Analistas perplexos ponto zero

Muitos analistas da imprensa tradicional estão atônitos. Tentam atropeladamente fugir às óbvias conclusões sobre o processo eleitoral. Ora ensaiam dar ênfase a uma suposta fragmentação do voto, ora dirigem olhos para uma eventual terceira via na polarização nacional, com a ascensão do PSB. Não passam de manobras diversionistas. A aposta que faziam era derrotar o PT e diminuir gravemente seu peso político. Perderam, e feio. A estratégia antipetista repousava no julgamento do chamado “mensalão” (…) O que se esperava, quando a deliberação togada chegasse às ruas, era o derretimento do PT. Na pior das hipóteses, ao menos um sensível encolhimento e a derrocada na tentativa de conquistar a maior cidade brasileira. No auge da ofensiva, não faltaram vozes que vaticinavam o ocaso da liderança de Lula. Mas as forças de direita viram ruir seus sonhos e tomaram uma tunda histórica. Os áulicos do reacionarismo ainda não entendem o que se passou, diz Breno Altman, em Quem tem domínio do fato, na democracia, é o povo – Carta Maior: 30/10/2012.

:: Atônito: do latim, attonìtus,  ‘assustado pelo ruído do trovão’, ‘amedrontado’, ‘maravilhado’.

:: Perplexo: do latim, perplexus, ’emaranhado’, ‘confundido’.

Sinônimos: abismado, admirado, assombrado, atarantado, atordoado, aturdido, boquiaberto, confuso, desnorteado, desorientado, embasbacado, espantado, estarrecido, estupefato, pasmo, transtornado (Cf. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 2009.4).

Entrevista com Dom Pedro Casaldáliga

Dom Pedro Casaldáliga – “O problema é ter medo do medo”

A entrevista foi feita por Ana Helena Tavares e publicada por Quem tem medo da democracia? em 21.10.2012.

O QTMD? foi ver e ouvir de perto um pouco da história de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, que optou por viver “descalço sobre a terra vermelha”. Descalço, quer dizer sem consumismo. Sobre a terra vermelha, uma terra ensopada de suor e de sangue.

Para ele, todos os partidos e governos têm três dividas com o povo: a da reforma agrária, a da causa indígena e a dos pequenos projetos.

Leia a entrevista.

 

Entidades divulgam nota de solidariedade a dom Pedro Casaldáliga

Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros, políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.


Neste momento de desespero, uma das pessoas mais visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante nas terras do Posto da Mata.


As entidades que assinam esta nota querem externar sua mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região…

Leia a nota completa.

Notícias dão conta de que Dom Pedro Casaldáliga, ameaçado de morte pelos invasores, foi retirado da região e está sob proteção da Polícia Federal em local não divulgado.

Leia Mais:
Dom Pedro Casaldáliga recebe ameaças

O que aprendemos com os Manuscritos do Mar Morto?

Um texto bem didático de John J. Collins, professor da Yale University, publicado no Huffington Post em 22.10.2012.

Leia: Dead Sea Scrolls: What Have We Learned? [Manuscritos do Mar Morto: o que aprendemos com eles?]

Os 4 primeiros parágrafos do texto dizem:

“The Dead Sea Scrolls, discovered near the site of Qumran, south of Jericho in the years 1947-1956 were dubbed ‘the academic scandal of the 20th century’ because of the long delay in publication. Over the last 20 years or so, however, they have been fully published, except for occasional scraps that continue to come to light. Ever since their discovery, they have aroused passions on a scale that is extraordinary for an academic subject. Now that those passions have cooled, the time is ripe to ask what we have really learned from this remarkable discovery.

First, it may be well to recall some basic facts. Fragments of approximately 930 manuscripts, dating from the late third century B.C.E. to the first century C.E. have been discovered — 750 in Hebrew, 150 in Aramaic and a small number in Greek. Before the discovery of the Scrolls we had no extant literature in Hebrew or Aramaic from Israel in this period. The Scrolls, then, shed unprecedented light on Judaism around the turn of the era, at the time when Christianity was born.

Since the initial batch of scrolls included a rule for a sectarian religious community, the immediate assumption was that the scrolls had been the property of that community. This assumption appeared to be confirmed by the excavation of the ruins at Qumran. Consequently, the corpus of texts became known as ‘the library of Qumran.’ But it is difficult to believe that a community at this remote location had a library equal to that of the largest Mesopotamian temples. The scrolls do seem to be a sectarian collection, but they were probably brought from diverse sectarian communities to be hidden in advance of the Roman army during the Jewish revolt of 66-70 C.E. [sublinhado meu].

