Lula cobra ricos no combate à destruição do ambiente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu ontem em Curitiba a reunião de ministros do Ambiente da COP-8 (8ª Conferência das Partes) da Convenção da Biodiversidade da ONU, cobrando mais responsabilidade das nações ricas no combate à fome e à destruição progressiva do ambiente.
“Não é aceitável que os países pobres continuem a sofrer o principal ônus da degradação ambiental resultante de padrões insustentáveis de produção e consumo determinados pelas nações industrializadas”, disse Lula.
Segundo ele, “as economias industrializadas gastam US$ 900 bilhões por ano para proteger suas fronteiras, mas destinam menos de US$ 60 bilhões para ajudar as nações pobres, onde a fome se transformou numa silenciosa arma de destruição em massa”.
Lula defendeu posições semelhantes às de entidades ambientalistas em relação aos temas polêmicos em debate na MOP-3 (3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança) e da COP-8, que se encerra nesta sexta-feira.
O presidente defendeu a criação de regras para que empresas ou países que explorem comercialmente determinado recurso genético paguem ao país e aos povos de origem pelo uso do conhecimento tradicional. Disse que tudo o que possa “ameaçar ou conspirar contra” a repartição eqüitativa dos benefícios dos recursos naturais e do patrimônio natural dos povos “deve ser rejeitado como ameaça à sobrevivência da humanidade e da Terra”.
Reafirmou a posição da delegação do Brasil pela proibição de uso das sementes estéreis, as chamadas Terminator. Também justificou como “solução prudente e progressiva” a posição que o Brasil adotou em defesa da identificação clara de produtos transgênicos no comércio internacional.
A convenção, o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) e o Ministério do Meio Ambiente brasileiro concordaram que as chamadas metas de Johannesburgo, de redução da perda da biodiversidade até 2010, estão longe de ser atingidas.
“O tempo está passando, o relógio não pára e o que temos são esforços de países [em ações isoladas]”, disse o secretário-geral da CDB, o argelino Ahmed Djoghlaf. Na abertura da COP-8, ele apresentou um relatório da ONU que mostra que o planeta sofreu uma devastação ambiental sem precedentes nos últimos 25 anos.
Para o chefe do Pnuma, Klaus Töpfer, “ainda que o capital natural seja mais importante do que o monetário, continua a sofrer abuso de uso e a receber investimentos aquém do necessário”, o que diz ser uma tragédia. “Nesse passo, as metas de Johannesburgo não serão atingidas.”
A ministra Marina Silva disse que o debate sobre a justa repartição dos recursos genéticos tem resultados inexpressivos até aqui. Ela defende o tema como de extrema relevância para o Brasil.
Fonte: Mari Tortato – Folha Online: 28/03/2006