As religiões dos brasileiros, segundo a IHU On-Line

A grande transformação do campo religioso brasileiro

O Censo 2010, recentemente publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE desenha os contornos que apontam para a grande transformação do campo religioso brasileiro. O mapa religioso que emerge desta publicação é o tema do n. 400 da revista IHU On-Line, publicada em 27.08.2012. Contribuem para o debate Faustino Teixeira, Pierre Sanchis, José Rogério Lopes, Leonildo Silveira Campos, Monica Grin, Michel Gherman, José Reginaldo Prandi, Frank Usarski, Bernardo Lewgoy, Renata Menezes e Cecilia Loreto Mariz.

Mais interpretações sobre as religiões dos brasileiros

Os dados do Censo 2010 sobre o perfil religioso dos brasileiros, divulgados no dia 29 de junho pelo IBGE, continuam produzindo múltiplas interpretações.

Em Bênçãos traduzidas em consumo, reproduzido em Notícias: IHU de 23/07/2012, temos algumas interpretações de professores da USP, como José Reginaldo Prandi, João Baptista Borges Pereira e Lísias Nogueira Negrão.

 

Professores da USP comentam dados divulgados em junho pelo IBGE, que confirmam a queda do número de católicos e o crescimento dos evangélicos no Brasil.

A reportagem é de Sylvia Miguel e publicada pelo Jornal da Usp, 18-07-2012.

Nenhuma religião é estática. Ao passo que o catolicismo das Comunidades Eclesiais de Base se preocupava com questões sociais como direitos humanos e direito do trabalho, a Renovação Carismática foca o indivíduo e questões de foro íntimo, como liberdade sexual e direitos reprodutivos. Baseado na premissa de que as religiões se transformam de acordo com as demandas sociais em curso, não se pode pensar que a mudança do perfil religioso que se espera ocorrer no Brasil nas próximas décadas de fato resultará na extinção de algumas manifestações populares, tais como Carnaval, bumba-meu-boi, festas juninas e tantas outras que integram o calendário nacional há séculos.

As análises dos dados do Censo 2010 sobre religião, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 29 de junho, mostram que o novo perfil religioso que se delineia revela uma infidelidade religiosa maior do que a fidelidade religiosa, reflexo da busca por realização pessoal.

“As religiões mudam na mesma proporção das transformações sociais. Uma coisa é se tornar evangélico. Outra coisa é sabermos que tipo de evangelismo teremos nos próximos 20 anos. Todas as religiões mudam com o passar do tempo. Não dá para saber se as religiões predominantes no futuro irão ou não incorporar a cultura atual”, diz o professor José Reginaldo Prandi, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Prandi usa uma mudança recente significativa na igreja Episcopal norte-americana como exemplar dessa premissa. “Nos Estados Unidos, a igreja Episcopal, uma das mais tradicionais e representativas daquele país, há pouco anunciou que oficializará casamentos homossexuais”, compara.

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, o número de católicos caiu 12,2%, para 64,6%, entre 2000 e 2010. No mesmo período, a população evangélica cresceu 44,1%, totalizando 22,2%. A diminuição de católicos ocorreu inclusive em números absolutos, mesmo com o aumento da população. Em 2010, o total era de 123,4 milhões, ante os 125 milhões de 2000.

O crescimento dos evangélicos foi impulsionado pelas igrejas de origem pentecostal, como Assembleia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Nova Vida e outras. Nessa categoria, a Assembleia de Deus foi a que mais cresceu na década, passando de 8,4 milhões para 12,3 milhões de adeptos. A igreja fundada pelo bispo Edir Macedo, a Iurd, perdeu 229 mil fiéis, passando de 2,1 milhões para 1,8 milhão, segundo o Censo.

Os evangélicos pentecostais representam 13,3% do total de evangélicos no País, enquanto 4,8% são de evangélicos não determinados, ou seja, aqueles que não especificaram uma igreja na hora de responder ao Censo.

Os outros 4% são os evangélicos de missão ou protestantes históricos, como luteranos, presbiterianos e batistas. Essa categoria também perdeu adeptos, num movimento semelhante ao ocorrido entre católicos.

“As religiões mais tradicionais estão perdendo fiéis. Em algumas, como na Congregação Cristã do Brasil e também na luterana, isso se explica pela origem etnicizada. A primeira foi fundada por italianos. A luterana foi trazida por alemães. A mistura étnica acabou refletindo na perda de interesse pela igreja”, diz o professor João Baptista Borges Pereira, Professor Emérito do Departamento de Antropologia da FFLCH.

Cultura e lingeries

Na opinião do professor Borges Pereira, alguns aspectos da cultura popular brasileira poderão se modificar caso continue no mesmo ritmo o aumento do número de adeptos das religiões evangélicas pentecostais. Por outro lado, o professor não acredita no desaparecimento completo dessas manifestações culturais.

“O aspecto cultural e lúdico no Brasil nasceu dentro de um contexto de catolicismo popular e, portanto, havia uma perfeita harmonia entre o catolicismo e as manifestações culturais. Quanto disso irá se modificar não sabemos, porque há elementos não lineares que permitem diferentes leituras”, diz Borges Pereira.

Os elementos não lineares citados pelo antropólogo estão ligados à questão do puritanismo das religiões protestantes. “A proposta do puritanismo distingue dois elementos fundamentais, que são ‘o mundo’ e ‘nós, os eleitos e purificados’. Por esse aspecto, o crente tenderá a deixar de lado o que ele considera ser mundano, como carnaval e outros atos que destoem da sua crença”, diz.

Por outro lado, de alguma forma os pentecostais aderem a coisas do mundo, escamoteando o comportamento puritano, diz Borges Pereira. “Eles são sem ser. Por exemplo, há estudos sobre a mulher evangélica de fora para dentro, ou seja, comparando a dicotomia entre a sobriedade de seu corte de cabelo e vestuário e suas roupas íntimas. Embora seus trajes sejam sóbrios, usam lingeries escandalosas como um tipo de compensação”, compara o professor.

