Autran Dourado, escritor patense, premiado pela ABL

ABL dá prêmio Machado de Assis ao romancista Autran Dourado

“A ABL – Academia Brasileira de Letras – concedeu, nesta quinta-feira [5 de junho de 2008], o prêmio Machado de Assis ao romancista mineiro Autran Dourado, 82, pelo conjunto de sua obra (…) A decisão foi tomada hoje em reunião dos membros da ABL, no Rio. Em 2002, o autor de “Ópera dos Mortos” (1967) já havia levado o prêmio Camões de Literatura. Entre os livros do escritor, que mora no Rio, estão “Gaiola Aberta” (2000) e “O Risco do Bordado (1970). Ele nasceu em Patos de Minas, MG”.

Fonte: Folha Online: 05/06/2008

Parabéns, ilustre conterrâneo, artesão da palavra!

Teologia e Literatura: comadres ciumentas

Como disse aqui, o tema de capa da Revista IHU On-Line, edição 251, que saiu no dia 17 de março de 2008, foi a a relação entre Literatura e Teologia.

Só hoje consegui ler todos os textos. Há muitas coisas interessantes, mas o texto que mais me fascinou foi a entrevista de Waldecy Tenório, professor associado da PUC-SP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP. Deixo à curiosidade do leitor a busca desta e das outras entrevistas, mas quero destacar um pequeno trecho, onde ele diz que Teologia e Literatura são comadres ciumentas que disputam o ser humano e que quando elas se beijam é porque não podem se morder:

IHU On-Line – São relações pacíficas ou literatura e teologia são “irmãs inimigas”? Por quê?

Waldecy Tenório – Pacíficas nunca foram, nunca serão, e é bom que assim seja. Elas poderiam subscrever, juntas, aquele famoso verso de Petrarca, que começa assim: “Pace no trovo” (não tenho paz), e termina dizendo que “non ho da far guerra” (não posso fazer a guerra). As duas têm a mesma idade, nasceram na mesma época, a poesia era a alma dos ritos religiosos. Com o tempo, a teologia foi se transformando numa senhora sisuda, muito respeitável, uma velhinha que não tira nunca o véu da cabeça, enquanto a outra parece mais jovem, irreverente, a louca da casa, de reputação às vezes duvidosa, e é claro que isso acabou por criar um certo conflito ou uma certa desconfiança entre as duas. Mas acredito que a principal razão disso é que uma tem ciúme da outra porque ambas são apaixonadas pelo ser humano. O ciúme as faz viver de pé atrás, às vezes nem se olham, de forma que, parodiando Bernard Shaw, quando elas se beijam é porque não podem se morder. Essa tensão foi captada por Drummond quando escreve um verso que soa como a encruzilhada do eu lírico desesperado: “Meu Deus e meu conflito”. Ora, esse conflito é muito rico, não pode ser jogado fora nem por uma “literatura edificante” nem por uma “religiosidade melosa” do tipo new age. Por isso é bom que as comadres continuem assim, desconfiando uma da outra.

 

A entrevista

“Meu Deus e meu conflito”. Teologia e literatura

Para o professor Waldecy Tenório, o sagrado e o profano se encontram na literatura, sendo a poesia a última forma de êxtase

Ao falar sobre a ligação entre teologia e literatura, o professor Waldecy Tenório, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), considera profundas as relações entre essas duas áreas. “Dessas que se dão nas camadas subterrâneas do texto. E os teólogos e os críticos, mais do que nunca, estão descobrindo isso”, afirmou, em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line. Para ele, “não seria possível desconhecer o encontro entre a fé e o ceticismo no interior da literatura”.
Tenório é graduado em Letras Clássicas com doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. É autor de A bailadora andaluza: a explosão do sagrado na poesia de João Cabral (São Paulo: Ateliê Editorial, 1996) e de ensaios publicados na grande imprensa e em revistas acadêmicas nacionais e internacionais sobre as relações entre literatura e teologia. Atualmente, atua como professor associado da PUC-SP e é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP.

