Briga de foice no escuro e bicadas a torto e a direito

Veneno pós-eleitoral

…Há na atual cruzada eleitoral algo que foge aos padrões. Arma-se um clima de fim do mundo para depois da disputa presidencial… PT e PSDB, as duas legendas que enxergam no horizonte a perspectiva de poder, precisam levar a mão à consciência. O discurso aguerrido, próprio de toda campanha, está a um passo de ultrapassar a fronteira que leva à retórica insana. O país não merece que os dois frutos mais viçosos que sua democracia foi capaz de cultivar entreguem-se agora a um flerte irresponsável com a ruptura institucional… O PSDB tem em seus quadros dois dos mais vistosos presidenciáveis de 2010: Serra e Aécio. Se insistir em jogar lenha na fogueira da histeria pós-eleitoral, o tucanato compromete o próprio futuro. Aviva um fogo que amanhã pode queimar os seus…

Escrito por Josias de Souza no blog Nos bastidores do poder em 21/10/2006 às 20h29

A academia manifesta forte apoio a Lula

Onda de manifestações contra Alckmin no meio acadêmico

Por Maurício Thuswohl – Carta Maior – 19/10/2006

Esqueçam de vez aquele papo de “silêncio dos intelectuais”. Desde que foi confirmado que o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano Geraldo Alckmin voltariam a se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais, o mundo acadêmico começou a se movimentar de uma maneira que não havia sido vista, até então, na campanha eleitoral. O resultado disso é uma profusão de manifestos e declarações de posicionamento frente à disputa entre o PT e o PSDB. Exceção feita aos setores minoritários da Academia que apoiam o projeto neoliberal, a quase totalidade das manifestações vindas das universidades é de apoio a Lula ou, no mínimo, de repúdio ao candidato tucano. Elaborados em centros importantes como a USP, a UFRJ, a URGS e a Uerj, entre outros, os manifestos têm sua circulação potencializada pela Internet e já contam com centenas de assinaturas em todo o Brasil.

Um dos primeiros manifestos em favor de Lula a circular no meio acadêmico nasceu no Instituto de Biofísica da UFRJ e traz a declaração de apoio de diversas pessoas que votaram em Cristovam Buarque (PDT) ou Heloísa Helena (PSOL) no primeiro turno, além de outros que vão repetir o voto no PT. Elaborado inicialmente pelo professor Adalberto Vieyra, que é diretor do Instituto e um intelectual historicamente ligado a Leonel Brizola e ao PDT, o manifesto reúne assinaturas de “professores universitários, pesquisadores, técnicos e profissionais de diversas áreas das ciências naturais e sociais, das ciências aplicadas e matemáticas, da tecnologia, da filosofia, das letras e artes, que nos identificamos com as idéias de mudanças forjadas na resistência à ditadura e na construção da democracia no país”.

O manifesto é claro no repúdio à volta do projeto político do PSDB ao poder: “Neste momento em que se disputa o 2º turno, que confronta a posição reformista moderada representada pela reeleição de Lula com o neoliberalismo explícito do candidato de oposição, nos sentimos no dever, como intelectuais e membros da comunidade acadêmica, científica e tecnológica, de declarar publicamente nosso apoio à reeleição de Lula”, diz o documento. Os intelectuais da UFRJ apontam como fator positivo do governo Lula o aumento do diálogo com os movimentos sociais _ “ampliou-se o espaço, mas é preciso ir adiante!” _ e afirmam que “a política externa deve ser mantida em suas linhas gerais”.

Nem tudo, é claro, são elogios. O manifesto também sugere algumas mudanças de rumo para o segundo mandato de Lula, como redução da taxa de juros, aumento dos investimentos em infra-estrutura e mudanças no Bolsa-Família: “Foi fundamental este governo sustar as privatizações, que foram eivadas de corrupção. Esperamos também que o novo governo estabeleça padrões mais rígidos e transparentes para o controle da administração pública, de modo a evitar desvios éticos envolvendo membros do governo com partidos e membros do Congresso”, termina o manifesto, que conta com as assinaturas de Luiz Pinguelli Rosa, da COPPE, e de Eliane Brígida Falcão, do Centro de Ciências da Saúde, entre outras.

