2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho

Flávio Aguiar – Carta Maior

Olho vivo e pé ligeiro: isto, como caldo de galinha, nunca fez mal a ninguém. Há certas coisas em que o Brasil precisa ficar de olho. A nossa direita – na política, na mídia e nos corações e mentes – que fique enterrada no buraco do seu anacronismo. Nós, o Brasil que se preocupa com o futuro do Brasil, precisamos ficar de olho nele.

 

:: 2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (1) – 02/01/2012

A primeira coisa em que o Brasil precisa ficar de olho é o estreito de Ormuz, entre o golfo Pérsico e o Oceano Índico. Por ali passa 40 % do petróleo consumido no mundo. A segunda coisa é a União Europeia. A terceira é o Oriente Médio e a quarta, as eleições norte-americanas.

Olho vivo e pé ligeiro: isto, como caldo de galinha, nunca fez mal a ninguém.
Há certas coisas em que o Brasil precisa ficar de olho. A nossa direita – na política, na mídia e nos corações e mentes – que fique enterrada no buraco do seu anacronismo. Nós, o Brasil que se preocupa com o futuro do Brasil, precisamos ficar de olho nele.

A primeira coisa em que o Brasil precisa ficar de olho é o estreito de Ormuz, entre o golfo Pérsico e o Oceano Índico. Por ali passa 40 % do petróleo consumido no mundo. De um lado, está a Arábia Saudita e sua corte de satélites: o Kuwait, os Emirados Árabes, o Qatar, o Bahrain, onde, inclusive, está sediada a 5a. Frota Naval Norte-americana, e o Comando Naval dos Estados Unidos para a região, incluindo o Oceano Índico.

Aparentemente, a primeira preocupação dos Estados Unidos em relação ao Irã seria Israel, por causa da eleição futura do presidente norte-americano. Mais ou menos. Isso é importante, sem dúvida. Mas o mais importante é o estreito do Ormuz. Se o Irã concretizasse a ameaça de fechá-lo – até de estreitá-lo mais ainda – a economia mundial viria abaixo, e com ela o “mando” (há quem diga “governança”) Ocidental, pelo menos momentaneamente.

O estreito de Ormuz é, hoje, o ícone de um possível agravamento da recessão mundial – o que seria consequência de uma guerra na região. Em parte, essa recessão teria consequências imprevisíveis. Mas as previsíveis seriam piores: guerras militares e econômicas, protecionismos, arrogância ocidental, reforço de Netanyahu, inflação aqui, deflação ali. Com o estreito de Ormuz entra na ordem de preocupações o novo mapa da Liga Árabe. O fator mais preocupante ali é a tentativa saudita de redefinir em torno de si a hegemonia que o Egito perdeu. De longe, a monarquia da Arábia Saudita representa o que de mais reacionário há na região, junto com o governo de Netanyahu. E os Estados Unidos, diante do desafio iraniano, parecem decididos a fortificá-la mais ainda.

A segunda coisa é a União Europeia. Por quê? Porque nada de novo vai acontecer, pelo menos no nível da previsibilidade. Vão continuar as políticas de “austeridade”, que o Premio Nobel Paul Krugman rotula adequadamente de “selvagem”, esse neopopulismo de classe média e de direita facilmente vendável eleitoralmente numa região onde muita gente se considera ameaçada pela emergência do terceiro mundo – fora de sua casa e dentro dela, com a massa de imigrantes e de islâmicos, em particular.

Pode ser que a talvez possível (olhem a quantidade de condicionantes) eleição de François Hollande no lugar de Nicolas Sarkozy na França venha a ocorrer. Mas o que isso significará? Quase certamente muito pouco, a julgar pelo comprometimento dos partidos socialistas e social-democratas europeus com o ideário do conservador Consenso de Bruxelas, com os valores neoliberais e com a OTAN. Mas enfim, como dizia a fábula de Chapeuzinho nas versões dos anos cinqüenta, “não chores, porém, criança, nem tudo está perdido, quando resta uma esperança”. A Europa vai continuar a ser um peso recessivo em 2012.

A terceira coisa é o Oriente Médio. Há uma tentativa de se retomar o (improvável) diálogo entre o governo israelense, perdido ou cegamente clarividente em seu populismo de direita, e a Autoridade Palestina, corretamente empenhada em ampliar seu leque diplomático. É quase impossível que isso ocorra, mas qualquer alternativa em direção à paz é almejável que se realize. O pior que pode acontecer ali, fechando o círculo com o estreito de Ormuz, é o governo de Netanyahu decidir atacar militarmente o Irã, o que mergulharia o mundo num pesadelo. E isso pode acontecer porque ele (esse governo) e ele (Netanyahu) podem muito bem crer que um gesto desses ajudaria os candidatos republicanos nos EUA.