IHU On-Line – Como foram no passado e como se desenham hoje as relações entre literatura e teologia?
Waldecy Tenório – Se fizéssemos essa pergunta ao evangelista João, ele certamente diria que no princípio era o Verbo, e não estaria dizendo pouco. Quer dizer, essa relação entre literatura e teologia já aparece na origem, ou na aurora do mundo, como se fosse uma culpa ou um pecado original. Na antigüidade grega, encontramos a doutrina do entusiasmo, que associa a inspiração poética à profecia ou mesmo à possessão por um Deus. No mundo judaico, não se concebe a escrita a não ser dentro de uma ligação muito forte com o divino. O profeta Ezequiel engoliu “goela abaixo” o rolo de um livro e ainda teve de antecipar o prazer do texto de Roland Barthes dizendo, meio sem graça, que o livro lhe era doce como o mel. É claro que não podemos esquecer os poemas que são os textos fundantes de outras grandes tradições religiosas, como, por exemplo, o Bhagavad-Gita. Mas se, por uma questão de método, permanecermos na trilha judaico-cristã, vamos encontrar, a seguir, esse monumental biografema, as Confissões de Santo Agostinho, a empresa editorial de São Jerônimo, a escola de Hugo de San Victor, Dante, São João da Cruz, Teresa d’Ávila, Sóror Juana Inês… E depois – não dá para lembrar tudo – Derrida vem nos dizer que a letra é sempre roubada e o Deus bíblico transmigra para a literatura profana, se esconde na poesia, se disfarça no romance e, por vezes, dá as caras no cinema. Por que já se pôde dizer que o Ulysses de Joyce é um romance teológico? Porque o Deus bíblico é esperto, deixa rastros, e isso de propósito, para não o esquecermos, para ficarmos sempre no seu encalço, nessa agonia que vitimou desde os antigos profetas até uma Simone de Beauvoir: “onde está ele?”. O fato é que o sagrado e o profano se encontram na literatura, sendo a poesia a última forma de êxtase ou, como diz Murilo Mendes, a transubstanciação do leigo no sagrado. Então, resumindo: foram e são relações profundas, essas que se dão nas camadas subterrâneas do texto. E os teólogos e os críticos, mais do que nunca, estão descobrindo isso.

IHU On-Line – São relações pacíficas ou literatura e teologia são “irmãs inimigas”? Por quê?
Waldecy Tenório – Pacíficas nunca foram, nunca serão, e é bom que assim seja. Elas poderiam subscrever, juntas, aquele famoso verso de Petrarca, que começa assim: “Pace no trovo” (não tenho paz), e termina dizendo que “non ho da far guerra” (não posso fazer a guerra). As duas têm a mesma idade, nasceram na mesma época, a poesia era a alma dos ritos religiosos. Com o tempo, a teologia foi se transformando numa senhora sisuda, muito respeitável, uma velhinha que não tira nunca o véu da cabeça, enquanto a outra parece mais jovem, irreverente, a louca da casa, de reputação às vezes duvidosa, e é claro que isso acabou por criar um certo conflito ou uma certa desconfiança entre as duas. Mas acredito que a principal razão disso é que uma tem ciúme da outra porque ambas são apaixonadas pelo ser humano. O ciúme as faz viver de pé atrás, às vezes nem se olham, de forma que, parodiando Bernard Shaw, quando elas se beijam é porque não podem se morder. Essa tensão foi captada por Drummond quando escreve esse verso que soa como a encruzilhada do eu lírico desesperado: “Meu Deus e meu conflito”. Ora, esse conflito é muito rico, não pode ser jogado fora nem por uma “literatura edificante” nem por uma “religiosidade melosa” do tipo new age. Por isso é bom que as comadres continuem assim, desconfiando uma da outra.

