O Codex Sassoon

O texto da Bíblia Hebraica já está fixado no século II d.C. Nos séculos seguintes os escribas copiam novos rolos, procurando limitar os erros de transcrição ao mínimo. Para a compreensão correta do texto eles começam a fazer anotações nas margens, assinalar palavras duvidosas etc.

No século V entram em ação os chamados massoretas. O termo vem do hebraico masar = “transmitir” e os massoretas são os “transmissores” do texto. Além de fazer anotações sobre o texto, estes sábios judeus sentem a necessidade de vocalizá-lo e acentuá-lo, para se obter um texto mais uniforme e fixo.

Neste processo cada escola segue um método diferente, como a oriental, sediada na Mesopotâmia e a ocidental, na Palestina. Depois de muitas peripécias, prevalece a escola de Tiberíades (Palestina) aí pelo ano 900 d.C. E em Tiberíades as famílias Ben Neftali e Ben Asher.

Desta última temos dois manuscritos importantíssimos: o Codex do Cairo, escrito e vocalizado por Moisés ben Asher, data do ano 895, mas só contém os profetas (anteriores e posteriores).

O Codex de Aleppo, quase completo, foi escrito e vocalizado por Aarão ben Moisés ben Asher, até 930. Pertencia à sinagoga de Aleppo e é salvo da destruição em 1948, sendo levado para Israel.

Um terceiro manuscrito importante é o Codex de Leningrado, baseado nos manuscritos de Aarão ben Moisés ben Asher. Este contém todo o AT e é escrito em 1008. A melhor edição crítica que possuímos hoje – que é a Bíblia Hebraica Stuttgartensia – baseia-se principalmente neste manuscrito.

Leia:

As diferentes tradições do hebraico bíblico – Observatório Bíblico: 08.02.2018

Lista de manuscritos do AT disponíveis online – Observatório Biblico: 06.05.2016

Agora a notícia do dia é sobre o Codex Sassoon, um texto massorético que pode ser datado por volta de 900 d.C. e que contém a Bíblia Hebraica quase completa.Códice Sassoon

Porém, há muitas imprecisões e exageros nos noticiários. Por isso recomendo, depois de ler a notícia abaixo, conferir o segundo texto indicado, que aponta os exageros e as meias-verdades da cobertura da mídia sobre o Códice Sassoon.

Afirmações como “Codex Sassoon: a Bíblia Hebraica mais antiga e completa” são absurdas e enganosas. O mais antigo manuscrito massorético completo da Bíblia Hebraica que sobreviveu em sua totalidade ainda é o Codex de Leningrado, de 1008 d.C.

 

A Bíblia leiloada por R$ 190 milhões que virou o manuscrito mais valioso do mundo – Por David Gritten – BBC News Brasil: 19 maio 2023

A Bíblia hebraica mais antiga e completa já registrada foi comprada nesta quinta-feira (18/5) na casa de leilões Sotheby’s, em Nova York, nos Estados Unidos, por US$ 38,1 milhões (cerca de R$ 190 milhões), tornando-se o manuscrito mais valioso já vendido em leilão.

O Códice Sassoon, a mais antiga cópia sobrevivente do manuscrito contendo os 24 livros da Bíblia hebraica, teria sido escrito há cerca de 1.100 anos.

O ex-embaixador americano Alfred Moses comprou o texto para o Museu do Povo Judeu (ANU) em Tel Aviv, Israel (…).

“Fico feliz em saber que pertence ao povo judeu. Minha missão, percebendo o significado histórico do Códice Sassoon, era fazê-lo residir em um local globalmente acessível para todos.”

(…)

O Códice Sassoon deve seu nome ao seu proprietário anterior, David Solomon Sassoon, que o adquiriu em 1929 e reuniu em sua casa em Londres, no Reino Unido, a maior e mais importante coleção particular de manuscritos hebraicos do mundo.

(…)

De acordo com a casa de leilões Sotheby’s, faltam apenas 12 páginas ao Códice Sassoon, cuja datação por carbono indica que foi criado por volta do ano 900.

“Esta é a primeira vez que um livro quase completo da Bíblia Hebraica apareceu com as vogais, cantilena e notas de rodapé que dizem aos escribas como o texto deve ser redigido corretamente”, disse em março Sharon Mintz, principal especialista sobre os itens da casa de leilões.

Os séculos de anotações e inscrições revelam que o manuscrito foi vendido por um homem chamado Khalaf ben Abraham a Isaac ben Ezekiel al-Attar, que mais tarde transferiu a propriedade para seus dois filhos, Ezekiel e Maimon.

No século 13, a obra foi entregue a uma sinagoga em Makisin, no nordeste da Síria.

Após a destruição da cidade pelos mongóis no final do século 13 ou pelos timúridas no início do século 15, o manuscrito foi entregue a Salama ibn Abi al-Fakhr. Depois disso, desapareceu por 500 anos.

O último proprietário do Códice Sassoon foi a investidora suíça Jacqui Safra, que o comprou por US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 12,4 milhões) em um leilão realizado em Londres em 1989.

 

Is the Earliest, Most Complete Hebrew Bible Going on Auction? – By Kim Phillips – Text & Canon Institute, Phoenix Seminary – February 22, 2023

The sale of Codex Sassoon raises questions about what’s real and what’s hype about this important manuscript.

(…)

What is the Sassoon Codex?

The Sassoon Codex is a Hebrew Bible. Christians refer to the same text as the Old Testament. Many early mediaeval Hebrew Bible manuscripts only contain part of the scriptures: perhaps the Pentateuch only, or the prophetic books, or the Psalms. Relatively few early Hebrew Bible manuscripts contain the entire Hebrew Bible. Codex Sassoon is one of them. That turns out to be rather important later on.

The word “codex” basically means: book, that is, something with pages connected to a spine that you can turn to quickly find your place. This is different to a scroll. If you want to read the last chapter of a story written in a scroll, you have no option but to laboriously unroll the entire thing until you get to the final part. So, codices have some significant advantages over scrolls, particularly if you want a quick peek at the end to see if he marries the girl, or if it really was the butler, in the drawing room, with the candlestick.

Nonetheless, the scroll (rather than the codex) occupies a very special role in Jewish liturgy, and Jewish communities were rather slow to adopt the codex alongside the scroll, for writing the biblical text. In fact, it wasn’t until towards the end of the first millennium AD that Hebrew Bibles began to appear in codex form. So, this manuscript is part of the early shift to codex form. We’ll come back to that point in a bit.

For a long time, this particular Hebrew Bible Codex was part of the massive Judaica collection belonging to David Sassoon, whence the name “Sassoon codex” (or Sassoon 1053, for those who like an extra slice of nerd with their nomenclature).

Finally, it is important to explain that the Sassoon Codex—together with every other Hebrew Bible Codex from about AD 800 onwards—is a Masoretic Bible Codex. This simply means that it contains the Masoretic Text.

Now we are in a better position to address some of the exaggerations and half-truths in the media coverage of the Sassoon Codex.

O texto continua explicando os exageros e as meias-verdades da cobertura da mídia sobre o Códice Sassoon.