A oposição a Francisco e às suas propostas

Durante o século XX nenhum Papa teve tantas resistências como Francisco, e todas elas são sinal de que o Papa está mudando a Igreja. As resistências provêm daqueles que não querem ser questionados e não querem mudar. Há algumas que se manifestaram publicamente, outras foram sussurradas e outras não foram expressas e se caracterizam pelo silêncio e pelo distanciamento. Por que o silêncio equivale a uma resistência? É uma atitude, como se não tivesse acontecido nada, como se o Papa não fosse o testemunho de um modelo que é preciso seguir.

 

“Estes são aqueles que resistem a Francisco”, revela Andrea Riccardi – Notícias: IHU On-Line 18/03/2014

“Durante o século XX nenhum Papa teve tantas resistências como Francisco”, e todas elas “são sinal de que o Papa está mudando a Igreja”. São palavras fortes e em certo sentido surpreendentes. Elas foram escritas pelo professor Andrea Riccardi, historiador da Igreja, em um comentário publicado na revista Famiglia Cristiana. O Vatican Insider o entrevistou para indagar a respeito. A entrevista é de Andrea Tornielli e foi publicada em 18/03/2014.

Você escreveu que durante o último século nenhum Papa teve “tantas resistências como Francisco”. Não lhe parece exagerado?
Fiz essas afirmações como historiador. Francisco encontra-se diante de resistências internas nas estruturas eclesiásticas, nos episcopados e no clero. Enquanto é evidente a aliança que se instaurou com o povo.

E as oposições que Paulo VI enfrentou, ou as mais recentes que Bento XVI teve que enfrentar?
O único Papa que teve uma forte oposição foi, certamente, Paulo VI. Mas naquela época estava se vivendo um momento de protestos generalizados que afetaram tanto a Igreja como a sociedade. Enquanto as oposições contra Bento XVI, que você justamente recorda, eram mais da opinião pública externa e internacional. Repito, as que Francisco enfrenta são, na minha opinião, mais fortes e provêm do interior.

Poderia indicar alguns exemplos?
Há algumas que se manifestaram publicamente, outras foram sussurradas e outras não foram expressas e se caracterizam pelo silêncio e pelo distanciamento. Há alguns que não suportam a menor insistência na pregação papal sobre temas éticos. Mas também o enfoque pastoral de Francisco, que coloca em discussão a forma de governar dos bispos, aos quais as pessoas dizem: “Por que não fazem como o Papa?” Não quero generalizar indevidamente, mas estou convencido de que estas resistências existem. Além disso, Francisco, nos primeiros meses do Pontificado, disse tudo o que pensa e indicou quais são os pontos sobre os quais se deve trabalhar e mudar. Não fez como Paulo VI, que se expressava a “conta-gotas”, tratando de ser equilibrado. As resistências provêm daqueles que não querem ser questionados e não querem mudar.

Por que o silêncio, na sua opinião, equivale a uma “resistência”?
É uma atitude, como se não tivesse acontecido nada, como se o Papa não fosse o testemunho de um modelo que é preciso seguir. Há alguns que destacam que Francisco é pouco “teólogo”. Dá-me vontade de rir quando penso naqueles que diziam que Bento XVI era muito “teólogo” (isto demonstra que o “Papa bom” sempre é o de antes). Claro, não é preciso dizer que estas resistências chegam daqueles que durante anos destacavam a importância da autoridade do Papa e da obediência ao Papa. É curioso que para alguns seja válido este raciocínio: se o Papa não é como eu digo e não faz o que eu digo, é um Papa pela metade. Mas o catolicismo não é uma ideologia, é uma força dinâmica que cresce na história. Quero repetir: não se deve generalizar, porque há muitos bispos muito entusiasmados, e nos lugares em que a mensagem de Francisco chegou (nem sempre chega a todos os lugares) há uma reação muito grande e positiva na vida da Igreja em nível popular.

Algumas das críticas mais duras chegam da galáxia de sítios e blogs do chamado mundo tradicionalista, mas também (pelo menos no caso italiano) dos círculos midiáticos-intelectuais, como no caso dos artigos publicados pelo jornal Il Foglio
Sim, mas os conteúdos que você indica são, de qualquer maneira, expressão compartilhada por setores do mundo eclesial. É uma reação de uma certa visão da sociedade secularizada na qual um cristianismo minoritário combate por certos valores éticos. Francisco, ao contrário, fala de um cristianismo do povo, mais missionário.