Trezentas assinaturas

Elaborado na USP, o manifesto que atingiu maior alcance nacional até agora é intitulado “Dizemos não a Geraldo Alckmin!” e, segundo seus organizadores, reúne intelectuais simpatizantes do PSTU, do PSOL, do PT, do PCB, do PCdoB e do PDT. Circulando há apenas dez dias, o manifesto já conta com mais de 300 assinaturas vindas de universidades como UNB, Unicamp, Unesp, UFMG, UFPB, UFPR, UFSCar, UFF e PUC-SP, além das já citadas.

O documento começa de forma direta: “Nós, professores universitários, vimos a público afirmar que não há justificativa alguma para levar novamente Geraldo Alckmin e seu partido à Presidência da República. Embora com tendências políticas distintas e posições
eleitorais muitas vezes divergentes, estamos unidos pela mesma certeza de que a candidatura Alckmin não representa, sob nenhum aspecto, a implementação dos avanços necessários ao desenvolvimento econômico com justiça social. Ao contrário, Geraldo Alckmin no poder será o coroamento de um retrocesso direitista que ficou claro em seu discurso eleitoral, todo ele baseado em bravatas contra impostos e ‘gastança’ pública, promessas de redução do Estado, de reformismo infinito da previdência e laivos de indignação contra a corrupção (cujo duto iniciou-se em seu próprio partido). Com essas propostas ele nada mais fará do que um candidato de direita faria em qualquer parte do mundo”.

O manifesto também rejeita a política neoliberal dos tucanos para as universidades: “Para nós, professores, é claro que um possível governo Geraldo Alckmin será a reedição dos anos FHC com sua política de sucateamento das universidades públicas. Vale a pena lembrar que, sob o PSDB, as universidades federais chegaram a um déficit de sete mil professores, sendo que muitas delas terminavam o ano sem dinheiro para pagar sequer contas de luz. Nas universidades estaduais paulistas, esta política educacional desastrosa foi seguida à risca por Geraldo Alckmin quando governador de São Paulo”, diz o documento, que traz as assinaturas dos professores Marilena Chauí, Paul Singer, Maria Victoria Benevides, Venício Lima e Wolfgang Leo Maar, entre outros.

Usando a internet

Alguns renomados intelectuais de esquerda procuram utilizar a linguagem ágil da internet para fazer sua mensagem ir mais longe. Num texto curto, como pedem os tempos modernos, e intitulado “Não à Direita Tucano-Pefelista”, Emir Sader, Carlos Lessa e Leandro Konder (outras adesões ainda virão) cutucam a ferida: “O Brasil corre um sério risco de um enorme retrocesso histórico. Aqueles que privatizaram importantes recursos do patrimônio público, que estenderam como nunca o setor privado na educação, que fizeram do nosso país um aliado dócil e subordinado dos EUA, que criminalizaram e reprimiram aos movimentos sociais, que acentuaram ainda mais a desigualdade, a injustiça e a exclusão social – entre tantos efeitos perniciosos de suas políticas – pretendem retomar o governo. Diante desse risco, os brasileiros têm que deixar de lado diferenças, para se somar e impedir que esses tempos sombrios para nosso país retornem, derrotando o candidato do bloco tucano-pefelista no segundo turno das eleições presidenciais deste ano”, diz o manifesto.

Outro manifesto surgiu em São Paulo, desta vez motivado pelos debates promovidos pela Carta Maior sobre o futuro da esquerda no Brasil. Intitulado “Pela Reeleição do Presidente Lula”, o documento, que ainda está em fase de recolhimento de adesões, já traz as assinaturas de Hélio Bicudo, Faustino Teixeira, Juarez Guimarães, Flávio Aguiar, Olgaria Matos e Sandra Vasconcelos, além dos já citados Emir Sader e Marilena Chauí. O manifesto consiste em dez pontos (reproduzidos abaixo) com pedidos “para que o Brasil avance e não regrida”:

1) No desenvolvimento integrado de políticas sociais, com programas como o Bolsa-Família, o Luz para Todos e muitos outros, visando a eliminação da miséria e da pobreza, e da iníqua desigualdade na distribuição de renda.

