O 12º Intereclesial das CEBs será realizado em Porto Velho – Rondônia, de 21 a 25 de julho de 2009.
O tema é “CEBs: Ecologia e Missão” e o lema “Do Ventre da Terra, o grito que vem da Amazônia”.
Iniciado em 1975, os Intereclesiais mostram a caminhada das CEBs e cada edição apresenta um tema diferente, relacionado à realidade de vida do povo.
Segundo Luiz Ceppi, membro da coordenação do 12° Intereclesial, até agora já foram preenchidas mais de 2800 fichas de inscrições. Além disso, são previstos mais de 300 assessores e convidados e mais de 60 bispos do Brasil e de outros países da América Latina e do Caribe. Haverá também momentos abertos a todas as comunidades locais. Estima-se que 3100 pessoas compareçam ao encontro. Dados fornecidos por Luiz Ceppi na entrevista à IHU On-Line, que pode ser lida a seguir.
Ecologia e Missão. 12º Encontro Intereclesial das CEB’s. Entrevista especial com Luiz Ceppi
18 de julho de 2009
IHU On-Line
Começa nesta terça-feira, dia 21 de julho, o 12º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base. A cidade que recebe esta edição do evento será Porto Velho, capital de Rondônia, uma vez que o tema é “CEB’s – Ecologia e Missão”. Conforme um dos organizadores, Luiz Ceppi, o encontro servirá para refletir sobre a atual conjuntura social e política da região amazônica. “Espalharemos as três mil pessoas para que possam conhecer a complexidade da Amazônia e, sobretudo, da nossa terra. Assim, elas visitarão as aldeias indígenas, os bairros da periferia, as prisões e hospitais, para terem um contato corpo a corpo com o trabalho da missão”, explicou, durante a entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line. Ceppi falou sobre as atividades planejadas para o evento e antecipou que, na semana seguinte ao encontro, haverá uma reunião entre articuladores e assessores de vários países da América Latina, dando continuidade aos temas abordados em Porto Velho.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como está a preparação para este Encontro Intereclesial das CEB’s?
Luiz Ceppi – Estamos, neste momento, fazendo os ajustes finais, organizando as funções das equipes, recebendo as inscrições e nos preparando para a acolhida. Já faz alguns anos que estamos trabalhando neste encontro e, por isso, buscamos descentralizar nossas equipes. Nesse sentido, temos que dizer que as 16 paróquias de Porto Velho/Rondônia estão trabalhando de maneira muito forte. Ainda que este encontro tenha alguns momentos centralizados, boa parte dele será descentralizado para as paróquias e escolas.
Fizemos uma celebração no dia 27-06-2009, onde estavam presentes mais de dois mil voluntários deste grande encontro. Isso porque recebemos o mandato de ser uma igreja que serve e que trabalha. Claro que podem ocorrer falhas, mas o pessoal está bem animado e, sobretudo, está bem organizado nas equipes que criamos para acolher e viver este momento.
IHU On-Line – Quando o encontro vai acontecer?
Luiz Ceppi – No dia 20 de julho receberemos mais de 2.600 delegados e 300 outros convidados de assessorias. Já na terça-feira, dia 21, ocorrerá a abertura oficial, às 19h, na Praça Madeira Mamoré, onde teremos a celebração de acolhida, marcando nosso 12º encontro, cujo tema é “CEB’s – Ecologia e Missão” e o lema é “Do ventre da terra, o grito que vem da Amazônia”. Depois, no dia 22, teremos três grandes momentos. O primeiro é a celebração dos nossos irmãos indígenas que nos acolhem, já que moravam nestas terras há mais de 12 mil anos. Assim, eles vão nos abençoar e nos dar uma proteção para que respeitemos a terra e, também, a diversidade de origens e de culturas. O segundo momento está ligado aos rios, porque a Amazônia antigamente usava o rio como transporte e como forma de comunicação. Ali, abordaremos a história de resistência ativa para que, então, possamos tornar a terra novamente uma mãe e conviver com todos os povos, sem nos tornarmos escravos de uma única “civilização” que nos reduz a mercadorias. Na parte final, teremos a chamada “celebração da reconciliação”. Este evento será realizado na primeira usina que está sendo construída no Rio Madeira e aí vamos perceber melhor qual o impacto ambiental e social devido a este processo que chamam de “modernização”. Então, nos reconciliaremos com Deus, mas também com toda a humanidade e com a mãe natureza que, às vezes, é dilacerada em função de interesses econômicos e de grandes projetos.
