Literatura Profética I 2022

Abordarei agora a Literatura Profética I, que é estudada no primeiro semestre do segundo ano de Teologia, com carga horária semanal de 2 horas. A Literatura Profética I trabalha, além de questões globais do profetismo, uma seleção de textos dos profetas do século VIII a.C. O texto que orienta a maior parte do estudo é o meu livro A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. Os profetas dos séculos seguintes são estudados na Literatura Profética II, que vem logo no semestre seguinte.

I. Ementa
A origem do movimento profético em Israel. O teor do discurso profético: a denúncia da idolatria e a função do discurso profético. Introdução e análise dos livros dos profetas do século VIII a.C.: Amós, Oseias, Isaías 1-39 e Miqueias.

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas do século VIII a.C. com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático
1. A origem do movimento profético em Israel
2. O teor do discurso profético
3. Os profetas do século VIII a.C.
3.1. Amós
3.2. Oseias
3.3. Isaías 1-39
3.4. Miqueias

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. São Paulo: Paulus, 1998. Atualizado em 2011 e disponível para download na Ayrton’s Biblical Page.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DÍAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, vol. I: 2004 [3. reimpressão: 2018]; vol. II: 2002 [4. reimpressão: 2015].

SICRE DÍAZ, J. L. Introdução ao profetismo bíblico. Petrópolis: Vozes, 2016.

Complementar
DA SILVA, A. J. Notas sobre a pesquisa do livro de Oseias no século XX. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 03.12.2020.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Amós. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 31.07.2019.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais frequentes sobre o profeta Isaías. Disponível a Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 24.12.2019.

SCHWANTES, M. A terra não pode suportar suas palavras“ (Am 7,10): reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2012.

SICRE, J. L. Com os pobres da terra: a justiça social nos profetas de Israel. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2015.

Pentateuco 2022

A disciplina Pentateuco é estudada no segundo semestre do primeiro ano, com carga horária de 4 horas semanais. Há uma profunda crise nesta área de estudos, muito semelhante à crise da História de Israel. A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Wellhausen, vem sofrendo, desde meados da década de 70 do século XX, sérios abalos, de forma que hoje muitos pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano foi rompido, contudo, ainda não se conseguiu um novo consenso e muitas são as propostas hoje existentes para explicar a origem e a formação do Pentateuco.

I. Ementa
Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24. O dilúvio: Gn 6,5-9,19. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1. O êxodo do Egito: Ex 1-15.

II. Objetivos
Familiariza o aluno com as tradições históricas de Israel e com as mais recentes pesquisas na área do Pentateuco para que o uso do texto na prática pastoral possa ser feito de forma consciente.

III. Conteúdo Programático
1. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco

2. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21

3. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25

4. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24

5. O dilúvio: Gn 6,5-9,19

6. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9

7. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1

8. O êxodo do Egito: Ex 1-15

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. Paraíso terrestre: saudade ou esperança? 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

VOGELS, W. Abraão e sua lenda: Gn 12,1-25,11. São Paulo: Loyola, 2000.

Complementar
DA SILVA, A. J. Histórias de criação e dilúvio na antiga Mesopotâmia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 140, p. 397-424, 2018. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 12.10.2021.

DA SILVA, A. J. Leis de vida e leis de morte: os dez mandamentos e seu contexto socialEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, p. 38-51, 1986. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 27.08.2020.

DA SILVA, A. J. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 26.07.2021.

GRUEN, W. et al. Os dez mandamentos: várias leituras. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, 1987.

SKA, J.-L. O canteiro do Pentateuco: problemas de composição e de interpretação/aspectos literários e teológicos. São Paulo: Paulinas, 2016.

História de Israel II 2022

Este curso de História de Israel II compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o segundo dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
O exílio babilônico. A época persa e as conquistas de Alexandre. Os Ptolomeus governam a Palestina. Os Selêucidas: a helenização da Palestina. Os Macabeus I: a resistência. Os Macabeus II: a independência. O domínio romano: da intervenção de Pompeu à revolta de Bar-Kosibah.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. O exílio babilônico

2. O judaísmo pós-exílico

2.1. O domínio persa

2.2. O domínio grego

2.3. O domínio romano

IV. Bibliografia

Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.01.2022.

