As religiões dos brasileiros: Censo 2010

Foram divulgados no dia 29 de junho, pelo IBGE, os dados do Censo Demográfico de 2010 sobre o perfil religioso no Brasil. A imprensa deu razoável cobertura ao tema.

Embora eu ache que, do ponto de vista cristão, deveríamos estar muito mais preocupados com o Evangelho do que com as práticas religiosas e a pertença a este ou aquele agrupamento religioso, aí vão alguns links para leitura:

:: Catolicismo no Brasil em Declínio: os dados do Censo de 2010 – Faustino Teixeira: Notícias: IHU 30/06/2012
Os dados que acabam de ser apresentados pelo IBGE com respeito às religiões brasileiras no Censo Demográfico de 2010 confirmam a situação de progressivo declínio na declaração de crença católica. Os dados apresentados indicam que a proporção de católicos caiu de 73,8% registrados no censo de 2000 para 64,6% nesse último Censo, ou seja, uma queda considerável. Trata-se de uma queda que vem ocorrendo de forma mais impressionante desde o censo de 1980, quando então a declaração de crença católica registrava o índice de 89,2%. Daí em diante, a sangria só aumentou: 83,3% em 1991, 73,8 % em 2000 e 64,6% em 2010. O catolicismo continua sendo um “doador universal” de fiéis, ou seja, “o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos”, para utilizar a expressão dos antropólogos Paula Montero e Ronaldo de Almeida. A redução católica ocorreu em todas as regiões do país, sendo a queda mais expressiva registrada no Norte, de 71,3% para 60,6%. O estado que apresenta o menor percentual de católicos continua sendo o do Rio de Janeiro, com 45,8% (uma diminuição com respeito ao censo anterior que apontava 57,2%). O estado brasileiro com maior percentual de católicos continua sendo o Piauí, com 85,1% de declarantes (no censo anterior o registro era de 91,4%). Os dados indicam que o Brasil continua tendo uma maioria católica, mas se a tendência apontada nesse último censo continuar a ocorrer teremos em breve uma significativa alteração no campo religioso brasileiro, com impactos importantes em vários campos. O novo censo aponta um dado que já era previsível, a continuidade do crescimento evangélico no Brasil…

:: Igreja Católica tem queda recorde e perde 465 fiéis por dia em uma década – Luciana Nunes Leal e Clarissa Thomé: O Estado de S. Paulo, em Notícias: IHU 30/06/2012
Dados do Censo indicam que o total de católicos diminuiu 1,4%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Em 2010, havia 123,2 milhões de católicos no País; em 2000, eram 124,9 milhões. Em dez anos, a comunidade católica perdeu uma população equivalente à de Curitiba. Em 2010, 64,6% da população brasileira era católica. Houve uma queda de 12,2% em relação aos 73,6% de 2000, a maior perda proporcional desde o início da contagem da população, em 1872. Há 50 anos, a religião católica tinha predomínio absoluto, com 93% da população. Se for mantido o ritmo da última década, em 20 anos os católicos serão menos da metade da população. O crescimento dos evangélicos é a maior causa da queda dos católicos, embora também tenham crescido os brasileiros que se declaram sem religião e os de religiões minoritárias, como o espiritismo. Divididos em três grandes categorias, os evangélicos seguem crescendo, mas em ritmo bem menor que na década anterior e chegaram a mais de um quinto da população brasileira, com 22,2%, ou 42,2 milhões de fieis. Houve um aumento em números absolutos de 16 milhões de evangélicos entre 2000 e 2010 – ou 4.383 novos fiéis por dia. O aumento dos evangélicos é puxado pelos pentecostais, principalmente os da Assembleia de Deus, e por um novo fenômeno do mundo evangélico, o fiel “independente”, que segue a religião, mas não se vincula a nenhuma igreja específica. A pulverização dos evangélicos acompanha o surgimento de novas igrejas a cada dia…

:: Em marcha, a transformação da demografia religiosa do país – Ricardo Mariano: Folha de S. Paulo 30/06/2012
O Censo confirma as tendências de mudança radical da demografia religiosa nas últimas décadas: queda da hegemonia católica, avanço vertiginoso dos evangélicos e diversificação religiosa. Liderada pela Renovação Carismática e apoiada na criação de redes de TV e no evangelismo midiático, a reação católica à expansão pentecostal fracassou. O inchaço da categoria “evangélica não determinada” reduziu artificialmente o crescimento pentecostal. Mostra limitações do Censo, mas também pode estar sinalizando a expansão da privatização religiosa nesse grupo, situação em que o crente mantém a identidade religiosa e a crença, mas opta por fazê-lo fora de instituições. Tal privatização resultaria da massiva difusão do individualismo, da crescente busca de autonomia em relação aos poderes eclesiásticos, à imposição de moralidades tradicionalistas, aos elevados custos do compromisso religioso. Ela pode ter ocorrido, em especial, entre indivíduos dos grupos mais beneficiados pelo crescimento da renda e das oportunidades no mercado de trabalho e no ensino superior… (este texto pode ser lido também aqui).

