Iraque, dez anos: a guerra compensa

Iraque dez anos depois: a guerra é um grande negócio!

Reginaldo Mattar Nasser: Carta Maior 24/03/2013

O ataque norte-americano ao Iraque completou dez anos nesta semana. Dez anos depois, está claro que a estratégia do presidente George W. Bush fracassou: os EUA e seus aliados não conseguiram alcançar os objetivos anunciados e as consequências da operação militar foram desastrosas, seja do ponto de vista moral, econômico ou militar. Mas o que o discurso sobre a derrota dos EUA não revela é que essa guerra foi e continua sendo uma grande vitória para alguns.

Supõe-se que o objetivo numa guerra é “ganhar” — partindo do principio de que os atores (Estados Nacionais) em confronto buscam impor sua vontade por meio de ações que comportam o uso da força. Mas, é preciso pensar o Estado de forma concreta. Isso é, os objetivos daqueles que decidem ir à guerra são bastante diversos e há alguns atores mais interessados em manipular as informações e prolongar os combates do que propriamente conseguir uma vitória militar.

Não é muito difícil perceber o fracasso norte-americano nas três fases em que se desenrolaram suas ações militares no Iraque: tanto na justificativa para o ataque, quanto na ação militar propriamente dita, bem como no denominado momento de reconstrução do país (nation-building). É preciso dizer, todavia, que essa demarcação é puramente artificial. A passagem da segunda para a terceira fase esta exclusivamente baseada na declaração do ex-presidente George W. Bush quando anunciou o fim das operações militares com a deposição de Saddam Hussein, dando inicio ao processo de reconstrução do país, momento em que os combates aconteceram de fato.

Uma das principais alegações para se iniciar o ataque foi a suposta existência de armas de destruição em massa por parte do governo iraquiano. Mas isso não era suficiente. Era preciso “vender” ainda a ideia de que Sadam Hussein apoiava o “terror jihadista”. A equação estava pronta. Não há nada mais assustador do que um grupo de suicidas com alto poder destrutivo. Diferentemente dos soviéticos, durante a Guerra Fria, esses novos inimigos, alardeava o mainstream norte-americano, não poderiam ser dissuadidos nem contidos e, portanto, deveriam ser simplesmente eliminados.

Como não tardou a ser demonstrado, tratava-se de uma grande mentira, uma das maiores falsificações na história da diplomacia fabricada pelo governo dos EUA e aliados e que contou com a colaboração da grande mídia, dos think tanks, de partidos políticos e de várias ONGs.

Estima-se que, durante esses dez anos, mais de um milhão de soldados norte-americanos foram enviados para o Iraque: 4.483 foram mortos, 33 mil feridos e mais de 200 mil diagnosticados com transtorno de estresse pós-traumático. A taxas de suicídio é 26% entre os veteranos masculinos de 18 a 29 anos.

O número exato de civis iraquianos mortos ainda é desconhecido, mas as estimativas situam entre 150 a 500 mil e três milhões de pessoas deslocadas internamente. Há que se somar ainda as centenas de milhares de pessoas que morreram de doenças causadas por água contaminada, quando os EUA destruíram o sistema de tratamento de água do país.

No que se refere aos custos econômicos da guerra, as cifras são assustadoras. Segundo J. Stiglitz (Premio Nobel de economia) beira os 4 trilhões de dólares. A dívida dos EUA subiu de US$ 6,4 trilhões em março de 2003 para US$ 10 trilhões em 2008 (antes da crise financeira), sendo que pelo menos 25% de montante é diretamente atribuível à guerra.

A questão hoje colocada por muitos intelectuais nos EUA é: podemos aprender com este erro? Economistas, como o próprio Stiglitz, avaliam que é preciso descartar a ideia, bastante sedutora, de que a guerra é boa para a economia. Mas como podemos simplesmente fechar os olhos para o fato de que além do aumento exponencial da lucratividade das empresas favorecidas pela alta do petróleo, a invasão do Iraque abriu um novo e poderoso mercado: o da reconstrução das nações?

Indústria da guerra

O ataque norte-americano ao Iraque impactou consideravelmente o comércio mundial de petróleo, pois além de interromper a produção iraquiana, a instabilidade politica que causou no Oriente Médio fez com o que o preço do produto disparasse. Em 2003, quando os EUA chegaram à região, o preço do barril estava ao redor de US$25. Cinco anos depois, em 2008, os preços chegaram a US$ 140. A percepção de insegurança no mundo proporcionada pela chamada Guerra contra o Terror conduzida pelos EUA, após 2001, propiciou ainda um aumento considerável na venda de armas para os países em todo o mundo. As 100 maiores empresas produtoras de armas do mundo venderam US$ 410 bilhões em armas e serviços militares em 2011. Um estudo do Sipri mostra que a despesa militar no mundo, em 2011, foi de 1,6 trilhão de dólares, um aumento de 40% em 10 anos.

Na terceira e mais duradoura etapa da guerra, o governo norte-americano contratou centenas de empresas para uma gama enorme de atividades sob a rubrica “reconstrução”: infraestrutura do país (sistemas de água, eletricidade, gás e transporte), escolas e hospitais; serviços de segurança aos “novos trabalhadores”, treinamento das forças iraquianas e suporte logístico às operações antiterrorismo; serviços financeiros, e, naturalmente, a sua indústria petrolífera. A maior parte dos recursos foi alocada na contratação de empresas privadas de segurança. Em 2008, os dez principais fornecedores de serviços militares receberam cerca de US$150 bilhões em contratos.

Para perpetuar este ciclo, altamente lucrativo, essas corporações reciclam (ou reinvestem) parte dos bilhões de dólares adquiridos com a guerra em ações de lobby e contratação de antigos oficiais renomados para a sua diretoria, que facilitam o processo de contratação. A Lockheed Martin, empresa que mais possui contratos na área de segurança militar, em todo o mundo, doou mais de um milhão de dólares para deputados e senadores de diferentes partidos em 2009. Sua diretoria é composta por antigos funcionários do governo: o ex-vice-secretário de Defesa, o ex-comandante do Comando Estratégico, ex-vice-secretário de Segurança Doméstica. Vale dizer que seu rendimento anual é de US$ 40 bilhões de dólares, dos quais, ao menos 35 bilhões, são provenientes de contratos com o governo norte-americano. Mas a Lockheed Martin não é exceção: a estrutura se repete à medida que analisamos outras empresas como Northrop Grumman, Boeing, CACI, Parsons Corp A Pasadena.

Onde estão as vozes no Congresso, democrata ou republicano, que falam seriamente em por um fim essa indústria da guerra? O presidente Obama e os democratas não alteraram em nada a política da “guerra sem fim” contra o terror iniciada por Bush. O Congresso abdicou intencionalmente de suas responsabilidades políticas ao delegar, ao poder executivo, a responsabilidade de conduzir a guerra querendo com isso ludibriar a sociedade de que eles não podem fazer nada.

É preciso admitir que o poder real para iniciar ou terminar guerras está nas mãos de uma elite, como bem observou o sociólogo norte-americano Wright Mills há mais de 50 anos. Avaliando o Estado norte-americano, após a 2ª Guerra Mundial, Mills entendia que se é verdade que as decisões da administração militar passaram a afetar diretamente as dimensões política e econômica, também é verdade que as decisões tomadas na área política determinam as atividades econômicas e os programas militares. Na medida em que essa três áreas (economia, politica e militar) se articulam entre si, em termos de poder de decisão, com consequência para toda a sociedade, os lideres das três áreas do poder – senhores da guerra, dirigentes de empresa e direção política – tendem a se unir para formar a elite no poder nos EUA.