The Scrolls, then, were not the property of a small secluded community. They contain much that reflects Judaism of the time. They include copies of all the Hebrew Bible except Esther, but we cannot be sure that they regarded them all as ‘biblical’ in our sense of the word. They included editions of some ‘biblical’ books that differ from those that came down to us, and had multiple copies of several books that are not in our Bibles. They show that the process of the formation of the Hebrew Bible was not yet complete around the turn of the era”.

Leia o texto completo e veja as 21 fotografias no final.

E, para se divertir, uma “pérola” de um comentário ao texto acima recolhida por Deane Galbraith, e que mostra como as teorias conspiratórias continuam soltas por aí, pode ser vista em John J. Collins in the Huff Post: Dead Sea Scrolls are Great for Knowledge about Ancient Judaism, Even Better for Fueling Conspiracy Theories.

:: Quem é John J. Collins?

 

:: Um livro de John J. Collins sobre os Manuscritos do Mar Morto?

COLLINS, J. J.  The “Dead Sea Scrolls”: A Biography. Princeton: Princeton University Press, 2012, 288 p. – ISBN: 9780691143675.

O bóson de Higgs e a formação do Universo

O Bóson de Higgs e a elegância invejável do Universo

Este é o tema de capa da revista IHU On-Line, n. 405, de 22.10.2012.

Diz o Editorial:

“Estranho, belo, assimétrico, fértil e cada vez em mais acelerada expansão. Assim os cientistas entrevistados pela IHU On-Line desta se referiram ao Universo analisando o seu surgimento, bem como a recente confirmação da existência do Bóson de Higgs. Envolto em uma polêmica em função da duvidosa nomenclatura ‘Partícula Deus’, o Bóson inspirou a presente edição da revista, e trouxe ao debate as origens do cosmos, os grandes desafios da Física e mostrou que há muito mais perguntas do que respostas quando procuramos saber mais sobre o Universo.

Para o físico Arthur Maciel, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro, a partícula recentemente descoberta no European Organization for Nuclear Research – CERN não resolve todas as incógnitas das teorias atuais, e inclusive cria novos problemas. Talvez essa seja a ponta de ‘um grande iceberg de novos fenômenos físicos’ que entusiasma os cientistas.

O matemático jesuíta George Coyne (Universidade do Arizona) acentua que o acaso, a necessidade e a fertilidade se imbricam na composição da concepção de Universo como se fossem ‘três bailarinas’.

Gerard’t Hooft, Prêmio Nobel em Física em 1999 e professor de Física Teórica no Spinoza Institut, em Utrecht, na Holanda, acentua que as interações entre físicos e matemáticos têm se mostrado importantes para o avanço da ciência. Contudo, a aproximação com outros ramos do conhecimento ainda é difícil.

O diretor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Basílio Santiago, dá detalhes sobre o projeto Dark Energy Survey – DES, do qual faz parte, e que procura mapear o céu e compreender um pouco mais sobre a expansão do Universo e sua formação.

De acordo com o físico jesuíta Gabriele Gionti, do Observatório Vaticano, para as pessoas de fé a harmonia do Universo expressa a beleza e bondade do Criador, mas não o prova.

Demonstração fundamental porque comprova a hipótese do preenchimento do espaço vazio com uma sustância invisível que permeia o Universo, encontrar o Bóson tem papel fundamental em determinar as características das partículas elementares, afirma Gian Giudice (CERN), físico de partículas e cosmólogo.

O jesuíta Guy Consolgmagno, astrônomo do Observatório Vaticano, menciona que a tentativa de encontrar ordem no Universo é o que move a ciência, mas não podemos usá-la para provar Deus.

O físico brasileiro e professor no Dartmouth College, nos Estados Unidos, Marcelo Gleiser, diz que apesar de ‘bela’ a ideia de que há uma teoria final da Natureza não possui suporte nas observações feitas do Universo. São as imperfeições e assimetrias que possibilitam a complexidade do cosmos.

A energia escura e o Bóson de Higgs como problemas que ainda não possuem solução são examinados por Rogério Rosenfeld, diretor do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Ele adverte que são necessários mais dados experimentais para comprovar se a partícula descoberta é mesmo o bóson do Modelo Padrão.

Oferecer uma compreensão detalhada sobre o que é o Bóson-H é o fio condutor do artigo de Mario Novello, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas – CBPF”.

