O Sepulcro Esquecido de Jesus e a Estatística

Para quem quiser ver algo realmente sério sobre os cálculos estatísticos presentes no caso do Sepulcro Esquecido de Jesus, há uma boa leitura em:

Bayes’ Theorem And The “Jesus Family Tomb”

Publication of the book The Jesus Family Tomb in late February, 2007, sparked a media firestorm. Could it be that the actual tomb of Jesus of Nazareth had been found in a suburb of Jerusalem? The book’s authors, Simcha Jacobovici and Charles Pellegrino, believed it has. The book was followed up by the showing of a related documentary on the Discovery Channel on March 4, 2007.

The reaction to the book/documentary was intense, and things got particularly hot around the blogosphere. A number of folks criticized the probabilities quoted by Simcha and Charlie in the book. Simcha and Charlie alleged that the odds were “600 to 1” that this is in fact the tomb of Jesus of Nazareth. As support, they cited the calculations of Prof. Andrey Feuerverger, of the University of Toronto.

I read the book as soon as I could get a copy and thought hard about the calculations presented there. Because I have extensive experience in computing probabilities of such “remarkable events,” I did my own set of calculations and posted them on this web site in an article titled Statistics and the Jesus Family Tomb. My conclusion was that the tomb seemed very unlikely to be the family tomb of Jesus of Nazareth.

The article quickly earned a lot of notice around the web, even getting me several mentions on the blogs of Dr. James Tabor and Dr. Mark Goodacre, two well-known New Testament scholars.

Shortly after my article appeared, I received an email from Jay Cost, a graduate student in political science at the University of Chicago. Jay had written an influential article on the Real Clear Politics web site noting the importance of Bayes’ Theorem to the issue. In his email to me, Jay reiterated his comments on Bayes’ theorem and also asked some pointed questions about my calculations.

That email prompted a long and intense discussion between me and Jay on the statistics of the Jesus family tomb. At first, I was skeptical of his comments, but after doing some analysis, I quickly decided that he was correct — there was more to say about the Jesus family tomb. After many hours of talking, we have fused his ideas with mine. I can now report our conclusions.

I should note that Jay also introduced me to Dr. James Tabor, one of the leading players mentioned in the book The Jesus Family Tomb. Prof. Tabor has strongly urged the academic community to give the tomb hypothesis a fair chance.

I agree. There is nothing to gain by dismissing the whole idea out of hand, merely because it was proposed by a documentary producer. Either the tomb once contained the body of Jesus of Nazareth or it didn’t. Dr. Tabor and I agree that the issue needs to be studied carefully, without fear of where it will lead. We disagree on a number of issues, but he has become a valued friend. Jay and James have also introduced me to a number of other experts on the subject. And a few other experts took the initiative to contact me. Those folks have helped me distinguish between points that are generally agreed on and points subject to judgment calls.

Downloads

Jay Cost and I have written a detailed report of our analysis and conclusions, which we have published as a PDF file titled: “He Is Not Here” Or Is He? Along with this article, I created a spreadsheet that does all the calculations described in our article. You can easily change the assumptions in the calculations by adjusting numbers in the spreadsheet to see how it affects the results.

Download the PDF document “He is Not Here” Or Is He? to read our detailed analysis.

Download the Excel spreadsheet JesusCalculations.xls to replicate our calculations.

The article is unfortunately a bit technical. If you don’t want to read through all the math, then this page will summarize the line of argument and show you some selected conclusions (cont.).

Etanol banhado a sangue, suor e morte

BID e irmão de Bush vão lançar pacote pró-etanol – Sérgio Dávila – Folha Online: 27/03/2007

O Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Comissão Interamericana do Etanol lançam na segunda-feira, em Washington (EUA), a pedra fundamental para a formação de um mercado latino-americano de biocombustíveis.

A base para que esse mercado regional floresça será o investimento privado; entidades como o banco regional e a comissão multinacional entrariam apenas com amparo nas pesquisas e parcerias em projetos de melhoria de infra-estrutura.

O anúncio será feito pelo colombiano Luis Alberto Moreno, do BID, o ex-governador da Flórida Jeb Bush (irmão mais novo do presidente norte-americano) e o ex-ministro da Agricultura brasileiro Roberto Rodrigues na palestra “Em direção a um mercado hemisférico de biocombustíveis – O caminho à frente para o investimento privado”, no banco regional.

Os três criaram a comissão em dezembro último. Na ocasião, o trio divulga ainda amplo estudo encomendado pelo BID à Garten Rothkopf, empresa de consultoria baseada na capital norte-americana e comandada por David Rothkopf, ex-assessor econômico de Bill Clinton.

Intitulado “A Blueprint for Green Energy in the Americas” (Um Plano para a Energia “Verde” nas Américas), o relatório ainda está sendo mantido em sigilo, mas foi considerado por quem o leu como o mais amplo até agora já realizado sobre o assunto. Nele, a empresa faz um levantamento atual da situação da indústria latino-americana do biocombustível, indica como esse mercado deve estar em 2020 e faz recomendações estratégicas para que o setor cresça e se mantenha competitivo até lá.

Alguns dados já se tornaram públicos. O estudo estima, por exemplo, o total de investimento que será necessário para que o mercado avance globalmente, e quais países são candidatos prováveis para o novo dinheiro. No primeiro campo, a cifra foi revelada pelo próprio autor.

Segundo David Rothkopf, será preciso investir US$ 200 bilhões até 2020 para que os biocombustíveis consigam responder por 5% do mercado global de combustíveis –hoje, essa fatia não chega a 1%.

Para efeito de comparação, o plano anunciado no começo do ano pelo norte-americano George W. Bush, batizado “20 em 10”, prevê que 20% de toda a gasolina consumida nos Estados Unidos tenha sido substituída por biocombustíveis até 2010.

De acordo com o levantamento, desde que feitos os ajustes necessários, a região mais propícia a receber esse investimento será a América Latina. De novo, o próprio Rothkopf deu dicas recentes sobre essa conclusão. “Nesse sentido, a América Latina será o golfo Pérsico dos biocombustíveis, com a diferença, é claro, de que a região é um foco muito mais estável de energia”, comparou o analista durante reunião anual do BID, há alguns dias, na cidade da Guatemala.

De 50 países pesquisados, a consultoria diz que a maioria (39) já possui leis específicas que beneficiam algum tipo de biocombustível e mais da metade (27) conta com legislação prevendo a mistura do produto à gasolina, como no Brasil.

Fundo para etanol

Moreno deve anunciar que revisará a estratégia do BID para energias renováveis e o planejamento do trabalho do banco em países com grande potencial bioenergético, especialmente pequenos países latino-americanos.

Na reunião da Guatemala, Moreno havia adiantado que estudava a criação de um fundo especial para financiamento de projetos de biocombustíveis. “Vemos que nosso papel é apoiar projetos de infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento”, afirmou então.

O alvo são principalmente os países da América Central e do Caribe. Há um interesse estratégico do BID e de outras instituições multilaterais de barrar o avanço de Hugo Chávez numa região que tem despertado o interesse do venezuelano.

Já Jeb Bush deve defender mais uma vez a derrubada da tarifa de importação que os EUA cobram do etanol brasileiro, de R$ 0,30 por litro, em vigor até 2009.

 

Biocombustíveis são fraude, diz colunista do “Guardian” – BBC Brasil: 27/03/2007

Em artigo publicado nesta terça-feira no jornal britânico “The Guardian”, o jornalista e ativista ambiental George Monbiot afirma que utilizar biocombustíveis –como o álcool– para combater o aquecimento global “é uma fraude”.

“Se quisermos salvar o planeta, precisamos adiar por cinco anos os projetos em biocombustível”, defende Monbiot, conhecido por suas posições contrárias à globalização.

Para o jornalista, os programas de incentivo “são uma fórmula para desastres ambientais e humanitários”.

“Em 2004, eu alertava que biocombustíveis estabeleceriam uma competição entre os carros e as pessoas. As pessoas inevitavelmente perderiam: aqueles que podem pagar para dirigir são mais ricos que aqueles à beira da fome”, escreve Monbiot.

Para o autor, o Brasil é um exemplo que ilustra o “impacto” de se transformar recursos naturais em combustíveis.

“Produtores de cana-de-açúcar estão avançando sobre o cerrado no Brasil, e plantadores de soja estão destruindo a floresta amazônica. Agora que o presidente (americano, George W.) Bush acabou de assinar um acordo de biocombustíveis com o presidente Lula, deve piorar.

300: Ocidente versus Oriente?

O filme 300 entra em cartaz no Brasil na sexta-feira, 30 de março de 2007.

Veja, sobre isso, uma resenha do filme, escrita pelo Professor emérito de História Antiga da Pennsylvania State University, USA, Eugene N. Borza, e uma reportagem de CartaCapital sobre o espetáculo à parte que foi a divulgação do filme para os jornalistas no Rio de Janeiro.

O Prof. Eugene N. Borza chama a atenção para vários aspectos do filme, entre eles o aspecto histórico. Diz que sua fidelidade histórica não pode ser avaliada, já que ele não pretende ser historicamente preciso. O filme é uma fantasia, não uma reconstrução do que aconteceu no confronto entre espartanos e persas no ano 480 a.C. no desfiladeiro das Termópilas, na Grécia.

Por outro lado, diz o resenhista, história ou fantasia, neste filme, os asiáticos, particularmente Xerxes, são representados como a verdadeira encarnação do mal e da tirania, em oposição aos espartanos que representam a liberdade e a justiça. O Oriente é sórdido, mau, o lado escuro da força, enquanto o Ocidente representa a beleza e a luz. Ele considera esta dicotomia mais séria ainda, pois os dois lados, persa e grego, são historicamente injustiçados em suas motivações e ações pela distorcida fantasia que enfeita o filme e encanta os espectadores ocidentais.