Ou seja, a suposta irracionalidade das ações contraproducentes no terreno militar, durante esses 10 anos no Iraque, é mais aparente do que real e não se trata, como querem ver alguns críticos da ação dos EUA, de uma guerra interminável no sentido de carecer de objetivos claramente definidos ou mal executados. A elite no poder sabe muito bem o que se espera desse estado de guerra permanente: a expansão dos negócios, domínio de territórios e influência política.

Fonte: Opera Mundi – 24 de mar de 2013

Israelenses x Palestinos: ninguém acredita mais em paz

Maioria dos israelenses se sente confortável o suficiente para ignorar seus vizinhos

O artigo é de Roger Cohen, colunista do jornal The New York Times. Foi reproduzido pelo portal Uol em 02/03/2013. O autor do texto se define como um sionista liberal.

Um dos ministros da equipe que está deixando o governo de Israel após as últimas eleições me disse, sem rodeios, durante uma recente visita que fiz ao país: “Pela primeira vez, os palestinos não influenciaram as eleições”.

A maioria dos israelenses se sente confortável o suficiente para ignorar seus vizinhos. É como se eles estivessem no Titanic e preferissem não pensar no assunto.

É um fato aceito e conhecido por todos na Casa Branca, e para além dela também, que a atual situação é insustentável – a ocupação da Cisjordânia por Israel, que já dura 46 anos, as fronteiras indefinidas, o conflito latente, a opressão. Mas pensar que essa situação poderá ser resolvida pode não ser nada além de uma ilusão.

Israel sente que sua situação é sustentável. O milagre econômico que faz com que regiões do país se pareçam com o sul da Califórnia poderá continuar: o isolamento diplomático de Israel não equivale a isolamento comercial. A ocupação militar vai crescer com o apoio dos Estados Unidos. Uma forte corrente nacionalista israelense – nós ganhamos todos os territórios no campo de batalha e, por isso, ele é nosso! – vai prevalecer sobre a fadiga gerada pelas negociações de paz entre os israelenses liberais e um fragmentado movimento palestino.

Atravessar o muro-cerca que circunda Israel e entrar na Cisjordânia nos faz sentir como se estivéssemos viajando no tempo, retornando 30 anos rumo ao passado. Em breve, considerando-se o avanço da atual situação, vai parecer que estamos voltando 40 anos no tempo, para 1973. Nessa época, talvez o meio milhão de israelenses que viviam atrás da Linha Verde (designação dada às fronteiras entre Israel e os países vizinhos, definidas no armistício de 1949, ao final da guerra árabe-israelense de 1948) dificilmente saberiam do que se tratavam a solução de dois Estados baseada nas fronteiras de 1967 – com exceção das trocas de terras acordadas entre as partes –, pois esse tema era uma ficção diplomática e intelectual.

Sim, Israel, país que se estende por todas as terras de Eretz Israel (um termo bíblico usado para fazer referência à área localizada entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão e que abrange toda a Cisjordânia), é sustentável. O status quo não é estático. Em suma, apesar dos padrões demográficos, que favorecem os palestinos, o poder pende para o lado de Israel. A vitalidade supera a demografia.

“Muitos anos vão se passar sem que haja nenhuma definição”, disse-me Tom Segev, ilustre historiador israelense. “Vamos continuar oprimindo; Eles vão continuar tentando lutar. Atualmente, a maioria dos israelenses sente que sua segurança está garantida sem ter que abrir mão de nada. Esse é o problema. A opressão dos palestinos é terrível. Mas a situação está calma. Por isso, os israelenses não percebem essa opressão cotidiana. Ninguém acredita mais em paz”.

Do lado palestino também ficou mais difícil de encontrar quem acredite em um acordo de paz baseado em dois estados. A expansão dos assentamentos com a aquiescência dos EUA levou à convicção de que não haverá um estado palestino viável na Cisjordânia e em Gaza.

“Israel não está interessado em permitir a criação de um estado palestino e os EUA, que estão subsidiando esse esforço, não podem e não querem mudar essa situação por causa de sua política interna”, afirmou via e-mail Yousef Munayyer, diretor-executivo do Centro Palestino, sediado em Washington. Ele disse que os palestinos perderam a fé na mediação norte-americana do conflito. Os palestinos provavelmente vão “mudar sua estratégia, distanciando-se da luta separatista baseada na criação de um estado e caminhando em direção a uma luta baseada em direitos (que já está acontecendo)”, pois a “colonização israelense destruiu a integridade territorial de um possível estado” palestino.

Em outras palavras: os palestinos vão buscar seus direitos – incluindo o direito de retornar a sua terra – dentro de um estado único, em vez de buscar o estabelecimento de seu próprio estado nacional. O único problema é que, como me disse recentemente o romancista israelense Amos Oz, “o direito (dos palestinos) de retornar a sua terra é um eufemismo para a liquidação de Israel. Mesmo para uma pomba da paz como eu isso está fora de cogitação”.

Como Omar Barghouti, líder do movimento Boicote, Alienação de Investimentos e Sanções contra Israel disse recentemente a estudantes de Yale: “se os refugiados retornassem a Israel, você não teria uma solução de dois estados, você teria uma Palestina ao lado da Palestina”.

A solução de um único estado equivale ao fim de Israel como um estado nacional judeu. Isso não vai acontecer – e não se deve permitir que aconteça. A busca palestina por esse objetivo é igual a aceitação de um conflito eterno. Os judeus, depois da experiência do século 20, não vão desistir da pátria que eles lutaram tão duro para construir.

Para qualquer sionista liberal – como eu – convencido da necessidade da solução de dois estados prevista pela resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1947, que estabeleceu o moderno estado de Israel, tanto o impulso religioso-nacionalista israelense para manter toda a terra quanto a recusa dos palestinos em abandonar o insustentável e inaceitável “direito de retorno” (não existe esse direito na história; basta perguntar aos judeus) são motivo para um desânimo profundo.

Eu disse a situação de Israel é sustentável. E ela é, em termos físicos. Mas não é em termos éticos. Israel é um estado cuja Declaração de Independência, de 1948, diz que ele seria “fundado com base nos princípios da liberdade, da justiça e da paz de acordo com o espírito das visões dos profetas de Israel; que implementará a igualdade total de direitos sociais e nacionais para todos os seus cidadãos sem distinção de raça, religião e sexo; prometerá a liberdade de culto, opinião, língua, educação e cultura”. A ocupação da Cisjordânia, onde vivem mais de 2,6 milhões de palestinos humilhados, contraria cada palavra dessa declaração.

Em breve, o presidente Barack Obama visitará Israel e a Cisjordânia. Ele não tem nenhum motivo para ter esperanças. A paz está além de uma solução funcional, mas capenga. A falta de limites para a força de Israel e para a vitimização palestina estreitaram o caminho para que se chegasse aos conhecidos compromissos necessários para acabar com o conflito.

Fonte: Notícias: IHU On-Line – 04/03/2013

Netanyahu: o que a ONU diz não me interessa

Uma solução justa, pacífica e duradoura só será possível quando Israel abandonar os territórios ocupados e se implementarem as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas (Manuel Quintero Pérez: Terrorismo versus segurança)

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou na noite desta sexta-feira (21/12) que Israel tem o direito de construir assentamentos na região oriental de Jerusalém, área reivindicada pelos palestinos, mesmo com a desaprovação de boa parte da comunidade internacional e da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em entrevista ao Canal 2 da televisão local, o premiê, que é favorito na eleição legislativa marcada para janeiro de 2013, ele afirmou que trata-se de uma questão de princípios, e pouco importa o que as Nações Unidas pensam a respeito.

“Vivemos em um estado judeu e Jerusalém é a capital de Israel. O Muro das Lamentações não é território ocupado. Construímos em Jerusalém porque é nosso direito. O que a ONU diz não me interessa”, manifestou o chefe do Governo israelense.

