Sobre a pesquisa do Pentateuco

Preste atenção nestas datas: 1878 > 1883 > 1974 > 1975 > 1976 > 1977

A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Julius Wellhausen (1844-1918), vem sofrendo sérios abalos, de forma que hoje os pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano sobre o Pentateuco foi rompido. Lembro que o primeiro livro de Julius Wellhausen sobre o tema foi publicado em 1878 (Geschichte Israels) e o mais importante em 1883 (Prolegomena zur Geschichte Israels).

Julius Wellhausen: 1844-1918 - Alemanha

Thomas L. Thompson (1939) chegou à conclusão de que as narrativas patriarcais estavam refletindo muito mais o primeiro do que o segundo milênio, e a datação tradicional dos patriarcas e sua historicidade caíram por terra. Seu livro foi publicado em 1974.

Thomas L. Thompson: 1939 - Estados Unidos da América

John Van Seters (1935) concluiu que o J deveria ser visto como um autor pós-D, e que a ‘Hipótese Documentária’ deveria ser totalmente revista. Van Seters publicou sua pesquisa em 1975.

John Van Seters: 1935 - Canadá

Em 1976 e em 1977 apareceram os livros de Hans Heinrich Schmid (1937-2014) e de Rolf Rendtorff (1925-2014) sobre o mesmo assunto. H. H. Schmid chegou à conclusão de que o Pentateuco era o produto do movimento profético, assim como o era o livro do Deuteronômio, e de que o J deveria ser visto em estreita associação com a escola deuteronômica nos últimos anos da monarquia ou na época do exílio. Rolf Rendtorff não vê nenhuma conexão original entre Gênesis e Êxodo-Números, mas sim uma posterior costura deuteronomista ligando estas tradições. Donde se conclui que a ideia de fontes, tal como a J, deve ser abandonada, e que a formação do Pentateuco a partir de temas independentes é que deve ser pesquisada.

Hans Heinrich Schmid: 1937-2014 - Suíça

A crise do Pentateuco explodiu, então, em plena luz do dia e ninguém mais podia escapar da constatação de que a teoria clássica das fontes do Pentateuco, pelo menos em sua forma mais rígida, era insustentável.

Rolf Rendtorff: 1925-2014 - Alemanha

Confira: Mudança de paradigma na pesquisa do Pentateuco

Apocalíptica: literatura de resistência

Os desastres se sucederão. Haverá boato sobre boato.

Na segunda-feira, 29, no Segundo Ano de Teologia do CEARP, começamos o estudo da literatura apocalíptica judaica, item da Literatura Pós-Exílica.

É uma introdução ao tema, com exemplos do livro de Daniel e de alguns apócrifos.

A citação acima é de Ezequiel. Falando da crise que se aproxima no confronto com a Babilônia, no século V a.C., o profeta alerta: “Os desastres se sucederão; haverá boato sobre boato. Buscar-se-á uma visão de profeta, mas a lei fará falta ao sacerdote, e o conselho aos anciãos” (Ez 7,26).

Acabei de ler um artigo sobre a pesquisa do livro de Daniel nos últimos 20 anos.

Recomendo:

MERRILL WILLIS, A. C. A Reversal of Fortunes: Daniel among the Scholars. Currents in Biblical Research, Vol. 16(2), 2018, p. 107­–130.

Quem é Amy C. Merrill Willis?

Amy C. Merrill Willis

 

Os profetas maiores na pesquisa recente

Estou estudando, nos últimos meses, com meus alunos do Segundo Ano de Teologia do CEARP, os livros de Isaías, Jeremias e Ezequiel. Um dos livros que tenho utilizado para acompanhar as tendências da pesquisa na área é:

HAUSER, A. J. (ed.) Recent Research on the Major Prophets. Sheffield: Sheffield Phoenix Press, 2008,  xiv + 389 p. – ISBN 9781906055134

HAUSER, A. J. (ed.) Recent Research on the Major Prophets. Sheffield: Sheffield Phoenix Press, 2008, xiv + 389 p.