IHU On-Line – Há um certo distanciamento entre teólogos e críticos literários. O que acontece? Dogmatismo, positivismo, ateísmo ou desconhecimento mútuo?
Waldecy Tenório – É tudo isso mesmo que se reúne na pergunta, esse coquetel Molotov, cujo ingrediente mais forte é justamente o dogmatismo. Isso é uma doença que vem de longe e contra ela não existe vacina. De um lado, o dogmatismo teológico. Disse antes que, na origem, há cumplicidade entre literatura e teologia. Só como exemplo, lembremos os poetas teólogos de Platão e os cantos líricos em louvor da divindade. Começa assim essa história, e vai indo muito bem, até que a teologia se converte em doutrina e se começa a falar em Verdade, assim, com maiúscula. Ora, diante de alguém que fala desse jeito, o outro é sempre suspeito e passível de condenação. É assim que o teólogo vai se transformando num comissário, guardião de uma doutrina, único depositário da verdade. O crítico literário, por sua vez, é envolvido pelo que já se chamou de o “demônio da teoria”, e esse demônio sempre se disfarça no interior da ideologia da época: o racionalismo, o positivismo, o ateísmo… E aí, quando os demônios põem as garras de fora, acontece uma pororoca: o encontro do dogmatismo religioso com o dogmatismo laico, e então entram em cena as famosas hermenêuticas redutoras. Para piorar as coisas, os teólogos têm um vício muito antigo e insuportável: estão sempre procurando uma ancilla, na pior das hipóteses, um sacristão alfabetizado para ser portador de uma “mensagem”. A literatura, que segundo Barthes, desafia o Pai Político e o Pai Religioso, não aceita esse papel. E o que acontece? Platão expulsa os poetas da República, o Papa os ameaça com a excomunhão e o secretário-geral do Partido diz que são reacionários porque não adotam as “posições corretas” do Grande Irmão. Quando se encontram, teólogos e críticos literários só podem ficar mesmo meio ressabiados e distantes, no mínimo, sem jeito. Diálogo? De um lado, um risinho amarelo – filosófico -, do outro, um risinho amarelo – teologal. E fica nisso.

IHU On-Line – Quando se fala em literatura e teologia, a Igreja é sempre lembrada. Essa lembrança se dá em termos positivos ou negativos. Por quê?
Waldecy Tenório – Essa pergunta é um convite para um pequeno passeio pela história da intolerância religiosa. Os que gostam de erudição poderão começar pelo brado retumbante de Tertuliano: “O que há entre Atenas e Jerusalém?”. Mas não precisamos ir tão longe porque o dogmatismo e o fanatismo são venenos que chegam até os nossos dias. Não é raro se ouvir um inacreditável “Não vi e não gostei” vindo do interior de alguma sacristia ou, se dormirmos no ponto, de alguma repartição pública, para ensinar como é que o romance ou o teatro devem tratar de algum tema. Saramago é um exemplo, sofreu isso recentemente. Quem não se horroriza, pois, só de pensar naqueles “leitores terríveis” de que nos fala Octavio Paz? O arcebispo que perseguia Sóror Juana Inês era um deles. Tudo isso contribui para reforçar o lado negativo da Igreja, quando se trata de pensar a relação entre literatura e teologia. Mas precisamos ver também o outro lado, o mal não reina assim absoluto. É muito significativa a história de Walter Miller sobre os monges que decoravam os livros a fim de preservá-los para o dia em que os homens tivessem a nostalgia da cultura, o que evidentemente nos faz lembrar os monges e os livros na Idade Média. De modo que nem tudo é obscurantismo. Podemos lembrar a esse respeito um célebre encontro entre Graham Greene e o Papa Paulo VI. Lá pelas tantas o escritor lembrou-se de perguntar: “O senhor sabe que O Poder e a Glória estão no Índex dos livros proibidos?”. O papa arregalou os olhos: “Quem fez isso?”. “O cardeal tal”, disse o escritor. Paulo VI balançou a cabeça e fez um gesto como quem diz: “esqueça o cardeal tal”.