GERSTENBERGER, E. S. Israel no tempo dos persas: séculos V e IV antes de Cristo. São Paulo: Loyola, 2014.

HORSLEY, R. A. Arqueologia, história e sociedade na Galileia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo: Paulus, 2000 [2a. reimpressão: 2017].

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997. Resumo publicado em Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 120, p. 413-434, 2013 e disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 12.02.2021.

STEGEMANN, W. Jesus e seu tempo. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2013.

História de Israel I 2022

Este curso de História de Israel I compreende 2 horas semanais, com duração de um semestre, o primeiro dos oito semestres do curso de Teologia. Os alunos recebem os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso nos formatos pdf e html. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Noções de geografia do Antigo Oriente Médio. As origens de Israel: as principais tentativas de explicação. A monarquia tributária israelita: os governos de Saul, Davi, Salomão, o reino de Judá e o reino de Israel.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. Noções de geografia do Antigo Oriente Médio

2. As origens de Israel

3. A monarquia tributária israelita

3.1. Os governos de Saul, Davi e Salomão

3.2. O reino de Israel

3.3. O reino de Judá

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia desenterrada: a nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

MAZZINGHI, L. História de Israel das origens ao período romano. Petrópolis: Vozes, 2017.

Complementar
DA SILVA, A. J. História de Israel. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 10.01.2022.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. 2v. 7. ed. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2017.

FINKELSTEIN, I. O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015.

GOTTWALD, N. K. As tribos de Iahweh: uma sociologia da religião de Israel liberto, 1250-1050 a.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004.

KAEFER, J. A. A Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá. São Paulo: Paulus, 2015 [2. reimpressão: 2021].

Hebraico Bíblico 2022

O curso de Hebraico Bíblico compreende apenas 30 horas no primeiro semestre do primeiro ano de Teologia. É um tempo insuficiente mesmo para a aprendizagem elementar do hebraico bíblico. Por isso o curso se propõe apenas familiarizar o estudante de Teologia com o universo da língua hebraica e o modo semítico de pensar. No transcorrer das aulas os três itens principais – ouvir, ler e escrever – são trabalhados simultaneamente e não sequencialmente. Este curso está disponível para download ou acesso online na Ayrton’s Biblical Page > Noções de Hebraico Bíblico.

I. Ementa
Texto-base: Gn 1,1-8. O alfabeto hebraico. A pronúncia, a transliteração e a análise morfológica de Gn 1,1-8. As sílabas, o shevá e o dâghēsh. O vav conjuntivo, o artigo e as preposições. O substantivo, o adjetivo e os numerais. O verbo, forte e fraco, e o vav consecutivo.

II. Objetivos
Trabalha conceitos semíticos importantes para a compreensão do texto bíblico veterotestamentário.

III. Conteúdo Programático
1. Ouvir
Ouvir repetidamente o hebraico, para se acostumar com os sons estranhos. Não há aqui a preocupação em entender. O objetivo é fixar a atenção nos sons e acompanhar o texto de cada versículo, palavra por palavra. Até começar a distinguir onde está o leitor, no caso, o cantor.

2. Ler
Nesta seção o objetivo é tentar ler o hebraico. Estão disponíveis, para cada versículo de Gn 1,1-8, a pronúncia, a transliteração e a análise do texto. A pronúncia está bem simplificada, somente chamando a atenção para as tônicas, sem dizer se a vogal é breve ou longa e se o seu som é aberto ou fechado. Já a transliteração, representação dos caracteres hebraicos em caracteres latinos, é mais complexa e tem que ser detalhada.

