Seminário Internacional 50º de Grande Sertão: Veredas, em Belo Horizonte

No blog 2005 – Uma Odisséia Literária, de Leandro Oliveira, de Belo Horizonte, se lê:

Seminário Internacional sobre Guimarães Rosa

Será realizado em Belo Horizonte entre os dias 22 e 25 de maio [de 2006], um Seminário Internacional 50º de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, organizado pela Profa. Dra. Marli Fantini Sarpelli, atual premiada com o prêmio Jabuti na categoria Teoria e Crítica Literária por sua obra “Guimarões Rosa – Fronteiras, Margens, Passagens”. As inscrições são gratuitas (…) A programação segue abaixo (cont.)

Confira também, sobre o seminário, o site da Faculdade de Letras da UFMG. E não deixe de ler o que já se escreveu sobre o Grande Sertão: Veredas neste blog…

Eu carrego um sertão dentro de mim: homenagens a Guimarães Rosa em São Paulo

Folha Online: 15/05/2006 – 10h51

Ciclo em SP investiga rastros de Guimarães Rosa

Sylvia Colombo – da Folha de S.Paulo

 

“Depois de Guimarães Rosa [1908-67], não houve nada tão ambicioso.” Se as palavras do professor de literatura da USP João Adolfo Hansen por um lado elogiam o autor de “Grande Sertão: Veredas“, por outro apontam para um cenário atual um tanto desalentador para nossas letras. A contemporaneidade da obra que causou uma verdadeira revolução na nossa linguagem quando foi lançada, em 1956, é um dos temas do ciclo de debates que comemora este seu 50º aniversário. O Seminário Internacional João Guimarães Rosa começa hoje e vai até sexta-feira (…), no anfiteatro da faculdade de Geografia da USP (…) “A idéia é discutir a obra em todas as suas vertentes, não só a literária, mas também a histórica, a geográfica e a psicanalítica, entre outras”, diz Heinz Dieter Heidemann, vice-diretor do IEB (Instituto de Estudos Brasileiros), que mantém o acervo e a biblioteca pessoais de Guimarães Rosa e organiza o evento. Na abertura, o crítico literário Antonio Candido dará um depoimento sobre seus encontros com o escritor, assim como o bibliófilo José Mindlin, também proprietário dos originais do livro. “Conheci Rosa pessoalmente em 1946, em Paris, e cheguei à conclusão de que (cont.)

E: Sertão é do tamanho do mundo. 50 anos da obra de João Guimarães Rosa – Revista IHU ON-Line, edição 178, de 2 de maio de 2006

Leia também o que já foi publicado aqui no blog.

Grande Sertão: Veredas, na Biblioteca do Estudante, com preço atraente

O grande romance de Guimarães Rosa foi escolhido pela editora Nova Fronteira para abrir a coleção Biblioteca do Estudante, que levará ao público livros de grandes autores sempre indicados em cursos, vestibulares e outros concursos. O objetivo da coleção é oferecer ao leitor obras de alta qualidade literária com texto integral e de primoroso acabamento gráfico, com preços reduzidos.

Esta edição de Grande Sertão: Veredas, publicada agora em 2006, tem 608 páginas e custa R$ 28,00, podendo a obra ser encontrada na loja virtual Submarino por R$ 23,80.

GUIMARÃES ROSA, J. Grande Sertão: Veredas

 

Se você ainda não conhece Grande Sertão: Veredas, ou o conhece pouco, confira, neste mesmo blog, aqui.

Dan Brown inocentado de plágio

Folha Online: 07/04/2006 – 10h40

Justiça inocenta escritor Dan Brown em caso de plágio

O escritor norte-americano Dan Brown não plagiou o livro de dois autores britânicos ao escrever o sucesso de vendas “O Código Da Vinci”, decidiu nesta sexta-feira a Justiça britânica. Os acusadores terão que pagar US$ 1,75 milhão de custas judiciais. Dan Brown comemorou a decisão ao afirmar que (cont.)

Pistas para a leitura de Grande Sertão: Veredas – V

BOLLE, W. Grandesertão.br. São Paulo: Editora 34, 2004, 478 p.

E o “Urutú Branco”? Ah, não me fale. Ah, esse… tristonho levado, que foi – que era um pobre menino do destino…



Publicado em 1956, Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, tem suscitado desde então um grande número de estudos e interpretações. O mais recente lançamento da Coleção Espírito Crítico – Grandesertão.br, de Willi Bolle – vem abrir uma perspectiva inteiramente nova nesse panorama. Partindo da idéia de que a obra-prima de Rosa ganha em complexidade quando lida como uma reescrita crítica de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, o professor de literatura alemã da Universidade de São Paulo mapeia toda a rede de relações existentes entre o Grande Sertão e os principais ensaios de interpretação de nosso país; desde a obra matricial de Euclides até os estudos fundamentais de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., Raymundo Faoro, Antonio Candido e Celso Furtado, entre outros. Em sua abordagem, aspectos centrais do romance – tais como a narração labiríntica e em forma de rede, o sistema da jagunçagem e, sobretudo, o pacto de Riobaldo com o Diabo (lido em chave materialista, que dispensa a interpretação metafísico-existencial) emergem sob luz nova. Para tanto, Bolle lança mão de diversas ferramentas que, além da ampla erudição, vêm se somar à crítica literária; entre elas, a filosofia política, as ciências sociais, a estética, a lingüística e até mesmo a geografia, já que o livro se faz acompanhar de vários mapas que situam para o leitor as andanças da personagem Riobaldo e o cenário da ação de Grande Sertão: Veredas (sinopse da editora).

Pistas para a leitura de Grande Sertão: Veredas – IV

BARBOSA, A. A epopeia brasileira ou: para ler Guimarães Rosa. Goiânia: Imery Publicações, 1981, 143 p.