IHU On-Line – Karl-Josef Kuschel insinua que Deus é um péssimo princípio estilístico. Vindo de um teólogo católico, o que isso significa?
Waldecy Tenório – Frank Kermode, um dos mais importantes críticos literários da atualidade, conclui um dos seus ensaios dizendo que os teólogos estão interessados numa espécie de acordo como o que foi feito entre a psicanálise e a ficção. Em outras palavras, eles estão interessados numa aproximação entre a teologia e a crítica literária. Uma prova disso talvez seja justamente o livro Os escritores e as escrituras, no qual Kuschel coloca a frase que está no centro dessa pergunta: Deus como um péssimo princípio estilístico. Para avaliarmos o sentido dessa expressão, precisamos lembrar que Kuschel fala como um renomado teólogo católico e um grande conhecedor da literatura, de que dão prova seus estudos sobre Kafka e a literatura alemã em geral. E o que ele diz nesse livro? Paulo Soethe , que escreve o prefácio, resume bem a questão, dizendo que Kuschel afasta-se da arrogância de quem manipula a poesia e a ficção com fins religiosos e também da obtusidade de quem elide, nos textos, os elementos ligados à religião e à fé. A frase de Kuschel, portanto, soa como uma advertência contra essas duas posições sectárias e significa a abertura de um caminho por onde teólogos e críticos literários possam dialogar. E isso melhora muito a situação da Igreja diante dos críticos literários, que, por sua vez, também precisam jogar fora a armadura dos seus dogmatismos. Além disso, quando se fala na aproximação entre literatura e teologia não se pode ficar preso à tradição cristã ou católica. É preciso pensar mais longe, ir em busca da prisca theologia, para colocar aí a relação imemorial do homem com o divino, em suas múltiplas formas e na expressão própria de cada tradição.

IHU On-Line – Há lugar na universidade para o diálogo entre literatura e teologia? Podemos dizer que existe uma pesquisa significativa, nessa área, na América Latina e no Brasil?
Waldecy Tenório – Não faz muito, Umberto Eco nos contou a história de um estudante que, em plena aula, perguntou: “professor, na época da internet, o senhor ainda serve para alguma coisa?”. Claro que uma pergunta como essa é um desafio: onde está, afinal, a essência do ato pedagógico? Por outras palavras, de que se trata? Armazenar informações? Desenvolver habilidades para fazer alguma coisa? Responder às necessidades do mercado? Se for só isso, realmente o professor, não digo que seja dispensável, mas sua função estaria mesmo tão diminuída que a pergunta daquele estudante não seria um disparate completo. Acontece, porém, que o ato pedagógico tem a ver com outras águas, tem a ver com a correnteza principal do rio que fertiliza a condição humana e deve fertilizar a escola. Ou seja, a educação deve entrar no cenário da cultura como um antídoto para o esquecimento do ser, e aí o diálogo entre literatura e teologia é de uma enorme pertinência. E, felizmente, tem produzido trabalhos de boa qualidade, em diversos países e no Brasil. Desse diálogo, pode brotar a resposta que Shakespeare está esperando de nós há mais de três séculos: a resposta para a questão do ser ou não ser.

IHU On-Line – Além da crença, o diálogo entre literatura e teologia tematiza também a questão do ceticismo?
Waldecy Tenório – Claro, não seria possível desconhecer o encontro entre a fé e o ceticismo no interior da literatura. A literatura traz em si todos os sentimentos humanos: amor, ódio, alegria, tristeza, angústia, desespero, esperança, dúvida, fé… Deus e o diabo são personagens obrigatórios, embora às vezes clandestinos, escondidos sob mil disfarces. O Bem e o Mal, o mistério que todos somos, tudo isso pulsa no romance e na poesia. E depois, lembrando Tillich, Deus está pressuposto na própria situação de dúvida em relação a ele. Então, não há como escapar. A literatura oscila, então, entre o ceticismo e a fé, e daí o desespero e a angústia dos escritores, céticos ou crentes. Uns acreditam, outros não, muitos se desesperam. E há aqueles sempre marcados por uma profunda nostalgia. Não há dúvida de que a fé e o ceticismo são as duas faces de uma mesma moeda, duelam no fundo obscuro do texto como no fundo obscuro da vida. Lembro Sartre falando de Deus. É surpreendente e muito bonito: “como não conseguiu enraizar-se no meu coração, Deus vegetou em mim algum tempo e depois morreu. Hoje, quando me falam dele, como o homem que encontra uma antiga namorada e sente uma profunda nostalgia, eu penso: há cinqüenta anos, sem aquele mal-entendido que nos separou, poderia ter havido alguma coisa entre nós…”.