Given the many new methods and approaches for interpreting biblical literature that have appeared in the past several decades, it is hardly surprising that our understanding of the prophets Isaiah, Jeremiah and Ezekiel has expanded and diversified at a rapid pace. Historical-critical understandings and perspectives have been challenged and often dramatically altered. New approaches, such as social-scientific criticism, rhetorical criticism, feminist criticism, reader response criticism, literary analysis, anthropological analysis, structuralist criticism, ideological criticism, and deconstructionist criticism have both challenged old approaches and shed new light on the texts being studied. In this volume, Alan Hauser presents eleven articles, each with an extensive bibliography, that survey the variety and depth of recent and contemporary scholarship on these three prophets. Five of them are new to this volume. All are written by experts in each area of scholarship, including Marvin Sweeney, Paul Kim, Roy Melugin, Robert P. Carroll, Peter Diamond, Katheryn Pfisterer Darr and Risa Levitt Kohn. Hauser introduces the volume with a comprehensive summary and overview of the articles.

Recomendo o livro, embora publicado em 2008, por duas razões:

. está disponível gratuitamente no Projeto ICI da SBL. Observe o preço na Amazon e avalie se vale a pena.

. a bibliografia acadêmica sobre os profetas Isaías, Jeremias e Ezequiel, em língua portuguesa, é escassa e, quando chega, é com muito atraso.

Pode-se consultar também:

:: Todos os seminários do PIB para professores de Bíblia – Observatório Bíblico: 9 de março de 2018

O primeiro seminário, em janeiro de 2012, foi sobre o profetismo, com destaque para Isaías e Jeremias. Leia o diário do seminário feito por Cássio Murilo Dias da Silva. E há material de estudo disponível para download.

:: O blog Biblical Studies journal alerts

Traz links para os mais recentes números de algumas importantes revistas acadêmicas de Bíblia, inclusive a Currents in Biblical Research, onde Alan J. Hauser, organizador do livro acima, é editor.

O Pentateuco e a OHDtr podem ter sido escritos na época helenística

Um artigo interessante.

Os estudiosos, em sua maioria, defendem a época persa como termo final para a escrita do Pentateuco e da Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr).

Neste artigo, entretanto, Robert K. Gnuse, professor da Loyola University New Orleans, descreve a posição de alguns estudiosos da Escola de Copenhague que apontam a época helenística para a escrita do Pentateuco e da OHDtr. Diz Gnuse que estes autores precisam ser levados a sério, pois podem estar indicando corretamente o rumo da pesquisa futura sobre o Antigo Testamento.

GNUSE, R. K. A Hellenistic First Testament: The Views of Minimalist Scholars. Biblical Theology Bulletin, volume 48, n. 3, p. 115-132, 2018.

Biblical Theology Bulletin, volume 48, n. 3, 2018

 

Um Primeiro Testamento helenístico: as perspectivas de alguns estudiosos minimalistas

Gnuse diz no resumo:

This article summarizes the views of six significant “minimalist” scholars and others, who theorize that the Primary History in the First Testament was generated in the Hellenistic Era after 300 bce . Some critique of their views is provided combined with a theoretic counter-response. The purpose of this article is primarily to expose the American audience to the writings of the “Copenhagen School” of biblical studies.

Este artigo resume as visões de seis estudiosos “minimalistas” e outros, que propõem que a História Primária no Primeiro Testamento [do Gênesis até Segundo Reis] foi produzida na Era Helenística, após 300 a.C. É oferecida alguma crítica de seus pontos de vista, combinada com uma contrarresposta teórica. O objetivo deste artigo é principalmente explicar para o público norte-americano os escritos da “Escola de Copenhague” de estudos bíblicos.

Ele explica na conclusão:

I have been involved in this discussion over the past twenty years. I have suggested that Greek narratives do lie behind some of the narratives in the biblical text, which implies for some accounts a very late Persian era origin and for other accounts a Hellenistic era origin (…). Because of my own research, I am sympathetic to the “minimalist” viewpoint, especially those ideas suggested by Lemche and Thompson, who admit the existence of biblical narratives prior to the Hellenistic era. I, however, assume that those narratives are more expansive than they are willing to acknowledge. I am fascinated by the views of Gmirkin, Niesiolowski-Spano, and Wadjenbaum. I am not convinced, as are they, that the Primary History is completely a Hellenistic creation. Nor am I convinced by all of their arguments. But ultimately the point that I wish to make is that the scholarship of these authors must be taken seriously in the future and not facilely dismissed, as is too often the case on this side of the Atlantic. They may represent the future of critical studies in the First Testament.

