Religião e identidade nas sociedades pós-conflito
Tema da Revista Internacional de Teologia Concilium 359 (2015/1).
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Religião e identidade nas sociedades pós-conflito
Tema da Revista Internacional de Teologia Concilium 359 (2015/1).
Este é o tema de capa da REB vol 75, n. 297, Jan/Mar. 2015, que acabo de receber.
As sugestões contemplam vários aspectos ou níveis, como o sociológico, o administrativo e o espiritual, sendo este último de caráter identitário e orientativo. Aparecem, pois, análises socioadministrativas e representações do imaginário ideal a respeito da Igreja católica, do Reino de Deus enquanto realização histórica e utopia. Por isso temos a convicção de que as contribuições aqui registradas poderão ajudar na busca e na fidelização a Jesus Cristo, no pensar a conjugação entre o evangelho e as pessoas, inseridas em culturas evolutivas, no pensar aspectos administrativos, em todos os níveis, diz o editorial.
Escrevem João Décio Passos, João da Silva Mendonça Filho, Luís González-Quevedo, Maria Cecília dos Santos Ribeiro Simões, Mário de França Miranda, Maria Clara Lucchetti Bingemer, Carlos Francisco Signorelli, José Silvio Botero Giraldo e Nicolau João Bakker.
Imagino que, no Brasil, — mas também em qualquer outro país da América Latina ou da Ásia ou da África e do Norte do mundo! — as pessoas nada saibam das brigas curiais e tenham outros problemas para se preocuparem. Todavia, um discurso como aquele do dia 22 de dezembro, retomado por muitos meios de comunicação, sugere também aos mais distraídos e às pessoas mais distantes de Roma que na Cúria — isto é, no órgão que auxilia o Papa no governo da Igreja Católica — está crescendo uma dura oposição a Bergoglio. Em suma, terminou, na Cúria e no establishment católico, a lua de mel – se é que tenha existido – com Jorge Mario Bergoglio (Luigi Sandri).
Como a cúpula da Igreja obstrui a mensagem do Papa de dentro do Vaticano – Marcela Belchior: Adital – 13/02/2015
Em uma atitude que nenhum pontífice jamais havia ousado ter na história recente da Igreja Católica, o Papa Francisco pegou a Cúria Romana despreparada e falou claramente da necessidade de mudança na cúpula do Vaticano. Em discurso proferido no último dia 22 de dezembro, o primeiro papa latino-americano tornou público que não sente na equipe da Santa Sé fidelidade às suas diretivas e solidariedade às perspectivas de seu pontificado [cf. o discurso de Francisco aqui].
Os 2.300 curiais se dividem em três grupos: os que estão do lado de Francisco, se empenhando por atender às suas indicações; os que não se opõem, mas se limitam a um trabalho burocrático, deixando a máquina lenta; e, finalmente, aqueles profundamente contrários à forma de agir de Jorge Mario Bergoglio, sua teologia, seu estilo de vida e seu próprio magistério.
São esses dois últimos grupos que formam a grande maioria da Cúria e atuam, deliberadamente, obstruindo a mensagem libertadora do Papa. Operando em torno da manutenção do establishment católico, complicando o caminho das reformas imaginadas pelo Papa, essa oposição também tem motivações políticas e financeiras, associada a interesses dos que defendem os privilégios dos ricos pelo sistema neoliberal em detrimento das causas estruturais que geram a pobreza, denunciadas por Francisco.
“Pode haver um órgão como a Cúria Romana que não seja dominado pelas tentações do poder?”. Com essa pergunta, o jornalista, vaticanista e escritor italiano Luigi Sandri nos ajuda a compreender o que se passa no Vaticano e como isso reflete em toda a comunidade católica do mundo. Autor dos livros Cronache dal futuro (em português, “Crônicas do futuro”) e Dal Gerusalemme I al Vaticano III. I Concili nella storia tra Vangelo e potere (em português, “De Jerusalém I ao Vaticano III. Os Concílios na história entre o Evangelho e o poder”), Sandri, em entrevista exclusiva para a Adital, defende que é preciso, sim, uma reforma dentro cúpula da Igreja Católica.
Para o escritor, essa reforma é o passo decisivo para uma reformulação subsequente da Igreja Católica Apostólica Romana. “Mas o caminho não será fácil, e serão inevitáveis as tensões, sofrimentos e contradições”, adverte. Atualmente, a estrutura da Santa Sé remonta (acredite) à reforma lançada pelo Papa Sisto V, ainda de 1588, época em que toda a América Latina, principal reduto católico no mundo, mal brotava nos mapas do globo. Somente com uma equipe que reflita sua mentalidade, o Papa pode tornar real uma mudança nos rumos da Igreja Católica. Caso contrário, Francisco corre o risco de continuar sozinho na luta pela libertação dos povos.
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Francisco entre lobos
Boff apoia Francisco contra Messori
É o que escreve o teólogo italiano Andrea Grillo. Brilhantemente, diz que Messori quer mesmo é um papa com muita sabedoria, mas absolutamente sem profecia: Alla Chiesa di Messori serve non un papa vero, ma solo un compendio di papa, un papa spaventato, nostalgico, schivo, forse con molta sapienza, ma assolutamente senza profezia.
Leia: Messori, Boff e o Papa Francisco: quem ataca e quem defende – Notícias: IHU On-Line 08/01/2015
Um trecho:
(…) Gostaria brevemente de examinar os argumentos que ele utiliza e gostaria de fazê-lo sine ira ac studio, controlando, o máximo possível, a forma do raciocínio e as implicações que ele subentende.
Começa-se, portanto, na forma de uma confissão: o Papa Francisco parece ser, aos olhos de Messori, “imprevisível” e “fonte de perturbação”. Mas parece ser como tal apenas na medida em que Messori, com um esforço não exagerado, tenta se assemelhar ao “católico médio”, que se identificaria naquele que tradicionalmente foi “exortado a se limitar a seguir o papa”.
Já neste plano parece ser frágil demais o argumento retórico utilizado por Messori: ele constrói um modelo de católico com base em uma leitura substancialmente do século XIX, apologética e “papalina” da identidade, a qual gostaria de obrigar nada menos do que a identidade papal. Se alguém é o papa, segundo Messori, deve, acima de tudo, obedecer não à Palavra de Deus, mas à tradição humana do século XVIII de interpretação do primado petrino, aquela à qual o bispo Lefebvre está ligado definitivamente, com as consequências que conhecemos.
Há aqui uma inversão fragorosa das prioridades: a ordem social católica torna-se o critério de interpretação não só do papa, mas também da Igreja e da própria Palavra de Deus.
A partir desse primeiro grave erro argumentativo, Messori deduz, inevitavelmente, uma série de contradições entre “diversos papas”, enumerando as várias tomadas de palavra que o Papa Francisco já nos acostumou a considerar com grande interesse: homilias, exortações, repreensões, telefonemas, piadas, considerações de sabedoria, decisões administrativas, impulsos proféticos, meditações pastorais…
E Messori, de modo aparentemente ingênuo, se pergunta: “Qual, dentre essas diversas formas de exercício do papado, devemos seguir?”. Aqui também o defeito de raciocínio é bastante evidente e altamente preocupante. Como Messori é vítima de uma leitura apologética e “política” do papado, não consegue distinguir os diversos níveis de respeitabilidade [autorevolezza] e de autoridade [autorità] das expressões papais. O que diz respeito, evidentemente, não só a Francisco, mas a “todo” papa.
O embaraço de Messori deriva, evidentemente, de uma personalização indevida da figura papal, justamente aquela contra a qual Francisco gastou algumas das suas palavras mais fortes. Esse é o fruto de uma história que inicia com aquele “a minha pessoa não conta nada” de João XXIII, assomado na noite do dia 11 de outubro de 1962 à janela do Palácio Apostólico, debaixo a lua e diante da multidão à espera.
Essa mensagem, que depois o Concílio Vaticano II amplamente articulou e determinou, não chega até Messori. Ele não aceita a Igreja articulada, diferenciada, com ministerialidade plural: ele quer um papa forte, mas reduzido a um repetidor do Catecismo – e seria melhor ainda se ele se limitasse a ser um repetidor do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. À Igreja de Messori, serve não um papa verdadeiro, mas apenas um compêndio de papa, um papa assustado, nostálgico, esquivo, talvez com muita sabedoria, mas absolutamente sem profecia (continua).
O original italiano foi publicado no blog come se non, de Andrea Grillo, em 03/01/2015: Messori, Boff e papa Francesco: chi attacca e chi difende
Um trecho:
(…) Vorrei brevemente esaminare gli argomenti che egli utilizza, e vorrei farlo sine ira ac studio, controllando per quanto posso la forma del ragionamento e le implicazioni che esso sottende.