E como vê a reação dos movimentos diante do novo Pontificado?
O cristianismo não é uma ideologia, a Igreja não muda de “linha”, como os partidos políticos, mas, como disse, cresce na história. Os católicos são fiéis ao Papa desde Pio XII até Francisco. Isto significa ser católico. Do contrário, tudo se torna ideologia. E hoje há reduções e visões ideológicas que estão pulando. Também os movimentos devem se sintonizar com a Evangelii Gaudium e não auto-reproduzir-se a si mesmos.

Durante os primeiros meses de Pontificado houve alguns que prognosticavam (e em alguns casos pareciam esperá-lo) o final da chamada “lua de mel” entre o Papa, a imprensa e as pessoas. Ao contrário, parece continuar…
A lua de mel não acabou porque não é um fenômeno midiático, mas algo que vai muito além, pois tem muita substância. Claro, o passo necessário na Igreja é acolher o que Francisco oferece como testemunho e um modelo de evangelização e de pastoral que propõe. O modelo que um Papa que nasceu, viveu e foi bispo de uma megalópole como Buenos Aires propõe está verdadeiramente à altura dos desafios da nossa época.

 

Leia, abaixo, o original, em italiano

Riccardi: “Ecco chi resiste a Papa Francesco” – Andrea Tornielli: Vatican Insider 18/03/2014

«Nel Novecento un Papa non ha mai avuto tante resistenze come Francesco» e «le tante resistenze sono il segno che il Papa sta cambiando la Chiesa». Sono le parole forti e per certi versi sorprendenti che il professor Andrea Riccardi, storico della Chiesa, ha usato nell’ultimo editoriale su «Famiglia Cristiana». Vatican Insider l’ha intervistato per approfondire quelle osservazioni.

Lei ha scritto che nell’ultimo secolo nessun Papa ha avuto «tante resistenze come Francesco». Non le sembra di esagerare?
«Ho fatto quelle affermazioni da storico. Francesco si trova di fronte a resistenze interne alle strutture ecclesiastiche, agli episcopati e al clero. Mentre è evidente l’alleanza che si è instaurata con il popolo».

E le opposizioni a Paolo VI o quelle, più recenti e ben note, a Benedetto XVI?
«L’unico Papa che aveva avuto un’opposizione forte era stato, è vero, Paolo VI. Ma allora si viveva in una stagione di contestazioni generalizzate che attraversavano la Chiesa e al tempo stesso la società. Mentre per quanto riguarda le opposizioni a Benedetto XVI, che giustamente ha ricordato, erano espresse più dall’opinione pubblica esterna e internazionale. Ripeto, quelle verso Francesco sono a mi avviso più forti e sono soprattutto interne».

Può fare degli esempi di queste resistenze?
«Ci sono alcune resistenze che si sono manifestate pubblicamente, altre mugugnate, altre inespresse e caratterizzate dal silenzio e dal distacco. C’è chi non sopporta la minore insistenza della predicazione papale sui temi etici. Ma c’è anche l’approccio pastorale di Francesco che mette in discussione il modo di governare dei vescovi, che si sentono dire dalla gente: “Perché non fai come il Papa?”. Non voglio fare indebite generalizzazioni, ma sono convinto del fatto che queste resistenze ci sono. Del resto Francesco nei primi sei mesi di pontificato ha detto tutto quello che pensa, i punti sui cui lavorare e cambiare. Non ha fatto come Paolo VI, che si esprimeva col contagocce, cercando di assestare sempre un colpo al cerchio e uno alla botte. Le resistenze vengono da chi non vuol mettersi in discussione e non vuole cambiare».

Perché anche il silenzio per lei equivale a una «resistenza»?
«È un modo di fare come se nulla fosse accaduto, come se il Papa non testimoniasse un modello da seguire. C’è chi sottolinea che Francesco è poco “teologo”. Mi fa sorridere, se penso che prima si diceva che Benedetto XVI era “troppo teologo”, a dimostrazione del fatto che il Papa “buono” è sempre quello che c’era prima. Certo, bisognerà pure far notare che oggi queste resistenze arrivano da coloro che per anni hanno sottolineato l’importanza dell’autorità del Papa e dell’obbedienza al Papa. È curioso che per alcuni valga questo ragionamento: se il Papa non è come dico io e non fa quello che dico io, è un Papa a metà. Ma il cattolicesimo non è un’ideologia, è una forza dinamica che cresce nella storia. Voglio ripeterlo: non bisogna generalizzare, perché ci sono anche tanti vescovi entusiasti e là dove il messaggio di Francesco arriva (ricordiamo che non arriva sempre e dappertutto) c’è una grande reazione positiva e una ripresa di vita nella Chiesa a livello popolare».