Eu estive envolvido nesta discussão nos últimos vinte anos. Sugeri que as narrativas gregas estão por trás de algumas das narrativas no texto bíblico, o que implica, para alguns relatos, uma origem da era persa muito tardia e, para outros relatos, uma origem da era helenística (…). Devido à minha própria pesquisa, sou simpático ao ponto de vista “minimalista”, especialmente aqueles sugeridos por Lemche e Thompson, que admitem a existência de narrativas bíblicas anteriores à era helenística. Eu, no entanto, assumo que essas narrativas são mais extensas do que eles estão dispostos a reconhecer. Eu sou fascinado pelas visões de Gmirkin, Niesiolowski-Spano e Wadjenbaum. Não estou convencido, como eles, de que a História Primária é completamente uma criação helenística. Nem estou convencido de todos os seus argumentos. Mas, em última análise, o que defendo aqui é a ideia de que a erudição desses autores deve ser levada a sério no futuro e não deve ser ignorada, como acontece com muita frequência neste lado do Atlântico. Eles podem representar o futuro dos estudos acadêmicos sobre o Primeiro Testamento.

Gnuse expõe e avalia as posições de Giovanni Garbini, Niels Peter Lemche, Thomas L. Thompson, Russell Gmirkin, Lukasz Niesiolowski-Spano e Philippe Wajdenbaum. Além destes seis autores, ele cita outros que abordam o assunto muito rapidamente ou que ainda defendem uma época persa para a escrita destes textos, como John Strange, Thomas Bolin, Flemming Nielsen, Jan-Wim Wesselius, K. Stott, Daniel Hawk, Gerhard Larsson, Emanuel Pfoh, Etienne Nodet e Philippe Guillaume.

Robert K. Gnuse

 

Eu falaria ainda de Philip R. Davies, que também aborda o assunto. Ele afirma no capítulo 5 de seu In Search of ‘Ancient Israel’: Foi durante os Períodos Persa e Helenístico que a literatura bíblica deve ter sido composta, e é na sociedade desta época que nós devemos agora procurar pelas precondições que permitiram e motivaram a geração deste construto ideológico que é o Israel bíblico (p. 72). Tenho uma resenha do livro de Philip R. Davies, que pode ser lida aqui.

Sobre alguns destes autores da Escola de Copenhague, recomendo meu artigo Pode uma ‘História de Israel’ ser escrita? E os artigos sobre O Contexto da Obra Histórica Deuteronomista e A História de Israel no debate atual.

Dos direitos das mulheres sobre a terra, segundo o Deuteronômio

Dois artigos:

:: The Land Rights of Women in Deuteronomy – By Don C. Benjamin – The Bible and Interpretation, August 2016

An important function of levirate marriage — requiring women without husbands or heirs to delegate their land rights to guardians – is to protect the rights of elite males by limiting the number of women exercising their land rights independently. Therefore, the primary intention of Instructions on Widows (Deut 25:5-10) is not to provide widows with children, but to put their land back into production.

:: The Impact of Sargon & Enheduanna on Land Rights in Deuteronomy Preliminary Report – By Don C. Benjamin – The Bible and Interpretation, July 2018

Continuing work in my long-ago Deuteronomy and City Life (1983) and my recent Social World of Deuteronomy: a new feminist commentary (2015) and Land Rights of Women in Deuteronomy (2017), here I propose that Birth Stories of Moses parallel Birth Stories of Sargon to compare the way land rights were distributed in Akkad by Sargon and the woman Enheduanna with the way Moses and the women in Deuteronomy distributed land rights in ancient Israel. This paradigm suggests that the intention of Deuteronomy is to describe a utopia, where ownership, administrative and use rights are responsibly distributed as instructions on the maqom sanctuary (12: 2-28), tithing (14:22–29), pilgrimaging (16:1–17) and unresolved killings (19:1–13) reflect.