Si comincia, dunque, nella forma di una confessione: papa Francesco appare, agli occhi di Messori, “imprevedibile” e “fonte di turbamento”. Ma tale appare solo nella misura in cui Messori, con uno sforzo non esagerato, cerca di immedesimarsi nel “cattolico medio”, che si identificherebbe in colui che tradizionalmente è stato “esortato a limitarsi a seguire il Papa”.
Già su questo piano appare troppo fragile l’argomento retorico utilizzato da Messori: egli costruisce un modello di cattolico sulla base di una lettura sostanzialmente ottocentesca, apologetica e “papalina” della identità, alla quale vorrebbe costringere niente meno che la identità papale. Se uno è papa, secondo Messori, deve anzitutto obbedire non alla Parola di Dio, ma alla tradizione umana ottocentesca di interpretazione del primato petrino, quella alla quale si è legato definitivamente il vescovo Lefebvre, con le conseguenze che conosciamo.
VI è, qui, un capovolgimento fragoroso delle priorità: l’ordine sociale cattolico diventa il criterio di interpretazione non solo del Papa, ma della Chiesa e della stessa Parola di Dio.
Da questo primo grave errore argomentativo, Messori desume, inevitabilmente, una serie di contraddizioni tra “diversi Papi”, enumerando le svariate prese di parola che papa Francesco ci ha ormai abituato a considerare con vivo interesse: omelie, esortazioni, rimproveri, telefonate, battute, considerazioni sapienziali, decisioni amministrative, slanci profetici, meditazioni pastorali…
E Messori, in modo apparentemente ingenuo, si chiede: “quale, tra queste diverse forme di esercizio del Papato, dobbiamo seguire?”. Anche qui il difetto di ragionamento è piuttosto evidente e altamente preoccupante. Siccome Messori è vittima di una lettura apologetica e “politica” del papato, non riesce a distinguere i diversi livelli di autorevolezza e di autorità delle espressioni papali. Il che riguarda, evidentemente, non solo Francesco, ma “ogni” Papa.
L’imbarazzo di Messori deriva, evidentemente, da una personalizzazione indebita della figura papale, proprio quella contro cui Francesco ha speso alcune delle sue parole più forti. Questo è il frutto di una storia che inizia con quel “la mia persona conta niente” di Giovanni XXIII, affacciato la sera del 11 ottobre del 1962, dalla finestra del Palazzo Apostolico, sotto la luna e davanti alla folla in attesa.
Questo messaggio, che poi il Concilio Vaticano II ha largamente articolato e determinato, non va giù a Messori. Egli non accetta una Chiesa articolata, differenziata, con ministerialità plurale: vuole un Papa forte, ma ridotto a ripetitore del Catechismo, e meglio ancora sarebbe se si limitasse a ripetere il Compendio del CCC. Alla Chiesa di Messori serve non un papa vero, ma solo un compendio di papa, un papa spaventato, nostalgico, schivo, forse con molta sapienza, ma assolutamente senza profezia…
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Boff apoia Francisco contra Messori
Apoio ao Papa Francisco contra seus detratores
Esperava uma maior inteligência de fé e mais abertura de Vittorio Messori, não obstante seus méritos de católico, fiel a um modelo clássico de Igreja.
Está se articulando em várias partes do mundo, mas principalmente na Itália entre cardeais e pessoas da Cúria mas tambem entre grupos leigos conservadores uma dura resistência e demolição da figura do Papa Francisco. Escondendo-se atrás de um escritor leigo famoso, convertido, Vittorio Messori, mostram seu mal-estar.
Assim que com tristeza li um artigo de Vittorio Messori, no Corriere della Sera de Milão com o titulo:”As opções de Francisco: dúvidas sobre a virada do Papa Francisco”(24/12-2014). Esperou a véspera do Natal para atingir mais profundamente o Papa. O que lhe critica é especilmente a sua “imprevisibilidade que continua perturbando a tranquilidade do católico médio”. Ele admira a perspectiva linear “do amado Joseph Ratzinger”. E sob palavras piedosas instila insidiosamente muito veneno. E o faz, como confessa, em nome de muitos que não têm coragem de expor-se.
Quero propor um contraponto às dúvidas de Messori. Este não percebe os novos sinais dos tempos trazidos por Francisco de Roma. Ademais demonstra três insuficiências: duas de natureza teológica e uma de interpretação da relevância da Igreja do Terceiro Mundo.
Ele se escandalizou com a “imprevisibilidade” deste Pastor “que continua perturbando a tranquilidade do católico médio”. Há de se perguntar pela qualidade da fé deste “católico médio” que sente dificuldade de entender um pastor que tem “odor de ovelhas” e anuncia “a alegria do evengelho”. São geralmente católicos culturais, habituados à figura faraônica de um Papa com todos os símbolos do poder dos imperadores romanos pagãos. Agora comparece um Papa “franciscano”que confere centralidade aos pobres, não “veste Prada”, critica corajosamente o sistema econômico que produz tantos pobres no mudo, que abre a Igreja a todos os seres humanos sem julgá-los, mas acolhendo-os no espírito que ele chamou de “revolução da ternura”, falando aos bispos latinoamericanos.
Há um notável vazio no pensamento de Messori. Estas são as duas insuficiências teológicas: a quase ausência do Espírito Santo e o cristomonismo. Quer dizer: só Cristo conta. Não há propriamente um lugar para o Espírito Santo. Tudo na Igreja se resolve unicamente com Cristo, coisa que não corresponde ao que ensinou Jesus. Por que digo isso? Porque o que ele deplora na ação pastoral do Papa é a “imprevisibilidade”. Ora, esta é a caracterítisca do Espírito no dizer de São João:”Ele sopra onde quer e lhe ouves voz mas não sabes de onde vem nem para onde vai”(3,8). Sua natureza é a irrupção imprevista.
Messori é refém de uma visão linear, própria de seu “amado Joseph Ratzinger” e de outros Papas anteriores. Ora, importa reconhecer que foi exatamente esta visão linear que transformou a Igreja numa fortaleza, incapaz de comprender a complexidade do mundo moderno, isolada no meio das demais Igrejas e caminhos espirituais, sem dialogar e aprender dos outros, também iluminados pelo Espírito Santo. Seria blasfemar contra o Espírito imaginar que os outros somente pensaram erros. Por isso é sumamente importante uma Igreja aberta, como o quer o Papa Francisco, para perceber as irrupções imprevistas do Espíprito na história. Não sem razão alguns teólogos o chamam a “fantasia de Deus”, em razão de sua criatividade e novidade para a história e a Igreja.
Sem o Espírito Santo a Igreja se tornaria uma instituição pesada, e sem criatividade. No fundo, teria pouco a dizer ao mundo a não ser doutrinas sobre doutrinas, sem levar a um encontro vivo com Cristo e sem suscitar esperança e alegria de viver.
Significa um dom do Espírito o fato de que este Papa tenha vindo fora da velha e cansada cristandade européia. Não se apresenta como refinado teólogo, mas como um zeloso Pastor que realiza o mandato de Jesus a Pedro:”confirma os irmãos e as irmãs na fé”(Lc 22,31). Carrega consigo a esperiência das Igrejas do Terceiro mundo, particularmente, da América Latina.
Esta é outra insuficiência de Messori: o de não ter dimensionado o fato de que hoje por hoje, o Cristianismo é uma religião do Terceiro Mundo, como tantas vezes o tem enfatizado o teólogo alemão J. B. Metz. Na Europa os católicos não chegam a 25%, enquant que no Terceiro Mundo alcançam quase 73% e na América Latina cerca de 49%.
Por que não acolher a novidade que se deriva destas Igrejas já que não são mais Igrejas-espelho das velhas Igrejas européias, mas Igrejas-fonte com seus mártires, confessores e teólogos?
Podemos imaginar que num futuro não muito distante a sede do primado não continue mais em Roma com a Cúria, com todas as contradições recentemente denunciadas com coragem pelo Papa Francisco com palavras somente ouvidas da boca de Lutero e no meu livro Igreja: carisma e poder (1984), que lido na ótica de hoje é antes um livro inocente que crítico. Faria sentido que a sede primacial estivesse lá onde se encontra a maioria dos católicos que está na América Latina, Africa e Ásia. Seguramente seria um sinal inequívoco da verdadeira catolicidade da Igreja dentro da nova fase globalizada da humanidade.