Alcune delle critiche più accese al Papa arrivano dalla galassia di siti e blog del cosiddetto mondo tradizionalista, ma anche – è il caso italiano – da circoli mediatico-intellettuali, come nel caso degli articoli del quotidiano «Il Foglio»…
«Sì, però quei contenuti che lei cita sono comunque espressione condivisa da settori del mondo ecclesiale. È una reazione al venir meno di una certa visione della società secolarizzata nella quale un cristianesimo minoritario combatte per certi valori etici. Francesco invece parla di un cristianesimo di popolo, missionario».

E come giudica invece la reazione dei movimenti al nuovo pontificato?
«Il cristianesimo non è un’ideologia, la Chiesa non cambia linea come cambiava linea il PCUS, ma come ho detto, cresce nella storia. I cattolici sono fedeli al Papa da Pio XII a Francesco. Questo significa essere cattolici. Altrimenti si è ideologici. E oggi ci sono riduzioni e visioni ideologiche che stanno saltando. Anche i movimenti si devono sintonizzare con “Evangelii gaudium” e non auto-riprodurre se stessi».

Nei primi mesi di pontificato c’era chi prevedeva – e in qualche caso sembrava anche auspicare – la fine della cosiddetta “luna di miele” del Papa con i media e con la gente. Invece sembra continuare…
«La luna di miele non è finita perché non è un fenomeno mediatico ma qualcosa di ben più sostanzioso. Certo, il passo necessario nella Chiesa è recepire ciò che Francesco testimonia e un modello di evangelizzazione e di pastorale che propone. È un modello davvero all’altezza delle sfide dei nostri tempi proposto da un Papa che è nato, vissuto e ha fatto il vescovo in una megalopoli come Buenos Aires».

 

O texto  de Andrea Riccardi, na Famiglia Cristiana, em italiano

Chi resiste a papa Francesco – Andrea Riccardi: 17/03/2014

Non nascondiamolo: c’è chi cerca di ignorare il Papa e chi non vuole il cambiamento. Dentro e fuori la Chiesa.

La simpatia della gente per il Papa non si attenua dopo un anno. Francesco guida i cristiani alla riscoperta del Vangelo (domenica scorsa ha chiesto a tutti di leggerlo). Vuole che si esca dagli spazi abituali, dalle chiese, dai luoghi comuni, per comunicare la fede, incontrare la gente, soprattutto i poveri. Parla a tutti: vescovi, preti, comunità cristiane, laici, credenti in difficoltà, religiosi, suore… Nessuno escluso, anche se le storie e le responsabilità sono diverse.

La proposta è “uscire” con fede, come dice nell’Evangelii gaudium, suo vero programma. Trovo entusiasmante partecipare a questa “primavera”. Eppure, ci sono resistenze dentro la Chiesa. Perché? È contraddittorio che cristiani non gioiscano di questa stagione felice. Soprattutto è strano che taluni, dopo aver tanto parlato dell’autorità del Papa, non prestino attenzione a Francesco.

Taluni ignorano il Papa. Ci sono le resistenze di chi non vuole cambiare, non vuole vivere in maniera impegnata o semplicemente lavorare di più. Sembrano quelle del figlio maggiore della parabola del padre misericordioso: perché tanta attenzione al figliol prodigo? Perché aprire tanto alla gente?

Ma ci sono resistenze più strutturate. Si sottovaluta il discorso del Papa, troppo semplice, e lo si contrappone a quello di Benedetto XVI, più alto e dotto (così si va contro il sentire profondo del Papa emerito). Per una visione ideologica del cristianesimo, la Chiesa non cresce e si blocca in un modello o in una formula. Forse, non ci si rende conto delle gravi sfide in varie parti del mondo rivolte al cristianesimo.

Le tante resistenze sono il segno che il Papa sta cambiando la Chiesa. Lo storico sa, però, che nel Novecento un Papa non ha mai avuto tante resistenze come Francesco. Ci fu la forte critica post-conciliare a Paolo VI. Ma allora c’era una contestazione generale verso tutti. Si critica Bergoglio perché trascurerebbe i valori etici. Lui insiste che il suo problema è comunicare soprattutto il cuore del Vangelo. L’atteggiamento del Papa, non proclive al clericalismo, aprirebbe la strada alla critica (indisciplinata) dei fedeli verso i vescovi e i preti.

In realtà, la gente recepisce l’esempio del Papa come stimolo per tutti. Non è positivo creare un movimento di interesse alla Chiesa e alla fede? La verità è che il Papa, con i suoi interventi, ha aperto il cuore, ha rivelato pensieri, preoccupazioni e priorità. Non si è comportato in maniera politica con la Chiesa. La sua è una sensibilità pastorale. Chiede di condividerla in una rinnovata missione. Una proposta franca ed evangelica mette tutti di fronte alle proprie responsabilità. Così nascono le resistenze. Ma soprattutto un vasto popolo di Dio si è messo in movimento: verso un ascolto nuovo del Vangelo e verso la gente. Come non esserne contenti?

