CEBs: esta é a opção para a Igreja Católica no Brasil

É a proposta de Sérgio Ricardo Coutinho, Professor do Curso de Pós-Graduação em História do Cristianismo Antigo na UnB e de História da Igreja no Instituto São Boaventura, de Brasília, e Presidente do Centro de Estudos em História da Igreja na América Latina (Cehila-Brasil), ao analisar o declínio do catolicismo no Brasil, divulgado pelo Censo 2010.

Censo 2010 é uma boa oportunidade para a Igreja Católica

Os dados confirmam o que sociólogos, teólogos e cientistas da religião já suspeitavam: a continuidade do processo de declínio católico e do crescimento evangélico. Parece-nos ser momento oportuno para uma breve reflexão sobre as opções adotadas pela Igreja nestes anos em vista de estancar a sangria, como também momento oportuno para rever opções em vista daquilo que o Documento de Aparecida chamou da necessária “conversão pastoral”.

Conforme analistas, as regiões onde o Catolicismo mais decresceu foram naquelas de “recepção de migrantes”, seja nas fronteiras agro-minerais do Norte e do Centro-oeste, seja nas periferias dos grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro. Segundo eles, nestas regiões, formaram-se grandes “bolsões de pessoas socialmente deslocadas” e carentes de um senso de comunidade e foi justamente junto destes que os evangélicos pentecostais atuaram com vigor. Enquanto isso, as regiões Nordeste e Sul, doadoras de migrantes para aquelas regiões, sofreram perdas bem menores nos números de católicos. Como a Igreja Católica atuou para acompanhar tanto a mobilidade territorial e, principalmente, a mobilidade religiosa?

O sociólogo da religião, Ricardo Mariano, é categórico ao afirmar que a estratégia adotada pela Igreja nestes últimos anos visando deter o avanço evangélico falhou: “Liderada pela Renovação Carismática e apoiada na criação de redes de TV e no evangelismo midiático, a reação católica à expansão pentecostal fracassou”. Mas, além de investir nesta estratégia, a Igreja continuou com outra prática ainda de épocas de Cristandade: a centralidade das estruturas jurídico-canônicas.

Segundo dados do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), organismo ligado à CNBB, em 20 anos (1990-2010) a Igreja investiu fortemente na criação de novas paróquias e registrando um crescimento na ordem de 43%; concomitantemente, investiu muito na criação de novos ministros ordenados (presbíteros e diáconos). O número de padres teve um crescimento de 55% no período, enquanto que os diáconos tiveram um verdadeiro boom neste mesmo período chegando ao percentual de 329% (!).

Além destes números, não podemos esquecer que o episcopado brasileiro tornou-se o maior numericamente em toda a Igreja Católica nos últimos anos e, em função disto, também investiu na criação de novas dioceses, saltando de 255 em 1990 para 276 em 2010 (crescimento de 8%).

Segundo ainda os dados do CERIS, podemos prestar a atenção na localização destes “investimentos” e suas incongruências. Nas Regiões Norte e Centro-oeste, onde o evangelismo pentecostal cresceu muito entre os migrantes, a proporção de aumento de padres foi de 3% e 9%, respectivamente. Já a região Sudeste, por outro lado, teve um crescimento de 45% (!) no número de presbíteros. Este número é acompanhado pelo aumento de paróquias. Nos regionais Leste 2 (Minas Gerais) e Sul 1 (São Paulo) da CNBB, regionais de maior número de dioceses no Brasil, o crescimento de paróquias, entre 1994 e 2010, chegou a quase 36% e 47%, respectivamente.

O que se pode inferir destes dados é que as opções pastorais da Igreja Católica não criaram o “senso de comunidade” entre as “pessoas socialmente deslocadas”. Percebe-se este mesmo fenômeno em relação à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que experimentou um decréscimo no número de seus adeptos em 10%. A explicação dada pelos analistas é que seus mega-templos e redes de TV desfavorecem uma sociabilidade fraterna e comunitária, daí o crescimento de “pequenas igrejas” formadas por até 30 pessoas.