Esperava, sinceramente, uma maior inteligência de fé e mais abertura de Vittorio Messori, não obstante seus méritos de católico, fiel a um modelo clássico de Igreja e de notório escritor. Este Papa trouxe esperança e ar fresco para tantos católicos e a outros cristãos que se orgulham dele.
Não percamos esse dom do Espírito por causa de análises antes negativas que positivas e que não reforçam a “alegria do evangelho” para todos.
Fonte: Leonardo Boff – Carta Maior: 19/12/2014
O texto de Vittorio Messori, no original italiano, pode ser lido no Corriere della Sera – 24 dicembre 2014: Le scelte di Francesco: I dubbi sulla svolta di Papa Francesco.
Bergoglio è imprevedibile per il cattolico medio. Suscita un interesse vasto, ma quanto sincero?
Credo sia onesto ammetterlo subito: abusando, forse, dello spazio concessomi, ciò che qui propongo, più che un articolo, è una riflessione personale. Anzi, una sorta di confessione che avrei volentieri rimandata, se non mi fosse stata richiesta. Ma sì, rimandata perché la mia (e non solo mia) valutazione di questo papato oscilla di continuo tra adesione e perplessità, è un giudizio mutevole a seconda dei momenti, delle occasioni, dei temi. Un Papa non imprevisto: per quanto vale, ero tra quelli che si attendevano un sudamericano e un uomo di pastorale, di esperienza quotidiana di governo, quasi a bilanciare un ammirevole professore, un teologo sin troppo raffinato per certi palati, quale l’amato Joseph Ratzinger. Un Papa non imprevisto, dunque, ma che subito, sin da quel primissimo «buonasera», si è rivelato imprevedibile, tanto da far ricredere via via anche qualche cardinale che era stato tra i suoi elettori.
Una imprevedibilità che continua, turbando la tranquillità del cattolico medio, abituato a fare a meno di pensare in proprio, quanto a fede e costumi, ed esortato a limitarsi a «seguire il Papa». Già, ma quale Papa? Quello di certe omelie mattutine a Santa Marta, delle prediche da parroco all’antica, con buoni consigli e saggi proverbi, con persino insistiti avvertimenti a non cadere nelle trappole che ci tende il diavolo? O quello che telefona a Giacinto Marco Pannella, impegnato nell’ennesimo, innocuo digiuno e che gli augura «buon lavoro», quando, da decenni, il «lavoro» del leader radicale è consistito e consiste nel predicare che la vera carità sta nel battersi per divorzio, aborto, eutanasia, omosessualità per tutti, teoria di gender e così via? Il Papa che, nel discorso di questi giorni alla Curia romana, si è rifatto con convinzione a Pio XII (ma, in verità, a san Paolo stesso) definendo la Chiesa «corpo mistico di Cristo»? O quello che, nella prima intervista a Eugenio Scalfari, ha ridicolizzato chi pensasse che «Dio è cattolico», quasi che la Ecclesia una, sancta, apostolica, romana fosse un optional, un accessorio da agganciare o meno, a seconda del gusto personale, alla Trinità divina? Il Papa argentino consapevole, per diretta esperienza, del dramma dell’America Latina che si avvia a diventare un continente ex cattolico, con il passaggio in massa di quei popoli al protestantesimo pentecostale? O il Papa che prende l’aereo per abbracciare e augurare buoni successi a un amico carissimo, pastore proprio in una delle comunità che stanno svuotando quella cattolica e proprio con il proselitismo da lui condannato duramente nei suoi?
Si potrebbe continuare, naturalmente, con questi aspetti che paiono – e forse sono davvero – contraddittori. Si potrebbe, ma non sarebbe giusto, per un credente. Questi, sa che non si guarda a un Pontefice come a un presidente eletto di repubblica o come a un re, erede casuale di un altro re. Certo, in conclave, quegli strumenti dello Spirito Santo che, stando alla fede, sono i cardinali elettori condividono i limiti, gli errori, magari i peccati che contrassegnano l’umanità intera. Ma capo unico e vero della Chiesa è quel Cristo onnipotente e onnisciente che sa un po’ meglio di noi quale sia la scelta migliore, quanto al suo temporaneo rappresentante terreno. Una scelta che può apparire sconcertante alla vista limitata dei contemporanei ma che poi, nella prospettiva storica, rivela le sue ragioni. Chi conosce davvero la storia è sorpreso e pensoso nello scoprire che – nella prospettiva millenaria, che è quella della Catholica – ogni Papa, consapevole o no che lo fosse, ha interpretato la sua parte idonea e, alla fine, rivelatasi necessaria. Proprio per questa consapevolezza ho scelto , per quanto mi riguarda, di osservare, ascoltare, riflettere senza azzardarmi in pareri intempestivi se non addirittura temerari. Per rifarci a una domanda fin troppo citata al di fuori del contesto: « Chi sono io per giudicare?». Io che – alla pari di ogni altro, uno solo escluso – non sono certo assistito dal «carisma pontificio», dall’assistenza promessa del Paraclito. E a chi volesse giudicare, non dice nulla l’approvazione piena, più volte ripetuta – a voce e per iscritto – dell’attività di Francesco da parte di quel «Papa emerito» pur così diverso per stile, per formazione, per programma stesso?
Terribile è la responsabilità di chi oggi sia chiamato a rispondere alla domanda: «Come annunciare il Vangelo ai contemporanei? Come mostrare che il Cristo non è un fantasma sbiadito e remoto ma il volto umano di quel Dio creatore e salvatore che a tutti può e vuole dare senso per la vita e la morte?». Molte sono le risposte, spesso contrastanti.
Per quel poco che conta, dopo decenni di esperienza ecclesiale, io pure avrei le mie, di risposte. Avrei, dico: il condizionale è d’obbligo perché niente e nessuno mi assicura di avere intravisto la via adeguata. Non rischierei forse di essere come il cieco evangelico, quello che vuole guidare altri ciechi, finendo tutti nella fossa? Così, certe scelte pastorali del «vescovo di Roma», come preferisce chiamarsi, mi convincono; ma altre mi lascerebbero perplesso, mi sembrerebbero poco opportune, magari sospette di un populismo capace di ottenere un interesse tanto vasto quanto superficiale ed effimero. Avrei da osservare alcune cose a proposito di priorità e di contenuti, nella speranza di un apostolato più fecondo. Avrei, penserei: al condizionale, lo ripeto, come esige una prospettiva di fede dove chiunque anche laico (lo ricorda il Codice canonico) può esprimere il suo pensiero, purché pacato e motivato, sulle tattiche di evangelizzazione. Lasciando però all’uomo che è uscito vestito di bianco dal Conclave la strategia generale e, soprattutto, la custodia del «depositum fidei». In ogni caso, non dimenticando quanto Francesco stesso ha ricordato proprio nel duro discorso alla sua Curia: è facile, ha detto, criticare i preti, ma quanti pregano per loro? Volendo anche ricordare che egli, sulla Terra, è il «primo» tra i preti. E, dunque, chiedendo, a chi critica, quelle preghiere di cui il mondo ride ma che guidano, in segreto, il destino della Chiesa e del mondo intero.
Leia o texto de Leonardo Boff, se preferir, em espanhol, em Religión Digital, de 30/12/2014:
Apoyo al Papa frente a un escritor nostálgico, Vittorio Messori
He leído con un poco de tristeza el artículo crítico de Vittorio Messori en el Corriere della Sera precisamente en el día menos adecuado: la noche feliz de Navidad, fiesta de luz y alegría: “Las opciones de Francisco: las dudas sobre el rumbo del Papa Francisco”.
El autor ha intentado dañar esta alegría del buen pastor de Roma y del mundo, el Papa Francisco. Pero en vano, porque no conoce el sentido de misericordia y de espiritualidad de este Papa, virtud que seguramente no demuestra Messori. El uso que él hace de las palabras compasión y comprensión, llevan por dentro veneno. Y lo hace en nombre de muchos otros que se esconden tras él y no tienen el coraje de aparecer en público.
Me propongo hacer otra lectura de Papa Francisco, como contrapunto a la de Messori, un converso que, en mi opinión, todavía debe llevar a término su conversión con la recepción del Espíritu Santo, para que no vuelva a decir las cosas que ha escrito…
:. Sobre Vittorio Messori
:. Sobre Leonardo Boff
:. Sobre Francisco
A partir de hoje, 13 de dezembro, às 21h30, a TV Brasil apresenta a minissérie Descalço sobre a Terra Vermelha.
Em três episódios com 52 minutos, a produção conta a trajetória de vida do bispo emérito de São Félix do Araguaia, o catalão Dom Pedro Casaldáliga. O religioso é uma figura emblemática, tanto na Espanha quanto no Brasil, por sua incansável luta em favor dos desfavorecidos da região do Mato Grosso, no Centro-Oeste brasileiro.