Este foi meu post de número 3000. Observatório Bíblico está online desde 7 de dezembro de 2005.

Kaiana, distro brasileira, começa a tomar forma

A equipe de desenvolvimento do projeto União Livre anunciou em fevereiro de 2014 a liberação da primeira versão alfa do Kaiana, distro brasileira, que, me parece, será uma retomada, melhorada, do descontinuado Big Linux. Essa versão é construída utilizando o Kaiana Iso Generator (KIG) 1.0.6, uma ferramenta de geração de sistemas a partir dos pacotes compilados de um repositório. No caso é utilizado o repositório Ubuntu, alguns repositórios extras e o repositório do Projeto União Livre. Os pacotes da base são do Ubuntu 14.04 e Kernel 3.13.0-11-generic. Suporte via Fórum União Livre. A versão alfa do Kaiana saiu em 26.02.2014.

Linux: The first alpha build of the upcoming Kaiana, a operating system designed by brazilian community of free software (União Livre). Release of Kaiana-Alpha1: February 26, 2014.

BigBruno, do Big Linux, escreveu no fórum em 14.03.2014:

O BigLinux acabou, a busca pelo sistema perfeito não: O projeto União Livre e Kaiana estão prontos para substituir o BigLinux.

Crise dos biblioblogs?

Penso que não. Há mudanças com o tempo. Só isso.

Este é um assunto que sempre vem à tona, o que mostra que a biblioblogosfera continua muito viva.

Li, sobre isso, interessante post de Claude Mariottini, publicado ontem: Are Biblioblogs Dying? [Os biblioblogs estão morrendo?]

Que por sua vez, comenta texto, com o mesmo título, de Brian LePort, em seu blog Near Emmaus.

Dê uma olhada.

Resenhas na RBL: 14.03.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Alan Appelbaum
The Rabbis’ King-Parables: Midrash from the Third-Century Roman Empire
Reviewed by Rachel Adelman

Hans Ausloos and Bénédicte Lemmelijn
The Book of Life: Biblical Answers to Existential Questions
Reviewed by Jordan M. Scheetz

Kevin Corrigan and John D. Turner, eds.
Plato’s Parmenides and Its Heritage, Volume 1: History and Interpretation from the Old Academy to Later Platonism and Gnosticism
Reviewed by Thomas P. Nelligan

Kevin Corrigan and John D. Turner, eds.
Plato’s Parmenides and Its Heritage, Volume 2: Reception in Patristic, Gnostic, and Christian Neoplatonic Texts
Reviewed by Thomas P. Nelligan

Tom Holmén, ed.
Jesus in Continuum
Reviewed by Sarah E. Rollens

Magnar Kartveit
Rejoice, Dear Zion! Hebrew Construct Phrases with “Daughter” and “Virgin” as Nomen Regens
Reviewed by Peter Bekins

Joseph A. Marchal, ed.
Studying Paul’s Letters: Contemporary Perspectives and Methods
Reviewed by Brian J. Robinson

Tyler D. Mayfield
Literary Structure and Setting in Ezekiel
Reviewed by Richard G. Smith

Ian Paul and David Wenham, eds.
Preaching the New Testament
Reviewed by Jay Harrington

Eckhard J. Schnabel
Acts
Reviewed by Daniel L. Smith

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Verba volant, scripta manent

Spoken words fly, written words remain

A manipulação da plateia: pequena análise dos resultados de uma pesquisa sobre a mídia impressa do Brasil – Mino Carta: CartaCapital 14/03/2014

O caminho da mídia impressa tende a ser o da análise qualificada, da lavra de quem tem autoridade para tanto, e do chamado “furo”, a informação exclusiva e reveladora da qual somente você dispõe. É no futuro deste jornalismo impresso de qualidade, ética e estética, que me permito acreditar. Infelizmente, o jornalismo brasileiro escolheu o caminho oposto, vergonhosamente sectário, manipulador da informação, incapaz de qualquer resquício de estilo literário. Não sei o que haveria de acontecer para evitar o desastre final.

Entrementes, palavras, no ar, se desvanecem. Escritos, porém, permanecem…

Leia Mais:
Internet cresce, mídia impressa encolhe

Você sabe o que é o Marco Civil da Internet?

Você sabe o que é o Marco Civil da Internet?