A não linearidade também vale para a análise feita pelo professor Lísias Nogueira Negrão, também da FFLCH. “A tendência do protestantismo mais tradicional e também dos pentecostais mais tradicionais é se afastar dessas festas. Por outro lado, os neopentecostais teriam uma tendência maior à abertura, no sentido de não rejeição. Ou seja, tenderiam a abarcar essas festas de forma a sacralizar o profano. Fazem o “carnaval de Cristo” e outros atos, até como tentativa evidente de catequizar”, afirma Negrão.

Segundo o professor Negrão, há correntes de pensamento que teorizam que alguns aspectos positivos da mudança de perfil religioso do Brasil poderá ser a melhoria na relação familiar e de gênero, já que o homem protestante é tido como mais preocupado com o atendimento familiar e tende a respeitar mais as suas esposas, afirma o sociólogo.

Há autores que vislumbram um retrocesso em questões de sexualidade, diz Negrão. “Tendo em vista a maior participação política desses grupos e inclusive com o aumento da bancada protestante na Câmara, poderia haver um retrocesso na vida sexual da sociedade em função da alta preocupação desses grupos, contrários à liberdade dos costumes. Os neopentecostais podem ser mais tolerantes quanto à questão da moral sexual, mas não formam a maioria”, afirma.

Ética do consumo

“A sociedade está enriquecendo e isso traz aspirações de consumo. As camadas que antes estavam fora do consumo agora têm condições de aumentar sua fruição de bens materiais e culturais e isso é inerente à mecânica da sociedade e do próprio capitalismo. O governo estimula o consumo, o capitalismo estimula o consumo. O consumo é a característica de uma sociedade que criou a possibilidade do surgimento de uma religião adequada à sociedade do consumo. É o que Max Weber chama de afinidade eletiva”, diz o professor Negrão, sobre a nova ética predominante entre os evangélicos pentecostais.

Segundo o professor Borges Pereira, entre os protestantes existe a valorização do trabalho, mas não no sentido weberiano. Os protestantes e sua conduta de valorização do trabalho, que permitiu o desenvolvimento do capitalismo, foi objeto da reflexão de Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo, um dos estudos fundadores da moderna sociologia.

O que os atuais protestantes valorizam, segundo Borges Pereira, é “o trabalho como meio de acumulação de prestígio, através do consumo”. Para ele, o atual protestante busca “bênçãos”, o que na opinião desses religiosos pode se dar através de objetos tão cobiçados. Sendo assim, o trabalho ganha um sentido diferente, afirma.

Negrão lembra que a ética do protestante histórico buscava uma rotinização do comportamento, tendo como consequência o enriquecimento. “O objetivo era buscar a santificação da vida. Para os protestantes atuais, em que predomina a chamada teologia da prosperidade, a igreja se torna um instrumento mágico de consecução de bens e fins materiais. Novamente, há vertentes distintas. Uma é a puritana, em que o progresso material é consequência da rotinização da vida. A outra é uma tendência mágica de instrumentalização religiosa para conseguir bens materiais”, afirma o sociólogo.

Ascensão social

Para o professor Borges Pereira, “não é possível explicar o crescimento do protestantismo no Brasil sem que isso seja associado a uma ascensão da classe E. Foi nessa faixa que ocorreu o maior aumento das vertentes pentecostais”, afirma.

O mesmo movimento social explicaria a queda expressiva dos adeptos das religiões afros, diz Borges Pereira. “O número de adeptos do candomblé e outras seitas afros caiu verticalmente. Esse fenômeno pode estar relacionado à ascensão da classe E, preocupada em escapar de estereótipos de que só pobre frequenta seitas afros. As igrejas evangélicas, então, lhes ofereceria a possibilidade de subir de classe”, analisa.

O uso da mídia entre as religiões é um fenômeno que insere a religião no contexto de mercadoria, ou seja, a religião e a fé tornaram-se parte da sociedade de consumo, diz Borges Pereira. “O indivíduo vive de símbolos e não só de essência e a religião seria então um simbolismo expressivo de classe. Sendo assim, as pessoas mudam comportamento como mudam vestuário.”

O que ainda precisa ser mais bem estudado, segundo o antropólogo, é a dinâmica refletida nos números do IBGE. “Atualmente, a infidelidade religiosa é maior que a fidelidade religiosa. É grande o número dos que se declaram sem religião. Por outro lado, já é considerada normal a movimentação dos pentecostais entre as igrejas dessa linha. Isso reflete uma dinâmica de busca pessoal que ainda precisa ser mais bem estudada”, afirma.

“Não é coincidência o fato de o maior número de adeptos do pentecostalismo estar entre as classes mais pobres e menos escolarizadas. O evangélico aprendeu que ele também tem direito de consumir e, nesse sentido, seu comportamento está mais parecido com o brasileiro comum. É uma ética que há 20 anos não se via nessa religião”, finaliza Prandi.

As armadilhas da teologia da prosperidade

Bispo pentecostal sugere “desintoxicação” em igrejas históricas

“Desligue-se da televisão evangélica” é a admoestação do bispo Walter McAlister, da Igreja Cristã Nova Vida, de linha pentecostal, sugerindo que fiéis façam uma “desintoxicação” dos hábitos neopentecostais frequentando templos de igrejas históricas.

Ele propõe que para a desintoxicação o crente busque uma igreja tradicional, como batistas, presbiterianos, metodistas e congregacionais, que são, na sua grande maioria, mais dedicados ao estudo das Escrituras.

“Ache uma”, recomenda em seu site. “Digo isso não porque seja necessariamente a igreja que você vai frequentar pelo resto da vida. Mas encare isso como parte de sua ‘desintoxicação'”.