Difícil é ver como uma postura destas poderia ser considerada politicamente correta, ou mesmo neutra, por parte de Teerã, nas atuais circunstâncias de confronto dos Estados Unidos e Reino Unido com o Irã. Para quem não se tocou, os iranianos atuais são os herdeiros dos persas antigos…

 

Spartans Overwhelmed at Thermopylae, Again – By Eugene N. Borza – Archeology: March 22, 2007

A technically exciting videogame of a film, 300 loses touch with a critical and moving event in Greek history.

Herodotus, the “Father of History,” told many good stories, but there are few tales in his repertoire that surpass his narrative of the last-ditch stand of the Greeks against numerically superior forces at the pass of Thermopylae in August, 480 B.C. A huge military force led by Xerxes, the Persian King of Kings, crossed the Hellespont from Asia into Europe, intent on the subjugation of Greece. Whether Xerxes intended this invasion as revenge for the Athenian victory over the Persians at Marathon a decade earlier or whether his expedition had been planned all along as the natural extension of Persian rule into Europe is still a matter of debate among modern historians. The Greek city-states were aware of the movement of Asian land and naval forces through the areas north of them. Greek representatives met and attempted to plan a defense against an army that may have numbered hundreds of thousands (precision in numbers is impossible). A dispute among the Greeks regarding their best defense was resolved thus: the Peloponnesians, led by Sparta, would build a wall across the Isthmus of Corinth in order to protect the cities of southern Greece. Athens, which was vulnerable, would be evacuated, and the powerful Athenian fleet would be used to engage and destroy the Asian naval forces, thereby depriving Xerxes of necessary support. But time was short, and an attempt to delay the relentless advance of Xerxes’ army was necessary to enable the Athenians to abandon their city and the Peloponnesians to build their defensive wall.

The choke point for the Persian advance was the pass at Thermopylae, where the main route south from northern Greece ran through a narrow lane between the sea and the steep slopes of Mt. Kallidromos. Heavy silting over the centuries has caused the coastline to recede some distance from the mountain, but the modern highway follows almost exactly the ancient coast line, and, at the western end of the pass, the ancient route was probably only a few yards from the sea. It was here that the Greeks decided to make their stand. A force of perhaps six to seven thousand Greeks, led by the Spartan king, Leonidas, made its way to Thermopylae, intent on delaying the Persian advance. For two days the Greeks, led by Leonidas and 300 of his fellow Spartans, maintained a furious defense against the invaders.

There can be no question about the bravery and determination of the Spartans who sacrificed themselves in order to delay the Persian advance.

Asian casualties were high, but the inexorable press of large numbers–plus the treachery of a local Greek who told the Persians how to circumvent the pass by a high mountain path–turned the tide against the Greek forces. Learning that he had been betrayed and was about to be surrounded, Leonidas dismissed most of his forces except for his Spartans and a few other Greeks, the latter of whom eventually fled the scene or defected to the Persians. The Spartans died to the man. There can be no question about the bravery and determination of the Spartans who sacrificed themselves in order to delay the Persian advance.

The pass at Thermopylae was the scene of several such engagements in antiquity and during later centuries, but the most dramatic example of history repeating itself occurred in April 1941. There was little hope that the juggernaut of the German army, led by tanks and bound for Athens, could be stopped by Allied troops. But there was hope that the advance of the Germans could be slowed in order to complete the evacuation of Athens by British and Greek forces. A small, determined band of ANZAC soldiers stationed themselves around the pass at Thermopylae, and for two days managed to slow the German advance, thereby permitting the successful evacuation of Athens. These brave Australians and New Zealanders escaped the Spartans’ fate, and lived on to fight again another day. The sacrifice of the Spartans at Thermopylae was commemorated in an epigram of the ancient Greek poet Simonides: “Go, stranger, and tell the Spartans that we lie here, obedient to their command.”

In 1955 the Greek Archaeological Service dedicated a plaque bearing Simonides’ words at the crest of a small hillock in the pass where Leonidas and his band probably made their last stand.

A wonderful story, to be sure, and fit for re-telling, which in modern times means film. In 1962, The 300 Spartans was released, featuring a very buff Richard Egan as Leonidas. Although it suffered from many of the flaws of the worst sword-and-sandal epics of that era, it attempted to recreate faithfully the politics, diplomacy, and military events that actually were part of the Thermopylae story. Now we have 300, a truly modern bit of movie-making that combines live actors playing against a digitized background.

To judge this film’s adherence to historical fact (insofar as we understand it) is to do it a disservice, for the film does not even pretend to be historically accurate. It is based on a graphic novel developed by Frank Miller and Lynn Varley, whose previous credits are mainly as comic book and graphic novel writers and illustrators. This film version of Miller and Varley’s graphic novel is the inspiration of director and co-writer Zack Snyder, who is said to have been deeply moved both by his childhood viewing of the 1962 The 300 Spartans and by the Miller-Varley graphic novel. Miller’s influence on Snyder appears to be profound. In the on-line production notes for the film Snyder is quoted as saying “Frank took an actual event and turned it into mythology, as opposed to taking a mythological event and turning it into reality.” That vision clearly absolves the filmmaker from any pretense of historical accuracy. In brief, this is a comic book version of Thermopylae writ large, utilizing all of the tricks of virtual reality and digitized magic. This film is not even science fiction, a genre based on an extension of reality. In fact, 300 is one step removed from sci-fi: it is fantasy. In a recent review of Oliver Stone’s Alexander epic, I suggested that there was a difference between historical inaccuracies based on ignorance and sloppy research, and deviations from historical accuracy based upon the film maker’s artistic vision: 300 falls into the latter category.

Leonidas’ motivation is not credible, even in a comic book. The actual Spartan stand at Thermopylae as a delaying action is both credible and historical.

But, for devotees of historical nitpicking: a few nits. There is no attempt to explain the complex issues faced by the Greek city-states confronting the Persian advance. Leonidas is portrayed as intending to take his 300 Spartans up to Thermopylae in order to defeat the Persians and fight for freedom. Setting aside the simple-minded ideology about liberty, reason, and justice (like other Greeks, the Spartans themselves had a long history of attempting to coerce if not actually enslave other peoples when it suited their interests), it is ludicrous to suggest that a great Spartan general like Leonidas would believe that 300 men could thwart the advance of tens–perhaps hundreds–of thousands of Asian troops. Leonidas’ motivation is not credible, even in a comic book. The actual Spartan stand at Thermopylae as a delaying action is both credible and historical.

The portrayal of the fighting is a mixed bag. The filmmakers decided to pare down the Spartan uniforms to their essential and symbolic features: helmet, cape, shield, greaves, and weapons. The result is heroic imagery, hoplites dressed in leather thongs and fighting without body armor. No Greek warrior would ever have stepped into battle without some sort of chest protector. But the fighting itself is dramatically portrayed. The actors had been well trained and the fight scenes carefully choreographed. Much has been made of the graphic violence–lots of spurting blood and decapitations–but I did not find this offensive or disturbing. It was all a product of the coordination between cinematographers and a sophisticated visual effects department, highly influenced by the graphic novel. Aside from some improbable feats of derring-do, the film portrayed the chaos and horror of close-combat infantry clashes with an approximation of reality not mentioned much by the writers of antiquity, but described so well by classicist Victor Davis Hanson in his 1989 book, The Western Way of War, Infantry Battle in Classical Greece. Details aside, one cannot help but admire the impressive technical achievement of this film.

The 300 are shown marching south out of Sparta whereas Thermopylae is north of Sparta.

There are other matters: Ephialtes, the local Greek who betrayed the Spartans at Thermopylae, is instead portrayed as a horribly deformed Spartan outcast whose perfidy results from Leonidas’ refusal to allow him to join in the action. He reminded me of nothing more than Charles Laughton’s portrayal of the title character in The Hunchback of Notre Dame.. Leonidas’ wife, Gorgo, about whom little is said in the ancient sources, is given an enhanced role to play at home while her husband was busy at Thermopylae. The internal political machinations in Sparta are pure invention. The pass at Thermopylae is shown as a very narrow cleft between vertical rock faces, more appropriate for the canyon country of southern Utah than to the actual topography of this region of Greece. The 300 are shown marching south out of Sparta (with Mt. Taygetos on the right) whereas Thermopylae is north of Sparta. Fantasy animals appear from time to time–a huge wolf-like creature confronting the boy Leonidas, and monstrous rhinocerous creatures and elephants at Thermopylae. This is far-fetched stuff, and it bordered on the amusing as the Greeks forced the elephants off high cliffs to fall into the sea. I was not as much concerned about the actual absence of such cliffs at Thermopylae as I wondered how in the world Xerxes transported those elephants across the Hellespont. Of course, they may have come by ship. …Enough of this.

The Asians, in particular Xerxes (chillingly played by the Brazilian actor Rodrigo Santoro), are portrayed as the embodiment of evil and mindless tyranny, as opposed to the Spartans who represent freedom and justice. This stark dichotomy is unfortunate. It is an unnecessary misrepresentation of both Persians and Greeks to have set up both sides in unrelieved black and white: the East as sordid, evil, and dark, while the West represents beauty and light. I do not read into this, as some have, a subliminal commentary on current events, but I’ll bet that this film will not be shown in Tehran. Indeed, the racist implications of the film have already been condemned by Iranians who have not even seen it. And Leonidas (dramatically portrayed by the Scottish actor Gerard Butler) became more single-dimensioned as the film wore on. There were early sparks of humanity in Leonidas’ relationship with his wife and son, and in his efforts to persuade both men and gods of the importance of his mission, but he eventually became transformed into a simple killing machine. This is to be regretted, as Butler is a skilled actor encumbered by a pedestrian script. Only occasionally did the cardboard characterizations yield to some humanity: at the conclusion of the initial phase of the struggle at Thermopylae–which resulted in huge Persian losses–one Spartan turned to another and remarked, “A helluva good start.” And there was a touching moment when a Spartan officer, having witnessed the decapitation of his son in the struggle, commented that his grief was compounded by the fact that he had never told his son how much he loved him. The film would have benefited from more such human touches.

