Mesters e Orofino no Congresso Continental de Teologia

Carlos Mesters e Francisco Orofino participaram ontem, dia 09.10.2012, do Congresso Continental de Teologia no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

IHU traz hoje, dia 10, um relato desta interessante conversa: A leitura popular da Bíblia e a besta neoliberal.

Dar um testemunho da caminhada do trabalho bíblico e das leituras populares da Bíblia que realizaram ao longo de 35 anos junto ao Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Com esse objetivo Francisco Orofino e Carlos Mesters entabularam um debate marcado pela riqueza de abordagens e por um humor delicado e calcado em experiências de sua vivência religiosa. A conversa aconteceu na tarde desta terça-feira, 09-10-2012, dentro da programação do Congresso Continental de Teologia, acolhido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. A reportagem é de Márcia Junges.

Transcrevo alguns trechos e faço ao leitor o convite para ler o texto inteiro.

Da fala de Francisco Orofino:

:: Orofino recordou que, há tempos atrás, todos na Igreja Católica faziam catequese através de perguntas e respostas. Bastava decorar o catecismo para ganhar um santinho e fazer a primeira comunhão. Uma segunda característica era a divulgação da História Sagrada do Antigo e do Novo Testamento, de Bruno Heuser. Todos eram exortados a ler tal obra, relembra Orofino. Esse livro colocou na cabeça do povo uma coisa terrível: tudo que está na Bíblia é verdadeiro e histórico. Assim, as coisas ali escritas são verdadeiras porque são históricas.

:: O que é a primeira coisa que o povo procura na Bíblia?, questionou Orofino. O preço, respondeu ele próprio. Então, uma Bíblia popular tem que ter preço acessível. Em segundo lugar, vem o tamanho da letra. Se for pequena demais, ninguém compra. A terceira coisa que as pessoas prestam atenção na Bíblia é o livro de Apocalipse. Então, alguns leitores se assustam e até desistem de ler. Então, era preciso desenvolver uma metodologia de leitura da Bíblia numa perspectiva pastoral.

:: A leitura popular da Bíblia também ajudou a contornar algo difícil na Igreja Católica, que era dar possibilidade de fala àquelas pessoas a quem a palavra sempre foi negada. Levar as pessoas a falar é muito difícil, e mais ainda a dar opinião e enfrentar um esquema por ausência de informação e formação. Por isso, acentua Orofino, é perceptível através deste Congresso que houve avanços no protagonismo dos leigos. Trata-se de perceber que o leigo vai, gradativamente, conquistando sua fala, se construindo e capacitando. Esse leigo instruído e capacitado, com a fonte da revelação na mão, pode chegar mesmo a dizer que o padre está, por vezes, errado.

:: Francisco Orofino prosseguiu sua apresentação trazendo um elenco de questões que permitiram que a leitura popular da Bíblia abrisse o leque hermenêutico a partir dos trabalhos realizados pelo Centro de Estudos Bíblicos – CEBI: 1. A teologia da terra e o trabalho da CPT; 2. Grupos de fé e política; 3. Consciência indígena; 4. Luta dos afrodescendentes e teologia afro, luta das mulheres dos meios populares (Lei Maria da Penha); 5. Mobilização dos homossexuais; 6. Frentes ecológicas; 7. Fórum Social Mundial; 8. Capacidade de articulação das ONGs; 9. Avanços da ciência, principalmente a questão da informática e biotecnologia, além da física quântica.

:: Apesar de tudo isso que vivenciamos ao longo de 35 anos de lutas, percebemos que, para uma grande maioria de grupos da base, a pauta dos anos 70 e 80 continua de pé ainda anseia por trabalho, saúde, transporte, educação, moradia e alimentação. A pauta de reivindicações teve seu leque ampliado, mas as questões fundamentais permanecem as mesmas, frisou Orofino. É preciso, por isso, rever a metodologia de discussão.