Um dos pecados de igrejas neopentecostais é “o abuso ou o abandono das Sagradas Letras”, aponta o bispo. “Usam frases feitas, adesivos, chavões e uma cultura interna massacrante de autoajuda e pensamento positivo”, assinala.

Ou seja, não fazem teologia. O argumento de que não precisam de teologia, só de Jesus, “é um apelo à ignorância e não acrescenta nada à nossa vida espiritual”. Teologia, define McAlister, é a linguagem da Igreja, é a formação de conceitos corretos e bíblicos. “É a maneira pela qual os pensadores organizaram o conhecimento bíblico e o traduziram à prática e ao culto cristão”.

O bispo explica, no site, porque não indica a sua própria igreja para a “desintoxicação”: quando nesse processo, é preciso “se afastar de tudo o que pode te levar de volta ao vício. Toda e qualquer igreja pentecostal, inclusive a nossa, usa termos, jargões e conceitos que trazem ligeira semelhança com os do neopentecostalismo, mesmo que não sejamos neopentecostais”.

Na França, o Conselho Nacional dos Evangélicos (CNEF) publicou documento em que classifica a teologia da prosperidade, proclamada por igrejas neopentecostais, como uma distorção da mensagem cristã, informa o jornal “La Croix”.

A teologia da prosperidade, diz o documento, “instrumentaliza” Deus, colocando-o a serviço da prosperidade do fiel”. Entrevistado pelo jornal, o pastor batista Thierry Huser frisou que essa teologia ignora “toda a pedagogia de Deus na nossa vida, que às vezes quer nos dar ensinamentos a partir de situações difíceis”.

Fonte: IHU On-Line: 13 Julho 2012.

 

Les évangéliques se démarquent de la théologie de la prospérité

Dans un document officiel, conçu comme un outil destiné aux Églises évangéliques et adopté fin mai, le Conseil national des évangéliques de France a pris ses distances avec cette théologie issue des courants pentecôtistes américains, qui met sur le même plan salut chrétien et richesse matérielle.

Pour la télévangéliste américaine Gloria Copeland, l’équation évangélique est sans équivoque : « Donnez 10 dollars et vous en recevrez 1 000. Donnez 1 000 dollars et vous en recevrez 100 000… En résumé, affirme-t-elle dans God’s Will is Prosperity (« Dieu veut la prospérité »), Marc 10,30 (NDLR : où le Christ affirme que celui qui donne recevra au centuple) est une très bonne affaire. » Tout aussi péremptoire dans God’s Laws of Success (« Les Lois divines du succès »), un autre télévangéliste américain, Robert Tilton, assure que « le succès est disponible ici et maintenant… Il dépend de vous de le recevoir. Si vous ne réussissez pas, c’est votre faute et non celle de Dieu. »

Ces deux prédications sont emblématiques de la « théologie de la prospérité » qui fait florès depuis cinquante ans dans les milieux pentecôtistes aux États-Unis. En France aussi, elle séduit non seulement certaines Églises issues de l’immigration, mais on en trouve des accents distillés ici ou là dans les sermons.

Le Conseil national des évangéliques de France, qui se veut une instance de régulation doctrinale au sein du monde évangélique français, a estimé nécessaire de s’en démarquer officiellement et de donner des repères à ses membres. Le 22 mai, une étude de 30 pages, élaborée par un comité de théologiens, a été adoptée à l’unanimité par l’ensemble des courants qu’il représente : piétistes orthodoxes, baptistes, mais aussi pentecôtistes et charismatiques pentecôtistes. Tous s’accordent pour dire que la théologie de la prospérité présente une conception « erronée » de la foi, qui « détourne » le message évangélique en absolutisant certaines promesses de bénédictions de la Bible et présente, dès lors, de réels dangers.

« On ne laisse pas à Dieu la liberté de nous répondre autrement »

Première erreur : la théologie de la prospérité met sur le même plan le salut, la prospérité physique (santé) et matérielle (richesse), alors que le salut chrétien, qui fait le cœur de l’Évangile, « concerne avant tout la relation à Dieu et la réconciliation avec lui par le Christ », analyse Thierry Huser, pasteur de l’Église baptiste, l’une des chevilles ouvrières du texte.

Bien plus, elle « instrumentalise » Dieu, en le mettant au service de la prospérité du croyant : en effet, selon ses partisans, le fidèle doit croire que tout, y compris la richesse, lui a été déjà acquis par le Christ. Il lui suffit donc de manifester sa foi dans la promesse de l’Évangile en donnant de l’argent pour qu’il en obtienne la récompense… Mais, dans une telle logique, « l’accent unilatéral sur la parole de foi, dont l’efficacité réside en sa propre force d’affirmation, peut conduire à avoir “foi en la foi” plutôt que d’avoir “foi en Dieu” », estime le document qui dénonce une vision du monde « proche de la pensée magique ».

« On ne laisse pas à Dieu la liberté de nous répondre autrement, complète Thierry Huser. On laisse de côté toute la pédagogie de Dieu dans notre vie, qui parfois veut nous enseigner à partir de situations difficiles. »

Ce « système à sens unique » met en avant « de fausses promesses »

En ce sens, si les théologiens de la prospérité rejoignent « des aspirations profondes » de « populations dont la réalité quotidienne est la souffrance et la misère », ils sont en revanche « marqués par l’hédonisme de notre société, qui refuse les limites et la souffrance, ajoute Thierry Huser. Dans nos Églises, nous croyons en un Dieu qui intervient dans notre vie et peut donner des signes miraculeux de son action, mais il ne faut pas les systématiser. »

Particulièrement dangereux, ce « système à sens unique » est ainsi « source de profonde désillusion », parce qu’il met en avant « de fausses promesses ». Pire, il est très culpabilisant pour le chrétien : s’il n’est pas exaucé, on lui rétorque que c’est parce que sa foi n’était pas assez forte… « Les prophètes de la prospérité se mettent ainsi à l’abri de toute remise en cause de leurs promesses. Par contre, tout le poids de l’échec éventuel de ces promesses repose sur le croyant qui a espéré, prié, donné », déplore le texte du Cnef.