There is the answer Leonidas gave to Xerxes’ demand that the Spartans lay down their arms: “Come and take them.”

The screen writers did their homework in preserving many famous sayings attributed to the Spartans, who were noted in antiquity for their “laconic” style of speaking. Plutarch, the Greek writer of the Roman period, wrote a long essay, “Sayings of the Spartans,” and the film’s writers appear to have read through these. For example,on two occasions when the sky was darkened by the dense shower of Persians arrows, Spartans quipped “Well, we’ll just have to fight in the shade.” Spartan mothers are said to have instructed their sons to “Come back carrying your shield, or being carried upon it.” In the film Gorgo thus enjoined Leonidas. And there is the answer Leonidas gave to Xerxes’ demand that the Spartans lay down their arms: “Come and take them.” In Greek the phrase is molon labe. It is part of an inscription that adorns a colossal statue of Leonidas that can be found near the center of modern Sparta. The screenwriters put the words into Leonidas’ own mouth when the Persian envoys demand surrender, even though Herodotus has the exchange between Xerxes and Leonidas in written messages. For dramatic reasons I rather liked the film version. In sum, 300 cannot be taken seriously as an historical epic. It reveals no insights into the history of the long-term struggle between Greeks and Persians beyond the well-known fact that the Spartans were excellent fighters.

It tells us nothing about the relationships among the Greeks themselves. It is inaccurate in its depictions of myriad details. And it does history and the Persians a real disservice in portraying the Asians entirely as degenerates. The standard disclaimer in the final credits tells us that any resemblance to real persons living or dead is coincidental and unintended. Rarely has a disclaimer been more accurate.

The film is technically exciting and dramatically dumb. It may deserve recognition for its combination of live action with computer-generated virtual reality. But it fails as a film because so many competent actors are hindered by a mediocre script derived from comic book-graphic novel lines and by the constraints of the live-plus-digital format. It is a bold and dramatic concept, and probably appeals most to those interested in video games and fantasy stories. It is one-dimensional, and in that sense is true to its graphic novel origins. Several commentators have suggested that the hybrid technique is the wave of the future. I certainly hope not, except as a niche category of film making.

Their greatest crime is that they reduced to a dehumanized video game one of the most moving events of Greek history.

In the end I leave it to others to determine whether it is good entertainment. Clearly the public thinks that it is. Its opening weekend in the U.S. produced the third highest box office receipts for any R rated film in history, and during the first ten days of release in Greece a half million tickets were sold. (That is about five percent of the total population!). I am informed by an Athenian friend that the film is being shown in all the theaters in multiplexes and that theaters in small towns are offering midday and midnight performances. It has already become a cult item among a certain segment of the U.S. population, perhaps the videogame and graphic novel crowd. One can only speculate about the sociological and political implications of that kind of response. In the opinion view of this reviewer, however, those who created this film were so immersed in technological innovation that they lost sight of the human values that made this such a good story in Herodotus. Their greatest crime is that they reduced to a dehumanized video game one of the most moving events of Greek history. It is perhaps a mark of my devotion to the Archaeological Institute of America and this ARCHAEOLOGY web site that I sat through the entire two hours of 300.

Eugene N. Borza is professor emeritus of ancient history at Pennsylvania State University.

 

Talents em Copacabana

O lançamento de 300 de Esparta mostra como um sucesso é construído

Eles são sempre chamados talents. E quem não souber o que é talent, que providencie um dicionário. Nas junkets dos blockbusters, com entrevistas em formato round-table e première no red carpet, muitas são as expressões estrangeiras. Prática consagrada dos grandes estúdios, a junket, trocando em miúdos, é um evento destinado a reunir jornalistas dos mais variados veículos e países para a divulgação de um filme embalado para o sucesso. A palavra junket também pode designar piquenique ou festa.

Pois aconteceu no Brasil, pela primeira vez, uma junket de porte e feições internacionais. Na segunda-feira 19 e na terça 20, cerca de 60 jornalistas latino-americanos reuniram-se no suntuoso Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, para acompanhar o talent tour do filme 300 de Esparta, que entra em cartaz em 550 salas do País na sexta-feira 30. O primeiro dia foi reservado para jornais e revistas. O segundo, para as tevês.

Se a estratégia é velha conhecida dos jornalistas da área cultural, o mesmo não se pode dizer do público. Explicitar esses mecanismos invisíveis é uma boa maneira de compreender de que modo um filme é preparado como produto para consumo. Estouro nas bilheterias norte-americanas, com 130 milhões de dólares arrecadados em duas semanas, a história em quadrinhos de Frank Miller estréia sob a aura de novidade, de “algo como você nunca viu”, como repisaram diretor, atores e produtores durante as entrevistas.

Autodefinições animadas de um lado, confetes de outro, as entrevistas soam a encontro de fãs com ídolos. Se, em outros tipos de reportagem, os entrevistados ficam à mercê dos jornalistas, que definem o assunto a ser abordado e não raro transformam duas horas de conversa numa única (e por vezes desconexa) frase, quando se tem à mesa um talent, leia-se diretor e atores, a lógica é inversa.

Cabe à distribuidora, neste caso a Warner Bros., a definição de quem fala com quem, a que horas e por quanto tempo. De modo subliminar, o próprio tom da entrevista é dado de antemão, por meio da atmosfera criada. As instruções foram passadas no momento do convite e reiteradas quando os jornalistas chegaram ao hotel em que se hospedaram, o Excelsior Copabacana, de domingo para segunda-feira. Algumas das regras:

– As entrevistas terão 20 minutos.

– Não serão permitidas solicitações de fotos, salvo na sessão oficial de fotos da junket.

– Não serão permitidas solicitações de autógrafos.

– Perguntas que abordem aspectos da vida pessoal dos atores e/ou do diretor não serão permitidas.

Normalmente realizada no México ou em Los Angeles, a junket veio parar no Brasil, muito provavelmente pela presença de Rodrigo Santoro no elenco, como o Rei Xerxes, o persa que Leônidas e seus 300 homens tiveram de enfrentar na duríssima Batalha de Termópilas.

“Atores internacionais fazem parte da globalização e contribuem para que o filme viaje melhor”, explica José Carlos Oliveira, diretor-geral da Warner no Brasil. “Tentamos fazer a junket do Superman no Brasil, mas acabou sendo no México. Que eu me lembre, nunca houve nada desse porte aqui. Acho que inauguramos uma nova fase.”

O produtor Gianni Nunnari atrela a escolha do Brasil à presença de Santoro no elenco. Estaria a escalação do ator ligada à tentativa de aumentar o público por aqui? “Completamente. Essa foi a nossa intenção inicial ao ter Rodrigo”, diz, num ato falho logo corrigido. “Quer dizer, em primeiro lugar, é porque ele é um ator fantástico, jovem e profissional. Depois, também pensamos que seria ótimo ter alguém da América do Sul, que isso ajudaria o filme a ter mais público.”

Isso só as bilheterias dirão. Mas é certo que um evento como o de Copacabana dá ao filme extraordinários níveis de visibilidade. Difícil que algum brasileiro não tenha ouvido falar de 300 nos últimos dias. Da capa do caderno de cultura do jornal O Globo ao programa Super Pop, de Luciana Gimenez, na RedeTV!, Santoro e seus companheiros de filme desfilaram soberanos.

“Acho que temos uma relação de parceria com a imprensa, até porque temos conteúdo a oferecer”, diz Oliveira. “Se organizamos as mesas e estipulamos o tempo, é para fazer com que o maior número possível de jornalistas fale do filme. É apenas um contrato e participa quem aceita. Não temos preocupação alguma com o controle de conteúdo.” Nem seria preciso. O clima durante as entrevistas é amistoso. São comuns lances de tietagem.

O formato round-table consiste na reunião de cinco ou seis jornalistas numa mesa – redonda, de fato – à qual os entrevistados se sentarão. Pela sala, passa também alguém da Warner, cronômetro pendurado no pescoço a controlar os minutos. À mesa em que CartaCapital foi colocada, estavam também jornalistas da Folha de S.Paulo, do site Herói, do Jornal do Vídeo e da Folha de Alphaville. Um veículo acaba por neutralizar o outro.

Exemplo: perguntas sobre a polêmica internacional em torno do filme, que foi acusado pelo governo iraniano de demonizar seu povo e que tem um discurso final que remete à fala de Bush e suas justificativas para a invasão do Iraque, não vingavam. O diretor Zack Snyder chegou a dizer que não tinha essa intenção: “O filme não é ofensivo, até porque não se pretende um relato da história, como um filme como A Paixão de Cristo. Eu também não queria que o Leônidas parecesse o Bush e lamento que, no mundo atual, a expressão ‘lutar pela liberdade’ tenha se tornado quase obscena. É como se a idéia de lutar pela libertação de um povo fosse uma coisa ruim em si”.

Snyder, um diretor vindo da publicidade e hábil no discurso como um bom vendedor, parecia disposto a falar de política. Mas, enquanto concluía a fala sobre Bush, um jornalista atalhou: “Conte como foi o seu encontro com Frank Miller”. Agradecimentos pelo filme e gargalhadas à farta tornam compreensível a regra “não pedir autógrafos”.