:: Referindo-se ao último livro da Bíblia, o Apocalipse, Orofino mencionou a vinda da primeira besta, oriunda do mar, este sinônimo de abismo no livro sagrado. A primeira besta que emerge das águas é o estado de segurança nacional, que por vezes dá suas caras até hoje em situações de opressão política nos países do Terceiro Mundo. A segunda besta não vem do mar, mas da terra, está dentro da comunidade, disfarçada de cordeiro. Mas quando ela fala, a voz é do dragão. “Essa besta é poderosa porque desagrega e enfeitiça, uma vez que é capaz de criar maravilhas. Com ela se pode comprar e vender. Essa besta marca a todos: escravos, livres, ricos, pobres, pequenos, grandes. Todos querem a marca da besta para poder comprar e vender. Talvez seja o tema mais discutido desse Congresso Continental de Teologia: trata-se do liberalismo”.

Da fala de Carlos Mesters:

:: Carlos Mesters assumiu sua parte do debate recuperando a importância da Dei Verbum, conectando-a a uma leitura popular da Bíblia. Quando estava sendo preparado o Concílio Vaticano II, o Cardeal Otaviani organizou um documento sobre a revelação divina, no sentido do que Deus falou no passado. Tal documento foi iniciado no Concílio, já na primeira sessão, e foi um dos últimos a ser concluído. Isso provocou uma tempestade na Igreja. As pessoas não leem a Bíblia para saber do passado, mas para entender como Deus apela para sua vida. Por isso a leitura orante é fundamental. “Deus está em tudo, assim como seu espírito. E a Bíblia nos ajuda a descobrir isso”, complementou Mesters.

:: Outro tópico que provocou reação na plateia foi a afirmação de que a Bíblia não é um catálogo de verdades. Trata-se da revelação da graça e misericórdia de Deus.

:: Alguns pontos da Dei Verbum que aparecem com força na leitura popular foram assinalados por Carlos Mesters: 1. A Bíblia é palavra de Deus; 2. A Bíblia é a palavra de Deus em linguagem humana; 3. A Bíblia não é um catálogo de verdades; 4. Jesus liga o Antigo e o Novo Testamento; 5. A Bíblia é livro da igreja, e através dela nos filiamos a uma grande tradição.

::  Mesters finalizou sua exposição apresentando aspectos da leitura orante e suas interpretações: “a palavra deve poder circular”, mencionou. Nas pequenas comunidades esse trabalho refaz o relacionamento humano na base. Se tentarmos esconder as divisões, aí esquecemos de consertar os relacionamentos em sua forma mais primordial. “Isso equivale a colocar peruca num careca: não faz cabelo nascer”.

Eleições 2012: o festival de besteiras dos “calunistas”

Do Blog do Miro – 08.10.2012

“Calunistas” da mídia, metidos a especialistas em política e eleições, apostaram na derrota do PT e das esquerdas e no ressurgimento da direita nativa. Eles não deviam esquecer as besteiras que escreveram durante a campanha. O blog do jornalista Luis Nassif ajudou neste esforço ao listar as previsões – ou torcida – destes “formadores de opinião”. Cito algumas delas:

1. Dora Kramer (Estadão – 4/10)

a) Citando “outros”

Lula não é mais aquele, sua liderança se esvai e sua influência míngua, constatam analistas, cientistas, especialistas em geral.

b) Opinando

Verdade que ele [Lula] não inspira o mesmo entusiasmo entre os que até outro dia o consideravam um oráculo nem provoca o mesmo temor entre aqueles que, na oposição, evitavam enfrentá-lo. No ambiente dos políticos e partidos aliados tampouco priva da reverência de antes.

2. Merval Pereira (7/10)

A “mais complicada” eleição paulistana pode acabar deixando de fora da disputa Fernando Haddad, o candidato que o ex-presidente tirou do bolso de seu colete, outrora considerado milagreiro. Terá sido a primeira vez em que o PT não disputará o segundo turno na capital paulista, derrota capaz de quebrar o encanto que se criou em torno das qualidades quase mágicas do líder operário tornado presidente.

3. Ricardo Noblat (27/9)

Enquete: Pesquisas mostram PT fraco nas capitais. Aponte o motivo

4. Editorial do “Estado de S. Paulo”: Lula está definhando? (30/9)

5. João Ubaldo Ribeiro (30/9)

Ele [Lula] insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu. Mas a dele mesmo, depois que o mundo der mais algumas voltas e ele quiser iniciar uma jornada de volta ao topo, com esse fito candidatando-se à prefeitura de São Paulo.