O premiê também negou que esta questão esteja relacionada às eleições e não faria parte da estratégia do principal conselheiro de seu partido, Arthur Finkelstein. “Isso é lenda urbana, trata-se de uma política de governo”.

Um dia após o reconhecimento da Palestina como estado observador não membro da ONU no dia 29 de novembro, Israel anunciou planos para construir 3.000 novas unidades de moradia em assentamentos judaicos e avançar o polêmico projeto de edificação na zona E-1, que conectaria o grande assentamento de Maaleh Adumim com Jerusalém e minaria a continuidade territorial do Estado palestino.

Esse anúncio foi duramente criticado por 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU. Seu principal aliado, os Estados Unidos, afirmaram que Israel “está provocando um padrão de ações provocativas” que vão contra a Resolução de Dois Estados e desacreditam as manifestações dos dirigentes israelenses a favor da paz.

Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como capital da Palestina e alegam que as políticas expansionistas de Israel em torno dos assentamentos em Jerusalém Oriental impedem a viabilidade de um estado com continuidade territorial. Já Israel considera, em sua Constituição, a cidade como “capital eterna e indivisível” desde 1981.

A Presidência palestina condenou esta semana as últimas ações de Israel, que “desafia toda a comunidade internacional e menospreza os sentimentos de palestinos e árabes em geral”.

Na entrevista, Betanyahu também criticou o líder de um partido aliado, Naftali Bannett, do Habayit Hayehudi. Na quinta-feira (20), ele havia afirmado que desobedeceria ordens do Exército se fosse obrigado a deixar um assentamento. “Se eu receber uma ordem para retirar um judeu de sua casa, pessoalmente minha consciência não permitiria. Eu pediria para meu comandante me exonerar. Mas eu não iria pedir publicamente por uma desobediência civil”, ele afirmou.

Em resposta, Netanyahu, que é contra a retirada de assentamentos, disse que “qualquer pessoa que insistisse em recusar ordens do Exército não fará parte de meu governo”.

Fonte: Opera Mundi: Netanyahu: “Não me interessa o que a ONU diz sobre assentamentos” – 22/12/2012

 

Amid increasing international criticism of Israel’s recent approval of construction plans in the West Bank and East Jerusalem, Prime Minister Benjamin Netanyahu said in a television interview Friday that he is not interested in what the UN has to say about the subject. Following the UN vote granting the Palestinians non-member status, Israel announced plans to advance a long-frozen project for the E-1 corridor, which links the city of Jerusalem with the settlement of Ma’aleh Adumim. The Netanyahu government also announced plans to build 3,000 new residential units beyond the green line. Criticism of these reached as far as the UN this week, when on Wednesday fourteen members of the UN Security Council condemned Israel for its intention to move ahead with construction in E-1, as well as with building new settler homes. On Tuesday the U.S. State Department accused Israel of engaging in a “pattern of provocative action” that runs counter to statements from Israeli leaders that they are committed to peace. In Friday’s Channel 2 interview, Netanyahu said construction is a matter of principle. “We live in a Jewish state, and Jerusalem is the capital of Israel. The Western Wall is not occupied territory. We will build in Jerusalem because this is our right. What the UN says doesn’t interest me.”

Fonte: Haaretz: Netanyahu: I’m not interested in what UN says about settlement construction – Dec.21, 2012

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Gideon Levy: Eu não fui para Gaza

É um texto impressionante.

Gideon Levy: Eu não fui para Gaza

Gideon Levy, jornalista israelense. No Haaretz, jornal israelense.

Começa assim:

Eu sou um pequeno jornalista que faz parcialmente um mau uso de seu papel e trai a sua missão. Certo, eu corro para o sul, entre os lugares de destruição e residentes traumatizados. Ao escutar as sirenes, eu deito no chão e cubro minha cabeça com as mãos, ou encontro refúgios duvidosos em algumas lojas de roupas de crianças. Eu até vislumbro Gaza do alto da colina em Sderot, mas a Gaza eu não vou, sobre o seu sofrimento eu não reporto. E, assim como acontece comigo, também acontece com todo jornalista israelense. A última vez que fui em Gaza foi em novembro de 2008. Eu reportei então a respeito de um míssil israelense que atingiu as crianças do jardim de infância Indira Gandhi e matou a sua professora diante de seus olhos. Essa foi minha última história sobre Gaza. Desde então Israel baniu a ida de jornalistas israelenses para a Faixa de Gaza, e os jornalistas aceitaram isso com uma obediência e subserviência típicas. Ao longo dos anos eles se tornaram os mais leais (e admiráveis) servidores públicos: eles conhecem a alma da besta. Eles sabem que os seus leitores e telespectadores não querem saber o que se passa em Gaza, e alegremente atendem aos seus desejos. Nem uma palavra de protesto dos jornalistas, cujo governo os proíbe de realizarem seu papel essencial.

E diz também:

É assim que Israel fica sem saber quase nada a respeito do que está se passando em Gaza. Alguém está fazendo com que isso seja indubitável.

E o último parágrafo diz:

É preciso saber o que está acontecendo em Gaza para saber o que está acontecendo em Israel. O jornalismo que fracassa em fazer isso, e sequer protesta, é inimigo do esclarecimento. É bom quando um correspondente militar veste um capacete amarelo e sobe num carro de bombeiros para nos mostrar a destruição num bloco de apartamentos; pode-se de alguma maneira viver com um comentarista militar, propagandista da guerra, que só rosna pela guerra. Mas reproduzir mensagens de textos das autoridades não é jornalismo. Um verdadeiro jornalista israelense deveria estar em Gaza agora. Sem isso, e com a cobertura negligente que é feita lá, nós somos todos pequenos jornalistas.

Mas é preciso ler o texto inteiro.

O mesmo texto, em inglês, no Haaretz: To Gaza I did not go – By Gideon Levy – 02:34 22.11.12
I am a little journalist who partially misappropriates his role and betrays his mission. I run around the south, between the sites of destruction and traumatized residents, but to Gaza I do not go.

Fonte: Carta Maior – 23/11/2012

Quem é Gideon Levy?
Gideon Levy is a Haaretz columnist and a member of the newspaper’s editorial board. Levy joined Haaretz in 1982, and spent four years as the newspaper’s deputy editor. He is the author of the weekly Twilight Zone feature, which covers the Israeli occupation in the West Bank and Gaza over the last 25 years, as well as the writer of political editorials for the newspaper. Levy was the recipient of the Euro-Med Journalist Prize for 2008; the Leipzig Freedom Prize in 2001; the Israeli Journalists’ Union Prize in 1997; and The Association of Human Rights in Israel Award for 1996. His new book, The Punishment of Gaza, has just been published by Verso Publishing House in London and New York.

Chuva de fogo e destruição em Gaza

Diante do olhar mundial anestesiado por tantos conflitos, mais um massacre está em andamento no Oriente Médio.

Por isso, nada mais oportuno do que ler Palestina e Israel. A luta pela Paz Justa.

Como assinalei em post anterior, este é o tema de capa da revista IHU On-Line, n. 408, de 12.11.2012. Recomendo reler o editorial e, em seguida, as entrevistas, que procuram responder à seguinte pergunta:

Quais as origens do conflito entre israelenses e palestinos? Seriam elas de natureza econômica e geopolítica, ou religiosa e cultural?