IHU On-Line – Fazendo um exercício de leitura teopoética, como aparece a relação entre crença e ceticismo na poesia de João Cabral de Melo Neto? Como caracterizar o sagrado em seus poemas?
Waldecy Tenório – João Cabral é um caso exemplar na poesia moderna brasileira. Os ensaios que escreveu, entre os quais podemos lembrar, “Considerações sobre o poeta dormindo”, “A inspiração e o trabalho de arte”, bem como seu estudo sobre Joan Miró, podem ser incluídos naquela grande tradição dos poetas críticos estudados por Leyla Perrone-Moisés. Basta dizer que a sua “angústia da influência” tem um nome, por si, emblemático: Paul Valéry. Ora, se os surrealistas queriam que o poema fosse a derrota do intelecto, Valéry pensa diferente. Sua obsessão é o ostinato rigore de Da Vinci e, portanto, para ele, o poema deve ser “a festa do intelecto”. Valéry escreve sob o domínio do claro, do exato, do racional. Seguindo nessa trilha, nosso poeta abandona o momento romântico no qual, segundo Pristley, vivíamos batendo palmas para a sombra da lua e toma outro rumo, vai celebrar o sol. Estamos em pleno Iluminismo, como mostra o poema “A cana e o século XVIII”, no qual “a cana é pura enciclopedista /no geométrico, no ser de dia/ na incapacidade de dar sombras/ mal-assombradas, coisas medonhas”. Aqui o sobrenatural não tem vez, tanto mais que João Cabral é ateu e, diz ele, nasceu sem transcendência. No entanto, como em certa canção da MPB, o inesperado faz uma surpresa e o leitor, se estiver atento, é testemunha de uma mudança. A conhecida frase de Adorno, segundo a qual “o mundo totalmente iluminado brilha sob a luz de uma terrível desventura”, encontra sua tradução num verso que diz “Dá-se que hoje dói na vida tanta luz”. Resumindo: a poesia de João Cabral acaba por descobrir que o racionalismo nos desumanizou. No mundo da técnica sem o suplemento de alma que Bergson reclamava e no mundo da ciência sem consciência que Morin denunciou, “o esquadro disfarça o eclipse/ que os homens não querem ver”. O eclipse é a crise do homem e então o poeta revoluciona a sua astronomia dizendo que “nova espécie de sol/ eu, sem contar, descobria”. A nova espécie de sol é o ser humano e então, da fase marcada pela astronomia, sua obra passa para uma fase marcada pela antropologia. Não é mais o racional nem o econômico, é o humano que conta. Ora, Rahner nos ensinou que da antropologia para a teologia é um passo. Ao descobrir o homem, João Cabral descobre a sua própria transcendência. E o extraordinário é que se trata de uma mulher. A bailadora andaluza revoluciona a astronomia do poeta quando faz a conexão com o sagrado, aquele sagrado que explode nem que seja na vida severina. Por isso, deixe agora que eu lhe diga, quem aconselha o retirante a pular para dentro da vida? Pode ser Seu José, mas também pode ser São José mestre carpina. Por que não?