6. Fernando Gabeira (28/9)

Ao longo de minhas viagens observei que o mensalão não havia afetado as eleições municipais. Mas o processo está em curso. Algumas cidades já estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta ocorre algo bastante irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter o apoio do PT e por isso perde votos. Fruet foi um dos deputados que investigaram o mensalão na CPI dos Correios.

7. José Roberto de Toledo – Consumismo, mensalão e voto (24/9)

Um resultado possível a sair das urnas é o PT, desgastado pelas condenações do mensalão, perder espaço nas capitais mas crescer no interior. Será mais um passo para virar o novo PMDB.

8. Rogério Gentile (20/9)

O julgamento no STF tem afetado Haddad, que está com um desempenho inferior ao tradicional do PT.Uma eventual condenação de José Dirceu pode agravar sua situação, por mais que ele tente se desvincular do colega de partido.

9. Cláudio Humberto (22/8)

Só no tranco

Apadrinhado de Lula, Haddad esperava atropelar Serra com a entrada da presidente Dilma e de Marta Suplicy na campanha. Deu chabu.

10. Marco Antonio Villa (7/10)

O grande perdedor é o Lula. Até agora, ele fracassou em suas principais movimentações. Se a candidata fosse Marta Suplicy em São Paulo, ela estaria no segundo turno.

11. Tuíte da revista “Veja” (7/10)

@VEJA: Derrocada do PT e disputas acirradas marcam eleições

Resenhas na RBL: 05.10.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Reinhard G. Kratz and Hermann Spieckermann, eds.
One God-One Cult-One Nation: Archaeological and Biblical Perspectives
Reviewed by Aren Maeir

Matthew Morgenstern
Studies in Jewish Babylonian Aramaic Based Upon Early Eastern Manuscripts
Reviewed by Aaron Koller

T. Muraoka
A Grammar of Qumran Aramaic
Reviewed by Adam McCollum

Raj Nadella
Dialogue Not Dogma: Many Voices in the Gospel of Luke
Reviewed by Jean-François Racine

Bezalel Porten
The Elephantine Papyri in English: Three Millennia of Cross-Cultural Continuity and Change
Reviewed by Jeremy Hutton
Reviewed by Jerome A. Lund

Seth D. Postell
Adam as Israel: Genesis 1-3 as the Introduction to the Torah and Tanakh
Reviewed by L. Michael Morales

Armand Puig I Tàrrech
Jesus: A Biography
Reviewed by V. George Shillington

Gordon J. Wenham
Psalms as Torah: Reading Biblical Song Ethically
Reviewed by Joseph R. Kelly

Anne-Laure Zwilling
Frères et sours dans la Bible: Les relations fraternelles mises en récit dans l’Ancien et le Nouveau Testament
Reviewed by Jean-Paul Michaud

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Resenhas na RBL: 30.09.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Peter H. Davids
2 Peter and Jude: A Handbook on the Greek Text
Reviewed by Terrance D. Callan

Steven Fassberg
The Jewish Neo-Aramaic Dialect of Challa
Reviewed by Aaron Koller

Lisbeth S. Fried, ed.
Was 1 Esdras First? An Investigation into the Priority and Nature of 1 Esdras
Reviewed by Andrew Steinmann

Detlef Jericke
Regionaler Kult und lokaler Kult: Studien zur Kult- und Religionsgeschichte Israels und Judas im 9. und 8. Jahrhundert v. Chr.
Reviewed by John Engle

Vadim Jigoulov
The Social History of Achaemenid Phoenicia: Being a Phoenician, Negotiating Empires
Reviewed by S. Rebecca Martin

Karen H. Jobes
Letters to the Church: A Survey of Hebrews and the General Epistles
Reviewed by Peter H. Davids

Joel S. Kaminsky and Joel N. Lohr
The Torah: A Beginner’s Guide
Reviewed by Rachel S. Mikva

William Loader
The Pseudepigrapha on Sexuality: Attitudes towards Sexuality in Apocalypses, Testaments, Legends, Wisdom, and Related Literature
Reviewed by Françoise Mirguet

Barry Smith
Jesus’ Twofold Teaching about the Kingdom of God
Reviewed by Daniel A. Smith

Daniel F. Stramara Jr.
God’s Timetable: The Book of Revelation and the Feast of Seven Weeks
Reviewed by Daniel Streett

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Congresso Continental de Teologia na IHU On-Line

Congresso Continental de Teologia. Concílio Vaticano II e Teologia da Libertação em debate: este é o tema de capa da revista IHU On-Line, n. 404, de 05.10.2012.