As entrevistas:

:: Silvia Ferabolli: Os palestinos e a luta pelo direito de existir
Os palestinos lutam hoje pelo reconhecimento da comunidade internacional da Palestina como Estado e pelo direito de andar livres nas ruas de seu suposto Estado sem serem barrados, fichados, presos ou mortos pelo exército israelense

:: David M. Neuhaus: O papel religioso no conflito do mundo árabe
O papel mais importante da pessoa religiosa no conflito não é tanto propor soluções, e sim falar uma nova linguagem que, por princípio, rejeite todo e qualquer desprezo pelo outro, tendo um discurso de respeito

:: Marc H. Ellis: O direto à liberdade dos palestinos
Segregar pessoas e tratá-las como se elas não pertencessem ao seu próprio país é errado. É errado na África do Sul. Também é errado em Israel 

:: Yusef Daher: O problema do uso de padrões duplos em relação a Israel
A paz justa existirá quando os palestinos puderem voltar para casa, não o que está acontecendo agora, em que judeus de outras partes do mundo podem vir para a terra e se tornar cidadãos em uma semana, apenas porque são judeus

:: Viola Raheb: Um sistema político discriminatório e opressivo
A ocupação e as leis de segregação contra os palestinos são políticas de apartheid em termos políticos e jurídicos

:: Manuel Quintero Pérez: Terrorismo versus segurança
Uma solução justa, pacífica e duradoura só será possível quando Israel abandonar os territórios ocupados e se implementarem as resoluções pertinentes do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas

:: Rifat Odeh Kassis: “Para os palestinos, a perspectiva de uma paz verdadeiramente justa é improvável”
Creio que o Kairós Palestina deu aos cristãos no mundo árabe um modelo novo e diferente de como necessitam participar de sua própria sociedade, de seus assuntos e suas lutas; procura lembrar às pessoas de que não faz sentido nos isolarmos e vivermos com medo

:: Eduardo Minossi de Oliveira e Érico Teixeira de Loyola: A falta de vontade política nas decisões sobre o conflito Israel X Palestina
O que esse povo mais reivindica é a liberdade a essa população, através do fim da ocupação e a constituição de um Estado palestino, para que assim possa se negociar a paz de maneira justa e igual

:: Marcelo Buzetto: MST e Via Campesina: solidariedade com a heroica resistência popular
A partilha da Palestina feita pela ONU em 29 de novembro de 1947 e a fundação do Estado de Israel como Estado judeu em 15 de maio de 1948 são, sem dúvida, a origem do conflito

Leia Mais:
Fórum Social Mundial Palestina Livre – World Social Forum Free Palestine
Medo e ódio em Gaza, enquanto a ofensiva continua
O desvario dos conflitos armados
Noam Chomsky e colegas denunciam cobertura da mídia sobre Gaza
O objetivo da operação é mandar Gaza de volta à Idade Média, diz ministro israelense

Fórum Social Mundial Palestina Livre

De 28 de novembro a 1º de dezembro, realiza-se, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial Palestina Livre – World Social Forum Free Palestine.

Fórum da Palestina é precedido de polêmica

Palestina e Israel. A luta pela Paz Justa: este é o tema de capa da revista IHU On-Line, n. 408, de 12.11.2012.

Diz o Editorial:

A IHU On-Line desta semana, com a assessoria de Nancy Cardoso Pereira, mestre e doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp, e pós-doutora em História Antiga pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, pastora da Igreja Metodista e membro do Palestine Israel Ecumenical Forum (PIEF)/World Council of Churches (WCC), debate o grave e dramático conflito de mais de 50 anos e discute os desafios, os limites e as possibilidades de uma ‘Paz Justa’. Participam da edição Silvia Ferabolli, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e doutoranda em Política e Estudos Internacionais pela Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres – SOAS, University of London, o jesuíta David M. Neuhaus, judeu, atualmente vigário patriarcal para os católicos de língua hebraica de Israel e coordenador da Pastoral entre Migrantes do mesmo país,  Rifat Odeh Kassis, palestino, coordenador do Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e em Israel do Conselho Mundial de Igrejas – CMI, Viola Raheb, palestina, trabalha na Igreja Evangélica Luterana da Jordânia e Palestina, Manuel Quintero Pérez, jornalista e presbítero diaconal da Igreja Presbiteriana Reformada em Cuba, coordenador internacional do Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e Israel – PAEPI/EAPPI com sede em Genebra, Suíça, Yusef Daher, secretário executivo do Jerusalém Inter-Church Center of the Heads of Churches of Jerusalém,  Marc H. Ellis, autor de mais de 20 livros, incluindo o inovador Toward a Jewish Theology of Liberation (“Para uma teologia judaica da Libertação”) e Marcelo Buzetto, membro do Setor de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Participam igualmente do debate, com os seus depoimentos, Eduardo Minossi de Oliveira, geógrafo, e Érico Teixeira de Loyola, formado em Direito, ambos luteranos, que foram observadores, na Palestina, de direitos humanos através do Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e Israel – PAEPI/EAPPI.

Israel x Irã

Nós: ontem e amanhã. E hoje? Leia:

:: Israel versus Irã: Apocalipse now! (1ª parte) – Luiz Alberto Moniz Bandeira: Carta Maior 16/03/2012
Mesmo com o respaldo da esquadra, estacionada no Golfo Pérsico, e a participação de tropas dos Estados Unidos, uma guerra contra o Irã, desencadeada por Israel, seria uma guerra extremamente difícil e sangrenta. Um ataque de Israel ao Irã mataria milhares de civis e arrasaria cidades, sem garantia de destruir completamente o programa de enriquecimento de urânio. Por outro lado, o Irã logo retaliaria com uma chuva de mísseis, provocando milhares de mortes em Israel.

:: Israel x Irã: O espraiamento do conflito (2ª parte) – Luiz Alberto Moniz Bandeira: Carta Maior 17/03/2012
Uma guerra entre os dois países, além de massacrar, possivelmente, milhares de árabes e israelenses, bem como norte-americanos, elevaria o preço do gás e do petróleo a um nível inimaginável, catapultado para uma cifra superior a US$ 250, ou mesmo chegar US$ 500 o barril, interrompendo o comércio e causando um cataclismo na economia mundial, já abalada e deprimida, desde 2007-2008, pela crise do sistema financeiro, a partir do colapso do Lehman Brothers e outras corporações.

O que está acontecendo na Síria hoje?

::  ISIS: a Conexão Washington – Talmiz Ahmad: Outras Palavras 19/11/2015
O caminho que o ISIS fez, da Síria a Paris, tem origem em Washington. Em comentários públicos feitos em outubro de 2014, o vice-pesidente Joe Biden colocou o dedo na ferida. Ele reconheceu: “… na Síria, nosso maior problema foram nossos aliados na região. Estavam tão determinados a derrubar Assad e promover uma guerra entre sunitas e xiitas … [que] ofereceram centenas de milhões de dólares e dezenas, milhares de toneladas de armamentos a qualquer um que lutasse contra Assad. Não importava se estes grupos eram parte da Al-Nusra e Al-Qaeda, ou jihadistas vindos de outras partes do mundo.”

:: Na Síria, o alvo agora é a Al-Qaeda – José Antonio Lima: CartaCapital 09/01/2014
Bashar al-Assad deve estar aliviado. Desde 3 de janeiro, suas tropas desfrutam de uma inesperada trégua, provocada não pelos esforços internacionais em favor da paz na Síria, mas por um conflito entre os rebeldes – muitos deles religiosos radicais – que até pouco tempo atrás estavam unidos contra o regime de Damasco. A disputa interna entre os opositores de Assad, iniciada com ataques verbais em 2013, evoluiu para um confronto militar nos últimos dias, e a tendência é que acabe com a oposição ainda mais enfraquecida. O foco do confronto no interior da oposição síria é um grupo chamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante, conhecido pelo acrônimo em inglês ISIL. Esta facção é o braço iraquiano da rede terrorista Al-Qaeda e, desde 2013, atua na Síria. Formado por combatentes de dezenas de países diferentes, o ISIL alienou muitos rebeldes ao tentar dominar a oposição e por realizar sequestros e assassinatos contra aqueles que deveriam ser seus aliados na guerra contra Assad. Muitos desses ataques tinham como fonte uma diferença ideológica. Enquanto o ISIL deseja estabelecer um Estado islâmico no Levante (região que engloba, a grosso modo, a Síria, o Líbano, a Palestina e Israel), os outros rebeldes querem centrar suas ações na destituição do regime Assad. No fim de 2013, a relação das duas partes, que se deteriorou ao longo do segundo semestre do ano, chegou a um impasse. Na sexta-feira 3, se tornou um confronto militar. Segundo o Carnegie Endowment For International Peace, uma instituição norte-americana, três grupos diferentes realizaram ataques simultâneos contra bases e áreas dominadas pelo ISIL.