3. Escrever
Nesta seção é possível aprender algumas regras básicas da gramática hebraica. Regras que permitirão uma escrita mínima de palavras e expressões. Mas a gramática é muito mais do que isto. Há sugestões de gramáticas e dicionários na bibliografia. E há revisões. Uma para cada versículo. As revisões ajudarão o estudante de hebraico verificar o seu nível de absorção do ouvir, do ler e do escrever. Poderão servir igualmente para as avaliações da disciplina.

IV. Bibliografia
Básica
FARFÁN NAVARRO, E. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Loyola, 2010.

LAMBDIN, T. O. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Paulus, 2003 [5. reimpressão: 2020].

MENDES, P. Noções de hebraico bíblico: texto programado. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.

Complementar
DA SILVA, A. J. Noções de hebraico bíblico. Brodowski, 2001. Disponível para leitura online e download na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização:29.05.2021.

DA SILVA, A. J. Recursos para aprender hebraico – Na Play Store (Android) e no YouTube. Observatório Bíblico – 29 de julho de 2018.

ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. [1997]. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. A BHS está disponível também online ou para download gratuito.

KIRST, N. et alii Dicionário hebraico-português e aramaico-português. 33. ed. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2018.

ORTIZ, P. Dicionário do hebraico e aramaico bíblicos. São Paulo: Loyola, 2010.

Preparando meus programas de aula para 2022

Estou, nestes dias, preparando meus programas de aula de Bíblia para 2022. Começo a publicá-los no Observatório Bíblico. A intenção é de que possam servir, para além de meus alunos, a outras pessoas que, eventualmente, queiram ter uma noção de como se estuda a Bíblia em determinadas Faculdades de Teologia. Ou, pelo menos, parte da Bíblia, porque posso expor apenas os programas das disciplinas que leciono. Tomo aqui como referência o currículo do CEARP, onde trabalho. Já fiz isso em outros anos.

Quatro elementos serão levados em conta, em uma leitura da Bíblia que eu chamaria de sócio-histórica-redacional:

:: contextos da época bíblica
:: produção dos textos bíblicos
:: contextos atuais
:: leitores atuais dos textos

O sentido da Escritura, segundo este modelo, não está nem no nível dos contextos da época bíblica e/ou dos contextos atuais, nem no nível dos textos bíblicos ou da vivência dos leitores, mas na articulação que se forma entre a relação dos textos bíblicos com os seus contextos, por um lado, e entre os leitores atuais e seus contextos específicos.

Ou seja: “Da Escritura não se esperam fórmulas a ‘copiar’, ou técnicas a ‘aplicar’. O que ela pode nos oferecer é antes algo como orientações, modelos, tipos, diretivas, princípios, inspirações, enfim, elementos que nos permitam adquirir, por nós mesmos, uma ‘competência hermenêutica’, dando-nos a possibilidade de julgar por nós mesmos, ‘segundo o senso do Cristo’, ou ‘de acordo com o Espírito’, das situações novas e imprevistas com as quais somos continuamente confrontados. As Escrituras cristãs não nos oferecem um was [que], mas um wie [como]: uma maneira, um estilo, um espírito. Tal comportamento hermenêutico se situa a igual distância tanto da metafísica do sentido (positivismo) quanto da pletora das significações (biscateação). Ele nos dá a chance de jogar a sério o círculo hermenêutico, pois que é somente neste e por este jogo que o sentido pode despertar” explica BOFF, C. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas mediações. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 266-267.

As disciplinas de Bíblia no curso de graduação em Teologia podem, segundo este modelo, ser classificadas em três áreas:

1. Disciplinas Contextuais:
:: História de Israel I e II

2. Disciplinas Instrumentais:
:: Introdução à Sagrada Escritura
:: Hebraico Bíblico
:: Grego Bíblico

3. Disciplinas Exegéticas:
:: Pentateuco
:: Literatura Profética I e II
:: Literatura Deuteronomista
:: Literatura Sapiencial
:: Sinóticos e Atos dos Apóstolos
:: Literatura Paulina
:: Literatura Joanina
:: Apocalipse

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Destas disciplinas, leciono:

No primeiro semestre:
:: História de Israel I: 2 hs/sem.
:: Hebraico Bíblico: 2 hs/sem.
:: Literatura Profética I: 2 hs/sem.
:: Literatura Deuteronomista: 2 hs/sem.