Enfin, dernière erreur et non des moindres, les avocats de la prospérité occultent les mises en garde récurrentes, dans la bouche de Jésus, « contre l’amour de l’argent et contre l’idolâtrie de la réussite matérielle ».

« La théologie de la prospérité rejoint des aspirations profondes »

Ce document n’est pas le premier du genre : il intervient après la déclaration de Lausanne III adoptée en 2010 par 4 200 responsables évangéliques du monde entier, dont un paragraphe épinglait déjà la théologie de la prospérité. L’engagement de Lausanne avait été lui-même préparé par un texte du groupe de travail théologique de Lausanne de 2008-2009.

Ce texte, encore plus ferme et plus clair, déplorait que l’Évangile de la prospérité, « en amplifiant les diverses causes spirituelles et démoniaques de la pauvreté », passe quasiment sous silence ses causes économiques et sociales. Ce que ne fait pas le document des évangéliques français, qui reste « sur le même registre individuel et personnel » que les théologiens de la prospérité : « Cette étude du Cnef est très importante, car la théologie de la prospérité rejoint des aspirations profondes, relève le P. Michel Mallèvre, directeur du centre œcuménique Istina, mais en contrepoint, elle ne propose pas de réponse sociale, n’invite pas à combattre la pauvreté, au nom même de l’avancée du Royaume de Dieu. »

Une telle invitation aurait été d’autant plus légitime, à ses yeux, que depuis plusieurs années les évangéliques se sont lancés, avec le Défi Michée, dans une campagne internationale de lutte contre la pauvreté.

Fonte:La Croix – 29/06/2012

Muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre

Ainda sobre o perfil religioso dos brasileiros divulgado pelo Censo 2010, o sociólogo da religião Pedro Ribeiro de Oliveira, entrevistado pela  IHU On-Line, faz algumas considerações interessantes.

Confira a entrevista:  A desafeição religiosa de jovens e adolescentes, publicada pela IHU On-Line hoje, 5 de julho de 2012.

Diferente do título dado pela IHU On-Line, eu gostaria de chamar a atenção para outro aspecto da entrevista, daí o título que escolhi Muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre, uma forte característica do catolicismo popular brasileiro. Nasci e cresci em região de fazendas médias e pequenas em Minas Gerais, longe da cidade, e sei bem o que é isso.

Três trechos da entrevista exemplificam o que quero dizer:

:: IHU On-Line – Os dados do censo 2010, divulgados pelo IBGE, demonstram um progressivo declínio do catolicismo no país. Como o senhor interpreta esses dados? O que isso significa?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Esses dados não estão exatamente relacionados ao proselitismo evangélico, mas sim a uma crise das religiões tradicionais. Ainda não fiz um estudo minucioso dos dados do censo, porém pude perceber que as igrejas tradicionais – católica, luterana, presbiteriana e mesmo a metodista – perderam membros em termos absolutos e não acompanharam o crescimento da população. Uma igreja que me surpreendeu nesse sentido foi a Congregação Cristã do Brasil, que era muito sólida e tinha membros praticantes. Há aí um dado no censo que obriga certa atenção, porque várias igrejas perderam membros, inclusive a Universal do Reino de Deus.

Precisamos ter presente o dado de que a perda de membros atinge várias denominações religiosas. Claro que o proselitismo tem sua importância nesse processo, mas isso ocorre principalmente por causa da insatisfação do fiel com os serviços oferecidos pela sua igreja (…)

:: IHU On-Line – Qual o significado de o Brasil ainda ser um país majoritariamente católico, considerando que existem os praticantes e os não praticantes?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Muitos só consideram católicos aqueles que vão à missa e comungam. Entretanto, a tradição católica brasileira nunca foi de seguir tradicionalmente o catolicismo romano. O catolicismo popular tradicional mostra muita reza e pouca missa, muito santo e pouco padre. Essa frase é perfeita. Quer dizer, a tradição católica sempre teve muita devoção aos santos; era uma religião familiar. Praticava-se o catolicismo em casa, com a família, geralmente a materna, e de vez em quando se frequentava a igreja para receber os sacramentos. Quer dizer, trata-se de um católico não praticante do sacramento, mas um católico praticante da devoção aos santos. Um velho teólogo que já morreu dizia: “O padre fala da ignorância religiosa do povo, e o povo também acha que o padre é ignorante na religião, porque não sabe fazer a devoção aos santos”.

Então, o catolicismo tem essa propriedade, é uma religião que comporta muita gente, e diferentes formas de ser católico, inclusive aquela dos não praticantes (…)

:: IHU On-Line – Que desafios os dados do censo apresentam para a Igreja Católica brasileira?

Pedro Ribeiro de Oliveira – Diante dos dados do censo, fiquei muito curioso, e entrei no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, e vi lá uma matéria dizendo que a Igreja está viva. Isso é muito interessante. A matéria informava que aumentou o número de paróquias e o número de padres. Isso é igreja viva? A paróquia é uma instituição medieval que na Idade Média era muito boa, e também foi boa para o mundo rural. Se tivesse aumentado o número de comunidades de padres, aí tudo bem, porque teria aumentado o número de padres presente ao lado do povo. Achar que aumentar o número de paróquias é aumentar a presença da igreja no mundo é um equívoco, no meu entender, de todo tamanho. E o segundo é dizer que a igreja está viva porque aumentou o número de padres. A igreja está mais clerical, porque aumentou o número de padres, mas o número de padres não representa a vitalidade para a igreja. A vitalidade da igreja sempre foi a atividade dos leigos.