:: A Jihad europeia na Síria – Eduardo Febbro: Carta Maior 09/01/2014
Mais dois franceses se somaram esta semana à lista de europeus mortos na Síria. Não se trata de jornalistas, nem de membros de alguma ONG, mas sim de combatentes ocidentais que foram a Síria para se unir às fileiras da oposição islamista radical ao regime de Bachar Al-Assadn (…) França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Bélgica, Dinamarca e Holanda: vários países do Velho Continente têm visto muitos jovens cidadãos, frequentemente de origem muçulmana, partir para a Síria para integrar algum bando da oposição. Em meados de dezembro de 2012, os ministros do Interior de França e Bélgica, Manuel Valls e Joëlle Milquet, revelaram que entre 1500 e 2000 europeus se deslocaram como “combatentes” para a Síria desde o mês de março daquele ano. As cifras assinalam um aumento considerável desses combatentes. Para todo o ano de 2012, a quantidade de jihadistas europeus chegou a 800, três vezes menos que em 2013. Segundo fontes da contraespionagem francesa, somente no mês de dezembro uns 14 jihadistas franceses foram lutar na Síria. Esta curva ascendente constitui uma das maiores preocupações dos serviços de inteligência dos países europeus. Manuel Valls informou que, atualmente, há uns 200 franceses na Síria, outros 70 “em trânsito” enquanto outros 100 estariam em “vias de se deslocarem”.

:: A evolução contínua da Al-Qaeda 3.0 – Bruce Riedel: Al Monitor, em Carta Maior 05/01/2014
As organizações ligadas a Al-Qaeda e suas ideias estão prosperando em todo o mundo árabe como nunca antes, devido ao fracasso da Primavera Árabe. Há menos de três anos, a Al-Qaeda, a organização e sua ideologia, estava na defensiva, em retirada (…) No início de 2014, o quadro é muito diferente de 2011. A ascensão de filiais da Al-Qaeda tem sido mais dramática no chamado Crescente Fértil, de Beirute a Bagdá. A Al- Qaeda no Iraque, erroneamente proclamada como derrotada, reviveu com o Estado Islâmico do Iraque e a Al-Sham (ISIS) e está mais mortal do que nunca. Hoje, está lutando novamente para assumir o controle da província de Anbar. Houve também o nascimento de uma “franquia” síria, Jabhat al-Nusra, que agora participa também da disputa pelo poder na Síria. Juntos, ISIS e Jabhat al-Nusra estão tentando destruir  centenárias fronteiras da região, traçadas por Londres e Paris, após a Primeira Guerra Mundial. Milhares de jihadistas de todo o mundo muçulmano, muitos deles da Europa, reuniram-se na Síria para se juntar à luta contra o regime de Bashar al-Assad. A violência sectária entre sunitas e xiitas está se multiplicando, alimentando o fogo que a Al- Qaeda há muito cultiva. Filial da Al-Qaeda no Líbano, as Brigadas Abdullah Azzam estão tentando importar a guerra civil síria para o país.

:: O que Putin tem a dizer aos EUA sobre a Síria – Vladimir Putin: The New York Times, em Carta Maior 15/09/2013
O potencial ataque do Estados Unidos à Síria, apesar da forte oposição de vários países e de importantes líderes políticos e religiosos, o papa inclusive, resultaria em mais inocentes mortos, potencialmente alastrando o conflito além das fronteiras sírias. Tal ação causaria aumento da violência, desencadeando uma nova onda de terrorismo. A Síria não está testemunhando uma batalha por democracia, mas um conflito armado entre governo e oposição em um país multi-religioso. Há poucos defensores da democracia na Síria. Desde o princípio, a Rússia defendeu um diálogo pacífico que permita aos sírios desenvolver um plano de compromisso para seu próprio futuro. Nós não estamos defendendo o governo sírio, mas a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU deve ser respeitado e acreditamos que a preservação da lei e da ordem neste complexo e turbulento mundo é uma das poucas formas de fazer com que as relações internacionais não se tornem caóticas. A lei ainda é a lei, e independente de concordarmos com ela ou não, devemos segui-la. Sob a lei internacional atual, o uso da força só é permitido em autodefesa ou por decisão do Conselho de Segurança. Qualquer outra ação é considerada inaceitável sob a Carta das Nações Unidas e constituiria um ato de agressão. É alarmante que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado algo comum para os Estados Unidos. Isso faz parte de interesses a longo prazo da América? Duvido. É preciso parar de usar a linguagem da força e retornar ao caminho civilizado da diplomacia e dos acordos políticos. Uma nova oportunidade de evitar ações militares surgiu nos últimos dias.

:: A partilha da pizza? – Antonio Luiz M. C. Costa: CartaCapital 13/09/2013
Três semanas após o ataque químico nas vizinhanças de Damasco, o impasse parece caminhar para um desfecho inesperado, capaz de resultar em uma mudança duradoura nas relações geopolíticas da região e talvez o menos ruim que se poderia esperar nessas circunstâncias. Pela oposição da Rússia, pela falta de apoio interno ou por ambas as razões, Barack Obama parece a ponto de desistir do ataque à Síria e aceitar a proposta russa pela qual Bashar al-Assad entregará seu arsenal químico à ONU para ser desmantelado. Implicitamente, os EUA parecem desistir de vez de tentar forçar a vitória do Exército da Síria Livre, a facção relativamente pró-ocidental para os quais parte da mídia ocidental adotou a prática esdrúxula de chamar de “rebeldes regulares” ou mesmo “rebeldes oficiais”. Os demais, vinculados à Al-Qaeda, aos salafistas ou ao separatismo curdo, seriam “rebeldes rebeldes”? “Oficiais” ou não, a imagem dos insurgentes sofreu mais reveses nestes dias. O historiador e politólogo belga Pierre Piccinin e o jornalista italiano Domenico Quirico, libertados no domingo 8 após cinco meses de cativeiro nas mãos das Brigadas Al-Farouk (“islâmicos moderados”) revelaram ter sofrido torturas nas mãos de seus algozes e ouvido uma conversa por Skype deles com supostos membros do Exército Livre, na qual admitiam ter realizado o ataque químico em busca de uma intervenção ocidental. Agnes Mariam el-Salib, madre superiora de um convento católico sírio, apareceu na mídia russa para afirmar que os vídeos do ataque com gás foram encenados. A revista alemã Bild revelou várias mensagens interceptadas pela espionagem alemã nos últimos quatro meses, nas quais militares sírios pedem permissão para usar armas químicas várias vezes, com respostas sempre negativas. A reportagem sugere que os comandantes as usaram sem autorização de Assad, mas há outras possibilidades. Houve quem dissesse que Putin forneceu a Obama uma saída honrosa ante uma iminente derrota no Congresso, que o humilharia e poderia ser desastrosa para o restante de seu mandato.

:: ONU confirma uso de armas químicas na Síria, mas não aponta responsáveis – Redação: Opera Mundi 13/09/2013
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta sexta-feira (13/09) que o relatório dos inspetores enviados à Síria deve ser divulgado na próxima semana e confirmará o uso de armas químicas em Damasco, sem, no entanto, atribuir a culpa a nenhum dos lados do conflito.

