As confissões de Jeremias

EWALD, H. Die Propheten des Alten Bundes. In zwei Bänden. Erster Band. Stuttgart: Verlag von Adolph Krabbe, 1840.Quem usou pela primeira vez o termo “confissões”?

Quem começou os estudos críticos sobre Jeremias foi o alemão Heinrich Ewald em 1840: Die Propheten des Alten Bundes, In zwei Bänden [Os profetas da Antiga Aliança, vols. 1 e 2]. Nesta obra ele analisa os “diálogos” de Jeremias, especialmente o material hoje conhecido como “confissões” de Jeremias.

O termo “confissões” (Konfessionen, em alemão) foi usado pela primeira vez em 1902 pelo alemão Wilhelm Erbt, em seu livro Jeremia und seine Zeit: Die Geschichte der letzten fünfzig Jahre des vorexilischen Juda [Jeremias e seu tempo: a história dos últimos cinquenta anos do Judá pré-exílico] .

Estes textos foram analisados sob a ótica da crítica das formas [estudo do gênero literário] e foram aprovados pelo alemão Walter Baumgartner em 1917, em seu livro Die Klagegedichte des Jeremia [As lamentações de Jeremias]. Ele os definiu como “lamentos individuais”, semelhantes aos que são encontrados nos Salmos.

A posição de Walter Baumgartner influenciou a maioria dos pesquisadores que vieram depois dele.

Foram feitas outras tentativas, como, por exemplo a definição destes textos como “processos legais”, mas a ideia não teve sucesso. Ou como “lamento profético”, mas isto também não funcionou.

Quantas “confissões”?

Não existe consenso acadêmico quanto ao número de textos que podem ser chamados de “confissões de Jeremias”. O número vai de 5 a 8.

Qual é o significado das “confissões”?

Georg Heinrich August Ewald (1803-1875)De H. Ewald (1840) até H. Graf Reventlow (Liturgie und prophetisches Ich bei Jeremia, 1963) as confissões foram vistas, com raras exceções, como fontes primárias para a reconstrução biográfica e psicológica da vida do profeta.

A partir de Reventlow – que via Jeremias como um profeta cultual e os textos das confissões como uma expressão cultual, e que foi muito criticado por isso – as confissões passam a ser vistas como uma expressão mais ampla da interpretação redacional da atividade profética de Jeremias. Ou seja: da vida real do profeta sabemos pouco, sabendo mais, através da redação do livro, sobre como Jeremias foi lido por seus intérpretes, especialmente no pós-exílio.

Para saber mais sobre Jeremias e sobre as “confissões de Jeremias” leia o meu texto Perguntas mais frequentes sobre o profeta Jeremias.

Bibliografia

DIAMOND, A. R. The Confessions of Jeremiah in Context: Scenes of Prophetic Drama. Sheffield: Sheffield Academic Pres, 1987.

LINDBERG, R. J. “‘The Pain of Being Faithful to the Word of the LORD’: An Exegetical Study of Jeremiah’s Confessions” (2015). Seattle Pacific Seminary Theses. Disponível em: https://digitalcommons.spu.edu/spseminary_etd/2

MASTNJAK, N. Jeremiah’s Laments as Effective Speech. Journal for the Study of the Old Testament, Vol. 47(4), p. 431–454, 2023.

THIELE, D. H.The identity of the “I” in the “Confessions” of Jeremiah. Master’s thesis, Avondale College, Cooranbong, Australia, 1998. Disponível em: https://research.avondale.edu.au/theses_masters_research/1/

Sobre o mundo conceitual da Bíblia Hebraica

WALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021, 416 p. – ISBN 9786586136395.

Nesta obra, John H. Walton investiga como os povos vizinhos de Israel pensavam sobre os deuses e seus templos, sobre a formação do universo, sobre os seres humanosWALTON, J. H. O pensamento do Antigo Oriente Próximo e o Antigo Testamento: Introdução ao mundo conceitual da Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 2021 e seus governantes e até mesmo sobre sua produção cultural, a fim de desvendar como tudo isso moldou a forma como Israel pensava acerca de si, do mundo e de Deus.

Walton vai além do academicismo e mantém um objetivo prático ao longo da obra: ajudar seus leitores a aperfeiçoar a exegese do Antigo Testamento com base em informações do mundo antigo. Com dezenas de ilustrações e quadros com análises comparativas, Pensamento do antigo Oriente Próximo é um recurso indispensável para todos que desejam estudar e expor o texto bíblico fielmente.

O original em inglês Ancient Near Eastern thought and the Old Testament: introducing the conceptual world of the Hebrew Bible é de 2006 e a segunda edição de 2018.

John H. Walton é professor de Antigo Testamento no Wheaton College, Illinois, USA.

Veja aqui outras obras de John H. Walton. Algumas foram traduzidas para o português.

Gn 1,1: no princípio ou em princípio?

Estamos tão acostumados a ler o começo do livro do Gênesis como No princípio que dificilmente perguntamos como é em hebraico.

Em hebraico é  בְּרֵאשִׁית (berē’shîth) e Gn 1,1 pode ser ouvido aqui.Em princípio ou No princípio? Por Edson de Faria Francisco - 2018

Bereshít é formado por uma preposição (be=em), sem artigo, e por um substantivo (reshit=princípio, início, começo) e, por isso, deveria ser traduzido, literalmente, por “Em [um] princípio” ou “Em [um] começo” ou, ainda, “Em [um] início”, sem o artigo definido que usamos em “No princípio”.

