O Sepulcro Esquecido de Jesus: slogans e distorções

O termo slogan, no Random House Webster’s Unabridged Electronic Dictionary (Version 2.0, 1994), significa uma frase ou palavra-símbolo. Podemos entendê-lo como fórmula sucinta, metáfora ou versão simplificada de uma teoria. Para CARVALHO, J. S. Construtivismo: uma pedagogia esquecida da escola. Porto Alegre: ArtMed, 2001, os slogans são frases simbólicas extraídas de doutrinas teóricas ou de orientações práticas, que se tornam importantes elementos de impacto na difusão de correntes de pensamento e de movimentos intelectuais. Os slogans sempre representam uma simplificação das idéias ou das teorias que os originam, são fragmentos, ainda que representativos, de uma construção teórica que é bem mais ampla e complexa.

A divulgação ou reprodução de um slogan não visa esclarecer detalhadamente conceitos ou perspectivas, mas veicular e manter um espírito solidário em torno da doutrina ou de um programa de ação a ela associado“, explica CARVALHO, J. S. Construtivismo, p. 97.

Os slogans são assistemáticos, de tons menos solenes e mais populares, para serem repetidos com mais veemência do que para serem meditados, com caráter mais persuasivo e programático do que elucidativo.

Para APPLE, M. W. Trabalho Docente e Textos: economia política das relações de classe e de gênero em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, o slogan se alicerça em três princípios: 1. exerce um determinado atrativo para nos prender, oferecendo um certo vislumbre de possibilidades imaginativas para gerar um apelo e uma exigência de ação; 2. é vago o suficiente para que os grupos ou indivíduos poderosos o acolham sob seus vastos guarda-chuvas, mas especifico para oferecer alguma coisa; e 3. serve para o aqui e agora, para guiar o trabalho prático.

O termo distorção, de acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (Versão 1.0, dezembro de 2001), significa alteração da forma, de características estruturais, desvirtuamento, infidelidade. No Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, distorção vem de torcer, que quer dizer dobrar, vergar, entortar, alterar, desvirtuar.

Este último é exatamente o sentido original da raiz latina distortio, um substantivo feminino derivado do verbo distorquere, usado por autores clássicos como Cícero, Horácio, Sêneca e Suetônio, explica CALONGHI, F. Dizionario Latino-Italiano. 3a. ed. Torino: Rosenberg & Sellier, 1972.

Para nós, o termo distorcer se aproxima da idéia de assimilação deformante usada por Piaget. Para PIAGET, J. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994, a assimilação deformante acaba sendo uma necessidade de deformar as coisas, um objeto de conhecimento para satisfazer o próprio interesse ou um desejo particular, ou mesmo uma idéia preconcebida a respeito de algo. Sempre que o pensamento não experimenta a necessidade efetiva de uma acomodação à realidade, sua tendência natural o impelirá a deformar as coisas. Assimilamos um conteúdo, mas podemos deformá-lo para satisfazer à necessidade psicobiológica de aproximar o pensamento da realidade.

Em suma, distorcemos ou deformamos uma idéia para podermos entender alguma coisa que ainda não está tão clara para nós. É nossa necessidade de explicarmo-nos a nós mesmos, ou a outrem, as coisas que ainda não entendemos. Para Piaget, a assimilação deformante é própria do “egocentrismo intelectual que caracteriza as formas iniciais do pensamento da criança” (O juízo moral na criança, p. 132). Mas, entendemos que essa forma de lidar intelectualmente com a realidade que ainda não conhecemos pode se estender ao longo de nossa história.

No mesmo sentido podem ser utilizados também os termos desvio, equívoco e viés, lembrando que estes termos são sinônimos de anomalia, anormalidade, ambigüidade, confusão, dúvida, imprecisão.

>>Texto escrito por Rita de Cassia da Silva em sua tese de doutorado. Publicado sob permissão.

SILVA, R. C. Saberes Construtivistas de professores do ensino fundamental: alguns equívocos e seus caminhos. Tese de Doutorado. Araraquara, 2005.

Rita de Cassia da Silva é Psicóloga pela PUC-Campinas, SP, e Doutora em Educação pela UNESP de Araraquara, SP.

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