Pistas para a leitura de Grande Sertão: Veredas – II

ANDRADE, S. M. V. A vereda trágica do “Grande Sertão: Veredas”. São Paulo: Loyola, 1985, 104 p.

Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

No primeiro capítulo de seu texto, na p. 19, Sônia Maria Viegas Andrade diz:

O poeta é Guimarães Rosa. Motivados pelo desafio de pensar a poesia na sua função mediadora entre a existência e o pensamento, a realidade e o conceito, escolhemos Grande Sertão: Veredas como matéria de reflexão. Guimarães Rosa faz com a palavra um trabalho que lhe permite atingir o que ele próprio chama o ‘aspecto metafísico da língua’. No interior de sua criação poética, as significações se desdobram, tornam-se interrogativas e expõem suas contradições. Ele recupera as palavras em seu poder de expressão do real e também em seu poder de negação e de instauração de outras dimensões de realidade. Sua narrativa está sempre a esbarrar no limite, e é desse limite que o sentido poético se abisma no indizível, como se toda a narração tivesse por finalidade principal apontar para algo que a ultrapassa. A poesia recupera, assim, a realidade na indizível evidência com que ela resplandece através do sentido poético. Guimarães Rosa atinge um nível de reflexividade da linguagem que se encontra latente na expressão poética e é dela indissociado.

E na p. 22, ainda no mesmo capítulo, diz a autora:

Nossa abordagem se pretende filosófica, buscando uma filosofia poética nos vazios conceituais do romance de Guimarães Rosa. Uma filosofia que não se explicita, mas que se pode apontar, e sua descoberta permite uma fruição mais intensa da poesia, encaminhando a sensibilidade para significações inauditas, proporcionando um número incontável de leituras do texto poético.


Mas a que se refere a ‘vereda trágica’ do título? Explica a autora no capítulo terceiro, p. 48, que é sua intenção

mostrar como a instauração da dúvida, no relato de Riobaldo, transforma a aventura épica em aventura trágica. A dúvida intercepta a transfiguração do herói e se utiliza do narrador para introduzir, na aventura épica, uma ruptura que devolve a subjetividade a seu conflito.

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