Centenarios de Machado e Rosa

Seminário Nacional de Literatura e Cultura Brasileira: Machado e Rosa

Esse seminário, a realizar-se no período de 30 de setembro a 03 de outubro de 2008, presta uma homenagem a dois dos mais destacados representantes da Literatura brasileira: Machado de Assis e Guimarães Rosa. A Machado de Assis associa-se, entre outras coisas a criação de Academia Brasileira de Letras e a Guimarães Rosa a inserção definitiva da Literatura brasileira em âmbito mundial. No ano em que são comemorados o centenário de morte de Machado de Assis e o de nascimento de Guimarães Rosa, torna-se imperiosa uma ação que preste homenagem a esses dois ilustres brasileiros [sublinhados meus].

De 30 de setembro a 3 de outubro de 2008? Ainda está longe, mas fique de olho!

Fonte: IHU Eventos

Asterix em árabe e hebraico contribui para a paz

Asterix, o herói gaulês, teve um de seus álbuns traduzido, simultaneamente, para o árabe e o hebraico. A versão foi lançada no Salão do Livro de Paris (23 a 27 de março de 2007). Aí está a contribuição do intrépido guerreiro para a paz no Oriente Médio.

 

Astérix en arabe et en hébreu : les sangliers de la paix

Le premier album d`Astérix traduit simultanément en arabe et en hébreu a été présenté ce week-end au Salon du livre de Paris. L`idée des traducteurs est de lancer “une passerelle” entre les cultures… (RTN – Neuchâtel – Suisse)

 

Asterix ganha versões em árabe e hebraico

O herói dos quadrinhos Asterix deu sua contribuição simbólica para o entendimento no Oriente Médio no último fim de semana, com o lançamento simultâneo das traduções para o árabe e o hebraico de seu livro, na Feira Literária de Paris.

“A tradução nos abre para os outros, para todos os povos”, disse o sírio Jamal Shehayeb, que normalmente traduz trabalhos literários de Proust ou do poeta Lamartine.

No livro, os amigos do diminuto guerreiro galês “vivem em paz e amizade com todos os outros povos, desde que ninguém os incomode”, disse a israelense Dorith Daliot Rubinovitz, que costuma traduzir a obra do romancista francês Maupassant.

“Asterix chez Rahazade” é o título em francês do livro traduzido, que faz um jogo de palavras com Sherazade, a heroína e narradora dos contos das 1001 Noites.

Os dois tradutores disseram que tiveram que adaptar o texto à realidade, mas decidiram manter os javalis selvagens, que povoam a obra de Asterix, apesar das objeções religiosas de judeus e muçulmanos à carne de porco.

O sírio afirmou que um livro anterior de Asterix, traduzido para o árabe, usou “animais selvagens” no lugar de “javalis” para evitar ofender os fundamentalistas. Desde que foram criadas, em 1959, as histórias de Asterix foram traduzidas para 107 línguas e dialetos. (Folha Online: 27/03/2007 – 07h46)

 

Astérix editado em hebraico e em árabe em simultâneo
O primeiro álbum das aventuras de Astérix traduzido simultaneamente em árabe e em hebraico foi apresentado no fim-de-semana no Salão do Livro de Paris, com o objectivo de lançar “uma ponte” entre as duas culturas, segundo os seus tradutores. Trata-se de As 1001 Noites de Astérix, ou Asterix Chez Rahazade, no título original… (Diário de Notícias Online – Lisboa: 27/03/2007)

Entrevista com o escritor Gore Vidal

Três expressivos intelectuais norte-americanos ousaram enfrentar, após o 11 de Setembro, a “Junta Bush-Cheney”: o lingüista Noam Chomsky, a ensaísta Susan Sontag (falecida em 2004) e o escritor Gore Vidal.

Leia abaixo a entrevista de Gore Vidal à Folha.