O Marco Civil da Internet é um projeto de lei que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres dos usuários da Internet. Ele vai funcionar como uma espécie de “Constituição da Internet”. A necessidade dessa “Constituição” veio sobretudo porque, após 18 anos de uso da Internet no Brasil, não há qualquer lei que estabeleça diretrizes para proteger os direitos do cidadão nas redes – que, hoje, estão constantemente ameaçados por uma série de práticas do mercado.

Leia o texto completo.

Leia Mais:
Marco Civil da Internet

Francisco: expectativas e desafios no segundo ano

:: O que seria da Igreja se Francisco fracassasse – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
E se o Papa Francisco fracassasse? Não há dúvida de que, por trás das aberturas reformistas do cardeal Kasper e de outros cardeais, esteja justamente o papa, mas o que aconteceria se as reformas desejadas não chegassem ao seu fim e as expectativas de uma nova primavera se revelassem apenas ilusões?  A análise é do teólogo italiano Vito Mancuso, ex-professor da Università Vita-Salute San Raffaele, de Milão, em artigo publicado no jornal La Repubblica, 14/03/2014 [Che ne sarebbe della Chiesa se fallisse Francesco].

:: Em seu segundo ano, Papa defronta-se com expectativas de que mudanças virão – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
O Papa Francisco marcou o primeiro aniversário de seu papado na quinta-feira (13/03/2014), período que o deixou tão célebre em todo o mundo que recentemente se sentiu obrigado a deflacionar-se da aura de “super-homem”. É um astro das capas de revista e das mídias sociais, louvado por sua personalidade acolhedora e não julgadora e por seu abraço aos pobres, bem como por sua determinação em reformar a burocracia ossificada do Vaticano. No entanto, este segundo ano provavelmente se mostrará mais desafiador, em parte por causa do próprio sucesso do pontífice. Ele levantou expectativas de que poderá trazer mudanças importantes à Igreja Católica de Roma – mesmo se as opiniões divergirem sobre quais mudanças são necessárias e quais Francisco realmente apoia. A reportagem é de Jim Yardleymarch, publicada pelo jornal New York Times, 12/03/2014.

:: Após um conclave que demandou reformas, um ano de “ar fresco” – Notícias: IHU On-Line 12/03/2014
“Um ano depois, as reformas de Bergoglio estão sendo muito mais profundas e amplas do que a maioria, se não todos, de seus eleitores poderia antecipar. O cardeal da Inglaterra Cormac Murphy-O’Connor assim diz: ‘Todos queríamos mudanças e reformas, mas não acho que algum de nós esperava tanto ar fresco!'”, escreve Gerard O’Connell, jornalista, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 08/03/2014.

:: O meu primeiro ano como papa. Entrevista com o Papa Francisco – Notícias: IHU On-Line 05/03/2014
Um ano se passou desde aquele simples “boa noite” que comoveu o mundo. O arco de 12 meses, assim entendidos – não só para a vida da Igreja – custa para conter a grande quantidade de novidades e os muitos sinais profundos da inovação pastoral de Francisco. Estamos em uma salinha de Santa Marta. Uma única janela dá para um pequeno pátio interno que descerra um minúsculo canto de céu azul. O dia está belíssimo, primaveril, quente. O papa sai de repente, quase de súbito, de uma porta, e tem um rosto relaxado, sorridente. Olha divertido para os muitos gravadores que a ansiedade senil de um jornalista colocou sobre uma mesa. “Funcionam? Sim? Bom”. A reportagem é de Ferruccio de Bortoli, publicada no jornal Corriere della Sera, 05/03/2014 [“Benedetto XVI non è una statua. Partecipa alla vita della Chiesa”].

:: Leonardo Boff: Francisco combina ternura e vigor – Observatório Bíblico 16/12/2013
Leonardo Boff analisa primeiro ano do Papa Francisco – Eduardo Febbro: Carta Maior 12/12/2013 – Nesta entrevista Leonardo Boff faz um lúcido balanço das esperanças suscitadas por Francisco, das perspectivas de transformação que se levantam no horizonte, dos atos já cumpridos e dos que virão. O teólogo brasileiro está convencido de que, com Francisco, chegou muito mais que um homem vindo de longe: com ele chegou ao Vaticano outra filosofia de vida, de política, outra prática pastoral, outra sociologia e outro cristianismo inspirados nas raízes do continente.

:: Como é ter o Papa Francisco como seu chefe? Depende de onde você trabalha – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
Como é vir para o trabalho todos os dias quando seu chefe é o papa? No momento em que se marca um ano desde a eleição do Papa Francisco, a resposta provavelmente depende de se você for um trabalhador experiente ou novato, e se concorda com as reformas da burocracia vaticana ou se fica saudoso das velhas práticas. A reportagem é de David Gibson, publicada pelo Religion News Service, 13/03/2014.