Tenho impressão de que a reação oficial da Igreja Católica, pelo menos nas matérias que pude ver, é um grande equívoco em termos sociológicos, ou seja, é ainda pensar em um modelo de igreja do Concílio de Trento. A força da Igreja, de qualquer igreja, está no que os protestantes chamam de congregar, ou seja, juntar pessoas que possam participar e sentir-se igreja. Creio que a experiência mais bem sucedida na Igreja Católica foram as Comunidades Eclesiais de Base, seguida dos grupos de oração, grupos de pastorais, que hoje chamam de novas comunidades. Esses programas buscam juntar pessoas leigas que se reúnem, celebram, leem a Bíblia para, a partir disso, influenciar no mundo. Aí está a força de uma igreja, a força pentecostal. A força pentecostal das igrejas evangélicas não é o número de pastores, mas o número de obreiros, que são pessoas leigas, que têm um entusiasmo pela religião.

Trata-se da força de expandir da igreja para o mundo. Isso quer dizer: uma igreja é forte quando tem grupos de leigos que se reúnem para atuar no mundo. Hoje o que vemos é a força de atrair para dentro, ou seja, o bom católico é aquele que está na igreja. Isso aí é o definhamento da instituição. Na hora que os responsáveis pela igreja no Brasil levarem a sério esses dados geracionais, ou seja, a desafeição religiosa de jovens e adolescentes, espero que deem um recado a essa pastoral maluca que eles têm, que gasta todos os recursos para construir seminário e formar mais padres.

Leia a entrevista.

CEBs: esta é a opção para a Igreja Católica no Brasil

É a proposta de Sérgio Ricardo Coutinho, Professor do Curso de Pós-Graduação em História do Cristianismo Antigo na UnB e de História da Igreja no Instituto São Boaventura, de Brasília, e Presidente do Centro de Estudos em História da Igreja na América Latina (Cehila-Brasil), ao analisar o declínio do catolicismo no Brasil, divulgado pelo Censo 2010.

Censo 2010 é uma boa oportunidade para a Igreja Católica

Os dados confirmam o que sociólogos, teólogos e cientistas da religião já suspeitavam: a continuidade do processo de declínio católico e do crescimento evangélico. Parece-nos ser momento oportuno para uma breve reflexão sobre as opções adotadas pela Igreja nestes anos em vista de estancar a sangria, como também momento oportuno para rever opções em vista daquilo que o Documento de Aparecida chamou da necessária “conversão pastoral”.

Conforme analistas, as regiões onde o Catolicismo mais decresceu foram naquelas de “recepção de migrantes”, seja nas fronteiras agro-minerais do Norte e do Centro-oeste, seja nas periferias dos grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro. Segundo eles, nestas regiões, formaram-se grandes “bolsões de pessoas socialmente deslocadas” e carentes de um senso de comunidade e foi justamente junto destes que os evangélicos pentecostais atuaram com vigor. Enquanto isso, as regiões Nordeste e Sul, doadoras de migrantes para aquelas regiões, sofreram perdas bem menores nos números de católicos. Como a Igreja Católica atuou para acompanhar tanto a mobilidade territorial e, principalmente, a mobilidade religiosa?

O sociólogo da religião, Ricardo Mariano, é categórico ao afirmar que a estratégia adotada pela Igreja nestes últimos anos visando deter o avanço evangélico falhou: “Liderada pela Renovação Carismática e apoiada na criação de redes de TV e no evangelismo midiático, a reação católica à expansão pentecostal fracassou”. Mas, além de investir nesta estratégia, a Igreja continuou com outra prática ainda de épocas de Cristandade: a centralidade das estruturas jurídico-canônicas.

Segundo dados do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), organismo ligado à CNBB, em 20 anos (1990-2010) a Igreja investiu fortemente na criação de novas paróquias e registrando um crescimento na ordem de 43%; concomitantemente, investiu muito na criação de novos ministros ordenados (presbíteros e diáconos). O número de padres teve um crescimento de 55% no período, enquanto que os diáconos tiveram um verdadeiro boom neste mesmo período chegando ao percentual de 329% (!).

Além destes números, não podemos esquecer que o episcopado brasileiro tornou-se o maior numericamente em toda a Igreja Católica nos últimos anos e, em função disto, também investiu na criação de novas dioceses, saltando de 255 em 1990 para 276 em 2010 (crescimento de 8%).

Segundo ainda os dados do CERIS, podemos prestar a atenção na localização destes “investimentos” e suas incongruências. Nas Regiões Norte e Centro-oeste, onde o evangelismo pentecostal cresceu muito entre os migrantes, a proporção de aumento de padres foi de 3% e 9%, respectivamente. Já a região Sudeste, por outro lado, teve um crescimento de 45% (!) no número de presbíteros. Este número é acompanhado pelo aumento de paróquias. Nos regionais Leste 2 (Minas Gerais) e Sul 1 (São Paulo) da CNBB, regionais de maior número de dioceses no Brasil, o crescimento de paróquias, entre 1994 e 2010, chegou a quase 36% e 47%, respectivamente.

O que se pode inferir destes dados é que as opções pastorais da Igreja Católica não criaram o “senso de comunidade” entre as “pessoas socialmente deslocadas”. Percebe-se este mesmo fenômeno em relação à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que experimentou um decréscimo no número de seus adeptos em 10%. A explicação dada pelos analistas é que seus mega-templos e redes de TV desfavorecem uma sociabilidade fraterna e comunitária, daí o crescimento de “pequenas igrejas” formadas por até 30 pessoas.

O Censo 2010 é mais um sinal que confirma a convocação feita pelos bispos latino-americanos em 2007, na Conferência de Aparecida, para a necessária “conversão pastoral” em vista de uma Igreja verdadeiramente missionária. Como também vai de encontro à uma das “urgências” da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: por uma “Igreja: comunidade de comunidades”. De fato, o CERIS não tem nenhum levantamento para a quantificação da criação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mas fica evidente a falta de vontade política do episcopado brasileiro e a demora em sua “conversão pastoral” para sair da pastoral de mera conservação, que definitivamente não atende mais a realidade atual, para uma verdadeira pastoral missionária.

