Messori rejeita um papa filho do Vaticano II

É o que escreve o teólogo italiano Andrea Grillo. Brilhantemente, diz que Messori quer mesmo é um papa com muita sabedoria, mas absolutamente sem profecia: Alla Chiesa di Messori serve non un papa vero, ma solo un compendio di papa, un papa spaventato, nostalgico, schivo, forse con molta sapienza, ma assolutamente senza profezia.

Leia: Messori, Boff e o Papa Francisco: quem ataca e quem defende – Notícias: IHU On-Line 08/01/2015

Um trecho:

(…) Gostaria brevemente de examinar os argumentos que ele utiliza e gostaria de fazê-lo sine ira ac studio, controlando, o máximo possível, a forma do raciocínio e as implicações que ele subentende.

Começa-se, portanto, na forma de uma confissão: o Papa Francisco parece ser, aos olhos de Messori, “imprevisível” e “fonte de perturbação”. Mas parece ser como tal apenas na medida em que Messori, com um esforço não exagerado, tenta se assemelhar ao “católico médio”, que se identificaria naquele que tradicionalmente foi “exortado a se limitar a seguir o papa”.

Já neste plano parece ser frágil demais o argumento retórico utilizado por Messori: ele constrói um modelo de católico com base em uma leitura substancialmente do século XIX, apologética e “papalina” da identidade, a qual gostaria de obrigar nada menos do que a identidade papal. Se alguém é o papa, segundo Messori, deve, acima de tudo, obedecer não à Palavra de Deus, mas à tradição humana do século XVIII de interpretação do primado petrino, aquela à qual o bispo Lefebvre está ligado definitivamente, com as consequências que conhecemos.

Há aqui uma inversão fragorosa das prioridades: a ordem social católica torna-se o critério de interpretação não só do papa, mas também da Igreja e da própria Palavra de Deus.

A partir desse primeiro grave erro argumentativo, Messori deduz, inevitavelmente, uma série de contradições entre “diversos papas”, enumerando as várias tomadas de palavra que o Papa Francisco já nos acostumou a considerar com grande interesse: homilias, exortações, repreensões, telefonemas, piadas, considerações de sabedoria, decisões administrativas, impulsos proféticos, meditações pastorais…

E Messori, de modo aparentemente ingênuo, se pergunta: “Qual, dentre essas diversas formas de exercício do papado, devemos seguir?”. Aqui também o defeito de raciocínio é bastante evidente e altamente preocupante. Como Messori é vítima de uma leitura apologética e “política” do papado, não consegue distinguir os diversos níveis de respeitabilidade [autorevolezza] e de autoridade [autorità] das expressões papais. O que diz respeito, evidentemente, não só a Francisco, mas a “todo” papa.

O embaraço de Messori deriva, evidentemente, de uma personalização indevida da figura papal, justamente aquela contra a qual Francisco gastou algumas das suas palavras mais fortes. Esse é o fruto de uma história que inicia com aquele “a minha pessoa não conta nada” de João XXIII, assomado na noite do dia 11 de outubro de 1962 à janela do Palácio Apostólico, debaixo a lua e diante da multidão à espera.

Essa mensagem, que depois o Concílio Vaticano II amplamente articulou e determinou, não chega até Messori. Ele não aceita a Igreja articulada, diferenciada, com ministerialidade plural: ele quer um papa forte, mas reduzido a um repetidor do Catecismo – e seria melhor ainda se ele se limitasse a ser um repetidor do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. À Igreja de Messori, serve não um papa verdadeiro, mas apenas um compêndio de papa, um papa assustado, nostálgico, esquivo, talvez com muita sabedoria, mas absolutamente sem profecia (continua).

O original italiano foi publicado no blog come se non, de Andrea Grillo, em 03/01/2015: Messori, Boff e papa Francesco: chi attacca e chi difende 

Um trecho:

(…) Vorrei brevemente esaminare gli argomenti che egli utilizza, e vorrei farlo sine ira ac studio, controllando per quanto posso la forma del ragionamento e le implicazioni che esso sottende.

Si comincia, dunque, nella forma di una confessione: papa Francesco appare, agli occhi di Messori, “imprevedibile” e “fonte di turbamento”. Ma tale appare solo nella misura in cui Messori, con uno sforzo non esagerato, cerca di immedesimarsi nel “cattolico medio”, che si identificherebbe in colui che tradizionalmente è stato “esortato a limitarsi a seguire il Papa”.

Già su questo piano appare troppo fragile l’argomento retorico utilizzato da Messori: egli costruisce un modello di cattolico sulla base di una lettura sostanzialmente ottocentesca, apologetica e “papalina” della identità, alla quale vorrebbe costringere niente meno che la identità papale. Se uno è papa, secondo Messori, deve anzitutto obbedire non alla Parola di Dio, ma alla tradizione umana ottocentesca di interpretazione del primato petrino, quella alla quale si è legato definitivamente il vescovo Lefebvre, con le conseguenze che conosciamo.

VI è, qui, un capovolgimento fragoroso delle priorità: l’ordine sociale cattolico diventa il criterio di interpretazione non solo del Papa, ma della Chiesa e della stessa Parola di Dio.

Da questo primo grave errore argomentativo, Messori desume, inevitabilmente, una serie di contraddizioni tra “diversi Papi”, enumerando le svariate prese di parola che papa Francesco ci ha ormai abituato a considerare con vivo interesse: omelie, esortazioni, rimproveri, telefonate, battute, considerazioni sapienziali, decisioni amministrative, slanci profetici, meditazioni pastorali…

E Messori, in modo apparentemente ingenuo, si chiede: “quale, tra queste diverse forme di esercizio del Papato, dobbiamo seguire?”. Anche qui il difetto di ragionamento è piuttosto evidente e altamente preoccupante. Siccome Messori è vittima di una lettura apologetica e “politica” del papato, non riesce a distinguere i diversi livelli di autorevolezza e di autorità delle espressioni papali. Il che riguarda, evidentemente, non solo Francesco, ma “ogni” Papa.

L’imbarazzo di Messori deriva, evidentemente, da una personalizzazione indebita della figura papale, proprio quella contro cui Francesco ha speso alcune delle sue parole più forti. Questo è il frutto di una storia che inizia con quel “la mia persona conta niente” di Giovanni XXIII, affacciato la sera del 11 ottobre del 1962, dalla finestra del Palazzo Apostolico, sotto la luna e davanti alla folla in attesa.

Questo messaggio, che poi il Concilio Vaticano II ha largamente articolato e determinato, non va giù a Messori. Egli non accetta una Chiesa articolata, differenziata, con ministerialità plurale: vuole un Papa forte, ma ridotto a ripetitore del Catechismo, e meglio ancora sarebbe se si limitasse a ripetere il Compendio del CCC. Alla Chiesa di Messori serve non un papa vero, ma solo un compendio di papa, un papa spaventato, nostalgico, schivo, forse con molta sapienza, ma assolutamente senza profezia…

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