:: O verdadeiro alvo do Ocidente é o Irã, e não a Síria – Robert Fisk: Carta Maior 02/09/2013
Antes que comece a guerra ocidental mais idiota na história do mundo moderno – eu me refiro, é claro, ao ataque à Síria que todos nós vamos ter que engolir – podemos dizer que os mísseis que esperamos ver cruzando os céus de uma das cidades mais antigas das humanidade não têm nada a ver com a Síria. Eles têm como objetivo atacar o Irã. Eles pretendem atacar a república islâmica agora que ela tem um presidente novo e vibrante – diferente do bizarro Mahmoud Ahmadinejad – e bem quando ele pode estar um pouco mais estável. O Irã é inimigo de Israel. Então o Irã é, naturalmente, inimigo dos EUA. Então dispare os mísseis no único aliado árabe do Irã.

:: “Superpotência moral”? Dá um tempo – Gideon Levy: Haaretz, em Carta Maior 02/09/2013
É impossível afirmar que os Estados Unidos, país responsável pela maior parte do derramamento de sangue desde a Segunda Guerra Mundial na Ásia, América do Sul, Afeganistão e Iraque, seja dirigido por considerações morais. O ataque a Síria seria um Iraque II. Os EUA – que nunca foram punidos pelas mentiras do Iraque I e pelas centenas de milhares de mortos em vão nessa guerra – dizem que uma guerra similar deveria ser lançada. Mais uma vez, uma cortina de fumaça.

:: Ataque à Síria é sobre poder, não sobre os civis –  José Antonio Lima: CartaCapital  31/08/2013 10:35
Sem justificativa legal para ofensiva, EUA apelam para a moralidade, a mesma que foi esquecida enquanto 100 mil pessoas morreram. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ainda não tomou sua decisão final. Parece iminente, entretanto, uma ofensiva contra a Síria, em retaliação ao aparente ataque com armas químicas realizado nos subúrbios de Damasco no último dia 21. Sem a possibilidade de obter um mandato legal para o bombardeio – bloqueado pela Rússia e pela China – Washington busca dar um verniz de legitimidade à ação. Será uma tarefa difícil esconder que o mundo não está diante da defesa da moralidade, ou do que “é certo”, mas de uma clássica disputa por poder. A opção aparentemente escolhida pelos Estados Unidos para realizar a retaliação contra Assad: ataques “limitados”, realizados a partir de destróieres, com mísseis Tomahawk, cuja capacidade de destruição é imensa e a precisão, nem tanto. Essas características do armamento têm levado o pânico a moradores de Damasco e outras cidades sírias, mesmo aqueles contrários a Assad, como mostraram algumas reportagens da imprensa internacional nos últimos dias. Os civis, aqueles que os EUA supostamente querem proteger, muito provavelmente vão sofrer ainda mais com os ataques norte-americanos. Na melhor das hipóteses, e também a mais improvável, Assad vai desistir de usar armas químicas contra a população e os guerrilheiros estrangeiros da oposição (e continuar com tanques, caças e mísseis). Na pior das hipóteses, a Síria vai promover sua própria retaliação, dando início à guerra das guerras do Oriente Médio, na qual finalmente haverá um acerto de contas entre o eixo Irã-Síria-Hezbollah e os clientes dos Estados Unidos, em especial a Arábia Saudita e os países do Golfo, a Turquia e, possivelmente, Israel. No meio termo entre esses dois desfechos extremos, os EUA vão agora castigar Assad, mas eventualmente o ditador retomará o uso de seu arsenal químico. Washington será instada a reagir uma, duas, três vezes, até aleijar todas bases do poder de Assad. Quando isto ocorrer, a Síria estará transformada numa mistura de Afeganistão com Iraque: diversos territórios controlados por pequenos senhores da guerra (entre os quais Assad), com uma divisão sectária profunda (combustível para atentados terroristas), e sem uma força internacional capaz de controlar todos esses atores. Neste estágio, uma solução política, hoje ainda possível, será impraticável. A curto, médio e longo prazo, quem pagará o maior preço pela escolha da intervenção militar em detrimento de uma intervenção política será a população síria.

:: EUA têm plano para “ataque militar limitado”; Reino Unido já movimenta seu Exército – Redação: Opera Mundi 27/08/2013
“Os tambores de guerra estão tocando ao redor da Síria”, afirmou o ministro das Relações Exteriores,Walid al Muallem. A afirmação veio nesta terça-feira (27/08) após a notícia que os EUA já preparam um ataque em represália às denúncias de utilização de armas químicas pelo Exército sírio. O plano de Washington não pretende interferir no conflito civil do país, mas, sim, “atacar instalações das Forças Armadas da Síria e impedir a produção de armas químicas”, afirmaram altos funcionários do Pentágono à mídia norte-americana e ao jornal El Pais. Mesmo sem qualquer comprovação oficial ou conclusão dos trabalhos de perícia da ONU (Organização das Nações Unidas), os EUA já estudam o ataque militar que vai ter “alcance militado” às Forças Armadas do governo Assad. Uma fonte do governo norte-americano confirmou à rede CNN e ao jornal Washington Post que o Pentágono já movimenta tropas no Mediterrâneo.

:: Intervenção militar ocidental na Síria vai tomando forma – Eduardo Febbro: Carta Maior 27/08/2013
Não há até o momento nenhuma decisão formal adotada, mas as trombetas da guerra são ouvidas nas principais capitais ocidentais cujos países são membros do Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha. Quanto aos outros dois membros, China e Rússia, Pequim recomendou prudência e Moscou cerrou fileiras com Damasco. Cabe assinalar que as potências ocidentais não são as únicas que promovem sanções militares contra a Síria. A Turquia também se somaria a uma eventual coalizão. Os observadores militares alegam que a operação na Síria deveria ser breve e sem deslocamento de tropas. Seu ponto de partida seria um dos quatro navios que estão no Mediterrâneo, apoiados por mísseis de cruzeiro franceses e britânicos. O esquema parece armado. Só falta quem vai apertar primeiro o gatilho.

:: Roteiro de guerra na Síria segue trama de filme B – Pedro Aguiar: Opera Mundi 26/08/2013
A trama completamente ilógica, apesar de parecer escrita por um roteirista mal pago, é a que está sendo desenhada para justificar a próxima aventura de Barack Obama e seus falcões de guerra: a intervenção ocidental na Síria. Para fazer algum sentido, os personagens desse filme de Sessão das Dez teriam no mínimo de ter objetivos retos, não tortuosos. Por que um regime que já se encontrava em vantagem no terreno iria ter o desatino de massacrar civis não combatentes, especialmente num momento em que a guerra de atrito o favorece, minando a capacidade de mobilização dos rebeldes? Por que utilizar armas não convencionais, quando o uso de armas de fogo já estava em prática há anos sem causar alarde internacional? Por que logo três dias depois da chegada dos inspetores da ONU à capital, hospedados a poucos quilômetros dali, no que seria uma afronta sem qualquer ganho político? E por que Ghouta, um subúrbio residencial, de baixa densidade e ocupação semi-rural, sem nenhum alvo estratégico militar ou político? E por que, responda Alá se puder, menos de 24 horas depois de autorizar a entrada dos inspetores da ONU no local do massacre, Assad armaria uma emboscada abrindo fogo contra eles, tudo sob os holofotes da CNN, da BBC e da Al Jazeera?

