Um artigo interessante.
Os estudiosos, em sua maioria, defendem a época persa como termo final para a escrita do Pentateuco e da Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr).
Neste artigo, entretanto, Robert K. Gnuse, professor da Loyola University New Orleans, descreve a posição de alguns estudiosos da Escola de Copenhague que apontam a época helenística para a escrita do Pentateuco e da OHDtr. Diz Gnuse que estes autores precisam ser levados a sério, pois podem estar indicando corretamente o rumo da pesquisa futura sobre o Antigo Testamento.
GNUSE, R. K. A Hellenistic First Testament: The Views of Minimalist Scholars. Biblical Theology Bulletin, volume 48, n. 3, p. 115-132, 2018.
Um Primeiro Testamento helenístico: as perspectivas de alguns estudiosos minimalistas
Gnuse diz no resumo:
This article summarizes the views of six significant “minimalist” scholars and others, who theorize that the Primary History in the First Testament was generated in the Hellenistic Era after 300 bce . Some critique of their views is provided combined with a theoretic counter-response. The purpose of this article is primarily to expose the American audience to the writings of the “Copenhagen School” of biblical studies.
Este artigo resume as visões de seis estudiosos “minimalistas” e outros, que propõem que a História Primária no Primeiro Testamento [do Gênesis até Segundo Reis] foi produzida na Era Helenística, após 300 a.C. É oferecida alguma crítica de seus pontos de vista, combinada com uma contrarresposta teórica. O objetivo deste artigo é principalmente explicar para o público norte-americano os escritos da “Escola de Copenhague” de estudos bíblicos.
Ele explica na conclusão:
I have been involved in this discussion over the past twenty years. I have suggested that Greek narratives do lie behind some of the narratives in the biblical text, which implies for some accounts a very late Persian era origin and for other accounts a Hellenistic era origin (…). Because of my own research, I am sympathetic to the “minimalist” viewpoint, especially those ideas suggested by Lemche and Thompson, who admit the existence of biblical narratives prior to the Hellenistic era. I, however, assume that those narratives are more expansive than they are willing to acknowledge. I am fascinated by the views of Gmirkin, Niesiolowski-Spano, and Wadjenbaum. I am not convinced, as are they, that the Primary History is completely a Hellenistic creation. Nor am I convinced by all of their arguments. But ultimately the point that I wish to make is that the scholarship of these authors must be taken seriously in the future and not facilely dismissed, as is too often the case on this side of the Atlantic. They may represent the future of critical studies in the First Testament.
Eu estive envolvido nesta discussão nos últimos vinte anos. Sugeri que as narrativas gregas estão por trás de algumas das narrativas no texto bíblico, o que implica, para alguns relatos, uma origem da era persa muito tardia e, para outros relatos, uma origem da era helenística (…). Devido à minha própria pesquisa, sou simpático ao ponto de vista “minimalista”, especialmente aqueles sugeridos por Lemche e Thompson, que admitem a existência de narrativas bíblicas anteriores à era helenística. Eu, no entanto, assumo que essas narrativas são mais extensas do que eles estão dispostos a reconhecer. Eu sou fascinado pelas visões de Gmirkin, Niesiolowski-Spano e Wadjenbaum. Não estou convencido, como eles, de que a História Primária é completamente uma criação helenística. Nem estou convencido de todos os seus argumentos. Mas, em última análise, o que defendo aqui é a ideia de que a erudição desses autores deve ser levada a sério no futuro e não deve ser ignorada, como acontece com muita frequência neste lado do Atlântico. Eles podem representar o futuro dos estudos acadêmicos sobre o Primeiro Testamento.
Gnuse expõe e avalia as posições de Giovanni Garbini, Niels Peter Lemche, Thomas L. Thompson, Russell Gmirkin, Lukasz Niesiolowski-Spano e Philippe Wajdenbaum. Além destes seis autores, ele cita outros que abordam o assunto muito rapidamente ou que ainda defendem uma época persa para a escrita destes textos, como John Strange, Thomas Bolin, Flemming Nielsen, Jan-Wim Wesselius, K. Stott, Daniel Hawk, Gerhard Larsson, Emanuel Pfoh, Etienne Nodet e Philippe Guillaume.
Eu falaria ainda de Philip R. Davies, que também aborda o assunto. Ele afirma no capítulo 5 de seu In Search of ‘Ancient Israel’: Foi durante os Períodos Persa e Helenístico que a literatura bíblica deve ter sido composta, e é na sociedade desta época que nós devemos agora procurar pelas precondições que permitiram e motivaram a geração deste construto ideológico que é o Israel bíblico (p. 72). Tenho uma resenha do livro de Philip R. Davies, que pode ser lida aqui.
Sobre alguns destes autores da Escola de Copenhague, recomendo meu artigo Pode uma ‘História de Israel’ ser escrita? E os artigos sobre O Contexto da Obra Histórica Deuteronomista e A História de Israel no debate atual.
Olá professor, gostaria de lhe fazer uma pergunta: conhece algum meio onde leitores fora do mundo acadêmico conseguem ter acesso à esses artigos? Vivemos em tempos de crise econômica e pelo que vi no site não é qualquer um que possui 30 dólares ou 117 reais para pagar por um artigo. Se torna muito mais vantajoso para o leitor brasileiro gastar esse dinheiro com um livro, do que com um artigo. Gostaria de saber se sabe de alguma instituição que permita ler o artigo, mesmo que online apenas. Abraços!
Flavio,
Esta é uma discussão pertinente que está sendo feita pelo mundo acadêmico. Sugiro que leia sobre isso aqui.