Baseada na obra homônima de autoria do escritor Francesc Escribano, a série narra a relevante atuação do religioso – seja em conflitos entre latifundiários no Mato Grosso, contra o regime militar e lutando contra a miséria e opressão da população local – de forma delicada e profunda. Dirigida pelo cineasta catalão Oriol Ferrer, a obra é resultado da coprodução entre a TV Brasil, a espanhola TVE, a catalã TV3, a brasileira Raiz Produções e a Minoria Absoluta, produtora espanhola.
Três episódios de 52 minutos cada, nos dias 13, 20 e 27/12/2014, às 21h30, na TV Brasil.
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Entrevista com Dom Pedro Casaldáliga
“Sinto que agora temos um Papa comprometido com seu povo, com pensamento revolucionário, com sentimento social, e sobretudo com propostas para mudar e acabar com a injustiça, a violência e a guerra” (Evo Morales, Presidente da Bolívia).
Francisco: Igreja e justiça social – Editorial: La Jornada, México, em Carta Maior 30/10/2014
No marco do Encontro Mundial de Movimentos Populares, do qual o presidente da Bolívia, Evo Morales, participou o papa Francisco indicou que este nosso encontro responde a um compromisso muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para seus filhos; um compromisso que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos, com tristeza, cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho, e acrescentou: “É estranho, mas se falo disto para alguns, dizem que o Papa é comunista (…) Não entendem que o amor aos pobres está no centro do Evangelho”.
A frase citada é a ratificação, nas palavras pontifícias, de um compromisso social que a Igreja católica havia abandonado há muito tempo…
Leia o texto completo.
Francisco: Iglesia y justicia social – La Jornada 29/10/2014
Ayer, en el marco del Encuentro Mundial de Movimientos Populares, al que asistió el presidente de Bolivia, Evo Morales, el papa Francisco indicó que este encuentro nuestro responde a un anhelo muy concreto, algo que cualquier padre, cualquier madre quiere para sus hijos; un anhelo que debería estar al alcance de todos, pero hoy vemos con tristeza cada vez más lejos de la mayoría: “tierra, techo y trabajo”, y añadió: “Es extraño, pero si hablo de esto para algunos resulta que el Papa es comunista (…) No se entiende que el amor a los pobres está al centro del Evangelio”. La alocución referida es la ratificación, en palabras pontificias, de un compromiso social que la Iglesia católica había abandonado hace mucho (…) El deslinde de Francisco de sus predecesores inmediatos y la recuperación de los postulados de justicia social del catolicismo son de por sí alentadores, pero lo es más que esa discusión no parezca destinada a quedarse entre los muros vaticanos y que, por el contrario, empiece a prender en las comunidades católicas de diversas latitudes e incluso en gobiernos como el del propio Evo Morales, quien ayer afirmó respecto de lo expresado por Bergoglio: “siento que ahora tengo Papa comprometido con su pueblo, con pensamiento revolucionario, con sentimiento social, y sobre todo con propuestas para cambiar y acabar con la injusticia, la violencia y la guerra”.
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Carta dos Excuídos aos Excluídos
Sobre a desigualdade no capitalismo: Francisco e Piketty
Rueda de prensa del Papa a bordo del avión – Religión Digital 19/08/2014
Texto íntegro de la rueda de prensa mantenida por el Papa Francisco a bordo del avión que lo traía de regresio a Roma, tras su visita pastoral a Corea del Sur.
1. Las víctimas del hundimiento del Sewol ferry y el riesgo de ser utilizado
Cuando usted se encuentra frente al dolor humano, tiene que hacer lo que su corazón le lleva a hacer. Entonces dirán: hizo porque tiene alguna intención política. Se puede decir todo, pero cuando se piensa en estos hombres y mujeres, estos padres y madres que han perdido hijos, hermanos y hermanas… frente al dolor tan grande de una catástrofe mi corazón -soy un sacerdote, ya sabe- me dice que tengo que estar cerca. Lo siento así. Sé que el consuelo que puedo dar con una palabra mía no es un remedio, no le da nueva vida a los que murieron. Pero la cercanía humana en estos momentos nos da fuerza, hay solidaridad. Recuerdo que como arzobispo de Buenos Aires, experimenté dos desastres: uno era un incendio en un salón de baile, un concierto de música pop en el que murieron 193 jóvenes. Otra vez fue un desastre con los trenes. En ese momento sentí la misma necesidad de estar cerca. El dolor humano es fuerte y si en estos momentos tristes nos acercamos, nos ayudamos unos a otros. Tomé esto (señalado el arco amarillo en la capa). Lo tomé para solidarizarme con ellos. Alguien me dijo: «es mejor quitarlo, usted debe ser neutral.» Pero cuando sentí el sufrimiento humano no se puede ser neutral.
2. La agresión del Isis contra las minorías cristianas en Irak y las bombas estadounidenses
En estos casos, en los que hay una agresión injusta, solo puedo decir que es lícito «detener» a agresor injusto. Subrayo el verbo «detener», no digo bombardear, hacer la guerra, sino detenerlo. Los medios con los que se puede detener deberán ser evaluados. Detener al agresor injusto es lícito. Pero debemos tener memoria; cuántas veces bajo este pretexto de detener al agresor injusto las potencias se han adueñado de los pueblos y han hecho la guerra de conquista. Una sola nación no puede juzgar cómo se detiene a un agresor injusto. Después de la Segunda Guerra Mundial nació la idea de las Naciones Unidas, es allí en donde se debe discutir y decir: ‘¿Hay un agresor injusto? Parece que sí. Entonces, ¿cómo lo detenemos?’. Solo esto, nada más. En segundo lugar, las minorías. Gracias por haber usado esta palabra. Porque a mí me hablan de cristianos, los que sufren, los mártires. Y sí, hay muchos mártires. Pero aquí hay hombres y mujeres, minorías religiosas, no son todos cristianos, y todos son iguales frente a Dios. Detener al agresor injusto es un derecho que la humanidad tiene, pero también es un derecho que tiene el agresor de ser detenido, para que no haga mal.
3. La posibilidad de una visita a Irak, en la zona de conflicto
Estoy dispuesto a ir a Irak y creo poder decirlo: cuando con mis colaboradores supimos la noticia de esta situación, de las minorías religiosas y también en aquel momento que Kurdistán no podía recibir a tanta gente, pensamos muchas cosas. Lo primero fue escribir el comunicado que hizo el padre Federico Lombardi. Después este comunicado fue enviado a todas las nunciaturas para que fuera transmitido a los gobiernos. Después escribimos al Secretario general de las Naciones Unidas y decidimos mandar un enviado personal, el cardenal Filoni. Al final, dijimos que, si era necesario después del viaje a Corea, podía ir allí; era una de las posibilidades. ¡Estoy dispuesto! En este momento no es lo mejor, pero estoy dispuesto a ello.
4. Las relaciones entre la Santa Sede y China; la posibilidad de un viaje papal.
Cuando, a la ida, estábamos por volar a través del espacio aéreo chino, fui a la cabina y uno de los pilotos me mostró un registro y me explicó que solo faltaban diez minutos para entrar al espacio aéreo chino y que teníamos que pedir la autorización (una cosa normal que hay que hacer siempre con cada país) y sentí cómo pedían la autorización y cómo respondían; fui testigo de ese momento. El piloto dijo: ahora parte el telegrama, no sé cómo haya hecho, pero lo hizo. Después me despedí de los pilotos y volví a sentarme y recé tanto, por ese hermoso pueblo chino: un pueblo sabio. Pienso en todos los grandes sabios chinos, pienso en la historia de ciencia, de sabiduría… También nosotros los jesuitas tenemos nuestra historia allí, con Matteo Ricci… ¿Que si quiero ir a China? ¡Pero claro! ¡Mañana! Nosotros respetamos al pueblo chino. La Iglesia pidió solamente la libertad para su ministerio, para su trabajo. Ninguna otra condición. Y luego no hay que olvidar la carta fundamental para el problema chino, la que envió a los chinos Papa Benedicto XVI. Esa carta hoy sigue siendo actual. Hace bien volver a leerla. La Santa Sede siempre ha estado abierta a los contactos, siempre, porque tiene un verdadero afecto por el pueblo chino.