Como observa Jim Davila, este segundo artigo, de julho de 2018, começa oferecendo um bom panorama do que os estudiosos andam falando sobre o Livro do Deuteronômio. Por isso o recomendo.

Dois livros:

BENJAMIN, D. C. The Social World of Deuteronomy: A New Feminist Commentary. Eugene, OR: Cascade Books, 2015, 298 p. – ISBN 9781498228701 [ebook: 2018]

BENJAMIN, D. C. The Social World of Deuteronomy: A New Feminist Commentary. Eugene, OR: Cascade Books, 2015, 298 p.

The book of Deuteronomy is not an orphan. It belongs to a diverse family of legal traditions and cultures in the world of the Bible. The Social World of Deuteronomy: A New Feminist Commentary brings these traditions and cultures to life, and uses them to enrich our understanding and appreciation of Deuteronomy today. Benjamin uses social-scientific criticism to reconstruct the social institutions where Deuteronomy developed, and those that appear in its traditions. He uses feminist criticism to better understand and appreciate how powerful elite males in Deuteronomy view not only the women, mothers, wives, and widows in their households but also their powerless children, liminal people, slaves, prisoners, outsiders, livestock, and nature. Benjamin also uses feminist criticism to describe important aspects of the daily lives of these often overlooked peoples in ancient Israel. How the elite males in Deuteronomy view the women and other members of their households seldom reflects the underlying reality of how these women and others function.

:: BENJAMIN, D. C. (ed.) The Oxford Handbook of Deuteronomy. New York: Oxford University Press – Em breve

With some 30 chapters by scholars from Europe and the Americas.

Don C. Benjamin teaches Biblical and Near Eastern Studies at Arizona State University, Tempe, AZ, USA.

Mês da Bíblia 2018: Livro da Sabedoria

Com o tema “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” e o lema “A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano” (Sb 1,6), o Mês da Bíblia 2018 traz como proposta de estudo o Livro da Sabedoria.

:: Mês da Bíblia 2018: Para que n’Ele nossos povos tenham vida: Sabedoria 1,1-6,21. Brasília: CNBB, 2018.

Mês da Bíblia 2018: Para que n'Ele nossos povos tenham vida: Sabedoria 1,1-6,21. Brasília: CNBB, 2018.

:: SAB Mês da Bíblia 2018 – A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano. São Paulo: Paulinas, 2018, 64 p. – ISBN 9788535643725.

SAB Mês da Bíblia 2018 - A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano. São Paulo: Paulinas, 2018

:: CENTRO BÍBLICO VERBO A Sabedoria é um Espírito Amigo do Ser Humano (Sb 1,6): Caminho para a justiça e a vida. São Paulo: Paulus, 2018, 144 p. – ISBN 9788534947404.

CENTRO BÍBLICO VERBO A Sabedoria é um Espírito Amigo do Ser Humano (Sb 1,6): Caminho para a justiça e a vida. São Paulo: Paulus, 2018

:: CEBI-MG Livro da Sabedoria: chave de ouro encerrando a 1a Aliança. São Leopoldo: CEBI, 2018, 96 p.

CEBI-MG Livro da Sabedoria: chave de ouro encerrando a 1a Aliança. São Leopoldo: CEBI, 2018

Leia mais sobre o Mês da Bíblia e sua história aqui.

Ezequiel: sacerdote israelita e intelectual babilônico

Ezekiel: A Jewish Priest and a Babylonian Intellectual – By Dr. Laurie Pearce – TheTorah.com

Ezequiel, um sacerdote nascido, criado e educado em Judá, viveu e profetizou grande parte de sua vida adulta na Babilônia em contato com eruditos e escribas especialistas em cuneiforme. O uso que Ezequiel faz das palavras tomadas do acádico, suas alusões a obras-primas da literatura cuneiforme, como a Epopeia de Gilgámesh, e sua compreensão da cosmologia babilônica, tudo isso atesta sua inserção bastante significativa no ambiente cultural da Babilônia.