Liberdade acadêmica ameaçada: o caso Christopher Rollston

“Sua localização no limiar entre experiência de fé e experiência científica implica que a teologia será, também, e inevitavelmente, uma teoria crítica da fé vivida. Teólogas e teólogos não podem aceitar e compactuar com formas de vida cristã que reduzam a fé aos interesses institucionais que regulamentam a vida de seus fiéis, ou aos interesses individualistas de crentes que confundem salvação com a satisfação de seus próprios desejos” (Júlio Paulo Tavares Zabatiero).

“Mesmo que toda teologia seja confessional, porque é ciência da fé, dentro de uma determinada igreja ou religião, ela tem também uma dimensão racional. Ela deve explicitar a racionalidade e a razoabilidade da fé, com vistas a evitar expressões fundamentalistas, fanáticas, proselitistas, que são contrárias à liberdade religiosa e, portanto, desumanas” (Vitor Galdino Feller).

Mais um caso de tensão entre liberdade acadêmica desejada e vigilância confessional praticada está, nestes dias, em discussão na biblioblogosfera. Nos Estados Unidos, o professor Christopher A. Rollston, conhecido epigrafista, estaria sendo ameaçado de punição pela instituição onde ensina, o Emmanuel Christian Seminary, de Johnson City, Tennessee, por causa de um artigo por ele publicado no Huffington Post sobre a marginalização da mulher na sociedade israelita. Marginalização, segundo ele, legitimada pela maioria dos textos bíblicos, nos quais atitudes como a de Paulo (Rm 16,1.7; Gl 3,28) constituem uma exceção.

O artigo de Christopher Rollston é: The Marginalization of Women: A Biblical Value We Don’t Like to Talk About [A marginalização das mulheres: um tema bíblico sobre o qual não gostamos de falar]  – Huffington Post blog – Posted: 08/31/2012 8:03 am

about the unfolding events related to Christopher Rollston, a widely-appreciated and well-known Biblical scholar and epigrapher, who is facing disciplinary action and perhaps even termination at Emmanuel Christian Seminary, because of an article he wrote for the Huffington Post about the marginalization of women in the Bible (James F. McGrath)

Para acompanhar a discussão, os interessados podem ler In Support of Christopher Rollston e depois Support for Christopher Rollston: Update, posts publicados por James F. McGrath, respectivamente, em 09/10/2012 e em 16/10/2012 em seu blog Exploring Our Matrix.

E, a partir daí, seguir os vários links citados.

:: Quem é Christopher Rollston?

Um diálogo de surdos

Todos os dias a gente vê isso: o pré-julgamento de casos com componente político ou religioso!

“Na verdade, o que poucos entendem – mesmo no meio jurídico – é que o julgamento de casos com importante componente político ou religioso não se faz por meio do puro silogismo jurídico tradicional: a interpretação das normas jurídicas pertinentes ao caso, como premissa maior; o exame dos fatos, como premissa menor, seguindo logicamente a conclusão. O procedimento mental costuma ser bem outro. De imediato, em casos que tais, salvo raras e honrosas exceções, os juízes fazem interiormente um pré-julgamento, em função de sua mentalidade própria ou visão de mundo; vale dizer, de suas preferências valorativas, crenças, opiniões, ou até mesmo preconceitos. É só num segundo momento, por razões de protocolo, que entra em jogo o raciocínio jurídico-formal. E aí, quando se trata de um colegiado julgador, a discussão do caso pelos seus integrantes costuma assumir toda a confusão de um diálogo de surdos. Foi o que sucedeu no julgamento do ‘mensalão'” (do texto de Fábio Konder Comparato, Para entender o julgamento do “mensalão”, publicado em Carta Maior em 14/10/2012)

Relatos do Congresso Continental de Teologia

São muitas e interessantes as participações no Congresso Continental de Teologia. Estão sendo relatadas por Notícias: IHU. Não deixe de conferir.

 

 

Um livro para quem estuda Pentateuco

Talvez o leitor goste, talvez não. Mas quem estuda o Pentateuco deveria ler:

KNIGHT, D. A. Law, Power, and Justice in Ancient Israel. Louisville: Westminster John Knox Press, 2011, xxi + 303 p. – ISBN 9780664221447.

Leia uma resenha aqui (em alemão) e mais sobre Douglas A. Knight e suas obras aqui (em inglês). Duas dezenas de páginas podem ser lidas na própria Amazon.com, no Click to Look Inside, onde é possível perceber a perspectiva da obra.