No segundo semestre:
:: História de Israel II: 2 hs/sem.
:: Pentateuco: 4 hs/sem.
:: Literatura Profética II: 2 hs/sem.

Livro de Finkelstein sobre Esdras, Neemias e Crônicas em português

FINKELSTEIN, I. Realidades asmoneias subjacentes aos livros de Esdras, Neemias e Crônicas: Perspectivas arqueológicas e históricas. São Paulo: Paulinas, 2021, 272 p. – ISBN 9786558080626.

Os períodos persa e helenista encontram-se no centro dos debates atuais em torno da datação dos textos bíblicos. Nesta coleção de estudos, Israel Finkelstein esboça umFINKELSTEIN, I. Realidades asmoneias subjacentes aos livros de Esdras, Neemias e Crônicas: Perspectivas arqueológicas e históricas. São Paulo: Paulinas, 2021 argumento inteiramente apoiado em dados arqueológicos para uma data mais tardia do que a tradicionalmente defendida para partes dos livros de Esdras, Neemias e Crônicas. Finkelstein trata de tópicos chaves tais como a lista dos repatriados, a construção da muralha de Jerusalém, os adversários de Neemias, as genealogias tribais e a expansão territorial de Judá no Segundo Livro das Crônicas. Ele postula que as realidades geográficas e históricas ocultas por trás de pelo menos partes desses livros ajustam-se ao período asmoneu no final do século II a.C. Seis ensaios publicados anteriormente são complementados por mapas, material arqueológico atualizado e referências a recentes publicações em torno dos tópicos em questão.

Livro em formato digital apenas. Leia trechos no Google Livros. Sobre o original, em inglês, publicado em 2018, veja uma apresentação aqui.

Apresentação à edição brasileira – Por José Ademar Kaefer

Durante uma conferência em São Paulo em 2019, Israel Finkelstein disse o seguinte: “Quando vejo a comunidade acadêmica sentada tranquilamente, como sapos em uma lagoa a coaxar harmoniosamente, concluo que alguma coisa está errada. Vou, então, e jogo uma pedra na água e causo um alvoroço geral”. É isso literalmente o que este livro faz.

Israel Finkelstein é um arqueólogo de larga e bem-sucedida experiência. Apesar de coordenar escavações em diversos sítios e em diferentes regiões, tem como base de suas pesquisas o Tel Megiddo. Finkelstein faz arqueologia crítica, não no sentido de desfazer o que outros concluíram ou de chamar a atenção sobre si, mas de perguntar a razão das coisas e se elas realmente são o que aparentam ser. Também é um pesquisador sensível, capaz de mudar de opinião diante das evidências. Seu histórico não está preso a instituições ou ideias. Seu profundo conhecimento da arqueologia e seu acesso ao material arqueológico dos diferentes sítios possibilitam-lhe uma leitura diferenciada também dos textos bíblicos, campo ao qual tem-se dedicado mais amplamente nos últimos anos.

(…)

A falta de evidências arqueológicas dos períodos persa e helenista antigo/primitivo

Como é sabido, costuma-se situar muita produção bíblica no chamado período do domínio persa (538-332 a.C.). No entanto, temos pouca, ou quase nenhuma informação de Judá desse período. Na Bíblia, os únicos livros que tratam explicitamente do contexto persa são os livros de Esdras e Neemias. Contudo, as informações históricas em ambos os livros são confusas e contraditórias, por isso sua consistência é questionável. Também não temos evidências arqueológicas, extrabíblicas, desse período, tais como monumentos, artefatos, escritos etc., praticamente nada. A pequena exceção são os papiros de Elefantina. Por isso, afirma Finkelstein, a comunidade acadêmica corre um sério risco de não sair de uma argumentação circular.

