Os estudos bíblicos nos últimos 50 anos

Philip R. Davies, em artigo disponível em Academia.edu, avalia os últimos 50 anos dos estudos bíblicos. Ele escolheu, em sua análise, três dos principais temas da disciplina, especificamente secularização, colonização e ficcionalização.

Biblical Studies: Fifty Years of a Multi-Discipline

Diz o Abstract  do artigo:

The creation of an autonomous and secular discipline of biblical studies can be traced back through several stages, in particular to cultural changes brought about by the Reformation and the Enlightenment. But it is only in the last 50 years or so that this discipline (more accurately, a multidiscipline) can be truly said to have emerged as distinct from Scripture, which now ought to be treated as a separate discipline belonging to theology rather than the human sciences. This review traces some of the principal themes of this discipline, specifically secularization, colonization and fictionalization. These themes are traced through a number of developments, beginning with the fundamental issue of what constitutes the ‘meaning’ of a text. Finally, it is suggested that the relationship between humanistic biblical studies and theological Scripture is becoming, and will continue to be, more explicitly addressed, but that no clear resolution can be foreseen.

Fundamentalismo: suicídio do pensamento

O fundamentalismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento – Il fondamentalismo invita, senza dirlo, a una forma di suicidio del pensiero – Ohne es zu sagen, lädt der Fundamentalismus doch zu einer Form der Selbstaufgabe des Denkens ein.

A abordagem fundamentalista é perigosa, pois ela é atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para seus problemas da vida. Ela pode enganá-las oferecendo-lhes interpretações piedosas mas ilusórias, ao invés de lhes dizer que a Bíblia não contém necessariamente uma resposta imediata a cada um desses problemas. O fundamentalismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ele coloca na vida uma falsa certeza, pois ele confunde inconscientemente as limitações humanas da mensagem bíblica com a substância divina dessa mensagem.

L’approccio fondamentalista è pericoloso, perché attira le persone che cercano risposte bibliche ai loro problemi di vita. Tale approccio può includerle offrendo interpretazioni pie ma illusorie, invece di dire loro che la Bibbia non contiene necessariamente una risposta immediata a ciascuno di questi problemi. Il fondamentalismo invita, senza dirlo, a una forma di suicidio del pensiero. Mette nella vita una falsa certezza, poiché confonde inconsciamente i limiti umani del messaggio biblico con la sostanza divina dello stesso messaggio.

Der fundamentalistische Zugang ist gefährlich, denn er zieht Personen an, die auf ihre Lebensprobleme biblische Antworten suchen. Er kann sie täuschen, indem er ihnen fromme, aber illusorische Interpretationen anbietet, statt ihnen zu sagen, daß die Bibel nicht unbedingt sofortige, direkte Antworten auf jedes dieser Probleme bereithält. Ohne es zu sagen, lädt der Fundamentalismus doch zu einer Form der Selbstaufgabe des Denkens ein. Er gibt eine trügerische Sicherheit, indem er unbewußt die menschlichen Grenzen der biblischen Botschaft mit dem göttlichen Inhalt dieser Botschaft verwechselt.

Fonte: PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA  A Interpretação da Bíblia na Igreja. 9. ed. São Paulo: Paulinas, 2010. Online, em português, aqui. O documento da PCB é de 1993. O trecho citado está em: I. Métodos e abordagens para a interpretação – F. Leitura fundamentalista.

Leia Mais:
O fundamentalismo
Ouse saber – Sapere aude

O fundamentalismo, segundo CEBI Goiás

“As posturas fundamentalistas não são saudáveis; deixam traumatismos profundos. O fundamentalismo mata! Essa partilha representa momentos vivenciados pelo grupo de assessoras/es e lideranças do CEBI Goiás, no dia 17 de agosto de 2014, em Senador Canedo. A facilitadora do dia foi a Pastora Patrícia Bauer, de confissão Luterana.  Éramos 27 pessoas, vindas de Orizona, Bela Vista, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Anápolis e Goiânia, totalizando 21 mulheres e 6 homens.

