Os Estados Unidos deixaram claro que não iriam permitir a condenação de Israel

Conselho da ONU lamenta sem condenar ataque ao Líbano

Os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) negociaram na tarde deste domingo uma resposta ao bombardeio israelense da população libanesa de Qana, tendo praticamente descartado a opção de “condenar” a morte de pelo menos 56 civis, como havia pedido o secretário-geral Kofi Annan, por causa da oposição de Washington.

A presidência francesa do Conselho apresentou um texto de consenso no qual o Conselho “lamenta” o ataque “inaceitável” e envia “seus pêsames” às famílias das mais de 50 vítimas, “a maioria crianças”.

As divergências mais sérias estão na demanda de algum tipo de trégua aos combatentes. Durante as discussões chegou a notícia de que Israel decidiu suspender os ataques aéreos durante 48 horas para investigar a pior ação desde que lançou sua ofensiva contra a organização terrorista libanesa Hezbollah no Líbano.

Na reunião de emergência realizada pela manhã a pedido de Annan, o secretário-geral pediu ao Conselho uma condenação ao bombardeio de Qana e que atue de imediato para conseguir o fim das hostilidades. “Devemos condenar esta ação nos termos mais enérgicos e peço que vocês façam o mesmo”, disse Annan.

“Estou profundamente decepcionado porque meus pedidos para um imediato cessar das hostilidades não foram atendidos”, continuou. “Repito esse pedido agora”, acrescentou, “e peço para o Conselho fazer o mesmo”.

Durante a mesma reunião, o embaixador israelense, Dan Gillerman, disse que se trata de “um domingo horrível, triste e sangrento”. “Essa gente (de Qana) morreu pelo fogo israelense, mas são vítimas do Hizbollah, são vítimas do terrorismo. Se não houvesse Hizbollah, isto nunca teria ocorrido”, afirmou.

“Sentimos verdadeiramente pelas pessoas do Líbano e pelos que morreram”, disse. “Em contraste, nunca ouvimos o Hizbollah dizer que sente por um israelense morto.”

O representante libanês, Nouhad Mahmoud, pediu novamente ao Conselho que ordene um cessar-fogo, argumentando que “não há lugar neste triste dia para outra discussão”.

Vários diplomatas asseguraram que os Estados Unidos deixaram claro que não iriam permitir a condenação de Israel. O embaixador americano, John Bolton, revelou que estavam negociando “um comunicado de imprensa ou uma declaração presidencial que expresse nosso profundo pesar e os pêsames às famílias daqueles que morreram”.

Na linguagem do Conselho de Segurança, uma declaração presidencial é mais solene do que um comunicado de imprensa, porque é lida pelo presidente do Conselho para os membros permanentes, enquanto que o comunicado é lido apenas para a imprensa. Embora ambas as formas exijam o acordo dos 15 membros do Conselho, elas estão longe de uma resolução, que é de cumprimento obrigatório para os países nela citados.

Preocupado em “reagir ao drama de Qana”, nas palavras do embaixador francês Jean Marc de La Sabliere, o Conselho não estava preparado para começar a tratar neste domingo de um projeto de resolução de Paris que detalha as medidas para um cessar-fogo permanente.

Estas incluem o envio de uma força internacional, com a condição de que ela seja aprovada pelos governos israelense e libanês e de que exista um acordo de princípio entre eles sobre os principais elementos de um plano global para solucionar o conflito.

Fonte: Alfons Luna, da France Presse, em Nova York – Folha de S. Paulo – 30/07/2006

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