O Censo 2010 é mais um sinal que confirma a convocação feita pelos bispos latino-americanos em 2007, na Conferência de Aparecida, para a necessária “conversão pastoral” em vista de uma Igreja verdadeiramente missionária. Como também vai de encontro à uma das “urgências” da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: por uma “Igreja: comunidade de comunidades”. De fato, o CERIS não tem nenhum levantamento para a quantificação da criação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), mas fica evidente a falta de vontade política do episcopado brasileiro e a demora em sua “conversão pastoral” para sair da pastoral de mera conservação, que definitivamente não atende mais a realidade atual, para uma verdadeira pastoral missionária.

O que os dados indicam é que existe sim uma saída, e a Igreja Católica no Brasil já a tinha experimentado com um investimento forte no passado, e que nos parece ser de muita atualidade: a criação de mais e mais comunidades eclesiais de base (CEBs) coordenadas por leigos e leigas.

Fonte: Notícias IHU: 03/07/2012

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Morreu o teólogo José Míguez Bonino

Perda de José Míguez Bonino deixa lacuna na teologia latino-americana

“A morte do teólogo metodista argentino José Míguez Bonino, aos 88 anos, no sábado, 30 de junho, deixa um sentido vazio na teologia latino-americana, de modo especial na teologia evangélica, ecumênica e na reflexão sobre o amor preferencial de Deus pelos pobres.

Bonino, como lembrou a nota da Iglesía Evangelica del Río de la Plata (IERP), foi pastor metodista, teólogo da Libertação – com artigos e livros publicados, entre os quais se destaca ‘Rostos do Protestantismo Latino-Americano’ – professor emérito do Instituto Superior Evangélico de Estudos Teológicos (ISEDET). Ele deixa significativa contribuição à tradição das igrejas evangélicas do continente.

Bonino tinha uma leitura abrangente da realidade latino-americana, substituía discriminações de qualquer natureza por diálogo franco – algumas vezes duros, como com Moltmann –, mas sempre propositivo, a partir de princípios e sempre com muitas perguntas. Ele deixa a marca de teólogo sério, que integrava elementos conceituais aparentemente contraditórios, mas os superava com o esforço de estudioso, inquieto e sem fugir às grandes questões.

Defendia a teologia como discurso legítimo, destemido, com perguntas e respostas a seu tempo, às igrejas, e a todos que postulavam diálogos claros, com as respostas obtidas e as ainda por perseguir. Dele se aprendeu que ‘toda teologia que mereça tal nome parte da realidade e a ela retorna’. A comunidade ecumênica fica órfã desse pensador e decano dos Teólogos Evangélicos Latino-americanos”.

 

La pérdida de José Míguez Bonino deja una laguna en la teología latinoamericana

“La muerte del teólogo metodista argentino José Míguez Bonino, a los 88 años, el sábado 30 de junio, deja un sentido vacío en la teología latino-americana, de modo especial en la teología evangélica, ecuménica y en la reflexión sobre el amor preferencial de Dios por los pobres.

Bonino, como recuerda la nota de la Iglesia Evangélica del Río de la Plata (IERP), fue pastor metodista, teólogo de la Liberación – con artículos y libros publicados, entre los cuales se destaca ‘Rostros del Protestantismo Latino-Americano’ – profesor emérito del Instituto Superior Evangélico de Estudios Teológicos (ISEDET). Deja significativa contribución a la tradición de las iglesias evangélicas del continente.

Bonino tenía una lectura abarcativa de la realidad latino-americana, substituía discriminaciones de cualquier naturaleza por diálogo franco – algunas veces duros, como con Moltmann –, mas siempre propositivo, a partir de principios y siempre con muchas preguntas. Él deja la marca de teólogo serio, que integraba elementos conceptuales aparentemente contradictorios, pero los superaba con el esfuerzo de estudioso, inquieto y sin huir de las grandes cuestiones.

Defendía la teología como discurso legítimo, audaz, con preguntas y respuestas a su tiempo para las iglesias, y a todos que postulaban diálogos claros, con las respuestas obtenidas y las aún por perseguir. De él se aprendió que ‘toda teología que merece el nombre de tal parte de la realidad y a ella retorna’. La comunidad ecuménica queda huérfana de ese pensador y decano de los Teólogos Evangélicos Latinoamericanos”.

Fonte:  Antonio Carlos Ribeiro –  ALC – 02/07/2012