Este texto foi escrito por meu amigo e colega Cássio Murilo Dias da Silva, atualmente professor na PUCRS.
Ele me diz no e-mail: Segue aí uma tentativa de explicação sumária do “Método genealógico”. Difícil resumir em poucas palavras uma coisa tão complexa. Mas acho que dá para se ter uma ideia. Espero que seja aproveitável…
Método genealógico baseado na coerência: a informática a serviço da crítica textual do Novo Testamento
Imagine que manuscritos sejam seres vivos que se reproduzem pelo processo de cópia. Imagine que o DNA dos manuscritos esteja não na química da tinta nem do papel, mas na formulação do texto. Então, fica fácil de imaginar também um programa de computador que compara todos os manuscritos do Novo Testamento e, por meio das estatísticas, elabora uma árvore genealógica deles.
Dito de modo bem simples é exatamente isso que faz um “novo” modo de comparação de manuscritos bíblicos: o “método genealógico baseado na coerência”. Um programa de computador gera estatísticas e árvores genealógicas (estemas) de manuscritos, tanto de modo completo como de modo específico, isto é, para um versículo bem determinado. O citado programa está disponível para uso online na página do Institut für Neutestamentliche Textforschung (INTF; em português: Instituto para a Pesquisa do Texto do Novo Testamento) da Universidade de Münster, na Alemanha. O software gera vários tipos de dados: os possíveis “ancestrais”, isto é, quais manuscritos podem ter sido copiados; o percentual de concordância entre os manuscritos; a quantidade (absoluta) de concordâncias entre os manuscritos; o número de passagens comuns entre eles; quantas passagens do manuscrito 1 explicam o surgimento das variantes no manuscrito 2 e vice-versa, e várias outras estatísticas.
Manuscritos com um índice de concordância acima de 87,6% são considerados muito próximos e é possível estabelecer um vínculo “genealógico” entre eles. Isso porque o método supõe que o escriba tenha querido ser fiel o máximo possível ao manuscrito que estava copiando, e que não tenha utilizado grande número de fontes.
Um exemplo talvez ajude a entender. Vejamos o início de 1Pd 2,1: “rejeitai, portanto”. Embora esta seja a leitura da maioria dos manuscritos, apenas dois leem somente “rejeitai”, omitindo o “portanto”. Um deles é o manuscrito número 1881.
Comparando os manuscritos 1881 e 1739, o programa do INTF oferece as seguintes informações (entre outras):
. o manuscrito 1881 depende 92,432% do manuscrito 1739
. admitindo que o manuscrito 1739 seja anterior a 1881, é possível explicar 121 diferenças entre eles; inversamente, admitindo que 1739 seja posterior a 1881, é possível explicar somente 24 diferenças.
Estes e outros dados levam à conclusão de que o fluxo do texto de 1739 para 1881 é muito forte; diferente do que acontece na direção oposta. Ou seja: 1881 é posterior (copiou?) 1739, e que o escriba, por alguma razão (talvez descuido) tenha omitido a palavra “portanto”.
Uma longa introdução ao método encontra-se disponível para download em https://egora.uni-muenster.de/intf/service/downloads_en.shtml (texto em inglês, 577 “páginas” em formato pdf).
Em língua portuguesa você conhece alguma bibliografia para o aprofundamento sobre a crítica textual do NT?
Flávio, a crítica textual da Bíblia, hebraica e grega, exige formação exegética adequada, pois, além de saber as línguas bíblicas, como o hebraico, o grego, o aramaico, o latim etc, é necessário ler, das modernas, pelo menos o inglês, sendo ideal o inglês, o francês e o alemão. E usar um software adequado, como o BibleWorks 10, também em inglês. É uma área extremamente técnica. E, até onde sei, nenhuma (?) das obras em inglês citadas no post de Tommy Wasserman – veja, neste blog, "Recursos para a crítica textual do Novo Testamento", de 29 de abril de 2017 – foi traduzida para o português.
Agora, para se informar sobre a crítica textual do NT, em nível de introdução, há algumas coisas em português, como os livros do Cássio Murilo Dias da Silva, Metodologia de exegese bíblica (2009) e Leia a Bíblia como literatura (2007); os livros do Wilson Paroschi, Crítica textual do Novo Testamento (1999) e Origem e transmissão do texto do Novo Testamento (2014); Uwe Wegner, Exegese do Novo Testamento: manual de metodologia (2011); Wilhelm Egger, Metodologia do Novo Testamento: introdução aos métodos linguísticos e histórico-críticos (1994); Jean-Noel Aletti, Vocabulário ponderado da exegese bíblica (2011); Udo Schnelle, Introdução à exegese do Novo Testamento (2004) e por aí vai.
Há alguns meses estou dedicado a critica textual,estudo.Posso dizer que não me tornei um expert,mas me abriu muito os olhos,quebrando conceitos e pré conceitos9como por exemplo contra a tradução novo mundo).Sugiro voc~e começar com os artigos e vídeos do doutor Wilbur Norman pickering- QUAL O TEXTO ORIGINAL DO NOVO TESTAMENTO,irá encontra-lo em PDF.há tambem palestras dele no youtube.Procure assistir tambem os videos do Adolfo Euclair e consumir tudo que puder,inclusive wikipédia.Um fraternal abraço.