2) Na construção de políticas nacionais de saúde, educação e cultura, concebidas como um direito da cidadania e não como um mercado a ser explorado com fins lucrativos, e no debate de uma reforma política adequada aos anseios de ampliação da democracia e consolidação da soberania popular.

3) Na construção de uma política responsável de segurança, que busque tanto a prevenção quanto a contenção do crime, com base no respeito aos direitos humanos inerentes ao exercício da cidadania, e no aprimoramento da capacidade do Estado no combate a corrupção através de seus órgãos competentes, como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Corregedoria Geral da União.

4) Na reforma agrária, beneficiando a agricultura familiar e a ocupação produtiva da terra em todas as modalidades de produção.

5) Na recuperação do poder aquisitivo do salário mínimo e na ampliação da participação dos trabalhadores na renda nacional, bem como na construção de políticas de ampliação do emprego regular e digno.

6) No debate de um modelo de desenvolvimento econômico auto-sustentável, com respeito ao meio ambiente e à diversidade de modos de vida que fazem parte da riqueza da sociedade brasileira, e que privilegie a produção ao invés da especulação.

7) Na construção de uma política externa soberana, valorizando o Mercosul, a integração da América do Sul e dos povos da América Latina, o estreitamento das relações com os países africanos e do Terceiro Mundo visando o estabelecimento de bases mais justas para o comércio mundial, ao invés da integração subserviente à globalização conservadora.

8) No debate sobre a necessária democratização dos meios de comunicação, do acesso à construção e usufruto da informação por todos os setores sociais.

9) Nas políticas afirmativas de apoio aos jovens, idosos e de todos os grupos sociais historicamente vítimas de preconceito e discriminação na nossa sociedade.

10) Na recuperação da esfera pública, na reversão das políticas de privatização, da capacidade de investimento e reguladora do Estado, bem como da democratização do debate sobre suas políticas e procedimentos, e do controle social de suas ações, e no debate de uma reforma do judiciário que amplie o alcance a ele, com eficiência, por parte de toda a população.

Pesquisa Ibope II: Lula sobe, Alckmin desce

Lula abre vantagem de 21 pontos sobre Alckmin, diz Ibope

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva – candidato à reeleição do PT – está 21 pontos à frente do adversário Geraldo Alckmin (PSDB), segundo pesquisa Ibope divulgada no “Jornal Nacional” desta sexta-feira. Na pesquisa anterior, a diferença entre os dois candidatos era de 12 pontos. De acordo com a pesquisa divulgada hoje, a taxa de intenção de voto em Lula é de 57%. Na pesquisa anterior, ele tinha 52%. A taxa de intenção de voto em Alckmin foi de 36% – ele tinha 40% no levantamento anterior. Considerando apenas os votos válidos – que exclui brancos, nulos e indecisos -, o candidato do PT à reeleição tem 62% contra 38% do tucano. Anteriormente, Lula tinha 57% dos votos válidos contra 43% do tucano (cont.)

Folha Online: 20/10/2006

Lula x Alckmin no SBT

“Civilizado”, debate não deve virar votos

… o debate do SBT deverá ter pouca influência na disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) … Houve um relativo equilíbrio entre momentos de ofensiva e defensiva de ambos os candidatos. Nessa toada, o petista tende a ser favorecido por ter ampliado na última semana a dianteira nas pesquisas _20 pontos percentuais de intenção de votos válidos sobre tucanos no Datafolha divulgado na terça-feira… Em resumo, foi um debate mais “civilizado”, sem a agressividade do debate anterior. Não parece ter sido um evento capaz de produzir grandes viradas de voto no eleitorado… O retorno ao figurino bom moço no debate do SBT e na campanha de TV levantam uma questão: Alckmin já não jogaria para tentar sair da eleição maior do que entrou? Já não estaria pensando acumular forças para se reapresentar em 2010?