Com Bush, perdemos a Constituição, diz Vidal (Folha Online: 12/02/2007 – 09h51)

Soberba acirra ódio dos rivais conservadores de Gore Vidal (Folha Online: 12/02/2007 – 09h57)

Meu presente de Natal: Grande Sertão: Veredas

Ganhei um incrível presente de Natal: o exemplar de número 02.724 da tiragem limitada de 10.000 cópias da edição comemorativa dos 50 anos de Grande Sertão: Veredas acompanhada do catálogo da mostra concebida por Bia Lessa em exposição no Museu da Língua Portuguesa durante o ano de 2006 e de um CD multimídia, com imagens e sons do sertão descrito por Guimarães Rosa.

Presente da Maria Gláucia. Requintado presente. Obrigado, amiga!

O que se segue é o poema que Carlos Drummond de Andrade escreveu em 22/11/1967 em homenagem a Guimarães Rosa, por ocasião de sua morte ocorrida em 19/11/1967.

Um chamado João

João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas,
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?
Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal ele era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?

Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
ciranda multívoca?
João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada?
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bolso,
cada qual com a cor de suas águas?
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gota redigia
nome, curva, fim,
e no destinado geral
seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus novos?

Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precipites prodígios acudindo
a chamado geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos poderes, das
supostas fórmulas
de abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?
Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é esse?

E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?
Tinha parte com… (não sei
o nome) ou ele mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?

Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
de se pegar.

Carlos Drummond de Andrade, Versiprosa. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1967.
Carlos Drummond de Andrade, Poesia Completa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. ISBN 8521000626

Dom Quixote, de Cervantes, traduzido para o quéchua

“Dom Quixote” ganha tradução em língua indígena

“Huh K’iti Mancha Suqupi Chaypa sutinta mana yuyanyta Munanichu” não diz muito a um leitor de Cervantes. É assim, porém, que começa a obra magna “Dom Quixote”, do mais universal escritor espanhol, Miguel de Cervantes. Mas em quéchua. “Num lugar da Mancha de cujo nome não quero recordar-me”, escreveu Miguel de Cervantes, ao abrir as aventuras do fidalgo Alonso Quijano e do seu fiel escudeiro, Sancho Pança.

É exatamente isso que lerá o falante de quéchua, língua indígena da América do Sul que ganhou nesta semana sua primeira tradução de “Dom Quixote”. A edição inclui ilustrações feitas em tábuas por camponeses de San Juan de Salua, que reinterpretam a região espanhola de La Mancha adaptando-a ao cenário andino. Atualmente, falam quéchua cerca de 20 milhões de pessoas no Peru, Bolívia, Equador, Chile, Argentina, Colômbia e Brasil. A tradução foi responsabilidade de Demétrio Tupác Yupanki, um peruano descendente dos incas –que falavam o quéchua, também conhecido como quíchua.

Na cerimônia de lançamento, em Madri, Yupanki contou que, quando o organizador do projeto, Miguel de la Quadra-Salcedo, o procurou, aceitou prontamente o desafio. Ele destacou a influência de “Dom Quixote” na cultura peruana, lembrando que desde 1607 as figuras do fidalgo andante e de Sancho Pança eram homenageadas nas festas barrocas de Pausa (Peru).

Yupanki, membro da Academia Peruana de Língua Quéchua, já havia traduzido a Constituição peruana para a língua de seus antepassados.

Fonte: Folha Online: 09/06/2006

Rosa no Redemoinho mostra os vários tons que podem dialogar com a obra do escritor mineiro

A “cor” de Rosa

Lançamento da exposição Rosa no Redemoinho mostra os vários tons que podem dialogar com a obra do escritor