Também não há comprovação de atividade literária desse período em Judá. Existem evidências de atividade literária do final da monarquia (século VII a.C.), como mostram as análises feitas nos óstraca de Arad, onde se comprovou a existência de cinco a seis mãos diferentes na grafia. Depois a escrita desaparece e só volta a aparecer no período helenista tardio, século II a.C., durante o reinado asmoneu. Ou seja: entre a destruição de Jerusalém (587 a.C.) e o surgimento do estado asmoneu (134 a.C.) não há evidência de atividade literária extrabíblica na Judeia. Isso não pode ser ignorado quando se trata de estudar os textos bíblicos, afirma Finkelstein.

Jerusalém

Outra questão a considerar é o resultado das escavações da antiga Jerusalém, hoje quase toda ela rodeada pela muralha turco-otomana construída por Solimão, o Magnífico (sultão de 1520 a 1566). Acredita-se que a Jerusalém dos períodos persa (538-332 a.C.) e helenista antigo/primitivo (332-134 a.C.) ocupou a mesma área da Jerusalém dos reinados de Davi e Salomão, século X a.C., hoje em dia denominada de “Cidade de Davi”. O curioso é que em ambos os casos não há remanescentes arquitetônicos, nem templo, muralha, palácio ou grandes edifícios. Isso coloca os dois períodos num mesmo plano. Do período persa e helenista antigo/primitivo, somente poucos e pequenos pedaços de cerâmica foram encontrados. O que representa ser uma comprovação de que a Jerusalém desse período existia, mas era muito pobre.

As escavações atuais, como a que está sendo conduzida no Givati Parking Lot, costumam encontrar certa abundância de cerâmica dos períodos bizantino, romano tardio, romano antigo/primitivo e helenista tardio, mas não dos períodos helenista antigo/primitivo e persa. Nas escavações, após o estrato helenista tardio, segue logo o estrato da Idade do Ferro II tardia (século VII a.C.). Os estratos do período helenista antigo/primitivo e persa faltam, não existem. Há um vazio arqueológico. Esta ausência costuma ser atribuída à erosão ou às reconstruções da cidade por séculos. Mas, diz Finkelstein, pisos e muralhas não podem desaparecer no ar. Se assim fosse, também não se deveria encontrar remanescentes de outros períodos.

A Jehud Parvak do período persa

Outra polêmica levantada por este livro é o tamanho da província de Judá (Jehud Parvak) do período persa. Não sabíamos até há pouco tempo qual era o seu tamanho aproximado. Após um estudo coordenado por Oded Lipschits, da Universidade de Tel Aviv, isso ficou mais claro. Lipschits e sua equipe fizeram um levantamento do número e das localidades onde foram encontrados os selos Jehud Parvak, impressos nas alças dos potes de cerâmica, os quais eram utilizados para a coleta do tributo persa. Isso possibilitou saber até onde ia o território da província de Judá. O que se descobriu foi que 85% dos selos foram encontrados nos arredores de Jerusalém, principalmente em Ramat Rahel, um centro de coleta de tributo que distava 4 km de Jerusalém. E 90%, se incluir Masfa (Tell en-Nasbeh), que dista cerca de 10 km de Jerusalém, na região de Benjamim. Em conclusão: a Judeia do período persa parece que correspondia a um território muito mais reduzido do que se imaginava.

O contexto de Esdras, Neemias e Crônicas

Israel Finkelstein (nascido em 1949)Para o estudo do contexto dos livros de Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas, Finkelstein aborda alguns textos considerados centrais nestes livros, particularmente aqueles que se caracterizam pelo seu conteúdo geográfico. Por exemplo, Ne 3, que trata da reconstrução da muralha de Jerusalém e menciona vários grupos, de diferentes locais, que participaram da construção ou se opuseram a ela. Primeiro, Finkelstein é categórico em afirmar que não existe muralha do período persa. A muralha que alguns afirmam ser do período persa não é arqueologia séria. Tal muralha é seguramente a do período asmoneu, que praticamente segue a mesma linha da muralha destruída pelos babilônios em 587 a.C. A menção ao número de portões e de torres da muralha citado no texto é o mesmo da muralha asmoneia. Outra questão é a referência aos locais, como Betsur e Gabaon/Gibeon, que o texto faz. Segundo Finkelstein, esses locais não tinham assentamento no período persa e helenista antigo/primitivo. Talvez tivessem um pequeno assentamento, mas sem importância. Portanto, para Finkelstein, a realidade descrita em Ne 3 não corresponde de nenhum modo ao período persa, mas ao período asmoneu.