Pensata – Kennedy Alencar

Folha Online: 19/10/2006

Pesquisa Vox Populi II: Lula sobe, Alckmin desce

Folha Online: 19/10/2006 – 20h18

Diferença entre Lula e Alckmin sobe para 20 pontos, aponta Vox Populi

A diferença entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que concorre à reeleição, e o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, subiu de dez para 20 pontos percentuais, de acordo com a pesquisa de intenção de voto realizada pelo Vox Populi, divulgada na noite desta quinta-feira pelo “Jornal da Band”. A sondagem revela que Lula tem 57% de votos contra 37% de Alckmin. A pesquisa foi realizada entre os dias 16 e 17 deste mês, mas o instituto não divulgou quantos eleitores foram ouvidos, em quantos municípios foi aplicada a pesquisa e qual é a margem de erro. Na enquete anterior, divulgada há uma semana, Lula aparecia com 51% dos votos e o tucano com 41%. O total de eleitores que vão votar em branco ou nulo no segundo turno continua em 3%. O total de indecisos diminuiu de 4% para 3%. O levantamento do instituto aponta que a diferença entre os dois candidatos é ainda maior – de 22 pontos percentuais – quando somados os votos válidos. Lula tem 61% dos votos válidos, enquanto Alckmin, 39%. A pesquisa, encomendada pela revista “Carta Capital”, confirma o distanciamento entre os dois candidatos já apontado pelo Datafolha (cont.)

CartaCapital: 18 de outubro de 2006 – n. 415

Lula Avança

A dez dias do segundo turno, a nova pesquisa CartaCapital/Band/Vox Populi aponta a melhora do desempenho do candidato do PT junto à elite e reafirma sua força junto ao eleitorado pobre. Cada vez mais forte junto ao eleitorado pobre (70% a 22%, na pesquisa estimulada), Lula avança sobre os redutos de classe média alta (45% para ele, 47% para Geraldo Alckmin, ou seja, dentro da margem de erro) e melhora seu desempenho até mesmo no topo da pirâmide social (41% a 52%). Esta é a mudança mais significativa que a pesquisa CartaCapital/Band/Vox Populi sintoniza, a dez dias do segundo turno da eleição presidencial. Em todo o Brasil, o resultado da pesquisa estimulada dá 20 pontos de frente para o candidato à reeleição: 57% para Lula, 37% para Alckmin. Ou 61% a 39% nos votos válidos. Outro indicador importante da pesquisa CartaCapital/Band/Vox Populi: mais de 90% dos eleitores dizem que não pretendem mudar o voto.

A imprensa brasileira e suas tramas golpistas

No blog O biscoito fino e a massa, de Idelber Avelar, Professor no Departamento de Espanhol e Português da Tulane University, New Orleans, LA, USA, leia o post de 16 de outubro de 2006 sobre o papel da imprensa brasileira neste segundo turno das eleições.

A explícita campanha eleitoral da mídia brasileira

Que duas das últimas quatro capas da revista Veja demonstrem claramente que ela está empenhadíssima na campanha de Alckmin não deve surpreender. A Veja há tempos perdeu qualquer respeitabilidade como veículo de comunicação com pretensões à isenção: matérias insultantes, moleques caluniadores assinando colunas, versões fantasiosas dos fatos e grosseira parcialidade na cobertura são o prato de toda semana nessa que é ainda, tristemente, a mais vendida revista semanal brasileira.

Mas do maior jornal brasileiro costumávamos esperar um pouco mais. Sim, é fato sabido que a Folha de São Paulo foi parte integrante do golpismo anti-Jango de 1961 a 1964; também é abundantemente sabido que esse jornal emprestava suas C-14 para recolher torturados durante a ditadura militar; é igualmente de conhecimento público que o Sr. Frias apoiava de forma explícita a mais sinistra opção para a sucessão de Ernesto Geisel, o general linha-dura e delirantemente fascista Sílvio Frota, comandante do Exército; é também sabido que durante os oito anos de FHC a Folha, com raríssimas exceções, abriu mão completamente do papel investigativo da imprensa ante as suspeitas privatizações realizadas pelo tucanato. Tudo isso é fartamente sabido.