Santoro contou como o projeto “chegou às suas mãos”, como “ganhou peso para fazer o papel”, relatou a “experiência de trabalhar no fundo azul” e até de depilação falou: “Eu tentei, mas não consegui. Tenho o maior respeito pelas mulheres, depois disso. Só consegui com gilete”, relatou, sob generosas risadas.

Vindo de junkets em Berlim, Los Angeles, Nova York e Londres, o ator diz que o procedimento é sempre o mesmo. “Eu recebo um papel dizendo o que a assessoria de imprensa decidiu. Não tenho o menor controle das entrevistas. Descobri ontem, olhando uma lista, o que eu ia fazer hoje”, diz, voz tão gentil quanto distante.

A atriz britânica Lena Headey, que vive a mulher de Leônidas, confessou, despachada: “Ah, são sempre as mesmas perguntas… Como é fazer um papel feminino num filme masculino? Mas vocês trabalham em veículos diferentes, não?” Quem participa de uma round-table deve entrevistar todos os talents. No Copacabana Palace, deram entrevistas o diretor Snyder, Santoro, Lena e Gerard Butler (rei Leônidas), que conta as histórias que acha boas, mesmo que elas tenham pouco a ver com a pergunta feita.

Ao fim da minimaratona de entrevistas, sempre na presença de um tradutor, pouco utilizado, houve uma pausa para o almoço e uma pergunta, a princípio, misteriosa: “Você tem one-to-one?” One-to-one? Alguns segundos e a charada está desvendada. Tratava-se de uma entrevista individual. Não, não havia one-to-one.

Encerrada a conversa com os talents, fica a sensação de que, com tantas frases positivas sobre o filme, é difícil alguém não se convencer de que se trata de algo realmente fantástico. Isso, muito provavelmente, explica certa homogeneidade na cobertura. A mensagem ali abrigada parece ser: contra o sucesso ninguém pode.

“Se ninguém tivesse gostado do filme, eu não ligaria. Fiz o filme para mim mesmo. É um filme egoísta. Acho o filme hilário, é uma história em quadrinhos e não finge não ser. Não é para levá-lo a sério. Acho que é por isso que todo mundo está adorando”, diz, sem modéstia, Snyder.

“Tudo é marketing neste mundo”, assente o produtor Nunnari. “Sabemos o que a mídia representa e por isso temos viajado o mundo. A mídia tem sido fantástica em termos de apresentar o filme e divulgá-lo para o público. Mas, quando você tem um bom produto, fica mais fácil o marketing. Se as pessoas não gostassem do filme, não seria tão fácil divulgá-lo.”

O outro produtor, Mark Canton, que já presidiu a Warner, a Columbia e, hoje, tem a própria empresa, também não se furta ao auto-elogio. “Este filme nos lembra de que, se corrermos riscos e fizermos coisas como as pessoas nunca viram antes, temos chance de um grande sucesso.” Ele diz que, ao contrário dos épicos tradicionais, que costumam cair no gosto, sobretudo, do público masculino, 300 de Esparta é “para todos”. E enumera: “As mulheres vão gostar, porque há muitos homens bonitos na tela. Além disso, o papel é forte. Para os adolescentes, será o filme mais bonito que eles já viram, visualmente falando”.

Canton faz questão de pontuar que a Warner fez um incrível trabalho de marketing. “Aqui no Rio, você tem banners do filme na praia, a campanha é brilhante. Mas o que existe dentro dessa embalagem é muito bom. As pessoas amam o filme. Elas não querem saber o que a crítica diz. Elas, simplesmente, querem ver.”

Sobre a leitura política que a imprensa estrangeira tem feito da história, o produtor rebate: “Acho, sinceramente, que quem diz isso (que o filme defende a guerra contra os islâmicos) deveria se preocupar com coisas mais importantes do filme”, diz. “Ele é baseado numa incrível história de Frank Miller, que se passa 2 mil anos atrás. Não acho que temos de nos preocupar com essas ofensas. O filme é uma fantasia, como O Senhor dos Anéis”, diz, enquadrando o mundo pelas lentes da diversão. A polêmica, no fundo, não pode ser revertida em cifrões? Canton ri: “Você é jornalista. Você sabe disso. É claro que ajuda. Quanto mais barulho, mais interesse”. No caso dos blockbusters vale, sem dúvida, a máxima “falem mal, mas falem de mim”.

Fonte: Ana Paula Sousa – CartaCapital de 27 de março de 2007 – Ano XIII – Número 437

O Sepulcro Esquecido de Jesus: slogans e distorções

O termo slogan, no Random House Webster’s Unabridged Electronic Dictionary (Version 2.0, 1994), significa uma frase ou palavra-símbolo. Podemos entendê-lo como fórmula sucinta, metáfora ou versão simplificada de uma teoria. Para CARVALHO, J. S. Construtivismo: uma pedagogia esquecida da escola. Porto Alegre: ArtMed, 2001, os slogans são frases simbólicas extraídas de doutrinas teóricas ou de orientações práticas, que se tornam importantes elementos de impacto na difusão de correntes de pensamento e de movimentos intelectuais. Os slogans sempre representam uma simplificação das idéias ou das teorias que os originam, são fragmentos, ainda que representativos, de uma construção teórica que é bem mais ampla e complexa.

A divulgação ou reprodução de um slogan não visa esclarecer detalhadamente conceitos ou perspectivas, mas veicular e manter um espírito solidário em torno da doutrina ou de um programa de ação a ela associado“, explica CARVALHO, J. S. Construtivismo, p. 97.

Os slogans são assistemáticos, de tons menos solenes e mais populares, para serem repetidos com mais veemência do que para serem meditados, com caráter mais persuasivo e programático do que elucidativo.

Para APPLE, M. W. Trabalho Docente e Textos: economia política das relações de classe e de gênero em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, o slogan se alicerça em três princípios: 1. exerce um determinado atrativo para nos prender, oferecendo um certo vislumbre de possibilidades imaginativas para gerar um apelo e uma exigência de ação; 2. é vago o suficiente para que os grupos ou indivíduos poderosos o acolham sob seus vastos guarda-chuvas, mas especifico para oferecer alguma coisa; e 3. serve para o aqui e agora, para guiar o trabalho prático.

O termo distorção, de acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (Versão 1.0, dezembro de 2001), significa alteração da forma, de características estruturais, desvirtuamento, infidelidade. No Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, distorção vem de torcer, que quer dizer dobrar, vergar, entortar, alterar, desvirtuar.

Este último é exatamente o sentido original da raiz latina distortio, um substantivo feminino derivado do verbo distorquere, usado por autores clássicos como Cícero, Horácio, Sêneca e Suetônio, explica CALONGHI, F. Dizionario Latino-Italiano. 3a. ed. Torino: Rosenberg & Sellier, 1972.

Para nós, o termo distorcer se aproxima da idéia de assimilação deformante usada por Piaget. Para PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994, a assimilação deformante acaba sendo uma necessidade de deformar as coisas, um objeto de conhecimento para satisfazer o próprio interesse ou um desejo particular, ou mesmo uma idéia preconcebida a respeito de algo. Sempre que o pensamento não experimenta a necessidade efetiva de uma acomodação à realidade, sua tendência natural o impelirá a deformar as coisas. Assimilamos um conteúdo, mas podemos deformá-lo para satisfazer à necessidade psicobiológica de aproximar o pensamento da realidade.

Em suma, distorcemos ou deformamos uma idéia para podermos entender alguma coisa que ainda não está tão clara para nós. É nossa necessidade de explicarmo-nos a nós mesmos, ou a outrem, as coisas que ainda não entendemos. Para Piaget, a assimilação deformante é própria do “egocentrismo intelectual que caracteriza as formas iniciais do pensamento da criança” (O juízo moral na criança, p. 132). Mas, entendemos que essa forma de lidar intelectualmente com a realidade que ainda não conhecemos pode se estender ao longo de nossa história.

No mesmo sentido podem ser utilizados também os termos desvio, equívoco e viés, lembrando que estes termos são sinônimos de anomalia, anormalidade, ambigüidade, confusão, dúvida, imprecisão.

>>Texto escrito por Rita de Cassia da Silva em sua tese de doutorado. Publicado sob permissão.

SILVA, R. C. Saberes Construtivistas de professores do ensino fundamental: alguns equívocos e seus caminhos. Tese de Doutorado. Araraquara, 2005.

Rita de Cassia da Silva é Psicóloga pela PUC-Campinas, SP, e Doutora em Educação pela UNESP de Araraquara, SP.

O Sepulcro Esquecido de Jesus: linguagem e ideologia

A linguagem molda a visão e o pensamento dos seres humanos e, simultaneamente, molda a concepção que eles têm de si mesmos e de seu mundo. A linguagem vista assim é motivo de debate e de conflito, pois onde está a linguagem está também a ideologia. A linguagem é um ato dentro de relações sociais, diz ORLANDI, E. P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 4. ed. Campinas: Pontes, 1996. Portanto, há a confrontação de sentidos e os significados estão num processo de interação.

Falamos sempre de algum lugar. Em nossa fala há também nossa posição no mundo. Mostramos onde estamos quando falamos. Não somos neutros, sempre estamos defendendo nossa posição no mundo. Nosso discurso é cheio de significações. Com nossa linguagem criamos, interpretamos e deciframos significações de forma lógica, racional, conceitual ou mítica e simbólica.

Há o discurso cotidiano ou a linguagem do senso comum, o discurso ideológico, o discurso político, o discurso religioso, o discurso cientifico etc. A análise desses discursos revela os sentidos e significados, mas esta análise também não é neutra. Ela passa pelo discurso de quem interpreta, pela sua concepção de mundo, de ser humano, de sociedade etc. Interpretar o dizer, tanto falado como escrito, é uma tarefa de tornar compreensível aquilo que requer uma explicação ou tradução. Numa tradução fazemos suposições, críticas, por vezes simplificações, e até mesmo distorcemos algumas asserções. Portanto, é necessário um exercício constante de interrogação sobre nossas críticas e suposições.