“Nos dias 7 a 11 de outubro a Unisinos sediará a realização do Congresso Continental de Teologia. O evento celebra o 50º aniversário do início do Concílio Vaticano II e os 40 anos do lançamento do livro Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, teólogo peruano. A presente edição da IHU On-Line, descreve as grandes intuições que animaram a caminhada da Igreja na América Latina nestes 50 anos depois do Concílio Vaticano II, que foi recebido neste Continente com entusiasmo e originou o que veio a ser a Teologia da Libertação. Seus alcances, limites e possibilidades são debatidas nesta edição por alguns dos conferencistas e pesquisadores/as que estarão no Congresso.

Contribuem no debate Jon Sobrino, Juan Carlos Scannone, Carlos Mendoza-Álvarez, Eleazar López Hernández, Margit Eckholt, Marilú Rojas, Olga Consuelo Velez, Margot Bremer, Victor Codina, Pedro Ribeiro de Oliveira, Sérgio Coutinho, Brenda Carranza, Paulo Suess e Francisco Orofino” (do Editorial).

Tempo de partido, tempo de homens partidos

Esse é tempo de partido, tempo de homens partidos – Carlos Drummond de Andrade, Nosso tempo.

Julgar Dirceu na véspera da eleição é decisão política do STF 

Dois assuntos estão nas manchetes. Estão nas manchetes há dois meses: as eleições municipais e o julgamento do chamado “Mensalão”. Nesta decisiva semana das eleições começou o julgamento do “núcleo político” desse escândalo. Nesta quarta-feira, 3, entrou em pauta o julgamento de José Dirceu. Fato de enorme impacto. Fato com um impacto tão grande que quase não se admite quem queira percebê-lo nos seus vários ângulos, antecedentes e consequências.


Não há coincidência alguma no julgamento do “Mensalão” e as eleições se darem, milimetricamente, ao mesmo tempo. Há uma decisão. Decisão que é política. Tribunais são técnicos, mas são também “políticos” no sentido mais amplo da palavra. Não há coincidência em se julgar José Dirceu três, dois dias antes das eleições. Isso não é obra do acaso, do destino. Essa decisão, a do “quando” julgar, é, foi uma decisão política…

O artigo é de Bob Fernandes e foi publicado no Terra Magazine em 04/10/2012.

Leia o texto completo.

Fonte: Notícias: IHU On-Line – 05/10/2012

Tim Bulkeley: Deus não é somente Pai

O biblista neozelandês Tim Bulkeley, do biblioblog SansBlogue, que publicou excelente seleção das melhores postagens da biblioblogosfera em setembro, está fazendo mais uma experiência: um livro online que permite ao leitor interagir com o autor e com os outros leitores por meio de comentários e discussões que podem ser acrescentadas ao texto. Ele pede a colaboração de todos os biblioblogueiros nesta empreitada.

Ele diz:
Eu quero explorar como autores e leitores podem se engajar mais e em maior profundidade através da utilização das comunicações online. Meu livro Not Only a Father [o Deus da Bíblia não é somente um Pai, não é somente masculino, é também Mãe] não só está disponível em forma impressa na Amazon, mas o texto completo está também disponível online gratuitamente.

Do please participate in helping me to make my latest experiment in online publication work better. I want to explore how authors and readers can engage more and at greater depth through using online communications. My book Not Only a Father is not only available as a paperback on Amazon, but also the full text is online at https://bigbible.org/mothergod/ using a WordPress plugin that allows commenting and discussion at paragraph rather than post level (…) I would like to do an Online Book Launch to (roughly) coincide with the physical one. So I am asking a number of bloggers to agree to mention the book (especially the free online version) in a post in the first two weeks of October (the physical launch is 10th October). I am also trying to find people willing to read a few paragraphs and post a comment.


In each chapter and section there are small blue speech bubbles to the right of every paragraph. Click on them to see what others have said or to comment or ask questions yourself.