Alguns livros sobre o Apocalipse

Arrumei ontem uma pequena bibliografia sobre o livro do Apocalipse para um ex-aluno. Apenas uma meia dúzia de livros em português publicados por editoras brasileiras, alguns traduzidos, outros por aqui escritos. As apresentações dos livros são das editoras. Talvez esta lista possa ser útil para algum leitor do blog, embora o Apocalipse [do Novo Testamento] não seja meu campo de estudos.

Recomendo, sobre a apocalíptica em geral e sobre a apocalíptica judaica, a leitura de meu artigo online Apocalíptica: Busca de um Tempo sem Fronteiras, com uma consulta à bibliografia, em português e inglês, no final do texto. Pode ser útil também ler meu artigo, publicado pela Vozes, Paideia grega e Apocalíptica judaica. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 113, p. 11-22, 2012.

ANDRADE, A. L. P. Eis que faço novas todas as coisas: teologia apocalíptica. São Paulo: Paulinas, 2012, 128 p.
Neste livro Aíla Luzia Pinheiro de Andrade mostra o desejo profundo da comunidade joanina de um novo tempo, um tempo de paz e de liberdade para os cristãos professarem a sua fé. A autora  desenvolve em cinco capítulos o essencial sobre a apocalíptica: o primeiro capítulo apresenta o sentido da revelação, que é o propósito da apocalíptica, e o contexto histórico conflituoso onde ela aparece; o segundo capítulo indica algumas características teológicas que são comuns a judeus e cristãos, e o que é específico de cada uma; o terceiro capítulo aborda os escritos canônicos do Primeiro Testamento, mais os apócrifos e escritos do Mar Morto; o quarto capítulo apresenta os escritos canônicos do Segundo Testamento e os apócrifos que surgiram contemporânea e posteriormente; o quinto e último capítulo dá um destaque à “A teologia do Apocalipse de João”. Situa-a no seu contexto histórico e desenvolve alguns elementos centrais dessa teologia.

BORTOLINI, J. Como ler o livro do Apocalipse: resistir e denunciar. 9. ed. São Paulo: Paulus, 1997, 192 p. – ISBN 853490345X.
As chaves usadas nesta obra mostram que o livro do Apocalipse é um livro de denúncia e resistência, que convida a celebrar e a testemunhar com urgência, na esperança de que se realize, aqui e agora, um novo céu e uma nova terra, fontes de vida e felicidade para todos.

HOWARD-BROOK, W.; GWYTHER, A. Desmascarando o imperialismo: interpretação do Apocalipse ontem e hoje. São Paulo: Paulus, 2003, 360 p. – ISBN 8534919186.
Esta obra proporciona recursos para uma interpretação do Apocalipse fiel ao seu contexto original (“ontem”) e significativo agora (“hoje”). Para isso, os autores examinaram as raízes e os ramos da literatura apocalíptica em geral, bem como o ambiente específico do Apocalipse no Império Romano do século I d.C. Com esse pano de fundo em mente, analisam o Apocalipse tematicamente, procurando responder ao que parece ser a preocupação central do texto em si e dos leitores fiéis e inteligentes dos dias atuais. Assim, este livro é um passo no sentido de recuperar a força do Apocalipse para os leitores cristãos de hoje. Ao mesmo tempo que absorve a literatura erudita, leva em conta todas as pessoas intrigadas com a força do Apocalipse e que estejam discernindo com sinceridade qual é o chamado para suas vidas.

KRAYBILL, J. N. Culto e Comércio Imperiais no Apocalipse de João. São Paulo: Paulinas, 2009, 376 p. – ISBN 9788535611359.
O autor do Apocalipse vivia na ilha de Patmos, onde enfrentava uma situação de marginalização, ele ou os cristãos da região. No meio do intenso comércio por mar, sofriam as influências sociais, econômicas e religiosas de Roma (Babilônia), cheia de luxo, idolatria e poder. Por isso, João advertia os cristãos para que rompessem ou evitassem laços econômicos e políticos com Roma, visto que as instituições e as estruturas do Império Romano estavam repletas de submissões profanas a um imperador que se proclamava divino (ou era tratado como tal). A blasfêmia do culto aos imperadores do fim do século I era ofensiva a João e a outros monoteístas zelosos. Mais propriamente, João acreditava que a ordem política de Roma era totalmente corrupta e voluntariamente se separou dela. Era hostil aos judeus e também aos cristãos que, de algum modo, adaptavam-se a práticas idólatras da sociedade imperial romana. Neste livro, o autor examina a maneira como o comércio e o culto imperiais se misturaram no mundo romano do século I e como João de Patmos achava que os seguidores de Jesus deviam reagir. J. Nelson Kraybill é presidente do Associated Mennonite Biblical Seminary, em Indiana, USA e a obra original foi publicada em 1999.

MATEOS , M. D. ; ARENS, E. Apocalipse, a força da esperança: estudo, leitura e comentário. São Paulo: Loyola, 2004, 384 p. – ISBN 9788515026456.
A linguagem colorida e cheia de símbolos de que é feito este livro, escrito por João, tem servido para justificar esperanças e desesperos. Por motivos óbvios, nós preferimos ficar com a esperança.