5. Los próximos viajes y la esperanza de verlo en España, en Ávila, en 2015.
Este año tenemos prevista Albania. Voy por dos motivos importantes. En primer lugar porque lograron hacer un gobierno (pensemos en los Balcanes), un gobierno de unidad nacional, entre musulmanes, ortodoxos, católicos, con un consejo interreligioso que ayuda mucho y que es equilibrado. Sentí como si mi presencia fuera una ayuda a ese noble pueblo. El segundo motivo es este: pensemos en la historia de Albania, el único de los países comunistas que en su Constitución tenía el ateísmo práctico. Si tu ibas a Misa, ¡era anticonstitucional! Y luego, me decía uno de los ministros, que fueron destruidas (y quiero ser preciso con la cifra) 1820 Iglesias, ortodoxas y católicas. En aquel tiempo muchas Iglesias fueron transformadas en cines, teatros, salas de baile. Yo sentí que tenía que ir, y un día hay que hacerlo. Luego, el próximo año quisiera ir a Philadelphia, al encuentro de las familias, y también fui invitado por el presidente de los Estados Unidos al parlamento estadounidense y también por el Secretario de las Naciones Unidas a Nueva York (tal vez las tres ciudades juntas: Philadelphia, Washington e New York). Los mexicanos quieren que vaya en esa ocasión también a la Virgen de Guadalupe, y se podría aprovechar, pero no es seguro. Y al final a España. Los reyes me invitaron, el episcopado me invitó, pero no hemos decidido.
6. La relación con Benedicto XVI
Nos vemos. Antes de partir fui a visitarlo. Dos semanas antes, me envió un escrito interesante y me pedía mi opinión. Tenemos una relación normal. Porque alrededor de esta idea, que tal vez no le gusta a algunos teólogos (yo no soy teólogo), creo que el Papa emérito no es una excepción. Yo creo que el Papa emérito sigue siendo una institución, porque nuestra vida se alarga y a una cierta edad ya no se tiene la capacidad para gobernar bien, porque el cuerpo se cansa… La salud tal vez sea buena, pero ya no se tiene la capacidad de sacar adelante todos los problemas de un gobierno como el de la Iglesia… ¿Y si yo sintiera que ya no puedo seguir? Haría lo mismo. Rezaré, pero creo que haría lo mismo. Somos hermanos, y ya he dicho que es como tener al abuelo en casa, por su sabiduría. Es un hombre de sabiduría. Me hace bien escucharlo. Y él me anima bastante.
7. ¿Cómo se sintió cuando saludó esta mañana a las siete «mujeres de placer»? Se verán en Nagasaki el año que viene?
Sería hermoso, hermoso! Fui invitado por el gobierno como por el episcopado. El sufrimiento… Se remonta a una de las primeras preguntas. El pueblo coreano es un pueblo que no ha perdido la dignidad. Era un pueblo invadido, humillado. Sufrió guerras, y se divide. Con tanto sufrimiento. Ayer cuando fui al encuentro con los jóvenes, visité el museo de los mártires. Es terrible el sufrimiento de estas personas. (Mártires) simplemente por no querer pisotear la cruz. Es un sufrimiento histórico. La capacidad de sufrir de este pueblo, es parte de su dignidad. Hubo incluso hoy día estas mujeres mayores al frente, en misa. Pensar que con la invasión fueron llevadas de niñas, a los cuarteles, para explotarlas. Ellas no han perdido su dignidad. Hoy estaban allí, las mujeres mayores, mostrando su rostro del pasado vivido. Es un pueblo fuerte en su dignidad. Pero volvamos a estas cosas de los mártires, del sufrimiento, y de estas mujeres: estos son los frutos de la guerra! Hoy nosotros vivimos en un mundo en guerra, ¡por todas partes! Alguien me decía: ‘Sabe usted, padre, que estamos en la tercera guerra mundial, pero en pedacitos. En capítulos’. Es un mundo en guerra en donde se hacen estas crueldades. Una vez se hablaba sobre la guerra convencional, ahora ya no cuenta. No digo que las guerras convencionales sean algo bueno, no. Pero hoy va la bomba y mata al inocente con el culpable, al niño con la mujer, con la madre, mata a todos. Pero, detengámonos a pensar un poco a nivel de crueldad, ¿a dónde hemos llegado? Esto debería espantarnos. No es para dar miedo. El nivel de crueldad de la humanidad en este momento espanta un poco.
Hoy la tortura es uno de los medios casi ordinarios en los comportamientos de los servicios de inteligencia y en algunos procesos judiciales. Y la tortura es un pecado en contra de la humanidad, un delito de lesa humanidad. Digo a los católicos: torturar a una persona es pecado mortal, es pecado grave. Pero es mucho más: es un pecado contra la humanidad. La crueldad y la tortura. Me gustaría mucho que ustedes, en sus medios, hicieran una reflexión sobre cuál es hoy el nivel de crueldad de la humanidad, y sobre lo que piensan sobre la tortura. Creo que nos haría bien a todos nosotros reflexionar sobre esto.
8. Usted tiene una vida llena de compromisos. Poco descanso, nada de vacaciones. Viajes masacrantes. ¿Hay que preocuparse por el ritmo que lleva?
Sí, hay quienes me lo han dicho. Yo pasé las vacaciones en casa, como hago normalmente. Una vez leí un libro, interesante, que se titulaba: ‘Alégrate por ser un neurótico’. Yo también tengo alguna neurosis y hay que curarla bien, ¿eh? La mía es que soy un poco apegado a mi hábitat. La última vez que fui de vacaciones, con la comunidad jesuita, fue en 1975. Siempre hago vacaciones, pero en mi hábitat, cambio de ritmo: duermo más, leo cosas que me gustan, escucho música, rezo más. Y esto me descansa. En julio hice mucho todo esto. Es cierto, el día que tenía que ir al Gemelli, hasta diez minutos antes tenía que ir, pero no pude. Habían sido días muy llenos. Ahora sé que tengo que ser prudente. Tienes razón…
9. Cuando la multitud decía ¡Francisco! ¡Francisco! en Río, le respondía ¡Cristo! Cristo! ¿Cómo vive la inmensa popularidad de la que goza?
Yo la vivo agradeciendo al Señor de que su pueblo sea feliz, esperando lo mejor para el pueblo. La vivo como generosidad del pueblo, del verdadero pueblo… Dentro, trato de pensar en mis pecados, en mis errores, para no creérmela, porque yo sé que esto durará como yo, dos o tres años, y luego… ¡a la casa del Padre! La vivo como presencia del Señor en su pueblo que usa al obispo, que es el pastor del pueblo, para manifestar muchas cosas. La vivo con más naturalidad que antes, porque me espantaba un poco.
10. ¿Cómo vive en el Vaticano, más allá del trabajo?
Trato de ser más libre. Hay citas de trabajo, pero la vida para mí es lo más normal que se puede hacer. Me gustaría salir más, pero no se puede. Y luego en Santa Marta hago la vida normal de trabajo, de descanso, de pláticas… ¿Que si me siento prisionero? No. Al principio sí, pero después cayeron algunos muros… Por ejemplo (sonríe): el Papa no podía usar el elevador solo, ¡inmediatamente alguien venía para acompañarlo! ‘¡Tú, vete a tu sitio, que yo bajo solo!’. Y se acabó la historia. Es así… la normalidad, la normalidad.
11. Su equipo, San Lorenzo, se convirtió en campeón de América por primera vez, ¿como lo está viviendo?
Es una buena noticia, después del segundo lugar en Brasil! Sabía en Seúl, me lo dijeron. Y me dijeron que el miércoles estarán en la audiencia pública. Para mí, San Lorenzo es el equipo del que toda mi familia era hincha.
12. La próxima encíclica dedicada a la defensa de la creación.
He hablado de esta encíclica con el cardenal Turkson y también con los otros. Y le pedí a Turkson que recopilara todas las contribuciones que hubieran llegado. Antes del viaje, el cardenal me entregó el primer borrador. Es así de grande, un tercio más que la Evangelii gaudium. Es el primer borrador. Se trata de un problema no fácil, porque se trata de la custodia de la creación, también de la ecología (hay ecología humana); se puede hablar con cierta seguridad, pero hasta cierto punto. Y luego vienen todas las hipótesis científicas, algunas bastante seguras y otras no. Es una encíclica que debe ser magistral y debe salir adelante solo con las seguridades, con las cosas sobre las que estamos seguros. Si el Papa dice que el centro del universo es la Tierra y no el Sol, se equivoca, porque está diciendo una cosa que científicamente no funciona. Es lo que sucede ahora; debemos hacer un estudio párrafo por párrafo. Creo que será más pequeña, porque hay que ir a lo esencial, que es lo que se puede afirmar con seguridad. Se puede añadir en las notas al pie de página que sobre este o aquel argumento hay esta o esa hipótesis. Pero darlo como información, no en el cuerpo de una encíclica, que es doctrinal y debe ser segura.