O grupo lembrou que nos preocupamos com os fundamentalismos religiosos, porém há várias formas de sermos fundamentalistas, que se interligam e refletem nas nossas leituras bíblicas, conforme nossas concepções de mundo. Também há fundamentalismo nos discursos que reproduzimos sem dar muita atenção a eles (falas que muitas vezes sustentam o patriarcalismo, a homofobia, a violência contra as mulheres, a discriminação étnico-racial, a xenofobia e as mais variadas formas de intolerância). É preciso fazer o movimento de olhar o fundamentalista que existe em nós, pois não há diálogo no fundamentalismo. Quando fazemos esse movimento, experimentamos novos solos, novas águas, destruímos muros e construímos pontes.

O grupo avaliou positivamente o dia e partilhou motivações sobre mudança de olhar no que diz respeito às várias formas de ver a realidade, à luz da Palavra. Suely de Jesus disse: ‘Os textos trabalhados contribuíram para o grupo fazer uma leitura e releitura de posturas, comportamentos fundamentalistas’.

Enfim, ficou o apelo: ‘Jamais fazer a Bíblia dizer o que queremos que ela diga, mas atentar para o que ela quer dizer, na perspectiva de uma leitura contextual’.  Além disso, entender que a verdade não me pertence, não nos pertence.

Que Deus nos dê sabedoria para destruirmos muros e construirmos pontes”.

Fonte: Fundamentalismo mata – CEBI-GO, 17 de agosto de 2014.

Picaretagem hermenêutica entristece pesquisador

Não importa quantas vezes você, pacientemente, explique que os pontos de vista deles não têm fundamento, eles perseveram em suas convicções com impressionante determinação

Larry Hurtado, conhecido pesquisador do Novo Testamento, “está bastantemente entristecido, com o coração afogado na deceptude e no desgosto“, como dizia Odorico Paraguaçu.

Motivo?

É que alguns comentaristas vão ao seu blog postar “ideias de jerico”* e que, como é sabido e consabido, a ninguém escutam, só a suas desmioladas especulações dão atenção.

Um trecho do post de Larry Hurtado, Sense and Nonsense: Observations on Running a Blog Site, recentemente publicado:

This sort typically has developed some pet idea, not something small, mind you, but a “big idea” that fundamentally skews their view of the whole subject. Among them, on this site, e.g., that Paul was a totally fictional character (…)  that Jesus of Nazareth is a fictional character are another such category (…) that, e.g., references to “circumcision” in the NT are actually references to sacrifice (…) These people aren’t interested in finding out that their views have no basis, or have been soundly debunked decades ago, or are just plain bonkers. So, no matter how often you patiently answer specific questions (often coy, baited ones), or offer reasons and evidence for why their view is baseless, they persevere with impressive determination. If you tell them that their view has no standing among scholars in the field, this has no effect, and they might then allege some sort of conspiracy among scholars to suppress what they know is the real truth!

* Jerico = Equus asinus

Crítica textual do NT: Método genealógico baseado na coerência

Este texto foi escrito por meu amigo e colega Cássio Murilo Dias da Silva, atualmente professor na PUCRS.

Ele me diz no e-mail: Segue aí uma tentativa de explicação sumária do “Método genealógico”. Difícil resumir em poucas palavras uma coisa tão complexa. Mas acho que dá para se ter uma ideia. Espero que seja aproveitável…

Método genealógico baseado na coerência: a informática a serviço da crítica textual do Novo Testamento

Imagine que manuscritos sejam seres vivos que se reproduzem pelo processo de cópia. Imagine que o DNA dos manuscritos esteja não na química da tinta nem do papel, mas na formulação do texto. Então, fica fácil de imaginar também um programa de computador que compara todos os manuscritos do Novo Testamento e, por meio das estatísticas, elabora uma árvore genealógica deles.

Dito de modo bem simples é exatamente isso que faz um “novo” modo de comparação de manuscritos bíblicos: o “método genealógico baseado na coerência”. Um programa de computador gera estatísticas e árvores genealógicas (estemas) de manuscritos, tanto de modo completo como de modo específico, isto é, para um versículo bem determinado. O citado programa está disponível para uso online na página do Institut für Neutestamentliche Textforschung (INTF; em português: Instituto para a Pesquisa do Texto do Novo Testamento) da Universidade de Münster, na Alemanha. O software gera vários tipos de dados: os possíveis “ancestrais”, isto é, quais manuscritos podem ter sido copiados; o percentual de concordância entre os manuscritos; a quantidade (absoluta) de concordâncias entre os manuscritos; o número de passagens comuns entre eles; quantas passagens do manuscrito 1 explicam o surgimento das variantes no manuscrito 2 e vice-versa, e várias outras estatísticas.

