entre literatura e teologia. Mas precisamos ver também o outro lado, o mal não reina assim absoluto. É muito significativa a história de Walter Miller sobre os monges que decoravam os livros a fim de preservá-los para o dia em que os homens tivessem a nostalgia da cultura, o que evidentemente nos faz lembrar os monges e os livros na Idade Média. De modo que nem tudo é obscurantismo. Podemos lembrar a esse respeito um célebre encontro entre Graham Greene e o Papa Paulo VI. Lá pelas tantas o escritor lembrou-se de perguntar: “O senhor sabe que O Poder e a Glória estão no Índex dos livros proibidos?”. O papa arregalou os olhos: “Quem fez isso?”. “O cardeal tal”, disse o escritor. Paulo VI balançou a cabeça e fez um gesto como quem diz: “esqueça o cardeal tal”.

IHU On-Line – Karl-Josef Kuschel insinua que Deus é um péssimo princípio estilístico. Vindo de um teólogo católico, o que isso significa?
Waldecy Tenório – Frank Kermode, um dos mais importantes críticos literários da atualidade, conclui um dos seus ensaios dizendo que os teólogos estão interessados numa espécie de acordo como o que foi feito entre a psicanálise e a ficção. Em outras palavras, eles estão interessados numa aproximação entre a teologia e a crítica literária. Uma prova disso talvez seja justamente o livro Os escritores e as escrituras, no qual Kuschel coloca a frase que está no centro dessa pergunta: Deus como um péssimo princípio estilístico. Para avaliarmos o sentido dessa expressão, precisamos lembrar que Kuschel fala como um renomado teólogo católico e um grande conhecedor da literatura, de que dão prova seus estudos sobre Kafka e a literatura alemã em geral. E o que ele diz nesse livro? Paulo Soethe , que escreve o prefácio, resume bem a questão, dizendo que Kuschel afasta-se da arrogância de quem manipula a poesia e a ficção com fins religiosos e também da obtusidade de quem elide, nos textos, os elementos ligados à religião e à fé. A frase de Kuschel, portanto, soa como uma advertência contra essas duas posições sectárias e significa a abertura de um caminho por onde teólogos e críticos literários possam dialogar. E isso melhora muito a situação da Igreja diante dos críticos literários, que, por sua vez, também precisam jogar fora a armadura dos seus dogmatismos. Além disso, quando se fala na aproximação entre literatura e teologia não se pode ficar preso à tradição cristã ou católica. É preciso pensar mais longe, ir em busca da prisca theologia, para colocar aí a relação imemorial do homem com o divino, em suas múltiplas formas e na expressão própria de cada tradição.

IHU On-Line – Há lugar na universidade para o diálogo entre literatura e teologia? Podemos dizer que existe uma pesquisa significativa, nessa área, na América Latina e no Brasil?
Waldecy Tenório – Não faz muito, Umberto Eco nos contou a história de um estudante que, em plena aula, perguntou: “professor, na época da internet, o senhor ainda serve para alguma coisa?”. Claro que uma pergunta como essa é um desafio: onde está, afinal, a essência do ato pedagógico? Por outras palavras, de que se trata? Armazenar informações? Desenvolver habilidades para fazer alguma coisa? Responder às necessidades do mercado? Se for só isso, realmente o professor, não digo que seja dispensável, mas sua função estaria mesmo tão diminuída que a pergunta daquele estudante não seria um disparate completo. Acontece, porém, que o ato pedagógico tem a ver com outras águas, tem a ver com a correnteza principal do rio que fertiliza a condição humana e deve fertilizar a escola. Ou seja, a educação deve entrar no cenário da cultura como um antídoto para o esquecimento do ser, e aí o diálogo entre literatura e teologia é de uma enorme pertinência. E, felizmente, tem produzido trabalhos de boa qualidade, em diversos países e no Brasil. Desse diálogo, pode brotar a resposta que Shakespeare está esperando de nós há mais de três séculos: a resposta para a questão do ser ou não ser.

