Devemos rejeitar a noção corrente de corrupção como fruto de uma crise moral.
Na verdade, esta noção fica na aparência da realidade social, porque pressupõe uma visão harmônica de sociedade, que não seria constituída por classes sociais, mas apenas conteria divisões sociais. Daí bastar uma “reforma moral” para resolver a crise.
A noção de crise moral não coloca em xeque a estrutura social. Ela permite representar a sociedade como invadida por contradições e, simultaneamente, tomá-las como um acidente, um desarranjo, pois a harmonia é pressuposta como sendo de direito, reduzindo a crise a uma desordem fatual, provocada por enganos, voluntários ou involuntários, dos agentes sociais, ou por mau funcionamento de certas partes do todo.
Na verdade, a crise moral nomeia os conflitos para melhor ocultá-los.
Discursos autoritários de governos reacionários e ditatoriais sempre privilegiam a noção de crise moral.
Por um lado, ela justifica a desordem social e, por outro, mobiliza a sociedade temerosa de perder sua identidade coletiva, reagindo contra a mudança revolucionária, salvando, assim, a ordem constituída dos riscos a que estava submetida.
Donde ser necessária uma abordagem da questão da corrupção que considere a complexidade e as contradições da sociedade…
Diz um ditado que quando se aponta o dedo para alguém outros três ficam voltados para você.
Leia sobre isso em:
CHAUÍ, M. Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
DA SILVA, A. J. A denúncia profética da corrupção (Salmo 12). Vida Pastoral, São Paulo, n. 141, p. 2-6, 1988.
Isto faz parte de um artigo sobre Jeremias que estou escrevendo nestes dias. E que será publicado na revista Estudos Bíblicos proximamente.