Manuscritos com um índice de concordância acima de 87,6% são considerados muito próximos e é possível estabelecer um vínculo “genealógico” entre eles. Isso porque o método supõe que o escriba tenha querido ser fiel o máximo possível ao manuscrito que estava copiando, e que não tenha utilizado grande número de fontes.

Um exemplo talvez ajude a entender. Vejamos o início de 1Pd 2,1: “rejeitai, portanto”. Embora esta seja a leitura da maioria dos manuscritos, apenas dois leem somente “rejeitai”, omitindo o “portanto”. Um deles é o manuscrito número 1881.

Comparando os manuscritos 1881 e 1739, o programa do INTF oferece as seguintes informações (entre outras):
. o manuscrito 1881 depende 92,432% do manuscrito 1739
. admitindo que o manuscrito 1739 seja anterior a 1881, é possível explicar 121 diferenças entre eles; inversamente, admitindo que 1739 seja posterior a 1881, é possível explicar somente 24 diferenças.

Estes e outros dados levam à conclusão de que o fluxo do texto de 1739 para 1881 é muito forte; diferente do que acontece na direção oposta. Ou seja: 1881 é posterior (copiou?) 1739, e que o escriba, por alguma razão (talvez descuido) tenha omitido a palavra “portanto”.

Uma longa introdução ao método encontra-se disponível para download em https://egora.uni-muenster.de/intf/service/downloads_en.shtml (texto em inglês, 577 “páginas” em formato pdf).

Hermenêutica Bíblica, Pluralismo e Novos Paradigmas

Seminário Regional da ABIB (Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica) – São Paulo, com José María Vigil.

No dia 28 de setembro de 2013 acontecerá mais um seminário da ABIB-SP, com o tema Hermenêutica Bíblica, Pluralismo e Novos Paradigmas. O encontro pretende abordar os novos rumos que a pesquisa bíblica tomou nos últimos anos. Para tanto, foi convidado o teólogo José María Vigil, um dos grandes nomes da Teologia da Libertação.

Vigil é defensor da opção pelos pobres e também da Teologia do Pluralismo Religioso. Vigil coordena a Comissão Teológica Latino-Americana da ASETT (Associação de Teólogos/as do Terceiro Mundo) e o site Koinonia.

Um painel com o tema Bíblia, Pluralismo e Perspectivas terá a participação dos Professores Claudio Ribeiro, metodista, Haidi Jarschel, luterana, e Alexandre Leone, rabino.

O seminário acontecerá mais uma vez nas dependências da FATIPI (Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente), que fica na Rua Genebra, nº 180 – São Paulo. As atividades começam às 08h00 e terminam às 17h00. Os participantes que desejarem certificado deverão colaborar com R$ 10,00.

FATIPI – Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente
Rua Genebra, nº 180, Bela Vista – SÃO PAULO – SP
(Travessa da Rua Maria Paula entre os viadutos Dona Paulina e Jacareí)
Metrô: Sé ou Anhangabaú
Fone: (11) 3106-2026

Biblistas devem responder ou provocar questionamentos?

Falando sobre a pesquisa bíblica, escreveu, em 11 de abril de 2013, Philip R. Davies, comentando um artigo de Joel S. Baden:

A nossa responsabilidade em relação à próxima geração de estudiosos [da Bíblia] não é responder a perguntas, mas produzir mais perguntas para eles.

But in the end our responsibility to the next generation of scholars is not to answer questions (and thus remove them) but to generate more questions for them.

Fonte: Against Consensus, artigo de Joel S. Baden, Yale Divinity School, publicado em The Bible and Interpretation em abril de 2013.

Exegese, Teologia e Pastoral: relações, tensões e desafios

Exegese, Teologia e Pastoral: relações, tensões e desafios: este é o tema do IV Simpósio de Teologia da PUC-Rio, que será realizado nos dias 15 a 17 de maio de 2013, nas dependências da Universidade.