Orlandi, A linguagem e seu funcionamento, p. 135 nos diz que “Nas situações acadêmicas, tem-me parecido que o não dito, isto é, a margem do dizer que é constituída pela relação com o que foi dito, é que acaba sendo mais fecunda. Porque faz parte da incompletude e se faz desejo”. Assim, o que um autor não diz em um texto torna-se objeto de desejo daqueles que o interpretam. Conseqüentemente, o intérprete coloca no texto aquilo que é o seu modo de ver o texto. Desta maneira, o texto interpretado já não é somente o texto do autor, mas sim, o texto do autor e do intérprete. As idéias se mesclam e se transformam em outras idéias.

Quando queremos tornar compreensível uma teoria, somos orientados pelo modo como ela está expressa. No entanto, a interpretação é um modo de dizer algo que passa pela compreensão daquilo que foi dito e do nosso modo de ver as coisas. Os dados que um cientista interpreta passa pela visão que ele tem dos dados. Numa interpretação literária ou interpretação de uma teoria, há algumas regras que devemos considerar: por exemplo, o texto e o contexto. Precisamos ver como foi escrito este texto, ou seja, qual a abordagem que o autor utiliza para formular sua teoria. Ele sempre fala de algum lugar para alguém e fala de um determinado contexto histórico. Quando vamos ler a teoria, precisamos considerar estes elementos na sua construção. Se uma teoria foi construída a partir de um referencial das ciências da natureza, por exemplo, ela deve ser lida dentro dos referenciais destas ciências, levando em conta a época, os acontecimentos e interesses do momento em que foi escrita.

Nada impede que lancemos outros olhares sobre um conceito ou uma teoria, porém, sem perder de vista que cada teoria é escrita em um determinado momento e com interesses que podem ser diversos daqueles que estamos interpretando. Quando lemos a partir de nossos interesses algo que um autor disse, podemos incorrer em erros hermenêuticos, pois nossa leitura pode não corresponder ao que ele quis dizer. É o que dissemos que ele disse que pode estar errado, mas, em nossa interpretação podemos também avançar a partir das idéias originais. Uma teoria pode levar a outra.

O que dizemos ganha vida, espessura, faz história e traz conseqüências. Podemos provocar o debate, alargar ou restringir os enunciados. Quando teorizamos sobre algo, passamos por esse processo. Quando estamos lendo uma obra literária, entramos no mundo do autor, mas entramos com nossos sentimentos, idéias e desejos. Quando lemos uma teoria científica, nem sempre entramos no mundo do autor, é mais comum interpretarmos com o nosso olhar e nossa visão de mundo, o que foi escrito num outro momento e com outra concepção de mundo.

>>Texto escrito por Rita de Cassia da Silva em sua tese de doutorado. Publicado sob permissão.

SILVA, R. C. Saberes Construtivistas de professores do ensino fundamental: alguns equívocos e seus caminhos. Tese de Doutorado. Araraquara, 2005.

Rita de Cassia da Silva é Psicóloga pela PUC-Campinas, SP, e Doutora em Educação pela UNESP de Araraquara, SP.

A Tumba de Talpiot segundo James Tabor

James Tabor publicou hoje, 24 de março de 2007, em seu The Jesus Dynasty Blog, uma síntese de suas opiniões sobre a Tumba de Talpiot.

Veja:

The Talpiot Jesus Tomb: An Overview

Logo no começo, ele diz:
Here is a summary of my views of the Talpiot/Yeshua tomb and its possible connection to a hypothesized family tomb of Jesus of Nazareth.

E, após falar do contexto histórico, das estatísticas e das inscrições, ele termina dizendo:
There is more to learn and more that will come out soon on this whole subject but right now this is a summary of the evidence as I see it.

Enquanto isso, o documentário continua a ser apresentado aqui no Brasil pelo Discovery Channel.

Ainda temos mais duas apresentações: amanhã às 10h00, bom horário, e segunda-feira, às 04h00, de madrugada…

Bovon discorda de O Sepulcro Esquecido de Jesus

O Professor François Bovon, da Harvard Divinity School, um dos especialistas que participam de O Sepulcro Esquecido de Jesus, publicou um artigo no SBL Forum, no qual manisfesta sua discordância com pontos fundamentais do documentário.

Ele diz, em The Tomb of Jesus, que:

  • First, I have now seen the program and am not convinced of its main thesis. When I was questioned by Simcha Jacobovici and his team the questions were directed toward the Acts of Philip and the role of Mariamne in this text. I was not informed of the whole program and the orientation of the script.

Primeiro, agora eu vi o programa e não estou convencido de sua tese principal. Quando fui entrevistado por Simcha Jacobovici e sua equipe, as perguntas eram sobre os Atos de Filipe e o papel de Mariamne neste texto. Eu não estava informado sobre o programa como um todo e a orientação do script.

 

  • Second, having watched the film, in listening to it, I hear two voices, a kind of double discours. On one hand there is the wish to open a scholarly discussion; on the other there is the wish to push a personal agenda. I must say that the reconstructions of Jesus’ marriage with Mary Magdalene and the birth of a child belong for me to science fiction.

Segundo, tendo visto o filme, eu ouço nele duas vozes, uma espécie de discurso duplo. Por um lado, há um desejo de iniciar uma discussão acadêmica; por outro lado, há um desejo de “vender uma idéia” pessoal. Eu devo dizer que as reconstruções do casamento de Jesus com Maria Madalena e o nascimento de uma criança pertencem para mim à ficção científica.

 

  • Third, to be more credible, the program should deal with the very ancient tradition of the Holy Sepulcher, since the emperor Constantine in the fourth century C.E. built this monument on the spot at which the emperor Hadrian in the second century C.E. erected the forum of Aelia Capitolina and built on it a temple to Aphrodite at the place where Jesus’ tomb was venerated.

Terceiro, para ter mais credibilidade, o programa deveria ter tratado da tradição muito antiga do Santo Sepulcro, já que o imperador Constantino, no século IV d.C. contruiu este monumento no local em que o imperador Adriano, no século II d.C., construíra o fórum de Aelia Capitolina e nele o templo de Afrodite no lugar em que a tumba de Jesus era venerada.

 

  • Fourth, I do not believe that Mariamne is the real name of Mary of Magdalene. Mariamne is, besides Maria or Mariam, a possible Greek equivalent, attested by Josephus, Origen, and the Acts of Philip, for the Semitic Myriam.

Quarto, eu não acredito que Mariamne seja o nome real de Maria Madalena. Mariamne é, ao lado de Maria ou Mariam, um possível equivalente grego, atestado por Josefo, Orígenes e os Atos de Filipe, para o semítico Miriam.

 

  • Fifth, the Mariamne of the Acts of Philip is part of the apostolic team with Philip and Bartholomew; she teaches and baptizes. In the beginning, her faith is stronger than Philip’s faith. This portrayal of Mariamne fits very well with the portrayal of Mary of Magdala in the Manichean Psalms, the Gospel of Mary, and Pistis Sophia. My interest is not historical, but on the level of literary traditions. I have suggested this identification in 1984 already in an article of New Testament Studies.

Quinto, a Mariamne dos Atos de Filipe é parte do grupo apostólico com Filipe e Bartolomeu; ela ensina e batiza. No início, sua fé é mais forte do que a fé de Filipe. Este retrato de Mariamne combina muito bem com o retrato de Maria de Magdala nos Salmos Maniqueus, no Evangelho de Maria e na Pistis Sofia. Meu interesse não é histórico, mas sim no plano das tradições literárias. Eu sugeri esta identificação já em 1984 em um artigo de New Testament Studies.

Jacobovici entrevistado pelo Jerusalem Post

The Jerusalem Post entrevistou Simcha Jacobovici, diretor de O Sepulcro Esquecido de Jesus.

One on One: The cross he bears

‘The Lost Tomb of Jesus’ producer Simcha Jacobovici says public criticism only strengthens his belief that he’s uncovered a real revelation.

By Ruthie Blum Leibowitz – March 21, 2007

Canadians may recognize award-winning filmmaker Simcha Jacobovici (pronounced Yakobovitch) as The Naked Archeologist – the name of the TV show he hosts, which is premiering on Channel 8 in Israel in May. “You know,” says Jacobovici, grinning, “It’s like The Naked Chef of archeology.”

But ruins and remains are not – as he is the first to acknowledge during our hour-long interview in a Tel Aviv hotel – his field of expertise.

“What I am is an investigative journalist,” he argues for what may be the millionth time since the recent release of his ultra-controversial documentary film, The Lost Tomb of Jesus. The nearly two-hour movie he made with director James Cameron of Titanic fame – a cinematic cross between TV shows like 60 Minutes and CSI and biblical epics like The Ten Commandments – all but asserts with authority that ossuaries (bone boxes) in a tomb discovered in Jerusalem’s East Talpiot neighborhood in 1980 are none other than those of Jesus of Nazareth (a.k.a. Jesus Christ) and his family.

That Jacobovici’s having “dug up” and “dusted off” a 27-year-old find – dismissed at the time as one among many regular old relics – is rocking the archeological and theological communities is not surprising to the 54-year-old former Israeli. In fact, he insists, while he doesn’t appreciate the personal attacks, he does “welcome the debate.”

Indeed, if his previous and upcoming journalistic pursuits are any indication, Jacobovici likes stirring up trouble. So far, it’s paid off. Big-time. Among other awards, his Toronto-based company, Associated Producers, has two Emmys under its belt (one for The Selling of Innocents, on sex trafficking of children, and the other for The Plague of Monkeys, on the Ebola virus). Other topics he’s covered on film include Ethiopian Jews, the lost tribes of Israel, the sinking of the Struma refugee ship, Jesus’s brother James and terrorism. His latest film – that is going to be broadcast here during Pessah – is The Exodus Decoded, an examination, explains Jacobovici, of whether the biblical exodus was “history or fairy tale.” Uh-oh.