13. Una nueva pregunta sobre la división forzada «mujeres de solaz» y sobre la división de Corea
Hoy en día, estas mujeres estaban allí porque a pesar de todo lo que han sufrido tienen dignidad y querían dar la cara. Y pensé esto, pensé en la guerra y la crueldad de las guerras, en que estas mujeres han sido explotadas, han sido esclavizados con toda esta crueldad. He pensado la dignidad que tienen y también lo mucho que sufrieron y el sufrimiento es un legado. Los primeros mártires de la Iglesia dijeron que la sangre de los mártires es semilla de cristianos. Ustedes los coreanos han sembrado mucho, mucho, por coherencia. Se ve ahora el fruto de esa semilla de los mártires. Sobre Corea del Norte sé que es un dolor, lo sé con certeza, que hay algunos parientes, muchos parientes no puede encontrarse, esto duele, eso es cierto. Es un dolor que divide al país, hoy en la Catedral, donde me he puesto las vestiduras para la Misa, había un regalo que me hicieron, una corona de espinas de Cristo hecha con alambre de hierro que divide los dos lados de la única Corea. Y lo llevamos en el avión, pero es un regalo que me llevo… el sufrimiento de la división de una familia dividida. Como dije ayer, en declaraciones a los obispos, y lo recuerda: todavía tenemos esperanza, las dos Coreas son hermanas y hablan el mismo idioma. Cuando hablamos el mismo idioma, es porque se tiene a la misma madre, y esto nos da esperanza. El sufrimiento de la división es grande. Lo entiendo y rezo para que termine.
14. La beatificación del arzobispo salvadoreño Romero
La causa estaba bloqueada, se decía que por prudencia, en la Congregación de la Doctrina de la Fe. Ahora ya no. Pasó a la Congregación para los santos y sigue el camino normal de un proceso; depende de cómo se muevan los postuladores. Es muy importante hacerlo de prisa. Porque, lo que me gustaría a mí es que se aclare cuando hay un martirio ‘in odium fidei’, por confesar el Credo o por hacer las obras que Jesús nos manda con el prójimo. Este es un trabajo de teólogos, que lo están estudiando. Detrás de Romero está Rutilio Grande y hay otros. Otros que fueron asesinados que no tienen la misma altura de Romero; hay que distinguir teológicamente todo esto. Para mí, Romero es un hombre de Dios. Se debe continuar el proceso, el Señor debe dar uno de sus signos; si lo quiere hacer, lo hará. Ahora los postuladores deben moverse, porque ya no hay impedimentos.
15. El fracaso de la Oración por la Paz: inmediatamente después los misiles y bombas en Gaza
La oración por la paz no fue absolutamente ningún fracaso. Estos dos hombres son hombres de paz, son hombres que creen en Dios y que han vivido muchas cosas feas, muchas cosas feas, y están convencidos de que la única vía para resolver los problemas es la de la negociación, del diálogo, de la paz. ¿Fue un fracaso? Yo creo que la puerta está abierta. La paz es un don de Dios, que se merece nuestro trabajo, pero es un don. Y hay que decir a toda la humanidad que la mesa de la negociación es importante, pero también lo es la de la oración. Pero esto es coyuntural. Ese encuentro no era una coyuntura; es un paso fundamental de la actitud humana, una oración. Ahora, el humo de las bombas y de las guerras no dejan ver esa puerta, pero la puerta permaneció allí, abierta, desde aquel momento. Creo en Dios, creo en el Señor, esa puerta está abierta, y pidamos que nos ayude.
“Estamos na terceira guerra mundial. Em capítulos”. Entrevista coletiva do Papa a bordo do avião de volta da Coreia – Notícias: IHU On-Line: 20/08/2014
Texto na íntegra da entrevista coletiva concedida pelo Papa Francisco a bordo do avião que o levava de volta a Roma, após sua visita pastoral à Coreia do Sul.
A entrevista está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 19-08-2014. A tradução é de André Langer.
1. As vítimas do afundamento do ferry sul-coreano Sewol e o risco de ser utilizado
Quando você se encontra diante da dor humana, tem que fazer o que seu coração o leva a fazer. Então, dirão: fez porque tem alguma intenção política. Pode-se dizer tudo, mas quando se pensa nestes homens e mulheres, nestes pais e mães que perderam filhos, irmãos e irmãs… diante da dor tão grande de uma catástrofe, meu coração – sou sacerdote, já sabe – me diz que tenho que me fazer próximo.
Sinto-o dessa maneira. Sei que o consolo que posso dar com uma palavra minha não é um remédio, não devolve a vida aos que morreram. Mas a proximidade humana nestes momentos nos dá força, há solidariedade.
Recordo que, como arcebispo de Buenos Aires, experimentei dois desastres: um era um incêndio em uma boate [a boate Cromañón], em que morreram 193 jovens. Outra vez foi um desastre com os trens. Nesse momento senti a mesma necessidade de estar próximo. A dor humana é forte e se nestes momentos tristes nos aproximamos, nos ajudamos mutuamente. Tomei isto (assinalando para o arco amarelo na capa). Tomei-o para me solidarizar com eles. Alguém me disse: “é melhor tirá-lo, você deve ser neutro”. Mas quando senti o sofrimento humano dei-me conta de que não se pode ser neutro.
2. Os ataques do Isis [Estado Islâmico do Iraque e do Levante] contra as minorias cristãs no Iraque e as bombas estadunidenses
Nestes casos, nos quais há uma agressão injusta, só posso dizer que é lícito “deter” o agressor injusto. Destaco o verbo “deter”, não digo bombardear, fazer a guerra, mas detê-lo. Os meios com os quais se pode deter deverão ser avaliados. Deter o agressor injusto é lícito. Mas devemos ter memória: quantas vezes, sob o pretexto de deter o agressor injusto, as potências se adonaram dos povos e fizeram a guerra de conquista. Uma só nação não pode julgar como se detém um agressor injusto.
Depois da Segunda Guerra Mundial nasceu a ideia das Nações Unidas; é ali onde se deve discutir e dizer: ‘Há um agressor injusto? Parece que sim. Então, como vamos detê-lo?’ Só isto, nada mais. Em segundo lugar, as minorias. Obrigado por ter usado esta palavra. Porque me falam de cristãos, os que sofrem, os mártires. Sim, há muitos mártires. Mas aqui há homens e mulheres, minorias religiosas, não são todos cristãos, e todos são iguais perante Deus. Deter o agressor injusto é um direito que a humanidade tem, mas também é um direito que o agressor tem de ser detido, para que não faça mal.
3. A possibilidade de uma visita ao Iraque, na zona de conflito
Estou disposto a ir ao Iraque e creio poder dizê-lo: quando com meus colaboradores soubemos da notícia desta situação, das minorias religiosas e também naquele momento que o Curdistão não podia receber tanta gente, pensamos muitas coisas. A primeira coisa foi escrever o comunicado feito pelo padre Federico Lombardi. Depois, esse comunicado foi enviado a todas as Nunciaturas para que fosse transmitido aos governos. Em seguida, escrevemos ao secretário-geral das Nações Unidas e decidimos mandar um enviado pessoal, o cardeal Filoni, ao Iraque. Ao final, dissemos que, se fosse necessário depois da viagem à Coreia, poderia ir para lá; era uma das possibilidades. Estou disposto! Neste momento, não é a melhor coisa a se fazer, mas estou disposto a isso.
4. As relações entre a Santa Sé e a China; a possibilidade de uma viagem papal
Quando, na ida, estávamos para sobrevoar o espaço aéreo chinês, fui à cabine e um dos pilotos me mostrou um registro e me explicou que faltavam apenas 10 minutos para entrar no espaço aéreo chinês e que tínhamos que pedir autorização (uma coisa normal que é preciso fazer sempre com cada país) e vi como pediam a autorização e como respondiam; fui testemunha desse momento. O piloto disse: agora parte o telegrama, não sei como fez, mas o fez. Depois me despedi dos pilotos e voltei a sentar-me e rezei tanto por esse belo povo chinês: um povo sábio. Penso em todos os grandes sábios chineses, penso na história de ciência, de sabedoria…
Também nós, os jesuítas, temos nossa história ali, como Matteo Ricci… Se quero ir à China? Mas, claro! Amanhã! Nós respeitamos o povo chinês. A Igreja pediu somente a liberdade para o seu ministério, para o seu trabalho. Nenhuma outra condição. E depois não devemos esquecer a carta fundamental para o problema chinês, aquela que o Papa Bento XVI enviou aos chineses. Essa carta ainda hoje segue sendo atual. Faz bem voltar a lê-la. A Santa Sé sempre esteve aberta aos contatos, sempre, porque tem um verdadeiro afeto pelo povo chinês.