1. Conferências maiores:
Serão desenvolvidas com os seguintes temas e conferencistas:

  • Exegese e Teologia Bíblica, por H. Simian-Yofre, professor emérito do Pontifício Instituto Bíblico, Roma
  • Exegese, teologia e hermenêutica, por C. Carbullanca, professor da Universidade Católica do Chile
  • Teologia sistemática e exegese, por Maria Carmen Aparicio Valls, professora da Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma
  • Bíblia, Cultura e Nova Evangelização, por Mario Cimosa, professor da Pontifícia Universidade Salesiana, Roma

2. Mesas temáticas:

  • Bíblia e Pastoral Bíblica: Tereza Maria Pompéia Cavalcanti, Carlos Mesters, Francisco Orofino, Leonardo Agostini Fernandes
  • Bíblia e Cristologia / Eclesiologia: Alfonso García Rubio, Ana Maria de Azeredo Lopes Tepedino, José Otácio Oliveira Guedes
  • Bíblia e Graça / Escatologia: Mario de França Miranda, Lina Boff, Maria de Lourdes Corrêa Lima
  • Bíblia e Direito: Jesús Hortal, Ricardo Lengruber, Isidoro Mazzarolo

3. Mini-cursos:

  • Animação bíblica da pastoral: Johan Konings (Faje)
  • Hermenêutica bíblica: Luís Henrique da Silva (PUC-MG / Faje)
  • Bíblia e diálogo inter-religioso: Valmor da Silva (PUC-GO)
  • O Saltério no Novo Testamento: Matthias Grenzer (PUC-SP)

4. Comunicações:
Considerado o tema central do Simpósio, Exegese, Teologia e Pastoral: relações, tensões e desafios, serão desenvolvidos oito eixos temáticos…

Visite a página do Simpósio e saiba mais. Conheça o Departamento de Teologia da PUC-Rio.

Questi sono brutti tempi

Em português: Estes são tempos feios!

Ou como dizemos em Minas: O trem ‘tá’ feio!

There’s no time for us
There’s no place for us
What is this thing that builds our dreams
Yet slips away from us? (Queen – Who Wants to Live Forever)

Tem hora que a gente lê certas coisas que são verdadeiros socos no fígado. E o danado é que isso vem piorando. Piorando de dia e piorando de noite. E no quintal dos exegetas. Questi sono brutti tempi.

Pois li recentemente três artigos de três biblistas. Que são… não, não vou dizer os nomes.  Só pistas: um é do alto clero, outro é do baixo clero e o terceiro de clero nenhum.

Pois bem: fulano, beltrano e sicrano fariam bem em reler o que escreveu Pio XII na encíclica Divino afflante Spiritu [Inspirados pelo Espírito Divino], de 30 de setembro de 1943. Setenta anos depois e tem gente, do ramo, que não aprendeu?

Observo que até o século XIII, a reflexão bíblica ocupava lugar importante na reflexão teológica. A Escolástica quebrou esta tradição, com a elaboração de uma teologia cada vez mais especulativa. A Reforma protestante reagiu contra esta tendência com uma volta radical à Escritura, enquanto os teólogos católicos, no contexto da Contra-Reforma, afastavam-se ainda mais da Bíblia.

Pio XII, entre outras coisas, recomendava, na Divino afflante Spiritu, o estudo das línguas bíblicas, o recurso à filologia, a busca do sentido literal dos textos, o exame do contexto, o estudo da história, da arqueologia e dos gêneros literários, o esclarecimento da condição social do autor.

Leia-se, por exemplo, sobre o estudo das línguas bíblicas: Além disso são hoje tantos os meios para aprender aquelas línguas que o intérprete da Escritura, que, descurando-as, fecha a si mesmo o acesso aos textos originais, não podendo evitar a imputação de inconsideração e indolência (…) Por isso trabalhe por adquirir uma perícia cada vez maior das línguas bíblicas e também dos outros idiomas orientais e apoie a sua interpretação com todos os recursos subministrados por toda espécie de filologia.

Ou sobre a pesquisa histórico-crítica: Procure por conseguinte o intérprete distinguir com todo o cuidado, sem descurar nenhuma luz fornecida pelas recentes investigações, qual a índole própria e condição social do autor sagrado, em que tempo viveu, de que fontes, escritas ou orais, se serviu, que formas de dizer empregou. 