:: Papa Francisco: populista ou Teologia do Povo? – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
A um ano da chegada ao papado de Jorge Mario Bergoglio, em Roma e em outras partes do mundo, discute-se ainda qual é a corrente teológica que inspira Francisco. Para compreender de onde surgem os gestos e as ações do Papa é necessário escavar em seu passado. Ali se encontram pistas na chamada “Teologia do Povo”, cujos máximos expoentes o pontífice conheceu e apreciou. Em entrevista ao Vatican Insider o padre Antonio Grande, reitor do Colégio Sacerdotal Argentino de Roma, explicou as implicações desse pensamento. A entrevista é de Andrés Beltramo Álvarez e publicada no sítio Vatican Insider, 14/03/2014 [Papa Francisco: ¿teología del pueblo o populista?].

:: O conclave visto de perto – Notícias: IHU On-Line 13/03/2014
“Eu estava sentado ao lado dele, ele estava à minha direita, e trocávamos algumas pequenas meditações, em voz baixa, ao pé do ouvido…”. Assim começa, como uma filmagem ao vivo, o relato de outro protagonista do conclave que elegeu o primeiro papa latino-americano da história, um cardeal também desta parte do mundo, Cláudio Hummes, arcebispo emérito da diocese de São Paulo, Brasil. Um ao lado do outro, como já ocorria há muito tempo, no conclave de 2005, nos sínodos da última década, nas liturgias solenes, unidos por aquele critério inexorável que é a idade. A reportagem é de Alver Metalli, publicada no sítio Vatican Insider, 09/03/2014 [Bergoglio visto da vicino].

:: O conclave que mudou a Igreja – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
São as 17h34min do dia 12 de março de 2013 quando o mestre de cerimônias litúrgicas Guido Marini, com os movimentos medidos, legado dos ensinamentos do cardeal genovês Giuseppe Siri, anuncia com voz tímida “extra omnes“, “todos para fora” da Capela Sistina. Além dos 115 cardeais eleitores, do mais jovem (o indiano Isaac Cleemis Thottunkal, então com 53 anos) ao mais idoso (o cardeal alemão Walter Kasper, que completou 80 anos pouco depois do dia final do pontificado de Bento XVI, 28 de fevereiro), continuam na Capela Sistina apenas Marini e o cardeal maltês Prospero Grech, com mais de 80 anos, encarregado de iluminar os eleitores com uma última meditação. A reportagem é de Marco Ansaldo e Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 12/03/2014.

:: O conclave de Bergoglio – Notícias: IHU On-Line 15/03/2014
O que aconteceu na Sistina, entre os dias 12 à tarde e 13 de março de 2013, foi consequência dos intensos e francos debates que os cardeais (eleitores e não eleitores) tiveram uma semana antes do Conclave. Muitos, muitíssimos dos discursos cardinalícios enfatizavam a necessidade de uma clara mudança de direção na gestão de uma Cúria que parecia muito atingida pelas lutas internas e alguns grupos de poder. Inclusive, talvez, os meios de comunicação traçaram um panorama muito obscuro, porém os que de dentro do Vaticano se obstinavam a culpar os jornalistas (aqueles que viam somente o dedo que apontava o sol) tiveram uma desagradável surpresa nesse dia. Os purpurados de todo o mundo chegaram bem informados e com as ideias muito claras em relação às mudanças necessárias. A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 13/03/2014 [Il conclave di Bergoglio].

:: Primeiro ano do Papa Francisco reflete expectativas de mais mudanças – Dermi Azevedo: Carta Maior 14/03/2014
O primeiro ano de governo do papa Francisco reflete-se em um balanço positivo de sua atuação, com amplas expectativas de que mais mudanças sejam implementadas na Igreja Católica Romana. Que a tornem coerentes com  as conclusões do Concílio Vaticano II. O primeiro ano do papa Francisco é tema de análise na mídia de todo o mundo. Mas, o que mudou realmente com o papa argentino? A primeira mudança é de caráter teológico e político…

Resenhas na RBL: 06.03.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Jason David BeDuhn
Augustine’s Manichaean Dilemma, Volume 2: Making a “Catholic” Self, 388–-401 C.E.
Reviewed by Timothy Pettipiece

Hermann V. A. Kuma
The Centrality of  [haima] (Blood) in the Theology of the Epistle to the Hebrews: An Exegetical and Philological Study
Reviewed by James Harrison

Rubén Muñoz-Larrondo
A Postcolonial Reading of the Acts of the Apostles
Reviewed by Christina Petterson