Pobre tem de ter um triste amor à honestidade. São árvores que pegam poeira.

Esta anotação foi feita quando li o livro na década de 80: o livro de Alaor Barbosa é um guia mais ou menos didático para a leitura de Grande Sertão: Veredas. Obra de um apaixonado pela criação literária de Guimarães Rosa. Mas não é de grande fôlego… perde-se em ingênua louvação e, às vezes, despudorado deslumbramento!

Pistas para a leitura de Grande Sertão: Veredas – III

ARROYO, L. A cultura popular em Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984, 315 p.

 

Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

Li, na década de 80, pela primeira vez, o estudo de Leonardo Arroyo (1918-1986). Desde então, tenho consultado, com frequência, esta obra, onde anotei, ao final da primeira leitura: Excelente! Verdadeira enciclopédia da cultura popular mineira do sertão. Se não fosse por mais razões, só o inventário dos provérbios riobaldianos nas p. 252-282 já valeria a leitura. Mas é o autor quem nos diz no primeiro parágrafo da Introdução, p. 4, o que pretende:

A intenção deste ensaio é colocar teses sobre o conteúdo e a origem de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, de filiação e raízes na cultura popular.

Arroyo é grande admirador das ideias de Giovanni Battista Vico (1668-1744) e Johann Gottfried Herder (1744-1803) sobre cultura e história. Por isso, vai nos dizer por exemplo, na p. 16, que

não se cometeria nenhuma heresia, possivelmente, ao se afirmar, como se faz aqui, que a cultura popular, na sua experiência milenar, representaria muito mais para o gênero humano do que a criação erudita, pelo menos na área vivencial e lúdica. Procuramos destacar essa importância, as mais das vezes não reconhecida em virtude de preconceitos, interesses, vaidades e até mesmo de ignorância, através desta tentativa de inventário do tema e das formas da cultura popular em Grande Sertão: Veredas. A fonte de toda a sabedoria é o próprio homem do povo. Vico já reconhecia que a História se faz pela sabedoria vulgar do gênero humano ‘força coletiva, da qual as grandes figuras são símbolos apenas’.

E na p. 18 emenda:

Herder afirmava que ‘a arte de cada país só seria verdadeira quando refletisse a psique do seu povo, ou melhor, suas essências folclóricas’, conceito que poderia, com toda validade, extrapolar para categorias menos lúdicas, tais como a política e a economia de cada país. Com efeito, uma nação não é apenas a sua elite, mas é principalmente o seu povo, em torno do qual devem girar os interesses maiores da nacionalidade.

Assim é que entendemos porque a Introdução da obra tem por título A Megera Cartesiana… na qual, no segundo parágrafo, Arroyo nos diz que

seria longo enumerar a série de estudos inspirados na saga riobaldiana. Parece difícil a abordagem de Grande Sertão: Veredas em termos de objetividade crítica. Esta dificuldade seria decorrente das próprias formas da obra, dos valores múltiplos que a integram e definem como síntese de uma herança cultural de profundas ressonâncias. O romance é uma acumulação cultural, por isso se entendendo o resumo da experiência humana na sua frequência cósmica e na sua formação de camadas de mistérios e espantos do homem. Por isso, por exemplo, o cartesianismo peca por si mesmo e por sua própria natureza de racionalismo feroz no exame do livro, tais os elementos subjetivos, tradicionais, de folk, que dominam e enformam o texto.

Enfim, se no lema cartesiano podemos escrever ordem, clareza e forma, na criação literária de Guimarães Rosa podemos enxergar intuição, revelação e inspiração.

Pistas para a leitura de Grande Sertão: Veredas – II

ANDRADE, S. M. V. A vereda trágica do “Grande Sertão: Veredas”. São Paulo: Loyola, 1985, 104 p.

Um está sempre no escuro, só no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.

No primeiro capítulo de seu texto, na p. 19, Sônia Maria Viegas Andrade diz:

O poeta é Guimarães Rosa. Motivados pelo desafio de pensar a poesia na sua função mediadora entre a existência e o pensamento, a realidade e o conceito, escolhemos Grande Sertão: Veredas como matéria de reflexão. Guimarães Rosa faz com a palavra um trabalho que lhe permite atingir o que ele próprio chama o ‘aspecto metafísico da língua’. No interior de sua criação poética, as significações se desdobram, tornam-se interrogativas e expõem suas contradições. Ele recupera as palavras em seu poder de expressão do real e também em seu poder de negação e de instauração de outras dimensões de realidade. Sua narrativa está sempre a esbarrar no limite, e é desse limite que o sentido poético se abisma no indizível, como se toda a narração tivesse por finalidade principal apontar para algo que a ultrapassa. A poesia recupera, assim, a realidade na indizível evidência com que ela resplandece através do sentido poético. Guimarães Rosa atinge um nível de reflexividade da linguagem que se encontra latente na expressão poética e é dela indissociado.

E na p. 22, ainda no mesmo capítulo, diz a autora:

Nossa abordagem se pretende filosófica, buscando uma filosofia poética nos vazios conceituais do romance de Guimarães Rosa. Uma filosofia que não se explicita, mas que se pode apontar, e sua descoberta permite uma fruição mais intensa da poesia, encaminhando a sensibilidade para significações inauditas, proporcionando um número incontável de leituras do texto poético.


Mas a que se refere a ‘vereda trágica’ do título? Explica a autora no capítulo terceiro, p. 48, que é sua intenção

mostrar como a instauração da dúvida, no relato de Riobaldo, transforma a aventura épica em aventura trágica. A dúvida intercepta a transfiguração do herói e se utiliza do narrador para introduzir, na aventura épica, uma ruptura que devolve a subjetividade a seu conflito.