Ou a repreensão dirigida a certas tendências que rejeitam a pesquisa moderna: Tal interpretação (…) será meio eficaz para fazer calar os que se queixam de não encontrar nos comentários bíblicos nada que eleve a mente a Deus, alimente a alma, fomente a vida interior, e por isso dizem que é preciso recorrer a uma interpretação que chamam espiritual e mística.

Por fim, recomendo uma (re)leitura dos obstáculos hermenêuticos mais comuns, nos quais constantemente tropeçamos quando lemos a Bíblia.

Obstáculos hermenêuticos são armadilhas do pensamento, que só podem ser evitadas através de uma constante vigilância ideológica, que manterá aberta a nossa mente para a experiência do nascimento do sentido que acontece na operação de leitura dos textos bíblicos.

Um exemplo? O teologismo, que é o correspondente teórico da atitude prática que se conveio chamar ‘sobrenaturalismo’, ‘espiritualismo’, ou simplesmente ‘mitologia’.

O teologismo consiste em considerar a interpretação teológica como a única versão verdadeira do real, esvaziando, assim, o Político e o Social de seus conteúdos e rejeitando a sua autonomia. É, no mais das vezes, um discurso dogmático, ideológico, autoritário e anticientífico. Além do que conduz a outros obstáculos, como o espiritualismo e o dualismo. Neste enfoque a fé é frequentemente colocada em oposição ao conhecimento racional. É dito que este não resolve e ilustra-se o discurso com a persistente crise nacional ou mundial, a perversão moral e as injustiças praticadas pelo mundo afora. Processa-se uma mistificação do não-acesso ao saber, que de questão política transforma-se em questão moral, enquanto se contrapõe o homem simples, o-que-nada-sabe, mas tem fé, ao homem cultivado, o-que-tudo-sabe, é estudado, mas não tem fé…

Introdução à S. Escritura 2013

A Introdução à S. Escritura compreende 2 horas semanais, no primeiro semestre de Teologia. Mais do que estudar o surgimento e o conteúdo dos vários livros bíblicos, a disciplina é voltada para a compreensão / apreensão de alguns métodos de leitura dos textos bíblicos. Esta opção se justifica, pois a introdução a cada um dos livros é feita a partir das disciplinas que abordam áreas específicas da Bíblia ao longo do curso de Teologia.

Um dos problemas típicos desta disciplina é a carga horária exígua que lhe é, em geral, atribuída. Até porque, ao tomar contato com a moderna metodologia de abordagem dos textos bíblicos, a desmontagem de noções ingênuas adquiridas na educação anterior e a dificuldade em abandonar certezas que beiram o fundamentalismo requerem tempo e paciência. Além disso, conseguir a convivência da criticidade que se vai progressivamente adquirindo em sala de aula com as necessidades pastorais dos envolvidos no processo de aprendizagem, exige a construção de uma linguagem hermenêutica adequada, outra questão espinhosa.

Por isso, uma tarefa que se impõe a quem se envereda por esse caminho, é a comparação e o confronto da teoria exegética crítica com as leituras cotidianas e costumeiras da Bíblia. Isto é feito pelos alunos, que coletam e analisam os dados necessários.

Costumo orientar este processo através de uma série de questões que são propostas para a análise de uma leitura bíblica feita no ambiente pastoral dos estudantes.

I. Ementa
A disciplina privilegia o nascimento e a estruturação dos vários métodos de leitura da Sagrada Escritura, especialmente os modernos métodos histórico-críticos, socioantropológicos e populares.

II. Objetivos
Possibilita ao aluno a visualização das diversas problemáticas envolvidas na abordagem dos textos bíblicos no contexto e no pensamento contemporâneos.