:: Do impasse sírio à guerra regional –  Alain Gresh/Le Monde Diplomatique, em Opera Mundi 03/08/2013
A situação militar recente na Síria foi marcada pela vitória das tropas oficiais, apoiadas pelo Hezbollah, em Qusayr, e pela decisão dos Estados Unidos de armar os insurgentes. Nada prenuncia o fim dos enfrentamentos. Pelo contrário: o conflito toma um rumo confessional e se espalha para toda a região. Como explicou um oficial norte-americano no relatório extremamente completo que publicou o ICG (International Crisis Group) “uma guerra síria com dimensões regionais está se transformando em uma guerra regional no entorno da Síria”. Uma nova “guerra fria” divide o Oriente Médio, similar à que, nos anos 1950 e 1960, tinha visto o enfrentamento entre o Egito nasseriano aliado dos soviéticos e a Arábia Saudita parceira dos Estados Unidos. Mas os tempos mudaram: o nacionalismo árabe diminuiu, os discursos confessionais se espalharam, e nos perguntamos inclusive a respeito da perenidade dos Estados e das fronteiras que tiveram origem na Primeira Guerra Mundial.

:: Síria: a guerra na televisão – Robert Fisk: Carta Maior 03/09/2012
Na hora mais sombria da Síria, um pouco de verdade real aflorou à superfície. Há um par de noites, Al Assad concedeu sua entrevista mais importante em meses – seguirá lutando, disse, e a batalha da Síria está muito longe de terminar – ao canal privado Dunia. Carros-bomba, corpos esquartejados, vítimas gritando, fazem parte hoje do cotidiano das notícias vespertinas. O canal de televisão especializado em dramas perdeu atrativo nos últimos meses. Agora que há um drama verdadeiro nas ruas, quem vai se interessar pela versão teatral?

:: “Fazer alguma coisa” na Síria – José Manuel Pureza: Carta Maior 03/08/2012
A História não é uma realidade em preto e branco. É um embuste a sua apresentação como enfrentamento entre anjos e patifes. As revoltas democráticas no mundo árabe foram sequestradas pelos jogos geopolíticos: na guerra síria joga-se porventura menos a democracia do que a fragilização do Irã por Israel e pela Arábia Saudita. A urgência de “fazer alguma coisa” tem décadas de resultados desastrosos, armando até aos dentes os aliados de agora que serão os patifes de amanhã.

:: Guerra de mentiras – Robert Fisk: Carta Maior 01/08/2012
Já se viu no Oriente Médio uma guerra em que impera tamanha hipocrisia? Uma guerra de tamanha covardia, de moral malvada, com tamanha falsa retórica e vergonha pública? Não me refiro às vítimas físicas da tragédia na Síria. Refiro-me às mentiras e à falsidade dos nossos governantes e da nossa opinião pública – tanto no Oriente como no Ocidente –, em ambos os casos dignas de risos: não são senão uma horrível pantomima mais característica de uma sátira de Swift do que de Tolstói ou de Shakespeare.

:: A falácia da intervenção “humanitária” na Síria – Larissa Ramina: Carta Maior 29/07/2012
A questão internacional central, e também o principal embate da encruzilhada síria, está na perigosa articulação do conceito de “intervenção humanitária”. O intelectual e escritor belga Jean Bricmont, em recente fala na Unesco, chama a atenção para o que rotulou de “noção falaciosa de guerra humanitária”, e denuncia um condicionamento ideológico proveniente das mídias, que segundo ele visam a tornar uma intervenção militar na Síria aceitável aos olhos da opinião pública mundial.

:: Insurgência contra regime sírio é sustentada pelo Ocidente – Luiz Alberto Moniz Bandeira: CartaCapital, reproduzido em Ópera Mundi 26/03/2012
EUA e União Europeia pretendem assumir o controle do Mediterrâneo e isolar politicamente o Irã.

:: Ocidente equipa serviços de espionagem de países que condena – Eduardo Febbro: Carta Maior 26/03/2012
As democracias ocidentais têm grandes dificuldades para esconder o rabo do diabo. As potências que no interior do Conselho de Segurança da ONU promovem resoluções em defesa dos Direitos Humanos ou para condenar o regime sírio, egípcio, líbio ou iraniano são as mesmas que venderam a esses regimes – e a outros – o material tecnológico necessário para vigiar e reprimir a oposição. A hipocrisia é uma regra de ouro: a comunidade internacional invoca os valores por um lado e, pelo outro, entrega com chaves nas mãos os instrumentos tecnológicos usados para submeter os povos.

:: As revoluções árabes, um ano depois – Samir Amin: Carta Maior 12/03/2012
O regime de Bashar al-Assad não é nem mais nem menos do que um estado policial que acompanha a submissão às exigências do “liberalismo” globalizado. A legitimidade da revolta do povo sírio é indiscutível. Mas a destruição da Síria é o objetivo dos três parceiros, que são os Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita, que mobilizam para isso a Irmandade Muçulmana e lhe fornecem armas. A sua eventual vitória – com ou sem a intervenção externa – resultará no desmembramento do país, massacre dos alauitas, drusos e cristãos. Mas não importa. O objetivo de Washington e seus aliados não é libertar a Síria do seu ditador, mas destruir o país, como não era para libertar o Iraque de Saddam Hussein, mas para o destruir.

:: Síria: agonia do regime e o nascimento de uma nova nação – Reginaldo Nasser: Carta Maior 07/03/2012
Os altos custos econômicos e sociais do conflito relacionam-se cada vez mais à luta travada entre as grandes potências e os poderes regionais sobre o futuro do país. Historicamente, nos momentos em que a Síria encontra-se unida e estável, ela representa um importante ator regional, mas quando está dividida, como agora, torna-se uma arena para a luta de forças externas, muito embora a revolta tenha se originado exclusivamente no seio de sua sociedade.

:: Oposição síria assume militarização do movimento contra governo – Eduardo Febbro: Carta Maior 01/03/2012
Os opositores sírios estão ingressando em um caminho turvo. O Conselho Nacional Sírio (CSN) assume pela primeira vez a militarização do movimento de contestação contra o regime de Bashar Al Assad que iniciou há um ano. O presidente do CNS, Burhan Ghaliun (foto), esteve em Paris no mesmo dia em que o rumo da guerra interna tomava outra direção. Ghaliun modificou a linha inicial deste movimento ainda impreciso e anunciou a criação de um “bureau militar” para organizar o fornecimento de armas.

:: O arabesco sírio – Francisco Carlos Teixeira: Carta Maior 01/03/2012
Na Síria a Primavera árabe encontrou uma situação diversa, complexa e com resistências sedimentadas. Para infelicidade do povo sírio e dos verdadeiros democratas que iniciaram, com o custo de suas vidas, a oposição ao regime Assad, o que se joga hoje na Síria é um brutal jogo de poder estratégico regional e global. Num nível local alinham-se os poderes xiitas minoritários, com o Irã/a maioria xiíta iraquiana/ a Síria e a minoria xiita do Líbano, representada pelo Hizbollah, contra as “potências” sunitas, representadas pela Arábia Saudita/Qatar/Kuait, com apoio da Turquia e a intervenção brutal da Al-Qaeda. A este nível global do xadrez se juntam os EUA e a União Europeia e Israel, visando manter o controle da região e impedir a emergência de um Irã como potência regional e enfraquecer ao máximo a Síria como opositor de Israel. Do outro lado, alistam-se China e Rússia, dispostas a evitar a completa hegemonia americana e, tendo como corolário e justificativa, a limitação da soberania das nações em nome do princípio da intervenção humanitária (RtoP). Eis uma parte do arabesco sírio.

:: A nova Guerra Fria já começou na Síria – Robert Fisk: Carta Maior 29/02/2012
Foi bom saber, pelo secretário de Relações Exteriores britânico, que “não estamos apoiando a ideia de alguém atacar o Irã neste momento”. Talvez mais tarde, então. Ou talvez depois de o presidente Assad cair, privando o Irã de seu único – e valioso – aliado no Oriente Médio. É disso que se trata, eu suspeito, esse monte de rugidos vociferando contra Assad. Livre-se de Assad e você estará cortando parte do coração do Irã. Se isso vai levar Ahmadinejad a transformar suas usinas nucleares em fábricas de leite, bem, isso já é outro assunto.