Ezekiel, a priest born, raised, and educated in Judah, lived and prophesied much of his adult life in Babylonia in contact with cuneiform scholars and scribes. Ezekiel’s use of Akkadian loanwords, his allusions to masterpieces of cuneiform literature (such as the Gilgamesh Epic), and his understanding of Babylonian cosmology all attest to his rather complete integration into the cultural milieu of Babylon.

A Dra. Laurie Pearce é Professora de acádico no Departamento de Estudos do Oriente Médio, Universidade da Califórnia, Berkeley, USA.

Dr. Laurie Pearce is a Lecturer in Akkadian in the Department of Near Eastern Studies, University of California, Berkeley.

Quem escreveu a Torá?

Who Wrote the Torah? Textual, Historical, Sociological, and Ideological Cornerstones of the Formation of the Pentateuch – By Konrad Schmid · IAS: Published 2018

Who wrote the Torah? In light of more than two hundred years of scholarship and of the ongoing disputes on that question,[1] the most precise answer to this question still is: We don’t know. The tradition claims it was Moses, but the Torah itself says otherwise. Only small portions within the Torah are traced back to him, but not nearly the whole Torah: Exodus 17:14 (Battle against Amalek); 24:4 (Covenant Code); 34:28 (Ten Commandments); Numbers 33:2 (Wandering Stations); Deuteronomy 31:9 (Deuteronomic Law); and 31:22 (Song of Moses). Despite all disagreement in current scholarship, however, the situation in Pentateuchal research is far from desperate, and there are indeed some basic statements that can be made regarding the formation of the Torah. This is what this contribution is about. It is structured in the following three parts: the textual evidence of the Pentateuch; the socio-historical conditions for the development of the Pentateuch, and “Ideologies” or “Theologies” of the Pentateuch in their historical contexts.

Konrad Schmid is Professor of the Hebrew Bible and Ancient Judaism at the University of Zurich. The literary history of the Pentateuch and the reconstruction of the redactional processes that led to its final shape constitute the main focus of his research.

Quem escreveu a Torá?

À luz de mais de duzentos anos de estudo e de debates em andamento sobre essa questão, a resposta mais precisa para essa pergunta ainda é: não sabemos.

Apesar das muitas divergências nos estudos atuais, a situação da pesquisa do Pentateuco é promissora, e há, de fato, algumas afirmações básicas que podem ser feitas a respeito da formação da Torá.

Esta contribuição é sobre isso.

Está estruturada em três partes: a evidência textual do Pentateuco; as condições sócio-históricas para o desenvolvimento do Pentateuco, e as “ideologias” ou “teologias” do Pentateuco em seus contextos históricos.

Konrad Schmid é Professor de Bíblia Hebraica e Judaísmo Antigo na Universidade de Zurique, Suíça.  A história literária do Pentateuco e a reconstrução dos processos redacionais que levaram à sua forma final constituem o foco principal de sua pesquisa.

Confira as obras de Konrad Schmid na Amazon.

Duas obras sobre o Pentateuco que contam com sua participação estão disponíveis para download gratuito no Projeto ICI da SBL. Clique aqui.

Lendo a poesia de Isaías

Uma compreensão adequada do anúncio profético de Isaías é impossível se não prestarmos atenção suficiente à sua arte linguística e às características formais e temáticas que tornam suas palavras poesia.

An adequate understanding of Isaiah’s prophetic proclamation is impossible without sufficient attention to his linguistic artistry, to the formal and thematic features that make his words poetry  (J. Blake Couey, Reading the Poetry of First Isaiah, p. 2).

Sempre afirmei isto em sala de aula.

Fui aluno de Luis Alonso Schökel e de Rémi Lack e minhas leituras na área passam por SCHÖKEL, L. A. Estudios de poética hebrea. Barcelona: Juan Flores, 1963; LACK, R. La symbolique du livre d’Isaie: Essai sur l’image littéraire comme élément de structuration. Rome: Biblical Institute Press, 1973 e SCHÖKEL, L. A. ; SICRE DIAZ, J. L. Profetas I-II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002-2004.

Isto pode ser visto em meu livro A Voz Necessária: Encontro com os profetas do século VIII a.C.

Agora descobri este livro que parece interessante:

COUEY, J. B. Reading the Poetry of First Isaiah: The Most Perfect Model of the Prophetic Poetry. Oxford: Oxford University Press, 2015, XIV + 247 p. – ISBN 9780198743552.