As it happens, Jacobovici’s own history has a touch of the fairy tale about it – a Jewish one. The son of Holocaust survivors from Romania, he was born and spent half of his childhood here, then moved to Canada, where he was an activist for Jewish causes (he chaired the North American Jewish Students’ Network; founded and chaired Network Canada, the country’s national union of Jewish students; founded the Canadian Universities Bureau of the Canadian Zionist Federation; and served on the national executive of the Canadian Jewish Congress; was invited to share the dais with prime minister Menachem Begin in 1978, following his announcement of the peace accord with Egypt; was president of the International Congress of the World Union of Jewish Students; and in 1980 – the year the “Jesus tomb” he would investigate a quarter of a century later was discovered – he was awarded the Knesset Medal for his Zionist work on North American campuses, and served as special consultant on Nazi war criminals to Canada’s solicitor-general).

Today, the married father of five is an Orthodox Jew, who dines with his Hollywood peers on the kosher food he requests. And Shabbat is sacred. “At the end of the day,” says Jacobovici, adjusting his lushly embroidered kippa crowning a head of nape-length hair, “if you refuse to compromise, others come around.” Sometimes, but not when the “others” are archeologists of the arch-critic variety.

Much has been written about your controversial film, including in these pages. But what about the man behind the movie. Who is Simcha Jacobovici?

I was born in Israel in 1953. When I was nine, my parents moved to Montreal, where I grew up. My mother had a thyroid condition, and though today Israel is one of the leaders in thyroid treatment, at the time my mother couldn’t be treated in Israel. She was one of the first people to be treated with radioactive iodine anywhere, and the first test case in Canada; thank God, she’s fine now. My father was a plastics engineer at the beginning of the plastics revolution. I attended McGill University, where I did a BA in philosophy and political science. Then I came back to Israel for two years to serve in the army – in what’s called sherut shlav bet, which is less than three years, because I was already 21. After that, I went back to Canada – to Toronto – where I did an MA in international relations. I finished my PhD work there, stayed and got married. I have five kids – four girls and a boy – ranging in age from 13 to 20 months.

How did you become a filmmaker?

I first started writing background focus pieces – more like analysis. Slowly, I got involved in investigative stuff. The first time I made a film was in 1981. I had written an article about the plight of the Ethiopian Jews. I ended up writing three pieces [on this subject] for The New York Times, and they created quite a controversy. If you’re looking for common denominators in my life, I guess I would say that Ethiopian Jews – like the original Jesus movement I am now interested in – fell between the cracks: They were blacks among Jews and Jews among blacks. The Jews who followed Jesus also fell between the cracks: Jews don’t want to delve into them so as not to Christianize Judaism, and Christians don’t want to deal with them so as not to Judaize Christianity. I feel very comfortable in the space in between. The issue of the plight of Ethiopian Jews was a marriage of my Jewish interests and my journalistic ones. Anyway, I wrote several articles on the subject, and after you write so many articles, what do you do next? So I tried to interest some documentary filmmakers in the topic – my idea was to be a consultant, because I had no training in filmmaking. But nobody wanted to do it. So, I thought, “What do I have to lose?” And I went out and made my first documentary, Falasha, Exile of the Black Jews. The film was quite well-received and controversial. It was screened in Israel and to the Foreign Affairs and Defense Committee of the Knesset. It became part of the advocacy campaign on behalf of Ethiopian Jews that led to Operation Moses, the first airlift to Israel in 1984. So, suddenly, I’d made a film, and I liked it. Since then, haven’t looked back. I have a film company called Associated Producers, and we do a lot of investigative work.

What’s your connection to archeology?

There have been a lot of academics saying I’m not an archeologist, which is absolutely true. What I am is an investigative journalist. Normally, investigative journalists follow up social-political stories; they chase President Bush around, for example, or look into nuclear, medical or other issues. And when a journalist does a medical story, nobody challenges him for not being a doctor. But history and archeology? Those are realms in which you’re supposed to worship at the altar of academia. You can cross-examine a nuclear physicist and nobody questions your right to do so. But not a professor of history. There’s this little island of history and archeology that hasn’t been much exposed to the skills of investigative journalism. What I do is act as a detective. I’m not an archeologist; I interview archeologists. I’m not an epigrapher; I interview epigraphers. My job, as it would be if I were doing any story, is to connect dots and see if a picture emerges.

How did you come to take an interest in this particular tomb? And why now – 27 years after it was uncovered?

I was doing a film, James, Brother of Jesus, for which I interviewed [renowned archeologist] Prof. Amos Kloner. He asked me why I was interested in the James ossuary. I said, “What do you mean, why am I interested in it? This is the first archeological attestation to Jesus of Nazareth – one of the most important people to have walked the face of this planet.” So he asked, “Then why are you dealing with the brother? Why don’t you deal with Jesus?” I said: “What do you mean?” He said, “I’ll show you.” And he showed it to me. He thought it was the funniest thing. I asked him why it wasn’t significant. And he said, “Oh, it’s so common.” I asked how many he’d found. I thought he’s say 20 or 50. “One,” he said. I asked who else was buried in the tomb. He said, “I don’t want to tell you, because then you’ll think you have Jesus.”

If you were so interested in ossuaries and Jesus, why hadn’t you heard of the Talpiot tomb before that moment?

I mean, it had been discovered more than two decades before this exchange with Kloner. You have to understand that this tomb has been enveloped in secrecy. It’s been in the shadows. It’s been in the academic basement. From 1980 until 1996, something very unusual happened with it: Not a word was published on it. Sixteen years of utter silence. It was found by builders, when bulldozers were preparing a construction site. The builders phoned the Israel Antiquities Authority, and three archeologists arrived. The lead archeologist, antiquities inspector Yosef (Yoske) Gat, died very soon after the finding. The two others were Amos Kloner and Shimon Gibson [now a senior fellow at the Albright Institute of Archeological Research]. Gibson is open to the possibility of this being the tomb of Jesus and his family. Kloner has been very negative throughout this whole discussion. I think he’s a sweet man, but I don’t understand him. I mean, on CBS he said: “You cannot get DNA from God.” When a man makes a statement like that, is he making it as an archeologist?

Are you insinuating that he feels professionally or otherwise threatened by your investigation?

[Here he shrugs and laughs mischievously.] As Jesus would say, “You said that.” I don’t know how he feels. I don’t work with feelings. I work with facts. The fact is that for 16 years it was his responsibility to publish something, and he published nothing. It was only after a journalist from the BBC started asking questions that he published an article in the relatively small Israeli journal, Atikot [antiquities]. And unless you’re an avid reader of Atikot, you wouldn’t know that this tomb exists. I know many academics who had no idea about it. So, [if I were Kloner], I would be embarrassed.

But if he’s right that this tomb and its ossuaries aren’t significant, why would – or should – he have made a big deal out of them?

Archeological finds are uncovered in Israel all the time. Not each and every one is widely publicized. True, things are uncovered here, though not quite all the time. But things are published about them. I mean, I’m not asking why he didn’t hold a press conference. But for 16 years not to publish anything about it? Zero? This is very unusual. Also, let’s face it: It’s the only ossuary ever found with the name “Jesus, son of Joseph” on it. Now, these people are smart people. So, even if it was only to dispel any possibility, you would think that somebody would at least address it (cont.)

S.O.S H2O – Dia Mundial da Água

Movimento de defesa marca o Dia Mundial da Água no Brasil

Representantes de ONGs, de órgãos gestores dos recursos hídricos dos governos federal e estadual, além de grandes consumidores, assinam nesta quinta-feira –Dia Mundial da Água– um documento em defesa das águas brasileiras. A Carta de Princípios Cooperativos pela Água será o início da campanha batizada de “SOS H2O”.

O objetivo da ação é eliminar a poluição e os casos de doenças relacionadas à falta de saneamento, criar incentivos ao uso sustentável da água e adotar programas educacionais em torno do tema. A assinatura do documento ocorreu durante evento no Parque Tecnológico de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR).

Criado em 1992 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o Dia Mundial da Água deste ano tem como tema a escassez. Segundo informações da ANA (Agência Nacional de Águas), pesquisas recentes apontam que, se mantidas as tendências atuais, mais de 45% da população mundial não poderá contar com a quantidade mínima de água para o consumo diário em 2050.

Ainda segundo a agência, em todo o planeta, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável. O Brasil, apesar de o país ter cerca de 12% da água doce do mundo, também enfrenta problemas em relação à disponibilidade do recurso.

O relatório GEO Brasil Recursos Hídricos aponta uma discrepância em relação à distribuição geográfica e populacional da água no país: sozinha, a região amazônica abriga 74% da disponibilidade de água, no entanto, é habitada por menos de 5% da população. Outro aspecto que colabora para a escassez em algumas regiões é a deficiência na coleta de esgoto –somente 54% domicílios brasileiros têm acesso ao serviço.

No entanto, mesmo diante de tais indicadores, o Brasil conseguiu aumentar a proporção de habitantes com acesso à água potável de 83% em 1990 para 90% em 2004.

O avanço permite que o Brasil se aproxime da meta de elevar o indicador para 91,5% , estabelecida pelos “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” –uma série de metas socioeconômicas que os países-membros da ONU (Organização das Nações Unidades) se comprometeram a atingir até 2015.

Uso da água

De acordo com a ANA, há uma tendência de uso abusivo da água, por motivos que vão desde problemas na irrigação até excessos no consumo doméstico.