Se o seu suplemento literário já há tempos perde de goleada do “Prosa e Verso”, do Globo, na cobertura política acostumamo-nos a esperar um mínimo de decência e imparcialidade da Folha. Nesta campanha eleitoral, no entanto, ante a vantagem de Lula e a perspectiva de outra derrota eleitoral dos seus queridos tucanos, a Folha resolveu arregaçar as mangas e entrar na campanha de cabeça. Já não fazem qualquer questão de escondê-lo. A deturpação, parcialidade e manipulação de manchetes estão chegando às raias do que seria de se esperar da Veja.

No caso do dossiê anti-Serra que foi decisivo para a realização do segundo turno, a imprensa brasileira simplesmente omitiu que conseguiu as tão desejadas fotos do dinheiro através de uma mentira de um delegado (“tomem, mas vou mentir aos superiores dizendo que foi vazado da minha escrivaninha; tem que sair no Jornal Nacional, viu?”). Não há defesa de sigilo de fonte que justifique a omissão de que a foto havia sido conseguida através de procedimento criminoso. Josias de Souza, com a desonestidade própria aos que se dedicam a servir os poderosos, acha normal a omissão das circunstâncias em que se conseguiu a foto, normal o esquecimento de qualquer pergunta sobre o conteúdo do dossiê, normal a omissão do fato de que a campanha tucana havia chegado ao local antes da PF. Há que se reconhecer um mérito naquele blog: o blogueiro leva uma surra diária dos seus leitores e continua lá, fazendo sua campanha, incólume. Enquanto isso, lembremos: Soninha continua proibida de falar de política em seu blog. folha-14.jpg

As manchetes da Folha nesta última semana parecem saídas do Pravda. Depois da declaração do coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, de que fiizemos alguns reajustes importantes que vão nos dar hoje uma situação mais equilibrada. Não precisaremos dar os pinotes que foram necessários para, entre outras coisas, atender à necessidade do nosso funcionalismo público, a Folha estampou na capa do dia 14: PT vai dar reajuste menor a servidor se vencer a eleição. Esqueceram-se de dizer, claro, que os reajustes dados no governo Lula foram infinitamente superiores aos dos oito anos de FHC. Ante a declaração de campanha do presidente Lula, de que querem privatizar o que resta neste país. Como eles nunca trabalharam, querem vender o que têm, o jornal, no dia 13, escolhia como manchete: Lula insiste em dizer que Alckmin vai privatizar Petrobras, BB e Caixa.

Prestem especial atenção aos verbos e substantivos que não são de responsabilidade do entrevistado ou da fonte, mas de escolha do jornal: ante a notícia de que a votação de Lula foi de 93% na cidade de Manaquiri (AM), onde 75% das famílias recebem o Bolsa-Família, a Folha estampou, no dia 08, a manchete: Medo é cabo eleitoral de Lula no Amazonas. Não, leitor, você não está delirando. A manchete foi essa mesma. Na discussão sobre a dimensão privatista do programa de Alckmin – sobre o qual, diga-se de passagem, ele ainda não disse nada – a Folha, no mesmo dia 08, estampou a incrivelmente cretina manchete: PT ressuscita chavões de oposição para atacar tucano. “Ressuscita chavões?” Desde quando chavão em política é exclusividade de alguém? E desde quando um jornal relata a versão de sua fonte com esses termos grosseiros? O outro lado da mesma notícia? Sim, o outro lado aparece, claro, na manchete Alckmin nega que fará privatizações e reprova petistas. Note-se o óbvio: a versão de Alckmin é dada com palavras dele. A versão do PT é caracterizada na manchete como “ressureição de chavões”, numa grotesca paráfrase que poderia ter sido tirada de um panfleto do . . . do . . . próprio Alckmin! É a “imparcialidade” do jornal.