:: Embora maioria da população seja cristã, país tem pluralidade religiosa formada por grupos minoritários – Thais Leitão: Agência Brasil 29/06/2012
Embora os católicos continuem sendo maioria no país, somando mais de 123 milhões de brasileiros, os dados do Censo Demográfico 2010 – Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência, divulgado hoje (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam uma grande diversidade religiosa entre a população brasileira. Na última década, além dos evangélicos, grupo que mais cresceu no período, passando de 15,4% para 22,2% e totalizando 42,3 milhões de pessoas no país, também tiveram expansão os espíritas, que passaram de 1,3% para 2% e somaram 3,8 milhões em 2010; os que se declararam sem religião, que subiram de 7,4% para 8%, ultrapassando os 15 milhões; e o conjunto pertencente a outras religiosidades, que cresceu de 1,8% para 2,7%, totalizando pouco mais de 5 milhões de brasileiros. Os adeptos da umbanda e do candomblé mantiveram-se em 0,3% ao longo da década, representando quase 590 mil pessoas. De acordo com o pesquisador da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, Cláudio Crespo, os números apontam que, embora a tradição cristã seja forte no país, há um convívio com grupos minoritários… (este texto pode ser lido também aqui).

:: Urbanização e intransigência são causas apontadas – José Maria Mayrink: O Estado de S. Paulo, em Notícias: IHU 30/06/2012
Os dados do Censo 2010 surpreendem estudiosos do fenômeno religioso e a cúpula da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), porque a queda da porcentagem e do número absoluto de católicos foi maior do que se esperava. O que mais assusta é a constatação de que a Igreja Católica perdeu 1,7 milhão de seguidores em dez anos, enquanto os evangélicos continuaram aumentando, embora em ritmo inferior ao da década anterior, de 1990 a 2000. “Se permanecer essa tendência, é possível que daqui a uns 20 anos os católicos não cheguem à metade da população”, admite o padre João Batista Libânio, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Essa redução, diz ele, deve ser analisada no contexto cultural de uma pós-modernidade líquida e fragmentada. “Uma instituição compacta como a Igreja Católica sofre essa fragmentação (perde terreno para outras igrejas), na medida em que não abre mão de seus princípios.” O número de católicos só deixaria de cair se a Igreja tivesse flexibilidade em questões da moral sexual, por exemplo. Como a Igreja não cede em questões relativas a aborto, contracepção, divórcio e segunda união, os descontentes buscam outras religiões. Evangélicos pentecostais crescem, pois oferecem produtos e não uma instituição. Essa realidade não deveria assustar a quem analisa a perda de fiéis nessa perspectiva, diz padre Libânio…

Rio+20: a fraqueza teórica do documento final

Insuficiências conceptuais da Rio+20 – Leonardo Boff: 01/07/2012

“Não corresponde à realidade dizer que a Rio+20 foi um sucesso. Pois não se chegou a nenhuma medida vinculante nem se criaram fundos para a erradicação da pobreza nem mecanismos para o controle do aquecimento global. Não se tomaram decisões para a efetivação do propósito da Conferência que era criar as condições para o “futuro que queremos”. É da lógica dos governos não admitirem fracassos. Mas nem por isso deixam de sê-lo. Dada a degradação geral de todos os serviços ecossistêmicos, não progredir significa regredir.

No fundo, afirma-se: se a crise se encontra no crescimento, então a solução se dá com mais crescimento ainda. Isso concretamente significa: mais uso dos bens e serviços da natureza o que acelera sua exaustão e mais pressão sobre os ecossistemas, já nos seus limites. Dados dos próprios organismos da ONU dão conta que de desde a Rio 92 houve uma perda de 12% da biodiversidade, 3 milhões de metros quadrados de florestas foram desmatados, 40% mais gases de efeito estufa foram emitidos e cerca da metade das reservas de pesca mundiais foram exauridas.

O que espanta é que o documento final e o borrador não mostram nenhum sentido de autocrítica. Não se perguntam por quê chegamos à atual situação, nem percebem, claramente, o caráter sistêmico da crise. Aqui reside a fraqueza teórica e a insuficiência conceptual deste e, em geral, de outros documentos oficiais da ONU. Elenquemos alguns pontos críticos”.

Leia o texto completo.

Este artigo pode ser lido também em Notícias: IHU ou na Carta Maior.

E não se esqueça do alerta de Leonardo: Se a humanidade não definir outra maneira de habitar a Terra – esse era o clamor da Cúpula dos Povos, os representantes da sociedade civil mundial – não sairemos da presente crise. Na pior das hipóteses, a Terra poderá continuar mas sem nós.

Leia Mais:
Rio+20 no Observatório Bíblico