5. As próximas viagens e a esperança de vê-lo na Espanha, em Ávila, em 2015
Este ano temos previsto a viagem para a Albânia. Vou por dois motivos importantes. Em primeiro lugar, porque conseguiram fazer um governo (pensemos nos Bálcãs), um governo de unidade nacional, entre muçulmanos, ortodoxos, católicos, com um conselho inter-religioso que ajuda muito e que é equilibrado. Senti como se minha presença fosse uma ajuda a esse nobre povo. O segundo motivo é este: pensemos na história da Albânia, o único dos países comunistas que em sua Constituição tinha o ateísmo prático. Se tu ias à missa, era inconstitucional!
Além disso, me dizia um dos ministros, foram destruídas (e quero ser preciso com o número) 1.820 igrejas, ortodoxas e católicas. Naquele tempo muitas igrejas foram transformadas em cinemas, teatros, salões de festa. Eu senti que tinha que ir, e um dia é preciso fazê-lo. Depois, no próximo ano, quisera ir à Filadélfia, ao encontro das famílias, e também fui convidado pelo presidente dos Estados Unidos para o parlamento estadunidense e também pelo secretário das Nações Unidas a Nova York (talvez as três cidades juntas: Filadélfia, Washington e Nova York). Os mexicanos querem que vá nessa ocasião também à Virgem de Guadalupe, e se poderia aproveitar, mas não está certo. E, finalmente, à Espanha. Os reis me convidaram, o episcopado me convidou, mas ainda não decidimos.
6. A relação com Bento XVI
Encontramo-nos. Antes de partir fui visitá-lo. Duas semanas antes, enviou-me um escrito interessante e pedia a minha opinião. Temos uma relação normal. Porque ao redor desta ideia, que talvez não seja do agrado de alguns teólogos (eu não sou teólogo), creio que o Papa emérito não é uma exceção. Eu creio que o Papa emérito segue sendo uma instituição, porque a nossa vida se alonga e a uma certa idade já não se tem a capacidade para governar bem, porque o corpo se cansa… A saúde talvez seja boa, mas já não se tem a capacidade de tratar e resolver todos os problemas de um governo como o da Igreja… E se eu sentisse que já não posso continuar? Faria o mesmo. Rezarei, mas creio que faria o mesmo. Somos irmãos, e já lhe disse que é como ter um avô em casa, por sua sabedoria. É um homem de sabedoria. Faz-me bem escutá-lo. E ele me anima bastante.
7. Como se sentiu quando saudou esta manhã as sete “confort women”? Ver-se-ão em Nagasaki no ano que vem?
Seria bonito, bonito! Fui convidado pelo governo, assim como pelo episcopado. O sofrimento… Remonta-se a uma das primeiras perguntas. O povo coreano é um povo que não perdeu a dignidade. Era um povo invadido, humilhado. Sofreu guerras e se divide. Com tanto sofrimento. Ontem, quando fui ao encontro com os jovens, visitei o museu dos mártires. É terrível o sofrimento destas pessoas. (Mártires), simplesmente por não quererem pisotear a cruz. É um sofrimento histórico. A capacidade de sofrer deste povo é parte da sua dignidade. Houve inclusive atualmente estas mulheres idosas na frente, na missa. Pensar que com a invasão foram levadas, quando crianças, aos quartéis, para serem exploradas. Elas não perderam sua dignidade. Hoje, estavam ali as mulheres idosas, mostrando seu rosto do passado vivido. É um povo forte em sua dignidade. Mas voltamos a estas coisas dos mártires, do sofrimento, e destas mulheres: estes são os frutos da guerra!
Hoje, nos vivemos em um mundo em guerra por todas as partes! Alguém me dizia: ‘Você sabe, padre, que estamos na terceira guerra mundial, mas em pedacinhos. Em capítulos’. É um mundo em guerra onde se cometem estas crueldades. Uma vez se falava sobre a guerra convencional, agora já não conta. Não digo que as guerras convencionais sejam algo bom, não. Mas hoje vai a bomba e mata o inocente junto com o culpado, a criança junto com a mulher, com a mãe, mata a todos. Mas, paremos para pensar um pouco no nível da crueldade: aonde chegamos? Isto deveria nos espantar. Não é para dar medo. O nível de crueldade da humanidade neste momento espanta um pouco.
Hoje, a tortura é um dos meios quase ordinários nos comportamentos dos serviços de inteligência e em alguns processos judiciais. E a tortura é um pecado contra a humanidade, um crime de lesa humanidade. Digo aos católicos: torturar uma pessoa é um pecado mortal, é pecado grave. Mas é muito mais: é um pecado contra a humanidade. A crueldade e a tortura. Gostaria muito que vocês, em seus meios, fizessem uma reflexão sobre qual é, hoje, o nível de crueldade da humanidade, e sobre o que pensam sobre a tortura. Creio que faria bem a todos nós refletir sobre isto.
8. Você tem uma vida cheia de compromissos. Pouco descanso, nada de férias. Viagens massacrantes. É preciso preocupar-se com o ritmo que leva?
Sim, há quem já me alertou. Eu passei as férias em casa, como faço normalmente. Uma vez li um livro, interessante, que se intitulava: “Alegra-te por ser um neurótico’. Eu também tenho alguma neurose e é preciso curá-la bem, eh? A minha é que sou um pouco apegado ao meu habitat. A última vez que saí para fazer férias, com a comunidade jesuíta, foi em 1975. Sempre faço férias, mas no meu habitat, mudança de ritmo: durmo mais, leio coisas que gosto, ouço música, rezo mais. E isto me descansa. Em julho, fiz muito tudo isto. É certo, no dia que tinha que ir ao Gemelli, até 10 minutos antes tinha que ir, mas não pude. Foram dias muito cheios. Agora sei que tenho que ser prudente. Tem razão…
9. Quando a multidão gritava Francisco!, no Rio, respondia: Cristo! Cristo! Como vive a imensa popularidade de que goza?
Eu a vivo agradecendo ao Senhor de que seu povo seja feliz, esperando o melhor para o povo. Vivo-a como generosidade do povo, do verdadeiro povo… Internamente, procuro pensar em meus pecados, em meus erros, para não me deixar levar por isso, porque sei que isto durará como eu, dois ou três anos, e depois… a casa do Pai! Vivo-a como presença do Senhor no meio do seu povo que usa o bispo, que é o pastor do povo, para manifestar muitas coisas. Vivo-a com mais naturalidade que antes, porque ficava um pouco assustado.
10. Como vive no Vaticano, além do trabalho?
Procuro ser mais livre. Há reuniões de trabalho, mas a vida para mim é o mais normal que pode ser. Gostaria de sair mais, mas não é possível. E depois, em Santa Marta, levo a vida normal de trabalho, de descanso, de conversas… Se me sinto prisioneiro? Não. No princípio, sim, mas depois caíram alguns muros… Por exemplo (sorri): o Papa não podia usar o elevador sozinho, imediatamente alguém vinha para acompanhá-lo! ‘Tu, vai para o teu lugar, que eu desço sozinho!’ E se acabou a história. É assim… a normalidade, a normalidade.
11. Seu time, o San Lorenzo, ficou campeão da Libertadores pela primeira vez. Como está vivendo esta sensação?
É uma boa notícia, depois do segundo lugar no Brasil! Fiquei sabendo em Seul, me disseram. E me disseram que na quarta-feira estarão na audiência pública. Para mim, o San Lorenzo é o time para quem toda a minha família torcia.
12. A próxima encíclica dedicada à defesa da criação
Conversei sobre esta encíclica com o cardeal Turkson e também com os outros. E pedi a Turkson que reunisse todas as contribuições que tivessem chegado. Antes da viagem, o cardeal me entregou o primeiro rascunho. É desse tamanho, um terço a mais que a Evangelii Gaudium. É o primeiro rascunho. Trata-se de um problema nada fácil, porque se trata da custódia da criação também da ecologia (há ecologia humana); pode-se falar com certa segurança, mas até certo ponto. E depois vêm todas as hipóteses científicas, algumas bastante seguras e outras não. É uma encíclica que deve ser magistral e deve seguir em frente só com as seguranças, com as coisas sobre as quais estamos seguros. Se o Papa diz que o centro do universo é a Terra e não o Sol, se equivoca, porque está dizendo uma coisa que cientificamente não está correta. É o que acontece agora; devemos fazer um estudo parágrafo por parágrafo. Creio que será menor, porque é preciso ater-se ao essencial, que é o que se pode afirmar com segurança. Pode-se acrescentar nas notas de rodapé que sobre este ou aquele argumento há esta ou aquela hipótese. Mas dá-lo como informação, não no corpo de uma encíclica, que é doutrina e deve ser segura.