Será que é preciso ter um doutorado em retórica para perceber o que está em jogo aqui? Acredito que não. Acho, inclusive, que o grosso do povão já o percebeu. O sentimento anti-imprensa no Brasil está chegando a níveis comparáveis aos tempos do bordão o povo não é bobo / abaixo a Rede Globo, com que os pobres profissionais da organização eram saudados nos comícios das diretas em 1984, depois que o “jornalista” Roberto Marinho publicou sua carta de louvor à ditadura.

É urgente uma CPI da mídia no Brasil. Quando e se ela acontecer, a última coisa que vou querer ouvir é algum jornalista reclamando, “ai, meu Deus, é censura!”

Pesquisa Datafolha II: Lula sobe, Alckmin desce

Datafolha confere à eleição ares de jogo jogado

Comece-se anotando o óbvio: pesquisa não é urna. Feita a ressalva, acrescente-se o ululante: a pesquisa Datafolha divulgada há pouco dá à disputa presidencial a aparência de um jogo jogado. Lula está com a mão na faixa. A escassos 12 dias do segundo turno, o índice de intenções de voto de Lula subiu de 51% para 57%. Geraldo Alckmin caiu de 40% para 38%. Considerando-se apenas os votos válidos (excluídos nulos, brancos e eleitores indecisos), Lula obtém 60% dos votos, contra 40% atribuídos a Alckmin. A diferença em favor de Lula é agora de 20 pontos percentuais. A menos que ocorra alguma nova “alopragem” petista, só um milagre pode levar Alckmin a prevalecer sobre Lula no próximo dia 29 de outubro. O “efeito dossiêgate” parece ter sido absorvido pelo eleitorado. Lula tem agora um prestígio maior do que o que tinha antes do escândalo. O tucanato já havia farejado o cheiro de queimado. A distância que separa Alckmin de Lula aumentou também na pesquisa telefônica diária que o Ibope realiza por encomenda do comitê tucano (cont.)

Escrito por Josias de Souza no blog Nos bastidores do poder em 17/10/2006 às 21h15

Eu quase que nada sei, mas desconfio de muita coisa

Delegado combinou com jornalistas versão sobre o vazamento de fotos

Desde o dia 2 de outubro, está no site do jornalista da TV Globo Luiz Carlos Azenha a informação de como se deu a entrega do CD com as fotos do dinheiro apreendido com os petistas patetas no Hotel Íbis. O título da reportagem não deixa dúvidas sobre como tudo aconteceu. Leia, a seguir, trechos retirados do site:

‘Delegado combinou com jornalistas versão sobre o vazamento de fotos’
O delegado Edmilson Bruno, da Polícia Federal, foi enfático ao ser confrontado por repórteres diante do prédio da Polícia Federal: era inocente da acusação de ter vazado as fotos do dinheiro apreendido com petistas.
Algumas horas antes, ele havia se encontrado sigilosamente com quatro repórteres para dar um CD que continha as imagens.
Pediu que cópias fossem feitas e distribuídas.
Pelo menos dois dos repórteres que se encontraram com o delegado deixaram o gravador ligado durante a conversa.
Tive [Azenha] acesso ao conteúdo da gravação. O som é nítido.
O delegado explica que, no dia anterior, tinha participado da perícia do dinheiro apreendido:
– Os peritos tiraram fotos e eu também tirei – [delegado Edmilson Bruno].
Edmilson contou aos jornalistas como pretendia explicar ao chefe a aparição das fotos na mídia:
– Alguém que roubou e deu para vocês, disse ele.
Os repórteres pouco falaram. Ninguém protestou contra a versão ensaiada pelo delegado:
– O que vai parecer? Que alguém roubou e vazou na imprensa.
O delegado disse aos repórteres que o superintendente da PF em São Paulo e o delegado encarregado do caso não sabiam da existência das fotos.
É difícil descrever o ambiente a partir da gravação de algumas vozes, embora as palavras fossem nítidas.
Ficou claro que o delegado tinha pressa, que queria espalhar as fotos e que contava com a ajuda dos quatro jornalistas para fazer isso.
(…)
Não havia repórter da TV Globo entre os jornalistas que se reuniram informalmente com o delegado, numa calçada.
Edmilson Bruno parecia preocupado com o momento certo para divulgar as fotos.
Em uma coisa foi enfático:
– Tem que sair hoje à noite na TV. Tem que sair no Jornal Nacional.