III. Conteúdo Programático
1. A leitura histórico-crítica
:: A crítica textual
:: A crítica literária
:: A crítica das formas
:: A história da redação
:: A história da tradição

2. A leitura socioantropológica
:: Por que uma leitura socioantropológica da Bíblia?
:: Origem e características do discurso sociológico
:: Origem e características do discurso antropológico
:: A Bíblia e a leitura socioantropológica
:: Algumas dificuldades da leitura socioantropológica

3. A leitura popular
:: Ler a vida com a ajuda da Bíblia
:: A opção pelos pobres
:: Da Bíblia à Sociedade: passagem para o Político

4. Oficina bíblica: leitura de textos selecionados
:: Mc 6,30-44: a primeira multiplicação dos pães
:: Lc 3,21-22: o batismo de Jesus
:: Mt 2,1-12: a visita dos magos
:: Jo 2,1-12: as bodas de Caná

IV. Bibliografia
Básica
DIAS DA SILVA, C. M. Leia a Bíblia como literatura. São Paulo: Loyola, 2007, 104 p. – ISBN 9788515033072.

DIAS DA SILVA, C. M. com a colaboração de especialistas, Metodologia de Exegese Bíblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, 526 p. – ISBN 8535606432.

MESTERS, C. Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do povo. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999, 206 p.

Complementar
ALAND, K. et al. O Novo Testamento Grego. Quarta edição revisada com introdução em português e dicionário grego-português. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009, 1040 p. – ISBN 9783438051516.

ALETTI, J.-N.; GILBERT, M.; SKA, J.-L.; DE VULPILLIÈRES, S.  Vocabulário ponderado da exegese bíblica. São Paulo: Loyola, 2011, 184 p. – ISBN 9788515038565.

ALMADA, S. (org.) Interpretação Bíblica em Busca de Sentido e Compromisso. Diversas aproximações ao texto de Lucas 1-2: Caleidoscópio de métodos, exegese e hermenêutica. RIBLA, Petrópolis, n. 53, 2006/1.

BERLEJUNG, A.; FREVEL, C. (orgs.) Dicionário de termos teológicos fundamentais do Antigo e do Novo Testamento. São Paulo: Loyola/Paulus, 2011, 536 p. – ISBN 9788515037872.

BUSHELL, M. BibleWorks 9. Norfolk, VA: BibleWorks, 2011 (software para o estudo da Bíblia). Acesso em: 19 janeiro 2013.

CARTER, C. E.; MEYERS, C. L. (eds.) Community, Identity and Ideology: Social-Scientific Approaches to the Hebrew Bible. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1996, 574 p. – ISBN 9781575060057.

CHALCRAFT, D. J. (ed.) Social-Scientific Old Testament Criticism. London: T & T Clark, 2006, 400 p. – ISBN 9780567040848

DA SILVA, A. J. A visita dos magos: Mt 2,1-12. Acesso em: 19 janeiro 2013.

DA SILVA, A. J. Leitura socioantropológica da Bíblia Hebraica. Acesso em: 19 janeiro 2013.

DA SILVA, A. J. Leitura socioantropológica do Novo Testamento. Acesso em: 19 janeiro 2013.

DA SILVA, A. J. Notas sobre alguns aspectos da leitura da Bíblia no Brasil hoje. REB, Petrópolis, v. 50, n. 197, p. 117-137, mar. 1990. Acesso em: 19 janeiro 2013.

DA SILVA, A. J. O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento. Acesso em: 11 janeiro 2011

DA SILVA, A. J. Por que milagres? O caso da multiplicação dos pães. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 22, 1989, p. 43-53 [versão mais resumida online na Vida Pastoral]

DE OLIVEIRA, E. M. et al. Métodos para ler a Bíblia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 32, 1991.

DIAS DA SILVA, C. M. A Bíblia não serve só para rezar. São Paulo: Loyola, 2011, 136 p. – ISBN 9788515038107.

DIAS DA SILVA, C. M. Aprenda a ler o Antigo Testamento. São Paulo, 2010, 12 p. Publicado no Observatório Bíblico em 26 de setembro de 2010. Disponível para download em pdf.

DIAS DA SILVA, C. M. Crítica textual do NT: Método genealógico baseado na coerência, Observatório Bíblico, 2013.

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ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, [1967/1977], 1997, lviii + 1574 p. – ISBN 9783438052193. Cf. também a Biblia Hebraica Quinta.

ELLIOT, J. H. What is Social-Scientific Criticism? Minneapolis: Augsburg Fortress, [1993] 2009, 174 p. – ISBN 9780800626785.

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Leia Mais:
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