Bom, no plano internacional, chegamos ao fim da linha. Ou ao começo. Refiro-me às eleições norte-americanas. O pior nesse particular (ou “universal”) será a eleição de um dos candidatos republicanos – qualquer um deles. Bem sei que os meus saudáveis e bem vindos críticos ficam furiosos com o que pensam ser meus “elogios” ao contraditório e enrolado Obama; mas se pensam que naquele país “tudo é igual” em termos de política institucional, esperem para ver. A eleição de um republicano nessa altura vai significar um tal retrocesso na política mundial que o mundo que enfrentamos hoje vai parecer brincadeira de criança.

Quanto a isso, o que o Brasil pode fazer?

Rezar, talvez. Até porque nisso a gente é forte.

 

:: 2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (2) – 04/01/2012
O grande problema com respeito à China – hoje principal parceiro comercial do Brasil – é a (falta de) informação qualificada. O Brasil precisa enfrentar o desafio de obter informações e análises qualificadas sobre a situação interna e externa da China. Para isso, é preciso aprender mandarim.

 

:: 2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (3) – 06/01/2012
O Brasil terminou o ano como sexta economia do mundo. Curiosamente, este fato despertou reações análogas tanto à direita quanto à esquerda. Como se estivéssemos numa olimpíada, bateu-se na tecla de que isso não era motivo para ufanismos. Ora, isso é uma tautologia.

A tragédia se repete, a comédia é sem graça

A tragédia das chuvas se repete, a comédia política é sem graça.

Águas da chuva trazem primeira (falsa?) polêmica política em 2012

André Barrocal – Carta Maior: 07/01/2012

Mais um ano começa com tragédias provocadas pelas chuvas que marcam esta época. O principal palco dos estragos até agora é Minas Gerais, onde pessoas morreram e uma centena de municípios já decretou situação de emergência. Os governos federal e estadual correm para socorrer vítimas, acolher desabrigados, liberar dinheiro, planejar a recuperação do destruído.

Ao mesmo tempo em que causa problemas concretos no mundo real, as chuvas também produziram consequências não muito longe de Minas, mas num mundo mais virtual, a política. Nascido na capital brasileira, o “aguaceiro” espraiou-se pelo país por meio de TVs, rádios, jornais, blogs da internet na forma de uma polêmica que talvez não mereça a definição.

O motivo foi a suposta preferência explícita do ministro responsável pelo gasto de recursos federais destinados a prevenir enchentes por aplicá-los em seu estado de origem. Por trás da predileção de Fernando Bezerra por Pernambuco, estaria um interesse político de quem estaria de olho em uma candidatura a prefeito de Recife em outubro.

A tese de gestão eleitoreira de Bezerra foi sustentada com base na seguinte informação: de R$ 29 milhões em dinheiro liberado pelo ministério da Integração Nacional para obras contra enchentes em 2011, R$ 25 milhões foram para Pernambuco.

A informação foi levantada primeiramente por uma ONG chamada Contas Abertas, especializada na vigilância do gasto público. A entidade é de um deputado federal, Augusto Carvalho (DF), que pertence a um partido adversário do governo Dilma Rousseff, o PPS. A informação foi repassada pela ONG para um grande jornal, que a publicou na última terça-feira (3).

No mesmo dia, uma das ministras mais próximas da presidenta, Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, abreviou as férias e voltou ao batente, por ordem da chefa, que só retomaria o trabalho nesta sexta (6). A entrada de Gleisi em cena foi vista pelo mundo político como uma intervenção presidencial na pasta do “politiqueiro” ministro Fernando Bezerra, que seria “enquadrado” a partir dali.

No dia seguinte, o secretário de Comunicação do PT, deputado federal André Vargas (PR), daria uma declaração a um jornal do estado dele, chamando de “equívoco” o “privilégio” dado por Bezerra, que é do PSB, ao próprio estado na liberação de recursos. E garantindo que “a presidente Dilma não concorda com esse tipo de gestão.”

Um ministro sem atitude republicana, como se viu em números. Uma presidenta irritada e disposta a enquadrar o auxiliar, por meio de uma interventora. O partido dela fazendo coro à denúncia de uma ONG de oposição e condenando em público um aliado histórico do PT, o PSB. Aliado que é presidido por um político em ascensão, Eduardo Campos, que vê as eleições presidenciais de 2014 com certas ambições e que é, justamente, governador de Pernambuco. Pronto, estava criada a polêmica.

Mas, será que haveria mesmo motivo para uma? Na última quarta-feira (4), o ministro acusado de bairrismo convocou a imprensa para dar explicações. E, pelos dados que apresentou na entrevista, talvez mereça crítica mais por dificuldade de gastar todo o dinheiro que tinha à disposição, do que por privilegiar o próprio estado…

Leia o artigo completo.