 

O dossiê do dossiê Vedoin/Serra/Barjas

Meu implacável amigo Saul Leblon traçou o seguinte roteiro:

1. Na sexta-feira, 15 de setembro, data marcada pelos Vedoins para entrega do dossiê Serra/Sanguessuga a um grupo de petistas, num hotel em SP, o delegado de plantão na PF na capital paulista era Edmilson Pereira Bruno

2. O delegado prendeu os petistas em flagrante no hotel Ibis.

3. Antes mesmo que os presos fossem conduzidos à sede da PF, em SP, uma equipe de TV da produção do programa do candidato Geraldo Alckmin já estava a postos no local, para filmar a chegada dos detidos e usar as imagens no horário eleitoral do tucano. A equipe de Alckmin demonstrou agilidade superior a de qualquer órgão da grande imprensa, no principal centro jornalístico do país.

4. No dia 18, três dias depois desses acontecimentos, o delegado Bruno foi afastado do caso após declarar que o suposto dossiê Serra/Sanguessuga continha mais de duas mil folhas e implicava todos os partidos. Na verdade, o que tinha mais de duas mil folhas era o inquérito que investigava a ação dos sanguessugas em Cuiabá.

5. Dez dias depois, na quinta-feira, dia 28, o mesmo delegado Bruno invade uma sessão de perícia na qual dois técnicos da PF fotografavam o dinheiro supostamente utilizado para comprar o dossiê Serra/Sanguessuga.

6.O delegado Bruno alega aos peritos que havia sido reconduzido ao caso. Enquanto eles realizavam seu trabalho, o delegado sacou uma máquina digital e fez 23 fotos do dinheiro

7. Nos dias anteriores, à medida em que se aproximava a data do pleito e a vitória de Lula no primeiro turno mostrava-se cada vez mais provável, o candidato Alckmin e todo o PSDB, bem como seus ventríloquos na mídia, elevaram o tom das cobranças. A artilharia tucano-pefelê-midiática, centrava fogo em duas cobranças: a liberação das fotos do dinheiro pela PF e a presença de Lula no debate da Globo, marcado para o dia 28, quinta-feira, à noite.

8. Lula, na última hora, decidiu não ir ao debate prevendo um “massacre orquestrado” da oposição contra o seu governo.

9. O Presidente escapou do massacre, que de fato ocorreu, e teve ampla repercussão no JN e nos diários. Mas não escapou das fotos.

10. Na sexta-feira, dia 29, pela manhã, o delegado Bruno pessoalmente entregou cópias em CDs das fotos que havia feito a três jornalistas em frente do prédio da PF, em SP. Sequer marcou um encontro em local mais discreto. Segundo o jornalista Bob Fernandes do site Terra Magazine, teria explicado assim seu gesto aos repórteres: “Quero f… com o Lula e o PT”.

11. No mesmo dia, quando as fotos já circulavam na Internet — divulgadas pela Agência Estado– o delegado procurou superiores e informou: “Estou desesperado. Pegaram uma cópia das fotos que eu havia feito”.

12. Pouco depois, em entrevista à mesma Agência Estado que havia distribuído as fotos e sabia sua origem, o delegado Bruno afirmou: “Estão veiculando que eu cedi o CD. Eu não cedi este CD. Eu não sei se é para me prejudicar ou não. Não sei quem foi o autor do crime, mas não fui eu que distribuí o CD”. O delegado afirmou ainda nessa entrevista, divulgada amplamente por um veículo que sabia de antemão a versão verdadeira, que as fotos haviam sumido do seu arquivo pessoal.