13. Uma nova pergunta sobre a divisão forçada, “confort women” e sobre a divisão da Coreia
Atualmente, estas mulheres estavam ali porque apesar de tudo o que sofreram têm dignidade e queriam mostrar o rosto. E pensei isto, pensei na guerra e na crueldade das guerras, em que estas mulheres foram exploradas, foram escravizadas com toda esta crueldade. Pensei na dignidade que têm e também o muito que sofreram, e o sofrimento é um legado. Os primeiros mártires da Igreja disseram que o sangue dos mártires é semente de cristãos. Vocês, os coreanos, semearam muito, muito, por coerência. Vê-se agora o fruto dessa semente dos mártires.
Sobre a Coreia do Norte, sei que é uma dor, sei disso com certeza, que há alguns parentes, muitos parentes não podem se encontrar, isto dói, isso é verdade. É uma dor que divide o país.
Hoje, na Catedral, no lugar em que coloquei as vestimentas para a missa, havia um presente que me deram, uma coroa de espinhos de Cristo feita com arame farpado que divide em dois lados a única Coreia. E o levamos no avião, mas é um presente que levo… o sofrimento da divisão de uma família dividida. Como disse ontem, em declarações aos bispos, e o recordo: ainda temos esperança, as duas Coreias são irmãs e falam o mesmo idioma. Quando falamos o mesmo idioma, é porque se tem a mesma mãe, e isso nos dá esperança. O sofrimento da divisão é grande. Entendo e rezo para que termine.
14. A beatificação do arcebispo salvadorenho Romero
A causa estava bloqueada, dizia-se que por prudência, na Congregação para a Doutrina da Fé. Agora já não. Passou à Congregação para os Santos e segue o caminho normal de um processo; depende de como se movam os postuladores. É muito importante fazê-lo rapidamente. Porque eu gostaria que se esclarecesse quando há um martírio ‘in odium fidei’, por confessar o Credo ou por fazer as obras que Jesus nos manda fazer com o próximo. Este é um trabalho de teólogos, que o estão estudando. Por trás de Romero está Rutilio Grande e há outros. Outros que foram assassinados e que não têm a mesma estatura de Romero; é preciso distinguir teologicamente tudo isto. Para mim, Romero é um homem de Deus. Deve-se continuar o processo, o Senhor deve dar um de seus sinais; se o quer fazer, o fará. Agora os postuladores devem se mexer, porque já não há impedimentos.
15. O fracasso da Oração pela Paz: imediatamente depois os mísseis e bombas sobre Gaza
A oração pela paz não foi absolutamente nenhum fracasso. Estes dois homens são homens de paz, são homens que acreditam em Deus e que viveram muitas coisas feias, muitas coisas feias, e estão convencidos de que a única via para resolver os problemas é a da negociação, do diálogo, da paz. Foi um fracasso? Eu creio que a porta está aberta. A paz é um dom de Deus, que merece o nosso trabalho, mas é um dom. E preciso dizer a toda a humanidade que a mesa da negociação é importante, mas também o é a da oração. Mas isto é conjuntural. Esse encontro não era uma conjuntura; é um passo fundamental da atitude humana, uma oração. Agora, a fumaça das bombas e das guerras não deixa ver essa porta, mas a porta permanece ali, aberta, desde aquele momento. Creio que Deus, creio no Senhor, essa porta está aberta, e peçamos que nos ajude.
Muitos blogs católicos são conservadores – Tanti blog cattolici sono conservatori
Por trás disso, também há partes da hierarquia que preferem… se expressar indiretamente em muitos blogs conservadores… — Dietro ci sono anche pezzi di gerarchia che preferiscono … esprimersi indirettamente sui tanti blog conservatori… (Marco Politi)
Isto merece um debate!
POLITI, M. Francesco tra i lupi: Il segreto di una rivoluzione. 2. ed. Roma-Bari: Laterza, 2014, 260 p. – ISBN 9788858110799.
Um livro para se prestar atenção. Do experiente vaticanista Marco Politi.
A um ano da eleição, o papa ainda está bastante sozinho dentro da estrutura eclesiástica. Isso explica a sua extraordinária determinação. Ele goza de um consenso muito amplo entre os fiéis e na opinião pública agnóstica e não crente, mas na Cúria não se manifesta, por enquanto, um forte partido pró-Bergoglio. Ao contrário, há quem espere que o papa argentino seja uma exceção transitória… Um papa obtém obediência quase absoluta quando age ao longo dos trilhos da tradição. Se, ao invés, quer mudar e reformar, são infinitos os modos grandes e pequenos de lhe opor obstáculos… Os setores conservadores apontam para o desgaste do papa argentino, alavancam a fadiga que pode surgir com a repetição das suas exortações. Difundem o temor de que Francisco está construindo uma “outra Igreja”, saindo dos trilhos da tradição, da doutrina e da reta interpretação da palavra de Deus… Há quem se rebele contra a ideia de que Francisco diminui a “sacralidade da pessoa papal”. Quando Francisco condena a fofoca e a circulação de calúnias dentro dos aparatos, ele pensa nos sabotadores que falam em voz baixa… Não se deve subestimar nem mesmo a oposição inerte daqueles que na Cúria estão incertos em relação ao seu futuro e ao seu papel, e sentem que a estabilidade dos ditames tradicionais vacila… Há quem liquide com desencanto as suas palavras, especialmente sobre o tema da pobreza. Há uma rede subterrânea de interesses ramificados, que olha com suspeita e incômodo para as reformas… (do livro de Marco Politi, Francesco tra i lupi)
Do livro, diz a editora, em italiano:
È il leader più influente del pianeta. Si è prefisso un’impresa gigantesca: riformare la curia e rinnovare la Chiesa. Ma dietro le quinte la lotta è sempre più aspra. Il tempo è poco. La posta in gioco è la fisionomia del cattolicesimo di domani. Ha spezzato l’immagine di una Chiesa matrigna, ha rifiutato la pompa imperiale, non conosce barriere tra credenti e non credenti, nessun pontefice europeo ha vissuto come lui la miseria degli emarginati, è vicino alle angosce di uomini e donne di ogni credo. È immerso nella modernità, pratica la tenerezza e la compassione. Ma in Vaticano crescono le resistenze ai suoi audaci programmi di rifondazione della Chiesa come la partecipazione dei vescovi al governo ecclesiale, l’inserimento di donne ai vertici decisionali, l’approccio nuovo a divorziati e omosessuali. Ripulire lo Ior e le finanze vaticane è una fatica immane. L’episcopato italiano è un problema per il papa argentino. La rivoluzione è agli inizi: l’esito è incerto e il tempo non è molto. “Francesco tra i lupi” è la storia, mai raccontata prima, delle sfide nascoste alla rivoluzione di Bergoglio e dell’opposizione al papa più popolare dei nostri tempi, con particolari inediti sulla sua elezione.
:: Os lobos de Francisco. Entrevista com Marco Politi – Notícias: IHU On-Line 08/06/2014
Uma ampla conversa com o vaticanista Marco Politi, autor de Francesco tra i lupi: Il segreto di una rivoluzione. Consensos verdadeiros, consensos da boca para fora, oposições amplas e latentes. Muitos blogs católicos são conservadores. O papa está consciente das resistências dentro do mundo católico. Uma estratégia inclusiva. Os meios de comunicação como instrumento para provocar o debate. O afastamento dos jovens, especialmente das garotas, com previsíveis dificuldades graves na transmissão da fé. A reportagem é de Giuseppe Rusconi, publicada no sítio Rosso Porpora em 04/06/2014 (link para o original italiano logo abaixo).
:: Marco Politi: I lupi di Francesco? Non vengono da Gubbio – Giuseppe Rusconi: Rosso Porpora – 4 Giugno 2014
Ad ampio colloquio con il vaticanista Marco Politi, autore di “Francesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione”. Consensi veri, consensi a fior di labbra, opposizioni latenti ed estese. Tanti blog cattolici sono conservatori. Il Papa è consapevole delle resistenze all’interno del mondo cattolico. Una strategia inclusiva. I media come strumento per lanciare il dibattito. L’allontanarsi dei giovani, in particolare delle ragazze, con prevedibili difficoltà gravi nella trasmissione della fede.
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