Alissa Jones Nelson
Power and Responsibility in Biblical Interpretation: Reading the Book of Job with Edward Said
Reviewed by Peter-Ben Smit

Stanley E. Porter and Matthew R. Malcom, eds.
Horizons in Hermeneutics: A Festschrift in Honor of Anthony C. Thiselton
Reviewed by Donald A. Hagner

Daniel Lynwood Smith
The Rhetoric of Interruption: Speech-Making, Turn-Taking, and Rule-Breaking in Luke-Acts and Ancient Greek Narrative
Reviewed by Alex Damm

Holger Strutwolf and Klaus Wachtel, eds.
Novum Testamentum Graecum Editio Critica Maior, Parallelperikopen: Sonderband zu den synoptischen Evangelien
Reviewed by Thomas J. Kraus

James C. VanderKam
The Dead Sea Scrolls and the Bible
Reviewed by Don Garlington

Markus Vinzent
Christ’s Resurrection in Early Christianity and the Making of the New Testament
Reviewed by Howard Williams

Tzemah L. Yoreh
The First Book of God
Reviewed by Marvin A. Sweeney

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Internet cresce, mídia impressa encolhe

:: Ibope: internet dispara, jornais impressos afundam – Brasil 24/7: 07/03/2014
Levantamento nacional divulgado nesta sexta-feira 7 pelo ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social, Thomas Traumann, aponta internet como o meio de comunicação que mais cresce entre os brasileiros; um quarto da população já acessa a rede diariamente, com uma intensidade média de 3h39 minutos por dia; é mais tempo do que os telespectadores passam em frente à TV; crise da mídia impressa é total: 75% dos entrevistados afirmaram que não leem mais jornais; mídia mudou de forma veloz, radical e irreversível.

:: Internauta passa quase quatro horas por dia na web – Paulo Victor Chagas: Agência Brasil 07/03/2014
Apesar de ser acessada costumeiramente por menos de metade da população, a internet é o meio de comunicação que mais toma tempo dos brasileiros. De acordo com pesquisa divulgada hoje (7) pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR), o brasileiro gasta em média 3h41 do seu dia navegando na internet (…) Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014 – Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira, 26% das pessoas acessam a internet todos os dias. Percentual que se reduz à medida que diminuem os dias de acesso na semana, até atingir o mínimo de 4% de brasileiros que dizem entrar na internet pelo menos uma vez na semana.

:: TV é o meio de comunicação preferido dos brasileiros, revela pesquisa – Karine Melo: Agência Brasil 07/03/2014
A televisão é o meio predileto de comunicação dos brasileiros (76,4%), seguido da internet (13,1%). Os dados fazem parte  da Pesquisa brasileira de mídia 2014 – Hábitos de consumo de mídia pela população brasileira, divulgada hoje (7) pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República.

:: Mídia pública ainda não é lembrada por brasileiros – Paulo Victor Chagas: Agência Brasil 07/03/2014
Os meios de comunicação públicos ainda não são citados espontaneamente pela população. Os brasileiros não mencionam a TV Brasil nem a Rádio Nacional, por exemplo, quando perguntados qual emissora de TV ou estação de rádio mais acessam. Os dados são da Pesquisa Brasileira de Mídia, divulgada hoje pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR). De acordo com a publicação Hábitos de Consumo de Mídia pela População Brasileira, encomendada pela Secom e feita pelo Ibope Inteligência, programas da TV Brasil e emissoras de rádio da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) apenas são lembrados pelos cidadãos brasileiros quando seus nomes são estimulados pelos entrevistadores. A empresa foi criada em 2007 para fortalecer o caráter público e cidadão da mídia brasileira e é responsável pela Agência Brasil, por oito emissoras de rádio, pela TV Brasil, TV Brasil Internacional, Radioagência Nacional e Portal EBC. Com autonomia para definir a produção de programas, os veículos da EBC disseminam conteúdos jornalísticos, educativos, culturais e de entretenimento para levar informações de qualidade ao público.

Declarações de gente invisível

Isso existe. E: declarações de gente invisível podem ser inventadas e sustentadas… Isso é visível.

Dilma, Lula e as intrigas da mídia

Por Altamiro Borges: Blog do Miro – 04/03/2014

Talvez movidos pelas recentes pesquisas, que apontam a possibilidade de reeleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno em outubro próximo, eles resolveram jogar na divisão do campo governista. A Folha tucana liderou a campanha de fofocas, o que levou sua ombudswoman a criticar a cobertura. Para ela, o jornal abusou de declarações “off the record”, com base no anonimato e no sigilo da fonte, para instigar a cizânia. Vale conferir o seu artigo:

*****

Na segunda-feira (24), a Folha informava na capa que o ex-presidente Lula anda criticando o governo Dilma em conversas com políticos e empresários. Lula teria dito que confia na reeleição de sua ex-ministra, mas que ela precisa mudar em 2015. A atual equipe econômica estaria com o “prazo de validade vencido”.