COUEY, J. B. Reading the Poetry of First Isaiah: The Most Perfect Model of the Prophetic Poetry. Oxford: Oxford University Press, 2015, XIV + 247 p.

Reading the Poetry of First Isaiah provides a literary and historical study of the prophetic poetry of First Isaiah, an underappreciated but highly sophisticated collection of poems in the Hebrew Bible. Informed by recent developments in biblical studies and broader trends in the study of poetry, Dr J. Blake Couey articulates a fresh account of Biblical Hebrew poetry and argues that careful attention to poetic style is crucial for the interpretation of these texts. Discussing lineation, he explains that lines serve important rhetorical functions in First Isaiah, but the absence of lineated manuscripts from antiquity makes it necessary to defend proposed line divisions using criteria such as parallelism, rhythm, and syntax. He examines poetic structure, and highlights that parallelism and enjambment create a sense of progression between individual lines, which are tightly joined to form couplets, triplets, quatrains, and occasionally even longer groups. Later, Dr Couey treats imagery and metaphor in First Isaiah. A striking variety of images-most notably agricultural and animal imagery-appear in diverse contexts in these poems, often with rich figurative significance.

Couey’s work would be particularly helpful as an introduction to Hebrew poetics, as a contribution to literary work on Isaiah, and as an addition to current debates concerning the intersection of Hebrew poetry and prophetic literature (Chelsea Lamb, Ambrose University – Journal of Hebrew Scriptures – Volume 17, 2017).

J. Blake Couey teaches in the area of Hebrew Bible in the Religion Department at Gustavus Adolphus College in Saint Peter, MN.

Li duas resenhas sobre o livro:

Chelsea Lamb, Ambrose University – Journal of Hebrew Scriptures – Volume 17 (2017)

Elizabeth Hayes, Fuller Theological Seminary, Seattle – The Journal of Theological Studies, Volume 69, Issue 1, 1 April 2018, pages 222-225.

 

Este outro está previsto para agosto de 2018:

COUEY, J. B. ; JAMES, E. T. (eds.) Biblical Poetry and the Art of Close Reading. Cambridge: Cambridge University Press, 2018  – ISBN 9781316659670.

This volume explores the aesthetic dimensions of biblical poetry, offering close readings of poems across the Hebrew Bible/Old Testament. Composed of essays by fifteen leading scholars of biblical poetry, it offers creative and insightful close readings of poems from across the canon of the Hebrew Bible/Old Testament (Psalms, wisdom poetry, Song of Songs, prophecy, and poetry in biblical narrative). The essays build on recent advances in our understanding of biblical poetry and engage a variety of theoretical perspectives and current trends in the study of literature. They demonstrate the rewards of careful attention to textual detail, and they provide models of the practice of close reading for students, scholars, and general readers. They also highlight the rich aesthetic value of the biblical poetic corpus and offer reflection on the nature of poetry itself as a meaningful and enduring form of art.

Table of Contents

Part I. The Psalms:
1. Words that devour: discursive praxes and structural strategies in Psalm 50 Carolyn J. Sharp
2. ‘Silence is praise’: art and knowledge in Psalm 65 Elaine T. James
3. The glory of creation in Psalm 104 Robert Alter

Part II. Poetry in Wisdom Literature:
4. Bildad lectures Job: a close reading of Job 8 Edward L. Greenstein
5. Poetry as pedagogy in Proverbs 5 Anne W. Stewart
6. The unity and futility of poetry in Qohelet Simeon Chavel

Part III. The Song of Songs:
7. Structure, sound, and sense: a close reading of chapter one of the Song of Songs Tod Linafelt
8. How is a love poem (Song 4:1–7) like the beloved? The importance of emotion in reading biblical poetry Sarah Zhang

Part IV. Poetry in the Prophetic Books:
9. Isaiah’s love song: a reading of Isaiah 5:1–7 F. W. Dobbs-Allsopp
10. Poetry, language, and statecraft in Isaiah 18 J. Blake Couey
11. The servant in poetic juxtaposition in Isaiah 49:1–13 Katie M. Heffelfinger
12. ‘It is a lamentation – it has become a lamentation!’: subverting genre in Ezekiel 19 Sean Burt
13. The enduring day of wrath: Zephaniah 1, the Sibylline Oracles, and the Dies Irae Julia M. O’Brien

Part V. Poetry in Biblical Narrative:
14. YHWH’s poesie: the Gnadenformel (Exodus 34:6b–7), the book of Exodus, and beyond Brent A. Strawn
15. The decipherment of sorrow: David’s lament in 2 Samuel 1:17–27 Steven Weitzman.