Outro problema é a menção aos inimigos de Neemias (Ne 2,19 e 4,1.7-8). Finkelstein pergunta: Por que a pequena comunidade nascente de Jerusalém conflitaria com Samaria, que fica longe no norte, com Amon, que fica do outro lado do Jordão, com Azoto/Asdode, que fica junto ao mar Mediterrâneo, e com os árabes no sul, todos povos tão distantes de Jerusalém? Para ele, estas são as direções das conquistas asmoneias do segundo século a.C., com João Hircano: norte, leste, oeste e sul.

Nesse mesmo plano se encontra a lista dos repatriados (Esd 2,1-70 e Ne 7,6-72). Os locais mencionados nesses textos, nos quais os repatriados foram assentados, não revelam presença humana nos períodos persa e helenista antigo/primitivo. Revelam presença humana nos períodos da Idade do Ferro II e helenista tardio. Mas não nos períodos persa e helenista antigo/primitivo. Talvez em alguns locais possa ter havido atividade fraca, mas na maioria não houve nenhuma. Ademais, a lista das localidades mencionadas abrange um território muito amplo, de Hebron a Siquém e da Sefelá até a Transjordânia. Essa dimensão não coaduna com a área demarcada pela presença dos selos Jehud, assunto abordado anteriormente. Ou seja: ela não representa o território da província de Judá (Jehud Parvak) do período persa. Por outro lado, ela é correspondente à expansão asmoneia do século II a.C. O interessante é que na lista das cidades conquistadas por Roboão, apresentada pelo cronista (2Cr 11,5-12.23), há um acréscimo em relação a 1Rs 12,21-24;14,21-31, onde ele se inspirou. Curiosamente, este acréscimo são as cidades fortificadas conquistadas pelos asmoneus.

Enfim, Finkelstein não discorda de que haja um núcleo (memória) antigo/primitivo nos livros de Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas. No entanto, para ele, os três livros contêm amplo material do período asmoneu, que retrata a realidade do referido período, e os três têm a mão do cronista.

Tal é o lago de águas agitadas no qual este livro nos lança.

Obs.: as três notas de rodapé foram omitidas. A grafia hasmoneus, com h, no texto da tradução brasileira, foi, aqui, modificada para asmoneus, sem o h.

Ensaios de historiografia bíblica: novo livro de Israel Finkelstein

FINKELSTEIN, I. Essays on Biblical Historiography: From Jeroboam II to John Hyrcanus I. Tübingen: Mohr Siebeck, 2022, IX + 592 p. – ISBN 9783161608537.

Este volume é uma coleção de artigos e novos ensaios de Israel Finkelstein que oferece um roteiro para reconstruir a evolução da historiografia bíblica ao longo de 700FINKELSTEIN, I. Essays on Biblical Historiography: From Jeroboam II to John Hyrcanus I. Tübingen: Mohr Siebeck, 2022 anos, começando com Israel no início do século VIII a.C. e terminando nos dias dos Macabeus no final do século II a.C. O livro tem 30 capítulos, a maioria dos quais publicados na forma de artigos, principalmente nos últimos anos. Somente dez deles foram publicados antes de 2015. Sete capítulos tem coautoria e, nesses casos, o nome do coautor aparece sob o título.