Quem foi ontem ao Palácio das Artes na abertura da Exposição Rosa no Redemoinho, em homenagem aos 50 anos do lançamento de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, viu o quanto esta obra ainda pode ser reinventada. Artistas dos mais variados campos da criação mostraram ao público seus trabalhos, que não só absorvem, como também dialogam e reapropriaram a obra roseana. Instalações, desfile, exposição e seminário: todos esses eventos fazem parte do projeto e querem mostrar, sob diferentes vertentes, que ”não há nada de mais atual do que o legado de Guimarães Rosa”, como afirma a Secretária de Estado de Cultura Eleonora Santa Rosa. A exposição começou num tom areia com a instalação do cineasta Éder Santos, O Erro nas Estórias, que ocupou a frente da entrada principal do Palácio das Artes. O quarteirão da avenida Afonso Pena foi obstruído para que uma escavadeira pudesse revolver a areia de um lado para outro, mostrando a desconstrução e reconstrução da imagem. Enquanto centenas de pessoas assistiam ao trabalho, Éder, animado com a repercussão, comemorava os objetivos atingidos. Ronaldo Fraga, estilista, trouxe os diferentes vermelhos que estão na terra sertaneja. Organizado no foyer do Palácio das Artes, o desfile teve uma ornamentação especial, que lembrava as festas típicas do sertão de Minas Gerais. Sob um tapete de serragem, os modelos mostravam muito mais do que roupas ou personagens específicas da obra de Guimarães Rosa. A moda que Ronaldo Fraga quis passar para o público representava o contexto sertanejo. “Ao criar um elemento direcionador da coleção, quis colocar o popular e o erudito na mesma palavra, no mesmo ponto e no mesmo lugar”, explica o estilista. Ainda na noite de domingo, foi lançada a edição especial do Suplemento Literário de Minas Gerais que traduz em uma linguagem crítica o que há de contemporâneo em Grande Sertão: Veredas. Camila Diniz, editora do Suplemento, reforçou a importância da publicação que traz um diálogo completamente inovador com Guimarães. “O Suplemento se insere no Projeto Rosa no Redemoinho com uma outra linguagem, mais acadêmica. Por essa razão, reunimos textos de intelectuais e pesquisadores de todo o Brasil que são referência não apenas para as pessoas que não conhecem Guimarães Rosa, mas para aqueles que já conhecem e querem ver as diversas abordagens sobre o autor”, relata. Ainda dentro do projeto, o público pôde conhecer outras tonalidades: O Sertão de Arlindo, de Arlindo Daibert; Sussuruídos, de Cacá Carvalho, Retrovão, de Rogério Veloso e Borboletas, de Paulo Perdeneiras. As exposições no Palácio das Artes permanecem abertas à visitação até o dia 04 de junho. Projeto idealizado pela Secretaria de Estado de Cultura, Rosa no Redemoinho traz, segundo a secretária Eleonora Santa Rosa, um dos melhores e mais instigantes programas celebrativos e críticos em torno da obra de Guimarães Rosa (cont.)

Viajando pelo Grande Sertão: Veredas, em busca do quem das coisas

Leia o texto de Flávio Lobo, com fotos de Germano Neto, Pelas Veredas do Sertão. Foi publicado por CartaCapital de 2 de junho de 2004 – Ano X – Número 293.

É a obra e a biografia de Guimarães Rosa guiando admiradores e especialistas Brasil adentro…

Leia também O Baú do Vovô Joãozinho. O mundo de invenção que o escritor Guimarães Rosa compartilhava com duas netas vira livro: Ooó do Vovô – Correspondência de João Guimarães Rosa, vovô Joãozinho, com Vera Lúcia e Beatriz Helena Tess.

Mire veja: é tempo de caminhar com Guimarães Rosa

Guimarães Rosa será lembrado em caminhada literária no Ibirapuera

Contadores de histórias de Cordisburgo (MG), cidade natal do escritor João Guimarães Rosa, fazem uma Caminhada Literária no parque Ibirapuera neste domingo (21/05/2006), a partir das 10h. O passeio, em homenagem aos 50 anos de lançamento do romance “Grande Sertão: Veredas“, sai do Bosque da Leitura e faz sete paradas em diversos pontos do parque para que o grupo, dirigido pelo mestre Brasinha, apresente Recado do Morro, conto do livro No Urubuquaquá, no Pinhém. A caminhada integra a programação da Semana Guimarães Rosa, promovida pelo Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo.

Fonte: Agência Brasileira de Notícias – 19/05/2006