:: Sobre a Síria – Jean Bricmont: Carta Maior 29/02/2012
A lição que devemos extrair não consiste em apressar-se em outra guerra na Síria, como fizemos na Líbia, sustentando que desta vez estamos no lado bom, defendendo a população contra os ditadores, mas reconhecer que já é hora de deixar de pensar que temos de controlar o mundo árabe. Na alvorada do século XX, a maioria do mundo se encontrava sob o controle europeu. O Ocidente acabará perdendo o controle sobre essa parte do mundo, como perdeu na Ásia Oriental e está perdendo na América Latina.

:: Sobre a Síria: a batalha de propaganda e outras batalhas – Alain Gresh: Carta Maior 28/02/2012
A revolta na Síria, que vai em breve entrar no seu segundo ano, levanta questões dramáticas para as quais não existem respostas simplistas – para não se fazer a política do quanto pior melhor. A batalha pela Síria é também uma batalha de propaganda. O regime perdeu-a há muito, tanto que as suas afirmações são frequentemente grotescas, as suas mentiras óbvias e as suas práticas bárbaras. No entanto, as informações que se multiplicam 24 horas sobre 24 em todas as cadeias de rádio e de televisão, e que frequentemente têm uma única fonte, a oposição no exterior do país, são verdadeiras?

:: “A maioria do povo sírio quer que o clã Assad saia” – Tariq Ali: Carta Maior 28/02/2012
O escritor e ativista diz que uma intervenção externa na Síria seria desastrosa e conduziria a um enorme banho de sangue, muito pior do que ocorreu na Líbia. Para Tariq Ali, China e Rússia estão numa posição forte para conseguir uma mudança sem ações violentas. “E é preciso que a pressão se mantenha internamente. É preciso dizer a Assad, em termos claros, que ele tem de ir embora, que o pai dele derramou muito sangue na Síria, ele está a fazer o mesmo”, defende.

:: O impasse sírio – Immanuel Wallerstein: Carta Maior 28/02/2012
Não creio que num ano ou dois assistamos à saída de Assad do poder, ou à mudança substancial do seu regime. Por mais que seja elevado o volume da retórica e por mais terrível que seja a guerra civil, ninguém quer realmente que Assad saia. Arábia Saudita, Estados Unidos, Israel, Turquia e França, nenhum destes países quer intervir diretamente no conflito sírio. Posso imaginar o suspiro de alívio de Washington, quando a Rússia vetou a resolução da ONU sobre a Síria. Por isso, com todas as probabilidades, Assad vai ficar.

O frágil equilíbrio do Oriente Médio está se rompendo

O artigo, publicado na Carta Maior no dia 22/02/2012, é do Professor Francisco Carlos Teixeira, da UFRJ. O título: As novas condições estratégicas no Oriente Médio. A sinopse diz:

É comum que se escreva, sempre com algum exagero, que os últimos acontecimentos – sejam de qualquer natureza – mudaram as relações internacionais e as condições estratégicas regionais e/ou globais. Neste início de 2012, contudo, uma visão de conjunto do Oriente Médio/Ásia Central nos mostra que o equilíbrio conseguido com grande esforço depois do fim da Guerra Fria, em 1991, desmoronou.
No artigo ele diz que “a última década, grosso modo, foi de importantíssimas mudanças. Para facilitar a caracterização de tais mudanças, e apenas para efeito didático, vamos fazê-lo em dois movimentos. De um lado os fatores exógenos que impactaram a região e, de outro, os fatores endógenos que moldam as tendências atuais de mudança e que, por sua vez, impactam as relações globais”.
Neste primeiro artigo, Francisco Carlos Teixeira trata de fatores exógenos (de proveniência externa), como:
  • A quase total retirada da Rússia do jogo político regional do Oriente Médio
  • A invasão norte-americana, e de seus aliados da OTAN, no Afeganistão em 2001, com um impacto de grandes proporções no Paquistão e no próprio Irã
  • O fracasso das mediações do conflito Israel-Palestina considerado, por muito tempo, um produto da Guerra Fria (1945-1991), mostrou tratar-se, em verdade, de um conflito nacional
  • A desastrosa invasão norte-americana do Iraque, em 2003, destruindo boa parte do equilíbrio regional, expresso nas relações Irã-Iraque, Arábia Saudita-Iraque e, mais complexo ainda, entre sunitas e xiitas em toda a região
  • A emergência de novos e autônomos polos alternativos de poder político e econômico, em especial a China Popular e a Índia – e mais recentemente o Brasil
  • A crise da Europa – uma crise econômica, política e de instituições da UE – acaba por levar a uma situação de militarização e saturação de iniciativas bélicas na região sul do bloco europeu, tudo em nome do chamado “Princípio de Intervenção Humanitária”, aplicado de forma bélica quando o país alvo não cumpra com a “Responsabilidade de Proteger” (“RtoP” ou “R2P”, conforme a sigla em inglês) seus próprios cidadãos
  • Como corolário do item anterior, a crise econômica europeia, acompanhada de recrudescimento dos setores chauvinistas e racistas nos partidos de centro-direita europeus (França, Áustria, Alemanha, Bélgica, Holanda, Polônia) consolida a recusa – nunca pronunciada – da admissão da Turquia na União Europeia

E ele explica:
“Estes são fatores de grande impacto sobre o Oriente Médio/Ásia Central que, nos últimos dez ou doze anos, conformaram largamente as relações internacionais na região. Não foram gerados na própria região, possuem profundas raízes históricas na própria dinâmica global, mas tiveram um impacto profundo sobre a região. De forma muito clara, por sua vez, geraram localmente apropriações originais que, por sua vez, darão movimento a tendências locais/regionais de grande alcance.

A crise mundial, desde 2008, com seu impacto direto sobre as economias europeias – os clientes e parceiros tradicionais das ditaduras “estabilizadoras” (quer dizer, sunitas, pro-ocidentais e indiferentes em relação ao destino da Palestina ) – enfraqueceu imensamente o equilíbrio anterior. Da mesma forma, as reformas “regressistas” e liberais realizadas nas economias locais (bem antes de atingirem a Europa), destruíram o sistema clientelístico e provedor das elites que conseguiram, com a ajuda da brutal repressão de suas polícias políticas, manter a ordem oligárquica.
Assim, a partir de 2008, com maior expressão ao final de 2010, irrompem inúmeros e incontroláveis movimentos populares, greves e manifestações de rua no imenso arco que se estende do Atlântico, com o Marrocos, até o Golfo Pérsico, no Bahrein, passando pela Argélia, Tunísia, Líbia, Egito, Arábia, Jordânia, Irã e Síria. De forma muito discreta na mídia ocidental, mas causando temor e perplexidade, milhares de israelenses vão às ruas em Jerusalém, Haifa e Tel-Aviv exigindo mais moradia e empregos e menos guerra.
É neste contexto que as direções políticas regionais – tanto no Cairo ou Teerã, quanto em Tel-Aviv ou Riad – correm em direção a uma agudização dos conflitos locais. A rua assusta os governos que então alardeiam a ameaça externa”.

O autor continuará com a exposição dos fatores endógenos, ou seja, originados internamente.

Leia o texto completo.
Fonte: GBN Defense:

Palestina: a conquista do Estado

Especial de Carta Maior:

Palestina: a conquista do Estado

O objetivo do povo palestino é o reconhecimento de seus ​​direitos nacionais inalienáveis em seu Estado independente da Palestina, com Jerusalém oriental como capital, em todas as terras da Cisjordânia, incluindo Jerusalém oriental e Faixa de Gaza – que Israel ocupou na guerra de junho de 1967 –, em conformidade com as resoluções de legislação internacional e com o reconhecimento de uma solução justa e acordada para a questão dos refugiados da Palestina.