Ênfase especial é dada:
. às tradições israelitas do norte que começaram a ser escritas a partir de Jeroboão II
. à chegada dessas tradições em Judá após a conquista de Israel pela Assíria
. à ideologia judaica do século VII a.C.
. às necessidades de legitimidade dos Macabeus nos dias de João Hircano

A análise é baseada nas mais recentes descobertas arqueológicas, na exegese dos textos bíblicos e em registros do antigo Oriente Médio.

Israel Finkelstein diz na Introdução:

Vinte anos atrás, publiquei meu livro (junto com Neil A. Silberman) A Bíblia desenterrada: A nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados, que se concentrava na historiografia bíblica dos dias do rei Josias de Judá.

Desde então, dei dois passos significativos – um para trás e outro para a frente.

Meu passo para trás é que agora vejo o início da historiografia bíblica como um reflexo das realidades e ideologia do Reino do Norte na primeira metade do século VIII a.C. Esta é uma grande mudança na minha percepção cronológica e temática. Cronologicamente, este passo para trás “fecha” a lacuna entre as fases iniciais da história de Israel e Judá e a primeira composição dos textos bíblicos. Tematicamente, ele explica a incorporação de textos do Norte na Bíblia do Sul e lança luz sobre o surgimento de conceitos centrais no texto, como a Conquista de Canaã e a Monarquia Unida.

No passo à frente, refiro-me ao meu interesse pela historiografia bíblica mais recente – os livros de Esdras, Neemias e Crônicas. Diferente da maioria dos estudos atuais, que datam sua composição nos períodos persa e/ou helenístico inicial, sugiro que eles sejam entendidos como uma representação da ideologia territorial dos Macabeus no final do século II a.C.

O leitor deve notar que, devido à minha ênfase nas primeiras composições israelitas do norte e no período dos Macabeus, a fase mais importante da historiografia bíblica – Judá do final do século VII a.C. – está um tanto sub-representada. Isso pode ser remediado com uma releitura de A Bíblia desenterrada.

 

Israel Finkelstein (nascido em 1949)This volume is a collection of articles and new essays by Israel Finkelstein that offers an outline for reconstructing the evolution of biblical historiography over 700 years, starting with Israel in the early eighth century BCE and ending with the days of the Hasmoneans in the late second century BCE. Special emphasis is given to North Israelite traditions which were committed to writing in the days of Jeroboam II; to the arrival of these traditions in Judah after the takeover of Israel by Assyria; to Judahite ideology of the seventh century BCE; and to the legitimacy needs of the Hasmoneans in the days of John Hyrcanus. The analysis is based on the most recent archaeological discoveries, biblical exegesis and ancient Near Eastern records. The book consists of 30 chapters, most of which were published as articles, mainly in recent years (only three were published before 2010, only seven before 2015). Seven of these chapters were co-authored and in these cases the name of the co-author appears under the title.

From the Introduction:

Twenty years ago, I published my book (together with Neil A. Silberman) The Bible Unearthed: Archaeologyʼs New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts, which focused on biblical historiography in the days of King Josiah of Judah. Since then, I have taken two significant steps – one backward and one forward. My step backward is that I now see the beginning of biblical historiography as reflecting the realities and ideology of the Northern Kingdom in the first half of the 8th century BCE. This is a major change in my perception both chronologically and thematically. Chronologically, it “closes” the gap between early phases in the history of Israel and Judah and the first composition of biblical texts. Thematically, it explains the incorporation of Northern texts in the Southern Bible and sheds light on the emergence of central concepts in the text, such as the Conquest of Canaan and the United Monarchy. In the step forward I refer to my interest in late biblical historiography – the Books of Ezra, Nehemiah and Chronicles. To differ from the conventional wisdom of recent scholarship, which locates their composition in the Persian and/or early Hellenistic periods, I suggest they be understood as representing the territorial ideology of the Hasmoneans in the late 2nd century BCE. The reader should note that because of my emphasis on early North Israelite and Hasmonean compositions, the most important phase in biblical historiography – Judah of the late 7th century – is somewhat under-represented; this can be remedied by reverting to The Bible Unearthed.

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