MESTERS, C. Esperança de um povo que luta: o Apocalipse de São João – uma chave de leitura. São Paulo: Paulus, 1997, 84 p. – ISBN  8534901449.
O autor reúne as informações deixadas por João, ao longo das páginas do Apocalipse. Depois as apresenta como chave de leitura para este livro considerado tão misterioso e estranho. Íntima introdução e direcionamento hermenêutico para a leitura satisfatória e proveitosa do Apocalipse.

MESTERS, C.; OROFINO, F. Apocalipse de São João. A teimosia da fé dos pequenos. 3. ed. Vozes: Petrópolis, 2008, 392 p. – ISBN 8532628052.
Este livro é destinado aos agentes de pastoral que se reúnem regularmente para estudar em grupo a Bíblia. O comentário procura ajudar o cristão de hoje a ler com inteligência o livro do Apocalipse e a manter-se firme no seguimento do Cordeiro (o Redentor), sem vacilar na luta contra os poderes da Besta (o poder contrário a Cristo).

MIRANDA, V. A. O caminho do cordeiro: representação  e construção de identidade no Apocalipse de João. São Paulo: Paulus, 2011, 200 p. – ISBN 9788534921428.
No primeiro capítulo deste livro, o autor se deterá em questões de suporte para o restante da obra. O texto do Apocalipse será relacionado à situação histórico-social das comunidades destinatárias, e questões como o papel da literatura na construção do mundo e na formação da identidade sectária também serão discutidas no capítulo inicial. O seguinte girará em torno da análise específica do episódio do Cordeiro e os 144 mil homens sobre o Monte Sião, concentrando esforços na compreensão de Apocalipse 14,1-5, com o auxílio de instrumentos de análise sincrônica, para entender a rede de tradições e intertextos presentes na passagem. Os dois momentos finais discutirão os elementos de identidade apontados no episódio de Apocalipse 14,1-5 e aplicados no Apocalipse como um todo, tanto a identidade relacionada com o contexto litúrgico quanto a identidade sectária que se manifestaria no cotidiano das relações com a sociedade e com outros grupos religiosos.

PRIGENT, P. O Apocalipse. São Paulo: Loyola, 1993, 455 p. – ISBN 9788515008742
Neste comentário Pierre Prigent, professor da Faculdade de Teologia Protestante de Estrasburgo, propõe que se leia o Apocalipse não como a predição de uma história linear, e sim, como uma coleção de “sonhos” relacionados, todos eles, com o momento presente (do século I e também de hoje…). Interpretação decididamente antimilenarista, mas profundamente concorde com o espírito da literatura joaneia, como o autor mostra pelas frequentes aproximações ao evangelho e às cartas de João.

O obscurantismo cultural e científico está vivo

Por incrível que pareça, estamos atravessando, neste início do século 21, uma onda de obscurantismo cultural e científico sem precedentes. Ela tem origem, principalmente, nos Estados Unidos, mas está se propagando pelo restante do mundo. Ao mesmo tempo em que os físicos estão conseguindo desvendar os mistérios da natureza com a descoberta do bóson de Higgs – “a partícula de Deus” -, a cientologia avança nos Estados Unidos e a teoria da evolução de Darwin é questionada nas escolas de vários Estados daquele país. Algumas dessas crenças têm origem em pequenos grupos religiosos retrógrados que exploram a boa-fé de pessoas de baixo nível educacional, mas outras têm claramente motivações mais perversas e até interesses comerciais. A cientologia, em particular, é considerada uma religião nos Estados Unidos, sendo, portanto, isenta do pagamento de impostos. Alguns de seus ensinamentos atingem o nível do absurdo ao afirmarem que bilhões de seres de outras galáxias se apossaram dos seres humanos há dezenas de milhões de anos, quando ainda nem havia seres humanos, e continuam neles até hoje.

Quem diz isso é o físico José Goldemberg em artigo publicado em O Estado de S. Paulo em 20/08/2012, aqui citado a partir de Notícias: IHU On-Line, de 22/08/2012.

Leia Mudanças climáticas e os ‘céticos’.

Leia Mais:
A ótica da evolução cósmica nos devolve esperança

A corrida armamentista do consumo

Você sabe o que são bens posicionais?

Não?

Então leia a entrevista Nem sei se posso, mas quero, do economista Eduardo Giannetti da Fonseca publicada em O Estado de S. Paulo em 19/08/2012 e reproduzida por Notícias IHU em 22/08/2012.

Ele diz, por exemplo:

“O filósofo francês Malebranche dizia que o desejo mais ardente das pessoas é conquistar um lugar de honra na mente dos seus semelhantes. Essa é a ideia do bem posicional: o proprietário pensa que as pessoas passam a respeitá-lo e admirá-lo mais porque ele pode desfilar um carrão, uma grife, um luxo”.

“Estamos vivendo uma corrida armamentista do consumo, pois o bem posicional sempre se renova. Isto é, no momento em que se democratiza o acesso a um bem de consumo, outros novos são inventados. É como uma corrida armamentista: sempre teremos novos e diferenciados objetos de desejo. Primeiro é um tênis de marca, depois um carro importado, um iate, um jatinho, uma viagem a Marte. A corrida armamentista sempre se renova. Não dá para desmontar totalmente as armadilhas dessa corrida, mas podemos almejar uma sociedade mais madura e marcada por uma pluralidade de valores. Assim nem todos estariam competindo na raia estreita, por um carro x ou y. Deveríamos conquistar um lugar de honra na sociedade mais pelo que somos e menos pelo que possuímos”.

Fonte: Notícias: IHU On-Line 22/08/2012