Na expectativa das alianças que irão recompor as forças partidárias para o segundo turno da eleição presidencial, os jornais apresentam aos leitores um jogo de adivinhações que tenta dissimular suas preferências políticas. Daqui para a frente, seja qual for o movimento das peças, tudo será levado ao propósito maior da mídia tradicional, que é recompor sua influência sobre o poder Executivo federal.
O núcleo das análises é o destino que será dado aos votos que foram para a ex-ministra Marina Silva no primeiro turno. No entanto, há muita especulação sobre o significado da manifestação dos eleitores e muito desencontro nas opiniões em torno de algumas das disparidades reveladas pelas urnas (…).
Neste momento de transição entre os dois turnos da eleição presidencial, por exemplo, os jornais tentam empurrar para a opinião do público a tese de que todos os votos destinados a Aécio Neves e Marina Silva retratam um desejo majoritário de mudança. Então, nos editoriais e nos artigos de seus colunistas mais engajados, dá-se uma nova definição para essa suposta manifestação dos eleitores, com o intuito de nominar o candidato que seria o depositário desse desejo.
Essa manipulação fica mais clara após a declaração explícita de apoio a Aécio Neves feita pelo jornal O Estado de S.Paulo. Para o leitor típico do tradicional diário paulista, não há estranheza: quem lê o Estado não apenas espera que ele se declare contra o governo do PT, mas se regozija com cada linha que reafirma essa orientação ideológica.
O jornal é conservador desde sempre, produz e realimenta uma visão de mundo típica da elite paulista, e não há mal nenhum nisso. O problema está em fingir-se uma expressão da vontade popular, coisa que nenhum dos grandes diários representa.
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Fonte: Luciano Martins Costa, O círculo vicioso das manipulações – Observatório da Imprensa: 07/10/2014 . Também aqui.