O que os dados indicam é que existe sim uma saída, e a Igreja Católica no Brasil já a tinha experimentado com um investimento forte no passado, e que nos parece ser de muita atualidade: a criação de mais e mais comunidades eclesiais de base (CEBs) coordenadas por leigos e leigas.

Fonte: Notícias IHU: 03/07/2012

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As religiões dos brasileiros: Censo 2010

Foram divulgados no dia 29 de junho, pelo IBGE, os dados do Censo Demográfico de 2010 sobre o perfil religioso no Brasil. A imprensa deu razoável cobertura ao tema.

Embora eu ache que, do ponto de vista cristão, deveríamos estar muito mais preocupados com o Evangelho do que com as práticas religiosas e a pertença a este ou aquele agrupamento religioso, aí vão alguns links para leitura:

:: Catolicismo no Brasil em Declínio: os dados do Censo de 2010 – Faustino Teixeira: Notícias: IHU 30/06/2012
Os dados que acabam de ser apresentados pelo IBGE com respeito às religiões brasileiras no Censo Demográfico de 2010 confirmam a situação de progressivo declínio na declaração de crença católica. Os dados apresentados indicam que a proporção de católicos caiu de 73,8% registrados no censo de 2000 para 64,6% nesse último Censo, ou seja, uma queda considerável. Trata-se de uma queda que vem ocorrendo de forma mais impressionante desde o censo de 1980, quando então a declaração de crença católica registrava o índice de 89,2%. Daí em diante, a sangria só aumentou: 83,3% em 1991, 73,8 % em 2000 e 64,6% em 2010. O catolicismo continua sendo um “doador universal” de fiéis, ou seja, “o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos”, para utilizar a expressão dos antropólogos Paula Montero e Ronaldo de Almeida. A redução católica ocorreu em todas as regiões do país, sendo a queda mais expressiva registrada no Norte, de 71,3% para 60,6%. O estado que apresenta o menor percentual de católicos continua sendo o do Rio de Janeiro, com 45,8% (uma diminuição com respeito ao censo anterior que apontava 57,2%). O estado brasileiro com maior percentual de católicos continua sendo o Piauí, com 85,1% de declarantes (no censo anterior o registro era de 91,4%). Os dados indicam que o Brasil continua tendo uma maioria católica, mas se a tendência apontada nesse último censo continuar a ocorrer teremos em breve uma significativa alteração no campo religioso brasileiro, com impactos importantes em vários campos. O novo censo aponta um dado que já era previsível, a continuidade do crescimento evangélico no Brasil…

:: Igreja Católica tem queda recorde e perde 465 fiéis por dia em uma década – Luciana Nunes Leal e Clarissa Thomé: O Estado de S. Paulo, em Notícias: IHU 30/06/2012
Dados do Censo indicam que o total de católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010, havia 123,2 milhões de católicos no País; em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos, a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba. Em 2010, 64,6% da população brasileira era católica. Houve uma queda de 12,2% em relação aos 73,6% de 2000, a maior perda proporcional desde o início da contagem da população, em 1872. Há 50 anos, a religião católica tinha predomínio absoluto, com 93% da população. Se for mantido o ritmo da última década, em 20 anos os católicos serão menos da metade da população. O crescimento dos evangélicos é a maior causa da queda dos católicos, embora também tenham crescido os brasileiros que se declaram sem religião e os de religiões minoritárias, como o espiritismo. Divididos em três grandes categorias, os evangélicos seguem crescendo, mas em ritmo bem menor que na década anterior e chegaram a mais de um quinto da população brasileira, com 22,2%, ou 42,2 milhões de fieis. Houve um aumento em números absolutos de 16 milhões de evangélicos entre 2000 e 2010 – ou 4.383 novos fiéis por dia. O aumento dos evangélicos é puxado pelos pentecostais, principalmente os da Assembleia de Deus, e por um novo fenômeno do mundo evangélico, o fiel “independente”, que segue a religião, mas não se vincula a nenhuma igreja específica. A pulverização dos evangélicos acompanha o surgimento de novas igrejas a cada dia…

:: Em marcha, a transformação da demografia religiosa do país – Ricardo Mariano: Folha de S. Paulo 30/06/2012
O Censo confirma as tendências de mudança radical da demografia religiosa nas últimas décadas: queda da hegemonia católica, avanço vertiginoso dos evangélicos e diversificação religiosa. Liderada pela Renovação Carismática e apoiada na criação de redes de TV e no evangelismo midiático, a reação católica à expansão pentecostal fracassou. O inchaço da categoria “evangélica não determinada” reduziu artificialmente o crescimento pentecostal. Mostra limitações do Censo, mas também pode estar sinalizando a expansão da privatização religiosa nesse grupo, situação em que o crente mantém a identidade religiosa e a crença, mas opta por fazê-lo fora de instituições. Tal privatização resultaria da massiva difusão do individualismo, da crescente busca de autonomia em relação aos poderes eclesiásticos, à imposição de moralidades tradicionalistas, aos elevados custos do compromisso religioso. Ela pode ter ocorrido, em especial, entre indivíduos dos grupos mais beneficiados pelo crescimento da renda e das oportunidades no mercado de trabalho e no ensino superior… (este texto pode ser lido também aqui).

