PAROSCHI, W. Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, 328 p. – ISBN 7898521805449.
Obra recomendada por Larry Hurtado em New Portuguese Introduction to New Testament Textual Criticism.
Blog sobre estudos acadêmicos da Bíblia
PAROSCHI, W. Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012, 328 p. – ISBN 7898521805449.
Obra recomendada por Larry Hurtado em New Portuguese Introduction to New Testament Textual Criticism.
Talvez o leitor goste, talvez não. Mas quem estuda o Pentateuco deveria ler:
KNIGHT, D. A. Law, Power, and Justice in Ancient Israel. Louisville: Westminster John Knox Press, 2011, xxi + 303 p. – ISBN 9780664221447.
Leia uma resenha aqui (em alemão) e mais sobre Douglas A. Knight e suas obras aqui (em inglês). Duas dezenas de páginas podem ser lidas na própria Amazon.com, no Click to Look Inside, onde é possível perceber a perspectiva da obra.
Carlos Mesters e Francisco Orofino participaram ontem, dia 09.10.2012, do Congresso Continental de Teologia no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
IHU traz hoje, dia 10, um relato desta interessante conversa: A leitura popular da Bíblia e a besta neoliberal.
Dar um testemunho da caminhada do trabalho bíblico e das leituras populares da Bíblia que realizaram ao longo de 35 anos junto ao Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Com esse objetivo Francisco Orofino e Carlos Mesters entabularam um debate marcado pela riqueza de abordagens e por um humor delicado e calcado em experiências de sua vivência religiosa. A conversa aconteceu na tarde desta terça-feira, 09-10-2012, dentro da programação do Congresso Continental de Teologia, acolhido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. A reportagem é de Márcia Junges.
Transcrevo alguns trechos e faço ao leitor o convite para ler o texto inteiro.
Da fala de Francisco Orofino:
:: Orofino recordou que, há tempos atrás, todos na Igreja Católica faziam catequese através de perguntas e respostas. Bastava decorar o catecismo para ganhar um santinho e fazer a primeira comunhão. Uma segunda característica era a divulgação da História Sagrada do Antigo e do Novo Testamento, de Bruno Heuser. Todos eram exortados a ler tal obra, relembra Orofino. Esse livro colocou na cabeça do povo uma coisa terrível: tudo que está na Bíblia é verdadeiro e histórico. Assim, as coisas ali escritas são verdadeiras porque são históricas.
:: O que é a primeira coisa que o povo procura na Bíblia?, questionou Orofino. O preço, respondeu ele próprio. Então, uma Bíblia popular tem que ter preço acessível. Em segundo lugar, vem o tamanho da letra. Se for pequena demais, ninguém compra. A terceira coisa que as pessoas prestam atenção na Bíblia é o livro de Apocalipse. Então, alguns leitores se assustam e até desistem de ler. Então, era preciso desenvolver uma metodologia de leitura da Bíblia numa perspectiva pastoral.
:: A leitura popular da Bíblia também ajudou a contornar algo difícil na Igreja Católica, que era dar possibilidade de fala àquelas pessoas a quem a palavra sempre foi negada. Levar as pessoas a falar é muito difícil, e mais ainda a dar opinião e enfrentar um esquema por ausência de informação e formação. Por isso, acentua Orofino, é perceptível através deste Congresso que houve avanços no protagonismo dos leigos. Trata-se de perceber que o leigo vai, gradativamente, conquistando sua fala, se construindo e capacitando. Esse leigo instruído e capacitado, com a fonte da revelação na mão, pode chegar mesmo a dizer que o padre está, por vezes, errado.
:: Francisco Orofino prosseguiu sua apresentação trazendo um elenco de questões que permitiram que a leitura popular da Bíblia abrisse o leque hermenêutico a partir dos trabalhos realizados pelo Centro de Estudos Bíblicos – CEBI: 1. A teologia da terra e o trabalho da CPT; 2. Grupos de fé e política; 3. Consciência indígena; 4. Luta dos afrodescendentes e teologia afro, luta das mulheres dos meios populares (Lei Maria da Penha); 5. Mobilização dos homossexuais; 6. Frentes ecológicas; 7. Fórum Social Mundial; 8. Capacidade de articulação das ONGs; 9. Avanços da ciência, principalmente a questão da informática e biotecnologia, além da física quântica.
:: Apesar de tudo isso que vivenciamos ao longo de 35 anos de lutas, percebemos que, para uma grande maioria de grupos da base, a pauta dos anos 70 e 80 continua de pé ainda anseia por trabalho, saúde, transporte, educação, moradia e alimentação. A pauta de reivindicações teve seu leque ampliado, mas as questões fundamentais permanecem as mesmas, frisou Orofino. É preciso, por isso, rever a metodologia de discussão.
:: Referindo-se ao último livro da Bíblia, o Apocalipse, Orofino mencionou a vinda da primeira besta, oriunda do mar, este sinônimo de abismo no livro sagrado. A primeira besta que emerge das águas é o estado de segurança nacional, que por vezes dá suas caras até hoje em situações de opressão política nos países do Terceiro Mundo. A segunda besta não vem do mar, mas da terra, está dentro da comunidade, disfarçada de cordeiro. Mas quando ela fala, a voz é do dragão. “Essa besta é poderosa porque desagrega e enfeitiça, uma vez que é capaz de criar maravilhas. Com ela se pode comprar e vender. Essa besta marca a todos: escravos, livres, ricos, pobres, pequenos, grandes. Todos querem a marca da besta para poder comprar e vender. Talvez seja o tema mais discutido desse Congresso Continental de Teologia: trata-se do liberalismo”.
Da fala de Carlos Mesters:
:: Carlos Mesters assumiu sua parte do debate recuperando a importância da Dei Verbum, conectando-a a uma leitura popular da Bíblia. Quando estava sendo preparado o Concílio Vaticano II, o Cardeal Otaviani organizou um documento sobre a revelação divina, no sentido do que Deus falou no passado. Tal documento foi iniciado no Concílio, já na primeira sessão, e foi um dos últimos a ser concluído. Isso provocou uma tempestade na Igreja. As pessoas não leem a Bíblia para saber do passado, mas para entender como Deus apela para sua vida. Por isso a leitura orante é fundamental. “Deus está em tudo, assim como seu espírito. E a Bíblia nos ajuda a descobrir isso”, complementou Mesters.
:: Outro tópico que provocou reação na plateia foi a afirmação de que a Bíblia não é um catálogo de verdades. Trata-se da revelação da graça e misericórdia de Deus.
:: Alguns pontos da Dei Verbum que aparecem com força na leitura popular foram assinalados por Carlos Mesters: 1. A Bíblia é palavra de Deus; 2. A Bíblia é a palavra de Deus em linguagem humana; 3. A Bíblia não é um catálogo de verdades; 4. Jesus liga o Antigo e o Novo Testamento; 5. A Bíblia é livro da igreja, e através dela nos filiamos a uma grande tradição.
:: Mesters finalizou sua exposição apresentando aspectos da leitura orante e suas interpretações: “a palavra deve poder circular”, mencionou. Nas pequenas comunidades esse trabalho refaz o relacionamento humano na base. Se tentarmos esconder as divisões, aí esquecemos de consertar os relacionamentos em sua forma mais primordial. “Isso equivale a colocar peruca num careca: não faz cabelo nascer”.