13.No sábado, dia 30, as fotos dominaram o noticiário das TVs e as primeiras páginas de todos os jornais. No Globo, a foto ocupou mais de metade da pág. frontal. A Folha foi além e optou por uma composição grotesca. Sob a pilha de dinheiro colocou uma foto de Lula encapuzado, enquanto vestia um casaco. Uma mão apertada sobre o seu ombro sugeria um caso de detenção. Um truque de composição fotográfica, reduziu assim o Presidente e induzia os leitores a enxergarem-no como um marginal preso em flagrante, a 48 horas do pleito presidencial.

14. Todos os jornais publicaram as imagens do dinheiro sem identificar a origem das fotos. Nenhum informou as palavras ditas pelo ofertante ¿ainda que sua identidade fosse mantida em sigilo: “quero fu.. com Lula e com o PT”.

15. No domingo, finalmente, os jornais traziam uma entrevista do delegado Bruno. Nela , o policial admite que fez e distribuiu as fotos¿o que antes havia negado peremptoriamente e os jornais ¿ embora sabendo que era uma mentira ¿ publicaram e atestaram a verdade. O delegado, porém, insiste, desta vez, que eu gesto não teve motivação política e nega qualquer ligação com a campanha tucana. Os jornais de novo publicam suas declarações, sem contextualizá-las.

17. No mesmo domingo, dia do pleito, os jornais afirmam que o desgaste desse episódio reduziu dramaticamente a vantagem anterior de Lula nas pesquisas de intenção de voto, referentes ao primeiro turno. Segundo as novas enquetes, mesmo no segundo turno, a reeleição do Presidente agora tornara-se incerta.

18. Tudo fica como dantes no quartel do Abrantes. A imprensa continua a acobertar e a ser cúmplice do crime de violação do segredo de justiça. Por quê? Porque ao invés dos eventuais crimes cometidos por petistas, desta vez os crimes a interessam, e favorecem seu candidato, Geraldo Alckmin¿.

Eh, Leblon bom de bola!

Fonte: Flávio Aguiar – Carta Maior: 02/10/2006

Pesquisa Vox Populi I: Lula sobe, Alckmin desce

Vox Populi mostra Lula com vantagem de 10 pontos sobre Alckmin

Pesquisa Vox Populi aponta para uma vantagem de 10 pontos percentuais na intenção de voto do presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra seu adversário, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. A sondagem revela que Lula teria 55% dos votos válidos (que exclui brancos, nulos e indecisos) contra 45% de Alckmin, na simulação feita com 2 mil eleitores, tendo 2,2% de margem de erro, encerrada no dia 9. Na pesquisa espontânea (sem apresentação prévia de nomes), Lula conta com 50% dos eleitores ouvidos contra 40% do tucano. A pesquisa, encomendada pela revista Carta Capital, confirma o distanciamento entre os dois candidatos já apontada pelos institutos Ibope e Datafolha. O levantamento do Ibope divulgado ontem mostrou que a taxa de intenção de voto em Lula ficou em 52%. Já a taxa de intenção de voto em Alckmin foi de 40%. Considerando apenas os votos válidos, o candidato do PT à reeleição tem 57% contra 43% do tucano. Já a pesquisa do Datafolha, divulgada no dia anterior, indicou que a taxa de intenção de voto em Lula oscilou de 50% para 51%, enquanto a taxa de Alckmin caiu três pontos, de 43% para 40%. Em relação aos votos válidos, o candidato do PT à reeleição tem 56% contra 44% do ex-governador de São Paulo.

Folha Online: 13/10/2006

 

Pesquisa Ibope I: Lula sobe, Alckmin desce

Vantagem de Lula sobre Alckmin é de 12 pontos, diz pesquisa Ibope

A primeira pesquisa Ibope realizada após o debate na TV entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), no último domingo, indica que a vantagem do candidato petista sobre o adversário tucano é de 12 pontos. A taxa de intenção de voto em Lula ficou em 52%. Já a taxa de intenção de voto em Alckmin foi de 40%. Considerando apenas os votos válidos – que exclui brancos, nulos e indecisos -, o candidato do PT à reeleição tem 57% contra 43% do tucano. O Ibope entrevistou 3.010 eleitores em 199 municípios entre terça-feira e ontem. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TSE (cont.)

Folha Online: 12/10/2006