:: Embora maioria da população seja cristã, país tem pluralidade religiosa formada por grupos minoritários – Thais Leitão: Agência Brasil 29/06/2012
Embora os católicos continuem sendo maioria no país, somando mais de 123 milhões de brasileiros, os dados do Censo Demográfico 2010 – Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência, divulgado hoje (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam uma grande diversidade religiosa entre a população brasileira. Na última década, além dos evangélicos, grupo que mais cresceu no período, passando de 15,4% para 22,2% e totalizando 42,3 milhões de pessoas no país, também tiveram expansão os espíritas, que passaram de 1,3% para 2% e somaram 3,8 milhões em 2010; os que se declararam sem religião, que subiram de 7,4% para 8%, ultrapassando os 15 milhões; e o conjunto pertencente a outras religiosidades, que cresceu de 1,8% para 2,7%, totalizando pouco mais de 5 milhões de brasileiros. Os adeptos da umbanda e do candomblé mantiveram-se em 0,3% ao longo da década, representando quase 590 mil pessoas. De acordo com o pesquisador da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, Cláudio Crespo, os números apontam que, embora a tradição cristã seja forte no país, há um convívio com grupos minoritários… (este texto pode ser lido também aqui).

:: Urbanização e intransigência são causas apontadas – José Maria Mayrink: O Estado de S. Paulo, em Notícias: IHU 30/06/2012
Os dados do Censo 2010 surpreendem estudiosos do fenômeno religioso e a cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), porque a queda da porcentagem e do número absoluto de católicos foi maior do que se esperava. O que mais assusta é a constatação de que a Igreja Católica perdeu 1,7 milhão de seguidores em dez anos, enquanto os evangélicos continuaram aumentando, embora em ritmo inferior ao da década anterior, de 1990 a 2000. “Se permanecer essa tendência, é possível que daqui a uns 20 anos os católicos não cheguem à metade da população”, admite o padre João Batista Libânio, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Essa redução, diz ele, deve ser analisada no contexto cultural de uma pós-modernidade líquida e fragmentada. “Uma instituição compacta como a Igreja Católica sofre essa fragmentação (perde terreno para outras igrejas), na medida em que não abre mão de seus princípios.” O número de católicos só deixaria de cair se a Igreja tivesse flexibilidade em questões da moral sexual, por exemplo. Como a Igreja não cede em questões relativas a aborto, contracepção, divórcio e segunda união, os descontentes buscam outras religiões. Evangélicos pentecostais crescem, pois oferecem produtos e não uma instituição. Essa realidade não deveria assustar a quem analisa a perda de fiéis nessa perspectiva, diz padre Libânio…

Coalizão Religiões por Direitos e a Rio+20

Rio+20 e as religiões

“Paralelamente à Rio+20, a sociedade civil organizada está se mobilizando para o grande evento chamado Cúpula dos Povos, que reunirá milhares de representantes redes na tentativa de construção de uma voz comum que denuncie os motivos da crise ambiental e humanitária global e ofereça soluções de desenvolvimento para o planeta e as sociedades. Igrejas, organismos e agências confessionais e ecumênicas estão unindo esforços com outros movimentos para promover uma coalizão inter-religiosa inédita chamada ‘Religiões por Direitos’.

Um pouco de história

Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) organizou, em Estocolmo, Suécia, uma conferência para tratar do tema do desenvolvimento humano. Aquele foi o primeiro encontro desse porte a lidar com questões que, atualmente, estão na pauta de todos os debates acerca do futuro do planeta e da humanidade. Estocolmo 1972 é considerada a pedra fundamental de um processo de reflexão e incidência em torno do tema do desenvolvimento sustentável. O evento gerou uma declaração oficial da ONU sobre o assunto e a criação do Programa Ambiental das Nações Unidas (PANU) [ou UNEP, em inglês].

Vinte anos depois, na cidade do Rio de Janeiro, acontecia o segundo evento marcante dessa caminhada, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que também foi chamada de Encontro da Terra e ECO 92. Um dos aspectos mais marcantes do evento foi a inauguração de processos paralelos organizados pela sociedade civil que tinham como objetivo causar impacto e influência nos debates e deliberações dos líderes mundiais envolvidos na conferência oficial. Cerca de 2.400 representantes de ONGs participaram da conferência e o fórum paralelo reuniu mais de 17 mil pessoas diariamente.

Quarenta anos depois de Estocolmo e 20 anos depois do Encontro da Terra, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS) será realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A proposta brasileira para sediar o evento foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU, em 2009, levando em conta o papel estratégico do Brasil na atual conjuntura global e o suposto legado simbólico do evento de 1992. A Rio+20, no entanto, também é Estocolmo+40.

A Rio+20

Em tese, a Rio+20 deveria ajudar a definir a agenda em torno do tema do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas, mas o que se vê, ao longo das semanas que levam às datas do evento são sinais claros de mais uma rodada de negociações com pouquíssimos avanços por parte dos representantes dos governos de países membros da ONU.

A Cúpula dos Povos, por sua vez, cresce em visibilidade e motivação à medida que sua dinâmica se torna conhecida. Ao contrário de eventos similares, como o Fórum Social Mundial, em que seminários, oficinas e painéis aconteciam de forma autônoma, a proposta metodológica da Cúpula dispõe de mecanismos que irão buscar convergências entre temas afins e a construção participativa de uma voz comum que proponha alternativas concretas aos modelos de desenvolvimento. Isso significa que cada organização que trabalha em torno de um tema precisa buscar alianças e trabalhar em parceria com outras esferas que lidam com o mesmo tema. Além disso, as conclusões das atividades irão confluir para as grandes plenárias de convergência da Cúpula dos Povos, que estão divididas em cinco temas:

1.      Direitos por justiça social e ambiental.
2.      Defesa dos bens comuns contra a mercantilização.
3.      Soberania alimentar.
4.      Energia e indústrias extrativas.
5.      Trabalho: por outra economia e novos paradigmas de sociedade.

Religiões por Direitos

Tradicionalmente, o movimento ecumênico sempre esteve envolvido em iniciativas dessa natureza. Seja em nível local ou global, muitas organizações têm em sua agenda de prioridades a participação em espaços de incidência pública como a proposta da Cúpula dos Povos.