IHU On-Line – Além da crença, o diálogo entre literatura e teologia tematiza também a questão do ceticismo?
Waldecy Tenório – Claro, não seria possível desconhecer o encontro entre a fé e o ceticismo no interior da literatura. A literatura traz em si todos os sentimentos humanos: amor, ódio, alegria, tristeza, angústia, desespero, esperança, dúvida, fé… Deus e o diabo são personagens obrigatórios, embora às vezes clandestinos, escondidos sob mil disfarces. O Bem e o Mal, o mistério que todos somos, tudo isso pulsa no romance e na poesia. E depois, lembrando Tillich, Deus está pressuposto na própria situação de dúvida em relação a ele. Então, não há como escapar. A literatura oscila, então, entre o ceticismo e a fé, e daí o desespero e a angústia dos escritores, céticos ou crentes. Uns acreditam, outros não, muitos se desesperam. E há aqueles sempre marcados por uma profunda nostalgia. Não há dúvida de que a fé e o ceticismo são as duas faces de uma mesma moeda, duelam no fundo obscuro do texto como no fundo obscuro da vida. Lembro Sartre falando de Deus. É surpreendente e muito bonito: “como não conseguiu enraizar-se no meu coração, Deus vegetou em mim algum tempo e depois morreu. Hoje, quando me falam dele, como o homem que encontra uma antiga namorada e sente uma profunda nostalgia, eu penso: há cinqüenta anos, sem aquele mal-entendido que nos separou, poderia ter havido alguma coisa entre nós…”.

IHU On-Line – Fazendo um exercício de leitura teopoética, como aparece a relação entre crença e ceticismo na poesia de João Cabral de Melo Neto? Como caracterizar o sagrado em seus poemas?
Waldecy Tenório – João Cabral é um caso exemplar na poesia moderna brasileira. Os ensaios que escreveu, entre os quais podemos lembrar, “Considerações sobre o poeta dormindo”, “A inspiração e o trabalho de arte”, bem como seu estudo sobre Joan Miró, podem ser incluídos naquela grande tradição dos poetas críticos estudados por Leyla Perrone-Moisés. Basta dizer que a sua “angústia da influência” tem um nome, por si, emblemático: Paul Valéry. Ora, se os surrealistas queriam que o poema fosse a derrota do intelecto, Valéry pensa diferente. Sua obsessão é o ostinato rigore de Da Vinci e, portanto, para ele, o poema deve ser “a festa do intelecto”. Valéry escreve sob o domínio do claro, do exato, do racional. Seguindo nessa trilha, nosso poeta abandona o momento romântico no qual, segundo Pristley, vivíamos batendo palmas para a sombra da lua e toma outro rumo, vai celebrar o sol. Estamos em pleno Iluminismo, como mostra o poema “A cana e o século XVIII”, no qual “a cana é pura enciclopedista /no geométrico, no ser de dia/ na incapacidade de dar sombras/ mal-assombradas, coisas medonhas”. Aqui o sobrenatural não tem vez, tanto mais que João Cabral é ateu e, diz ele, nasceu sem transcendência. No entanto, como em certa canção da MPB, o inesperado faz uma surpresa e o leitor, se estiver atento, é testemunha de uma mudança. A conhecida frase de Adorno, segundo a qual “o mundo totalmente iluminado brilha sob a luz de uma terrível desventura”, encontra sua tradução num verso que diz “Dá-se que hoje dói na vida tanta luz”. Resumindo: a poesia de João Cabral acaba por descobrir que o racionalismo nos desumanizou. No mundo da técnica sem o suplemento de alma que Bergson reclamava e no mundo da ciência sem consciência que Morin denunciou, “o esquadro disfarça o eclipse/ que os homens não querem ver”. O eclipse é a crise do homem e então o poeta revoluciona a sua astronomia dizendo que “nova espécie de sol/ eu, sem contar, descobria”. A nova espécie de sol é o ser humano e então, da fase marcada pela astronomia, sua obra passa para uma fase marcada pela antropologia. Não é mais o racional nem o econômico, é o humano que conta. Ora, Rahner nos ensinou que da antropologia para a teologia é um passo. Ao descobrir o homem, João Cabral descobre a sua própria transcendência. E o extraordinário é que se trata de uma mulher. A bailadora andaluza revoluciona a astronomia do poeta quando faz a conexão com o sagrado, aquele sagrado que explode nem que seja na vida severina. Por isso, deixe agora que eu lhe diga, quem aconselha o retirante a pular para dentro da vida? Pode ser Seu José, mas também pode ser São José mestre carpina. Por que não?