Dados da agência mostram que 69% dos 840 mil litros de água consumidos no Brasil a cada segundo são destinados à agricultura; o uso urbano e o uso com animais são de 11%, cada um; o consumo industrial é de 7%, e o rural, de 2%.

Fonte: Folha Online – 22/03/2007

 

Oferta de água no Oriente Médio pode cair pela metade até 2050, diz Bird

O Banco Mundial (Bird) alertou que se os países do Oriente Médio quiserem evitar um agravamento na falta de água na região, terão de cooperar uns com os outros.

Esta é uma das recomendações de um relatório divulgado recentemente pelo órgão, que traça um futuro seco para o Oriente Médio se não forem implementadas mudanças na administração da água.

“A disponibilidade de água per capita vai cair pela metade até 2050, com sérias conseqüências aos já sobrecarregados lençóis subterrâneos e sistemas hidrográficos naturais”, alerta o documento.

A história recente do Oriente Médio não inspira grandes esperanças: o ex-primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, teria dito que a Guerra dos Seis Dias, em 1967, começou quando engenheiros sírios tentaram desviar parte do fluxo de água de Israel.

Após assinar o tratado de paz com o Estado israelense, em 1979, o presidente do Egito, Anwar Sadat, disse que seu país nunca mais lutaria em uma guerra, exceto para proteger suas fontes de água. O rei Hussein, da Jordânia, também já deu declarações neste sentido.

A questão da água está sempre presente nas negociações de paz entre israelenses e palestinos, já que os lençóis de água que abastecem Israel ficam na Cisjordânia e o rio Jordão corre por uma parte dos territórios ocupados.

Porém, na opinião da especialista em administração de recursos naturais, co-autora do estudo do Banco Mundial, Julia Bucknall, a falta de água atualmente “pode ser muito mais um veículo condutor para a paz do que para a guerra, como era antigamente”.

“No nível técnico, até israelenses e palestinos estão conversando o tempo todo. A partir do momento em que os países perceberam que o problema da falta de água pode se tornar insolúvel se não for resolvido logo, os governos começaram a cooperar muito mais uns com os outros.”

Oásis

O Oriente Médio é a região com menos disponibilidade de água por habitante –enquanto que 5% da população mundial vive na área, ela conta com apenas 1% da água fresca existente no planeta. Países como Egito, Argélia e Marrocos gastam entre 20% e 30% de seus orçamentos em suprimentos de água.

“Na medida em que as economias dos países da região e as estruturas populacionais mudarem nas próximas décadas, a demanda de água e os serviços de irrigação vão mudar, assim como a necessidade de tratar do problema da poluição industrial e urbana”, alertou Bucknall.

Outro fator que deve tornar a situação ainda mais difícil é o aquecimento global. Quando o beduíno Salim Ataig, de 23 anos, era garoto, muitas pessoas da região onde ele mora, no sudoeste da Península do Sinai, no Egito, costumavam ir até um imenso oásis na região de Wadi Kid para pegar água e levar para casa.

“Hoje o oásis não existe mais. Agora, as pessoas da cidade de Dahab têm de usar água do mar desalinizada para tomar banho e lavar a louça”, diz Ataig.

A opção para beber e cozinhar é comprar água coletada em oásis mais distantes, como o de Bir Ogda. Sessenta litros custam 16 libras egípcias (o equivalente a cerca de R$ 6) e costumam durar um ou dois dias para uma família de três ou quatro pessoas.

“Há cinco anos passou a chover muito menos aqui no Sinai. Antes disso, chovia todos os anos, mas agora não chove mais. Acho que se continuar assim vamos ter muitos problemas no futuro”, prevê Ataig.

A diminuição de água de chuva por causa das mudanças climáticas também é um dos problemas mencionados no relatório do Bird. Porém, seus autores são otimistas e dão várias alternativas para solucionar o problema.

Comércio exterior

“Um dos fatores animadores é que 85% da água são usados para agricultura. Eles vão ter de passar a usar a água deles para as coisas que gerem a maior quantidade de dinheiro e emprego”, afirmou Bucknall.

De acordo com ela, por ser mais fácil importar comida do que água, a região, que é abundante em sol, deve se concentrar em plantações de produtos como uvas, tomates, melões e morangos e importar produtos cujo plantio seja menos rentável.

A administração da água também tem de melhorar, segundo o relatório. “O mais importante é o poder público considerar a questão da água uma grande prioridade política”, disse a autora.

As mudanças propostas incluem planejamento para integrar quantidade e qualidade de água, reforma tarifária para o fornecimento de água –muitos países subsidiam serviços de má qualidade quando os consumidores prefeririam pagar por um serviço de melhor qualidade–, além do fortalecimento de agências de governo.

“Nós sabemos que as opções que nós estamos dando não são fáceis e que elas envolvem mudanças dolorosas, mas a outra opção é pior.”

Fonte: BBC Brasil – 22/03/2007

 

Water for Life

We’re finally at the end of the UN Decade for Water 2005-2015 – It is time to say good-bye

After 10 years, we’re finally at the end of the UN Water for Life Decade 2005-2015. Since 2005, we have been managing complexity on a global scale. Interactions have increased exponentially thanks to social media and the Internet; but we can’t help but regret the missed opportunities. There were many. And now we have a full stop.

Our goal during the Water for Life Decade was to promote efforts to fulfill international commitments in the water sphere by 2015. We’ve tried to raise the profile of water in the global agenda, and to focus the world’s attention on the groundbreaking, lifesaving, empowering work done by those implementing water programs and projects. We’ve tried to be a bridge, to further cooperation between governments and other stakeholders, between nations and diverse communities, between economic interests and the needs of ecosystems and the poor. And we’ve promoted efforts to ensure the participation of women in water and sanitation. We’ve done all this to contribute to achieving the water goals of the Millennium Declaration, the Johannesburg Plan of Implementation of the World Summit for Sustainable Development and Agenda 21.

For almost as long as we can remember, 2015 has been considered a critical year for the international water and sanitation agenda. Not least because we anticipated – and it has come to pass – that the General Assembly has agreed the Sustainable Development Goals in its 70th session.

In September 2015, the General Assembly finally agreed on a stand-alone water goal (number 6), “Ensure the availability and sustainable management of water and sanitation for all.” This reflects that water and sanitation has become a key priority for member states. UN and stakeholders, experts and the water community at large have contributed, engaging with politicians, policy makers, governments and water managers in water and sanitation programs and projects, in knowledge generation and management, in advice based on good practices and appropriate technologies.

The decade has been one of progress and many have contributed. The activities of the UN office to support the International Decade for Action “Water for Life” 2005-2015 of the knowledge hub, best practice programmme, communications, are being integrated in its work by the UN-Water technical advisory unit. We are especially proud of the activities of the civil society and of the UN-Water for Life Award winners. The Water for Life logo users and the partnerships which the decade has helped boost and create will respond to the challenge of the 2030 Sustainable Development Agenda of the need to be transformative and to bring about change. A call for Business “unusal”. The Canadian Water for Life Partnership, the Cultivating Water for life global partnership, the work of the Women for Water Partnership to cite a few with take the torch and continue with the spirit which has guided the Office´s actions.

Their work is necessary because 663 million people still drew water from an unimproved source in 2015, and for these people our statistics mean nothing. From 1990 to 2015, 2.1 billion people gained access to a latrine, flush toilet or other improved sanitation facilities, helping to comprise a total of 68% of the global population. Yet we missed the MDG target for sanitation by 9 percentage points. We have to keep working.

O Sepulcro Esquecido de Jesus: observações críticas

O número de apresentações
É muito bom ter esta variedade de horários, 11 ao todo, distribuídos ao longo de 7 dias, por dois motivos: oportunidade para mais pessoas assistirem e facilidade para quem gosta ou precisa observar com detalhes o documentário. Porém, é um verdadeiro “bombardeio” de tumba ou sepulcro de Jesus às vésperas da Semana Santa, em uma cultura como a nossa que, sabidamente, celebra com extrema dramaticidade ibérica, muito mais a “Paixão e Morte de Jesus” do que sua vida, seus feitos e suas propostas. Este “bombardeio” de apresentações não acontece por acaso.

1. A tumba de família de Jesus em Talpiot
A sequência de “descobertas” que se nota no primeiro segmento é a seguinte: evangelhos > Talpiot > ossuários > Jesus, filho de José > Maria > Mateus > Joset. No final do segmento, o telespectador já deveria estar convencido de que esta é, sem dúvida, a tumba da família de Jesus, pois a história de sua família está reconstruída e recuperada através das inscrições em 4 dos ossuários.

Algumas questões, entretanto, se impõem desde o começo:

  • Como se fez para que a hipótese de ser esta a tumba da família de Jesus se transformasse em certeza em apenas 22 minutos?
  • Quando e com que recursos uma pobre família da Galileia, como a de Jesus, teria construído uma tumba tão elaborada, considerada pelos especialistas como uma tumba de uma família rica?
  • Como comprovar que a genealogia de Jesus em Lc 3 é uma genealogia autêntica da família de Maria, como defende Tabor?
  • Por que é feito um uso seletivo dos evangelhos? Por que Mateus é desacreditado quando denuncia como complô de lideranças judaicas a história do roubo do corpo de Jesus pelos discípulos, enquanto Lucas e Marcos são fontes seguras para os nomes de familiares de Jesus?
  • Começar um documentário e fundamentar suas principais conclusões em uma visão conspiratória da história não é bastante problemático?
  • Onde está a percepção de que “evangelho” não é biografia nem livro de história e que, dentro de um evangelho, há vários gêneros literários?
  • Por que genealogias teológicas teriam credibilidade histórica, como a de Lucas?