Motivadas pela Rio+20 e a Cúpula dos Povos, as organizações do Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), passaram a articular a formação de uma coalizão ecumênica com vistas a uma participação coordenada e coesa na conferência da ONU e na Cúpula dos Povos. A proposta ganhou adesão de mais organizações locais e internacionais durante a realização do Fórum Social Temático, em janeiro deste ano, em Porto Alegre.

A coalizão passava, então, a ser um projeto bilateral entre igrejas e organizações ecumênicas do Brasil e de outras partes do mundo com o objetivo de construir uma voz comum em torno do tema da justiça social e ambiental e contra a mercantilização da natureza e da vida e para o bem de recursos comuns, englobando iniciativas autônomas, facilitando as conexões e comunicação entre as diferentes iniciativas e construção e coordenação de processos de consenso comum.

Coube a Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço, organização membro de ACT Aliança, com sede no Rio de Janeiro, assumir a coordenação prática da participação ecumênica na Cúpula dos Povos. Rapidamente, tornou-se claro que a coalizão poderia (e deveria) ser mais inclusiva, incorporando a herança multilateral da ECO 92 e tornando-se inter-religiosa e em busca de consolidar-se como ponto de referência para todas as expressões religiosas que procuram expressar sua contribuição por um mundo melhor na Rio+20 e na Cúpula dos Povos. Com esta nova envergadura, a coalizão ecumênica passa a chamar-se ‘Religiões por Direitos’, pois o pano de fundo comum entre as expressões e organizações religiosas envolvidas nessa articulação é o esforço para promover os Direitos (humanos, civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais).

‘Religiões por Direitos’, portanto, é fruto de uma articulação em três níveis. O primeiro a articular-se foi o Fórum Ecumênico Brasil (FE ACT Brasil), que é o fórum nacional de ACT Aliança, no qual a membresia não é limitada às organizações filiadas a essa aliança que reúne mais de cem organismos e agências cristãs de ajuda humanitária, apoio a projetos de desenvolvimentos e iniciativas de incidência pública. O FE ACT Brasil inclui diversas expressões do cenário ecumênico no Brasil, como, por exemplo, o PAD (Processo de Articulação e Diálogo entre agências ecumênicas).

O segundo nível dessa grande articulação é a cooperação internacional ecumênica, formada por organizações e igrejas que compõem o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), ACT Aliança, a Aliança Ecumênica da Incidência, a Aliança Anglicana, APRODEV, Christian Aid, EED, ICCO/Kerk in Actie e CIDSE.

Finalmente, há o grupo inter-religioso do Rio, com o legado das iniciativas inter-religiosas da ECO 92 e suas conexões nacionais, continentais e internacionais. É também neste nível que está a participação do ‘Comitê para a Diversidade Religiosa’, promovido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos.

A Cúpula dos Povos reunirá, diariamente, cerca de 80 mil pessoas no Aterro do Flamengo. Nesse território, está prevista a montagem de sete tendas destinadas ao espaço ‘Religiões por Direitos’.  Uma tenda principal, com capacidade para 500 lugares, reunirá os momentos de espiritualidade no início de cada dia e eventos de maior envergadura.

Ao redor desse espaço principal estarão montadas seis tendas temáticas (150 lugares cada) que irão acolher debates, painéis, oficinas e exposições a partir do ponto de vista das religiões e organismos religiosos acerca de temas como soberania alimentar, juventude, mudanças climáticas e novos paradigmas de desenvolvimento. Uma dessas seis tendas será dedicada exclusivamente aos povos tradicionais de terreiros e servirá de elo entre Religiões por Direitos e o Território Afro da Cúpula dos Povos, que estará montado logo ao lado.

‘Religiões por Direitos’ tem assento no Grupo de Articulação (GA) da Cúpula dos Povos e vem colaborando com a metodologia e estrutura operacional da Cúpula como um todo. Essa esfera, assim como todo o processo de construção dessa articulação são sinais de um novo modelo de cooperação e incidência ecumênica e inter-religiosa que vem motivando a crença de que novos ventos impulsionam as velas do velho barco ecumênico”.

Fonte: Marcelo Schneider – Notícias: IHU 14/05/2012.

Marcelo Schneider trabalha para o Conselho Mundial de Igrejas e é responsável pela secretaria executiva do espaço Religiões por Direitos.

V Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica

Tema: Bíblia, Violência e Direitos Humanos

O V Congresso Brasileiro de Pesquisa Bíblica, promovido pela ABIB – Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica – acontecerá entre os dias 10 e 12 de setembro de 2012, nas dependências do Instituto Metodista Bennett, no Rio de Janeiro.

Objetivo Geral do Congresso: estudar a temática da Violência versus Direitos Humanos à luz do texto bíblico e dos textos sagrados das principais religiões monoteístas mundiais, estabelecendo diálogo interdisciplinar e inter-religioso e apresentando propostas práticas para o trato destas questões na nossa sociedade.

Dia da Reforma

Protestantismo: é tempo de refletir. Entrevista especial com Cláudio Kupka, Martin Dreher e Walter Altmann
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero pregou 95 teses na porta do castelo de Wittenberg, dando continuidade ao movimento da Reforma, que buscava a “renovação do cristianismo ocidental”. Ao final desse processo, o cristianismo se dividiu em confissões religiosas, “tendo cada uma sua própria confissão de fé: Confissão de Augsburgo (luteranos), Confissão Helvética (zwinglianos), diversas confissões calvinistas/reformadas e a Confissão de Fé Tridentina (católico-romana)”, explica Martin Dreher, professor especialista em História da Igreja, em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail. Quase 500 anos depois, os luteranos do Brasil estão engajados na elaboração de atividades que possam, nos próximos seis anos, relembrar e refletir sobre este momento histórico que deu origem ao protestantismo…

Leia a entrevista em Notícias: IHU On-Line – 31/10/2011

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