Lembrando que não existe artigo indefinido em hebraico, como “um” ou “uma”. O artigo é, portanto, apenas definido, como “o” ou “a”. Mas o português exige que coloquemos “um” aqui, “Em um princípio”.

Entretanto, isto não quer dizer que todas as traduções que usam o artigo definido “o” estejam erradas. Gramáticos e comentaristas dizem que a presença do artigo pode estar implícita nesta formulação.

Quer saber mais sobre isso? Recomendo a leitura de Em princípio ou No princípio? texto muito claro escrito por Edson de Faria Francisco, da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e que está disponível para download, em pdf, em Academia.edu.

Pode ser baixado também aqui.

Recomendo ainda, para os interessados na Bíblia Hebraica e na língua hebraica bíblica, a página Bíblia Hebraica, de Edson de Faria Francisco.

O Pentateuco sapiencial

MAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023, 362 p. – ISBN 9786555042917.

O aprofundamento unitário do “Pentateuco sapiencial” — composto por Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida e Sabedoria — permite-nos fazer emergir uma riqueza teológicaMAZZINGHI, L. O Pentateuco sapiencial: Provérbios, Jó, Coélet, Sirácida, Sabedoria. Características literárias e temas teológicos. São Paulo: Loyola, 2023 que ilumina o pensamento judaico e a identidade de Israel.

O livro descreve as características literárias e históricas próprias de cada um dos livros analisados e focaliza os temas teológicos que procedem com clareza da reflexão de Israel: a dimensão experiencial própria de uma sabedoria entendida como “arte de viver”; a perspectiva pedagógica e ético-social com a qual a sabedoria é proposta dentro de um preciso projeto educativo; o papel de Deus na vida do homem; o problema do mal; a figura da Sabedoria personificada; a teologia da criação como verdadeiro coração da teologia dos sábios.

O texto configura-se como uma introdução à literatura sapiencial bíblica e se dirige sobretudo a estudantes e a pessoas interessadas em empreender um percurso de aprofundamento.

“Julguei oportuno” — escreve o autor — “evitar dois extremos: por um lado, o risco de oferecer um texto muito volumoso e excessivamente difícil […]. Por outro lado, eu quis evitar também o risco de oferecer um manual muito simples, de nível mais baixo, que deixasse de abordar problemáticas complexas e aspectos exegéticos que exigem um estudo mais aprofundado”.

O original, em italiano, é de 2012.

Luca Mazzinghi é professor de Antigo Testamento na Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma.

Escavando a terra de Jesus

STRANGE, J. R. Excavating the Land of Jesus: How Archaeologists Study the People of the Gospels. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023, 208 p. – ISBN ‎ 9780802869500.

Ao contrário da crença popular, a arqueologia da Galileia do século I d.C. não busca ilustrar ou provar os evangelhos. Pelo contrário, a arqueologia procura compreender aSTRANGE, J. R. Excavating the Land of Jesus: How Archaeologists Study the People of the Gospels. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023 vida das pessoas que viveram no tempo de Jesus.

Como entendemos Jesus e sua atuação como parte de um mundo maior? Como interpretamos a cultura material juntamente com as evidências textuais dos evangelhos? Como sabemos onde e como escavar?

James Riley Strange ensina aos estudantes como resolver esses problemas neste interessante livro. Baseando-se na experiência profissional como arqueólogo em Israel, Strange explica a metodologia atual para levantamento topográfico, escavação de evidências e interpretação de dados.

James Riley Strange é professor de Novo Testamento na Samford University, Homewood, Alabama, USA. Ele também dirige o projeto de escavação Shikhin na Galileia e pesquisa a arqueologia da Palestina do período helenístico ao bizantino.

Leia algumas avaliações do livro aqui.

 

Contrary to popular belief, archaeology of first-century Roman Galilee is not about illustrating or proving the Gospels, drawing timelines, or hunting treasure. Rather, it is about understanding the lives of people, just like us, who lived in the time of Jesus. How do we understand Jesus and his mission as part of a larger world? How do we interpret material culture alongside textual evidence from the Gospels? How do we know where and how to dig?

James Riley Strange teaches students how to address these problems in this essential textbook. Drawing on professional experience as a scientific archaeologist in Israel, Strange explains current methodology for ground surveying, excavating evidence, and interpreting data. Excavating the Land of Jesus is the ideal guide for students seeking answers in the dirt of the Holy Land.

James Riley Strange is the Charles Jackson Granade and Elizabeth Donald Granade Professor in New Testament at Samford University. He also directs the Shikhin Excavation Project in Israel and researches the archaeology of Palestine in the Hellenistic through Byzantine periods, early Christianity, and postbiblical Judaisms.

Table of Contents

Foreword by Luke Timothy Johnson
Preface
List of Abbreviations
Introduction: The Problem of Understanding First-Century Roman Galilee
1. The Problems of Where to Dig and How to Know Where You Are Digging
2. The Problem of How to Dig
3. The Problem of Using Texts and Archaeology
4. The Problem of Understanding Ancient Technologies
5. The Problem of Understanding Ancient Values
Conclusion: The Problem of Why Archaeologists Dig
Works Cited
Illustration Credits
Indexes