Além de se discutir o uso problemático das fontes, deve-se investigar a relação entre Bíblia e Arqueologia, a arqueologia vista como caça ao tesouro… mesmo que este tesouro seja simbólico, um valor sagrado, uma relíquia, o lugar onde Jesus foi enterrado, por exemplo.

Chamo a atenção, finalmente, para a presença de Jacobovici no filme: sempre alerta, olhar inquiridor, soluções rápidas, mente aberta, inteligente… enfim, uma figura! Ele é um cineasta, um jornalista investigativo ou um personagem? Talvez seja o real protagonista do filme. De qualquer maneira, ele é o “mocinho” do filme. Vejo assim: na ausência das grandes figuras do documentário – Jesus, Maria, Madalena são apenas nomes em caixas de pedra – a figura incomum do cineasta, sempre em primeiro plano, dá segurança ao telespectador, enquanto o guia, soluciona dúvidas, resolve o que parece impossível, se emociona com as descobertas… Enfim, Jacobovici cria uma personalidade com a qual o telespectador pode se identificar sem receio de ficar perdido em suas dúvidas… Só que tudo isto é construído. A “caça ao tesouro” levou inteiros 3 anos! Nada foi encontrado “por acaso”. Caberia aqui uma discussão sobre a relação e distinção entre documentário e ficção.

2. Probabilidades estatísticas
A linha de raciocínio aqui é a seguinte: 3 especialistas contestam que os nomes encontrados indiquem algo de extraordinário, mas nada disso vale, pois a eles são contrapostas as opiniões de James Tabor que diz ser “provável” – para logo passar ao “deve ser” a tumba da família de Jesus – e do matemático Feuerverger, que apenas diz “ser possível”, mas é um matemático e professor de estatística, e isso pesa.

Cabe aqui uma observação sobre a (im)precisão das expressões que estou usando: posso não ter anotado tudo corretamente ao ver o filme! Mas, principalmente, as falas são dubladas… e as dublagens não são tão confiáveis assim! Mas não é só o que é falado que dá respaldo à tese de Jacobovici. O modo como os especialistas são apresentados, inclusive o ambiente em que são filmados, conta muito. Observo, por exemplo, que o matemático Feuerverger é sempre apresentado em ambiente acadêmico clássico, escrevendo fórmulas em tradicional quadro de sala de aula, o que dá respeitabilidade às suas opiniões, embora elas sejam extremamente cautelosas e vagas. Respeitabilidade? Lembro-me de uma das mais difundidas fotos de Einstein, na qual ele está escrevendo fórmulas no quadro… Mais para a frente veremos cientistas fazendo sofisticados exames de DNA e de pátina em modernos laboratórios, utilizando avançadas tecnologias, com marcante presença da eletrônica, em países de forte produção científica, como Estados Unidos e Canadá.

3. Busca da tumba e o ossuário de Caifás
O argumento que preside este segmento é: se Caifás é autêntico, Joset – daí toda a família de Jesus – também o é. De maneira muito clara se sugere o seguinte: a arqueologia oficial aceita muita coisa, desde que não envolva a familia de Jesus. No meu entender, sugere até mesmo um complô eclesiástico para manter a versão oficial das Igrejas. Há um “entulho ideológico” que impede o acesso à tumba de Jesus? Observo este paralelo entre o entulho físico do cano e o entulho simbólico sugerido… Aquele pode ser removido por um simples encanador, enquanto este resiste… A figura de David Mevorah simboliza esta resistência! Então, com quem fica o telespectador? Quer ver o que há além do entulho? Quer remover o seu próprio “entulho ideológico”, herdado através de sua educação religiosa formal? Por que não olhar do outro lado? Não é o que fazem os intrépidos caçadores de tesouros nos conhecidos filmes admirados por milhões?

4. Maria Madalena
Maria Madalena é a chave aqui: reputação restabelecida, liderança consolidada, ordenada (?), enquanto a atitude da hierarquia é colocada sob suspeita. A narrativa oficial é ironizada e substituída o tempo todo, sugerindo a existência de uma visão distorcida desenvolvida ao longo dos séculos. Sobre as estatísticas nada falarei: é assunto complicado, do qual nada entendo, e, por isso remeto o leitor para as explicações sobre o raciocínio de Andrey Feuerverger como estão no biblioblog de Mark Goodacre.

5. Mariamne, Madalena e os Atos de Filipe
Todo o segmento está fundado nos Atos de Filipe e na leitura de François Bovon, culminando no símbolo encontrado ao mesmo tempo em Dominus Flevit e na entrada da tumba de Talpiot. Cujo significado, aliás, permanece desconhecido. Maria Madalena é colocada nas alturas. Em determinado ponto, Tal Ilan chega a dizer que Madalena foi a verdadeira fundadora do cristianismo.

Aqui já se percebe, passado mais da metade do documentário, como o raciocínio é sempre na base de suposições que suportam outras suposições, que, por sua vez, suportam outras… É uma seqüência de: e se… e se… devia haver… se o ossuário… mas se… E desse conjunto frágil de suposições, supostamente fundadas, tiram-se facilmente conclusões, como: logo, claro, incrível… Todo o peso da argumentação recai sobre um frágil condicional. Contudo, para reforçar tal argumentação, a palavra mágica dos documentários aparece de vez em quando: “evidências”. Vamos procurar evidências… as evidências indicam… encontramos evidências…

Neste ponto o documentário já pode colocar na boca dos arqueólogos que examinaram Talpiot em 1980 algo que jamais suspeitaram: 26 anos atrás arqueólogos encontraram ossuários da família de Jesus em Talpiot… Enquanto isso, Jacobovici lança o desafio para sua equipe, mas também para o telespectador: temos de achar a tumba, a tumba da família sagrada, diz ao perceber que estavam na segunda tumba, a tumba intacta, a tumba errada.

6. DNA
Toda a seqüência está fundada no exame de DNA, uma palavra mágica hoje nos meios de comunicação, nos filmes policiais, nos tribunais, que resolve qualquer dúvida. Se o telespectador ainda não estava convencido, aqui não há como escapar: o DNA mostra que Jesus e Mariamne, quer dizer, Maria Madalena não eram filhos da mesma mãe, sendo, portanto, marido e mulher.

O que estamos vendo aqui é liberdade de pensamento em relação às versões oficiais das Igrejas ou independência para chutar em todas as direções? E se os personagens fossem membros da mesma família, mas com outro grau de parentesco? E por que foram retiradas amostras exatamente destes dois ossuários e não dos outros? No debate que é apresentado após o filme, ao serem pressionados sobre isso, Jacobovici e Tabor alegam que os outros haviam sido aspirados, limpos pelo IAA para alguma exposição – não documentada por eles – e por isso não continham nenhuma amostra de DNA que pudesse ser facilmente retirada. Ora, por que não providenciaram a retirada de amostras por métodos mais sofisticados, se ficaram 3 anos trabalhando no documentário? Argumenta Jacobovici que ele é apenas um jornalista, que ele fez o seu trabalho, que apresentou o que achava relevante… e que ele espera que os cientistas prossigam com o trabalho mais sofisticado… Claramente, ele não quer correr nenhum risco de ver sua proposta desacreditada por provas científicas.

7. Descoberta a verdadeira tumba
Encontrada a tumba de Talpiot, o leitmotiv é: emoção pela descoberta. A indicação decisiva vem, diz o documentário, da “visita quase profética de uma mulher cega”. Noto aqui a presença do providencial, o desígnio invisível que guia os caçadores para a descoberta decisiva: “visita quase profética”. Interessante: após mais de 1 hora de convencimento do telespectador, entra-se, de fato, na tumba. É tanta espera, tanta ansiedade, que é um alívio quando ele, telespectador, também entra na tumba guiado pela mão segura de Jacobovici.

8. O décimo ossuário está desaparecido: pode ser o Ossuário de Tiago?
O segmento está todo fundado no Ossuário de Tiago como sendo o ossuário desaparecido da coleção de Talpiot. Ora, quem acompanhou a polêmica sobre o Ossuário de Tiago sabe que tal identificação é bastante problemática. Oded Golan e outros envolvidos com este ossuário foram parar nos tribunais israelenses, julgados por fraude, o processo está em andamento. Claro, nada disso é dito no documentário.

Quero observar aqui que são tantos os dados, tão complexos, tão “científicos”, relatados de maneira tão bem dosada, que um leigo no assunto só pode aceitar o que lhe é apresentado como autêntico, pois não há como distinguir o possível do real, o “se” do comprovado.

9. A pátina combina: o ossuário desaparecido é o Ossuário de Tiago
De maneira quase mágica é resolvido o problema do décimo ossuário desaparecido, recorrendo-se ao controvertido Ossuário de Tiago. Remeto o leitor para a discussão dos especialistas e que foi postado nos biblioblogs. Procure nos links deste post aqui. Agora, o caso do livro de Jonas é, literalmente, “pura picaretagem”. Jesus falava em códigos?

10. Judá, filho de Jesus e Madalena
Um final em grande estilo: finalmente foi encontrado o filho de Jesus. Isto resolve muitos problemas, não? Torna Jesus alguém mais humano, resolve o problema de sua ligação com Madalena e põe um ponto final no irritante debate dos exegetas sobre a identidade do discípulo amado.

Mas ao selar a tumba com seus segredos, deixa aberta a perspectiva de continuação, com “O sepulcro esquecido de Jesus 2”.

Enfim, como disse Milton Moreland, do Rhodes College de Memphis, em encontro regional da SBL nos USA na semana passada: “The fake became the real”. Expressão que significa, em tradução livre, A fraude se transformou em verdade. O que ele está dizendo é que os caçadores de relíquias no Oriente Médio tomaram o lugar da real pesquisa arqueológica. E mais: vendem ao público a ideia de que esta é a autêntica arqueologia.