A reportagem foi toda construída com declarações “off the record” (“fora dos registros”), feitas em condição de anonimato a pedido dos entrevistados. São citados “interlocutores do mundo político e empresarial”, pessoas da “equipe de Lula” e um “amigo próximo do ex-presidente”.

O segundo destaque de política, nesse mesmo dia, eram as preocupações de empresários com o intervencionismo na economia e com a formação do ministério de um eventual novo mandato de Dilma. Mais uma vez, tudo “off the record”. Os anônimos eram “líderes do agronegócio”, “o dirigente de uma grande indústria”, “banqueiros de peso” e “empreiteiros”.

Declarações anônimas são um instrumento importante do jornalismo, porque, muitas vezes, não há outra forma de obter uma informação valiosa. Só que seu uso não pode ser banalizado, deve ser um último recurso da reportagem.

Quando dá espaço a vozes sem dono ou crava uma informação baseada em “a Folha apurou…”, o jornal está exigindo um voto de confiança do leitor. É como se dissesse: “Não posso contar quem afirmou isso nem como consegui o dado, mas está correto, acredite”.

A informação “off the record” costuma ser negada no dia seguinte e aí o jornal garante que as fontes são “seguras”. No caso das críticas de Lula a Dilma, na própria segunda-feira, a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca: “Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir”.

O ideal é que a declaração anônima seja o ponto de partida de uma apuração maior, que o repórter busque documentos e entrevistas que comprovem o que foi dito. Nas reportagens sobre as ressalvas à gestão Dilma, dá para entender a dificuldade de convencer o entrevistado a mostrar a cara, mas é inegável que textos assim, sem nenhum nome citado, parecem intriga.

Para diminuir essa má sensação, o jornal deveria explicar por que aceita reproduzir declarações de gente invisível. Algo na linha “a Folha aceitou o anonimato porque os empresários temem represálias do governo” ou “a Folha ouviu quatro petistas e dois banqueiros, que não revelaram seus nomes porque Lula pediu sigilo nas conversas”.

Aposto que, se exigir que o “off” seja justificado, o jornal constatará que ele é, muitas vezes, dispensável. A presença de anônimos deveria reduzir-se ao mínimo necessário.

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Apesar das ponderadas críticas da ombudswoman, a Folha não fez qualquer autocrítica e manteve sua linha de “intrigas”. O mesmo ocorreu em outros veículos. A coluna de futricas de Felipe Patury, na revista Época, chegou a afirmar que “quase metade dos deputados do PT defende ‘Volta Lula”, sem apresentar provas. Até Nelson Motta, que deixou de lado suas críticas musicais para virar um franco-atirador da oposição, escreveu no jornal O Globo, na sexta-feira (28), que “alguns oposicionistas já preferem até a volta de Lula aos riscos da continuação de Dilma. Aceitam abrir mão de um candidato de oposição em favor de Lula só para se livrar de Dilma e de sua equipe, seu estilo e sua gestão econômica”.

O tucaninho disfarçado de colunista global afirma, no maior cinismo, que “os mais cínicos dizem que teria saído mais barato ao país ter dado um terceiro mandato a Lula”. Na sua visão tacanha – que beira o machismo –, Dilma “tem ideias próprias [sobre a economia], é ‘desenvolvimentista’ com DNA marxista/brizolista”. Para ele, a proposta do “volta Lula” decorre dos erros da atual presidenta. “A tragédia anunciada da Venezuela e o avanço da Argentina para o abismo confirmam a falência do modelo bolivariano e o desastre do kirchnerismo, que têm em comum, além do esquerdismo e da incompetência na gestão econômica, a perseguição à imprensa e aos adversários políticos”.

Diante da onda de intrigas da mídia, a própria presidenta Dilma Rousseff fez questão de rechaçar os boatos. Direto de Bruxelas, onde participou da Cúpula Brasil-União Europeia, ela afirmou em entrevista aos jornalistas brasileiros: “Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula. Mas vocês não vão conseguir… A imprensa é livre e tem direito de expressão e eu e o presidente Lula não temos divergências a não ser as normais”. Apesar do desmentido categórico, a Folha tucana estampou o título canalha na matéria: “Dilma minimiza divergências com Lula”. Ela não minimizou, mas negou. Os conselhos de Suzana Singer não servem mesmo para nada!