Por que os livros de Amós e Oseias foram escritos?

Neste mês de abril de 2018 estive estudando com os alunos do Segundo Ano de Teologia do CEARP o livro de Amós. Agora estamos examinando Oseias. E uma pergunta sempre surge: em que contextos livros proféticos como Amós e Oseias foram escritos?

Wolfgang Schütte, que se dedica a pesquisar os inícios da profecia escrita nos séculos VIII e VII a.C. [livro para download gratuito aqui], nos dá uma boa pista em dois artigos publicados na revista Biblica, do Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Artigos disponíveis para leitura online. Em alemão.

 

El Profeta, de Pablo Gargallo - Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid (1933)

Amós

SCHÜTTE, W. Die Amosschrift als juda-exilische israelitische Komposition. Biblica, Roma,  vol. 93, p. 520-542, 2012.

The oracles of Amos written in the 8th century BCE were brought from the Kingdom of Israel to Judah after the fall of Samaria in 720 BCE. We think that the Israelites in «exile» in Judah were hoping for a restoration at that time. The Book of Amos can be interpreted in this context: it explains the feelings of Israelite refugees in Judah (Amos 1-2), the responsibility of the Israelite elite for the disaster (Amos 3-6), the reason why the people bear the consequences of the catastrophe (Amos 7), and why there is hope for the refugees in Judah, but not for the exiles in Assyria (Amos 8-9).

Os oráculos de Amós escritos no século VIII a.C. foram trazidos do reino de Israel para Judá depois da queda de Samaria em 720 a.C. Nós pensamos que os israelitas no “exílio” em Judá estavam esperando por uma restauração naquele tempo. O Livro de Amós pode ser interpretado neste contexto: explica os sentimentos dos refugiados israelitas em Judá (Amós 1-2), a responsabilidade da elite israelita pelo desastre (Amós 3-6), a razão pela qual as pessoas sofrem as consequências da catástrofe (Amós 7), e por que há esperança para os refugiados em Judá, mas não para os exilados na Assíria (Amós 8-9).

 

Oseias

SCHÜTTE, W. Die Entstehung der juda-exilischen Hoseaschrift. Biblica, Roma, vol. 95, p. 198-223, 2014.

The book of Hosea was composed a short time after the Assyrian conquest of Israel and by a group of Israelites that had fled to Judah. The kernel of the book comes from a series of critical statements about cultic personnel and Israel’s society. The book integrated later reflections on national guilt and tried to infuse religious hope to the Israelite refugees in Judah.

O livro de Oseias é uma composição israelita no contexto dos exilados de Israel (norte) em Judá, propõe Wolfgang Schütte.

O livro de Oseias foi composto pouco depois da conquista assíria de Israel, por um grupo de israelitas que fugiram para Judá. O cerne do livro vem de uma série de posicionamentos críticos sobre o pessoal do culto e a sociedade de Israel. O livro integrou reflexões posteriores sobre a culpa nacional e tentou infundir esperança religiosa aos refugiados israelitas em Judá.

Diz o autor:
Ich unterstelle ihr, dass sie im Kern eine israelitische, im Fluchtland Juda verfasste, religiöse Literatur ist, die sich mit der Politik des Zufluchtslandes und einer  erhofften Rückkehr nach Israel selbst auseinandersetzt.

Eu proponho que o livro de Oseias deva ser lido como literatura israelita escrita na terra de refúgio de Judá, lidando com a política do país de refúgio e com a esperança de um retorno a Israel.

Leia Mais:
Perguntas mais frequentes sobre o profeta Amós
Faça o download do livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C.