É um texto impressionante.
Gideon Levy: Eu não fui para Gaza
Gideon Levy, jornalista israelense. No Haaretz, jornal israelense.
Começa assim:
Eu sou um pequeno jornalista que faz parcialmente um mau uso de seu papel e trai a sua missão. Certo, eu corro para o sul, entre os lugares de destruição e residentes traumatizados. Ao escutar as sirenes, eu deito no chão e cubro minha cabeça com as mãos, ou encontro refúgios duvidosos em algumas lojas de roupas de crianças. Eu até vislumbro Gaza do alto da colina em Sderot, mas a Gaza eu não vou, sobre o seu sofrimento eu não reporto. E, assim como acontece comigo, também acontece com todo jornalista israelense. A última vez que fui em Gaza foi em novembro de 2008. Eu reportei então a respeito de um míssil israelense que atingiu as crianças do jardim de infância Indira Gandhi e matou a sua professora diante de seus olhos. Essa foi minha última história sobre Gaza. Desde então Israel baniu a ida de jornalistas israelenses para a Faixa de Gaza, e os jornalistas aceitaram isso com uma obediência e subserviência típicas. Ao longo dos anos eles se tornaram os mais leais (e admiráveis) servidores públicos: eles conhecem a alma da besta. Eles sabem que os seus leitores e telespectadores não querem saber o que se passa em Gaza, e alegremente atendem aos seus desejos. Nem uma palavra de protesto dos jornalistas, cujo governo os proíbe de realizarem seu papel essencial.
E diz também:
É assim que Israel fica sem saber quase nada a respeito do que está se passando em Gaza. Alguém está fazendo com que isso seja indubitável.
E o último parágrafo diz:
É preciso saber o que está acontecendo em Gaza para saber o que está acontecendo em Israel. O jornalismo que fracassa em fazer isso, e sequer protesta, é inimigo do esclarecimento. É bom quando um correspondente militar veste um capacete amarelo e sobe num carro de bombeiros para nos mostrar a destruição num bloco de apartamentos; pode-se de alguma maneira viver com um comentarista militar, propagandista da guerra, que só rosna pela guerra. Mas reproduzir mensagens de textos das autoridades não é jornalismo. Um verdadeiro jornalista israelense deveria estar em Gaza agora. Sem isso, e com a cobertura negligente que é feita lá, nós somos todos pequenos jornalistas.
Mas é preciso ler o texto inteiro.
O mesmo texto, em inglês, no Haaretz: To Gaza I did not go – By Gideon Levy – 02:34 22.11.12
I am a little journalist who partially misappropriates his role and betrays his mission. I run around the south, between the sites of destruction and traumatized residents, but to Gaza I do not go.
Fonte: Carta Maior – 23/11/2012
Quem é Gideon Levy?
Gideon Levy is a Haaretz columnist and a member of the newspaper’s editorial board. Levy joined Haaretz in 1982, and spent four years as the newspaper’s deputy editor. He is the author of the weekly Twilight Zone feature, which covers the Israeli occupation in the West Bank and Gaza over the last 25 years, as well as the writer of political editorials for the newspaper. Levy was the recipient of the Euro-Med Journalist Prize for 2008; the Leipzig Freedom Prize in 2001; the Israeli Journalists’ Union Prize in 1997; and The Association of Human Rights in Israel Award for 1996. His new book, The Punishment of Gaza, has just been published by Verso Publishing House in London and New York.