Para verificar os links de seu biblioblog

Se você usa o WordPress, o plugin Broken Link Checker, por ManageWP, é o que recomendo. Mas há também extensões para os navegadores ou ferramentas online que fazem a verificação dos links.

 

Descrição na página do plugin Broken Link Checker:

This plugin will monitor your blog looking for broken links and let you know if any are found.

Once installed, the plugin will begin parsing your posts, bookmarks (AKA blogroll) and other content and looking for links. Depending on the size of your site this can take from a few minutes up to an hour or more. When parsing is complete, the plugin will start checking each link to see if it works. Again, how long this takes depends on how big your site is and how many links there are. You can monitor the progress and tweak various link checking options in Settings -> Link Checker.

The broken links, if any are found, will show up in a new tab of the WP admin panel – Tools -> Broken Links. A notification will also appear in the “Broken Link Checker” widget on the Dashboard. To save display space, you can keep the widget closed and configure it to expand automatically when problematic links are detected. E-mail notifications need to be enabled separately (in Settings -> Link Checker).

The “Broken Links” tab will by default display a list of broken links that have been detected so far. However, you can use the links on that page to view redirects or see a listing of all links – working or not – instead. You can also create new link filters by performing a search and clicking the “Create Custom Filter” button. For example, this can be used to create a filter that only shows comment links.

There are several actions associated with each link. They show up when you move your mouse over to one of the links listed the aforementioned tab –

  • “Edit URL” lets you change the URL of that link. If the link is present in more than one place (e.g. both in a post and in the blogroll), all occurrences of that URL will be changed.
  • “Unlink” removes the link but leaves the link text intact.
  • “Not broken” lets you manually mark a “broken” link as working. This is useful if you know it was incorrectly detected as broken due to a network glitch or a bug. The marked link will still be checked periodically, but the plugin won’t consider it broken unless it gets a new result.
  • “Dismiss” hides the link from the “Broken Links” and “Redirects” views. It will still be checked as normal and get the normal link styles (e.g. a strike-through effect for broken links), but won’t be reported again unless its status changes. Useful if you want to acknowledge a link as broken/redirected and just leave as it is.

You can also click on the contents of the “Status” or “Link Text” columns to get more info about the status of each link.

Simposio de Teologia na PUC-Rio em abril

Desafios e horizontes para a Teologia no diálogo com a sociedade contemporânea: Fé-Ciência-Transdisciplinariedade. Este é o tema do I Simpósio Internacional de Teologia, promovido pelo Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

O evento, que ocorrerá de 1 a 3 de abril de 2008, quer propiciar a exposição dos avanços do diálogo da Teologia com/através e além da Cultura e das Ciências, para estabelecer condições de novos patamares de linguagem, temática, abordagem e epistemologia do conhecimento. Isso possibilitará criar aproximações da crise da cultura ocidental, rediscutir novos elementos da razão , buscar consensos científicos que ajudem a superar a polaridade e propor reelaborações da razão religiosa na atualidade.

Entre os conferencistas estão Andrés Torres Queiruga, professor da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha; Elisabeth Schüssler Fiorenza, professora da Universidade de Harvard, EUA; Manfredo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará e Luiz Carlos Susin, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Os painéis abordarão os seguintes temas: Teologia e Física, Teologia e Ciências Humanas, Teologia e Ciências da Religião, Teologia e Cultura, Teologia, Resiliência e Pastoral, Bíblia e Ecologia.

Iraq War Five Years Later

Em uma situação “desesperadora”, milhões de iraquianos vivem sem acesso a água tratada, saneamento básico ou atendimento à saúde, cinco anos após a invasão americana de 2003, afirmam nesta segunda-feira dois relatórios divulgados por organizações internacionais, relata a BBC Brasil em Cinco anos depois, situação no Iraque “é desesperadora”, diz relatório – 17/03/2008

No 5º aniversário do conflito, Bush defende Guerra do Iraque – Folha Online: 19/03/2008
Após cinco anos, a Guerra no Iraque tornou-se impopular entre os norte-americanos. Segundo uma pesquisa realizada pela rede de televisão CNN, apenas 32% dos entrevistados apoiam a guerra. Já 66% opõem-se à intervenção do país no Iraque.

Leia Mais:
Guerra no Iraque – Especial Folha Online
Documentos secretos trazem evidência de crimes de guerra no Afeganistão, diz site – Folha.com: 26/07/2010