No dia 23, teremos uma celebração do envio, um momento de análise de conjuntura e, depois, espalharemos os participantes para que possam conhecer a complexidade da Amazônia. Assim, eles vão visitar as aldeias indígenas, os bairros da periferia, as prisões e hospitais, e terão um contato “corpo a corpo” com o trabalho da missão. E, na sexta-feira, teremos a apresentação do que é a nossa realidade, ou seja, do que é a Amazônia e como é a presença da Igreja nesta região. Na parte da tarde, teremos o testemunho de três pessoas: Dom José Maria Pires, Dom Pedro Casaldáliga e Marina Silva. Depois, teremos uma noite cultural, com apresentação de cantores locais. No dia seguinte, teremos uma celebração inter-religiosa com a participação de budistas, muçulmanos, religiões judaico-cristãs, além de representantes dos índios e da comunidade negra. Esta atividade será realizada para sentirmos que, em nome da paz, podemos unir todas as religiões. À tarde, haverá uma caminhada e o encerramento será num estádio, às 17h, com a celebração eucarística. Tomara que nossas equipes possam acolher esse projeto e, sobretudo, mostrar pelo menos duas coisas: 1) que a terra não pode ser tratada como mercadoria ou uma propriedade privada, pois ela é um dom de Deus para toda a humanidade; e, 2) mostrar que missão não é integralismo, mas sim ajuda a descobrir no outro a nossa capacidade de agir.
IHU On-Line – Quantas pessoas são esperadas para participar do encontro?
Luiz Ceppi – Até agora já recebemos mais de 2.800 fichas de inscrições. É possível que não venham todos, pois enfrentamos alguns problemas, como os alagamentos que ocorreram no Nordeste. Além destas pessoas, virão mais de 300 assessores e convidados e mais de 60 bispos do Brasil e outros países da América Latina e do Caribe, que estão partilhando conosco este momento. Teremos, ainda, momentos abertos a todas as comunidades locais. Estimamos que 3.100 pessoas compareçam ao encontro.
IHU On-Line – Onde as pessoas devem ficar hospedadas?
Luiz Ceppi – As pessoas serão hospedadas nas 16 paróquias que compõem o município de Porto Velho.
IHU On-Line – De onde vem a maior delegação?
Luiz Ceppi – A maior delegação que temos vem de São Paulo, que está com mais de 350 representantes. Do Rio Grande do Sul vêm cerca de 150 pessoas.
IHU On-Line – Como será a abertura do evento?
Luiz Ceppi – Na abertura, chamaremos as pessoas e, então, teremos as flautas dos indígenas. Depois, teremos a apresentação das populações da Amazônia, com a entrada dos indígenas, das populações negras e caboclas, dos chamados extrativistas, entre outros. Em seguida, haverá a apresentação dos regionais através do painel da religiosidade cultural. Cada regional produziu um painel que vai ser utilizado para apresentar a pluralidade de culturas e de jeitos diferentes que existem no Brasil, sem que qualquer um diga que é mais civilizado do que o outro. Feito isso, também relembraremos os encontros passados, faremos a leitura da palavra de Deus e, num ato simbólico, partilharemos as nossas riquezas naturais através de comidas locais. Será um momento de lembrar a riqueza pluralista cultural da nossa região amazônica.
IHU On-Line – Terá participação de CEB’s latino-americanas?
Luiz Ceppi – Convidamos cinco representantes de cada região da América Latina e do Caribe. A previsão é que cerca de 60 pessoas venham dessas regiões. Depois desse grande encontro, entre os dias 27 e 31, teremos ainda a reunião de articuladores e assessores intercontinentais para dar continuidade ao que vamos discutir no Encontro Intereclesial.
IHU On-Line – O senhor pode nos explicar a opção por este tema central do encontro?
Luiz Ceppi – É porque temos que começar a refletir sobre as CEB’s, sobretudo, em duas problemáticas. A primeira é porque a maioria delas, hoje, está nas cidades. Quando elas começaram a ser organizadas, a maioria se encontrava nas cidades do interior, nas matas, nas roças ou nos rios. Temos que redescobrir uma comunidade que tenha um rosto próximo ao da realidade onde nasce e vive.
O segundo ponto é o tema ecológico, uma problemática que está alterando o mundo todo. Temos que refletir sobre qual é o nosso jeito de trabalhar para não entrarmos, como a maioria entra, no sistema de consumo, ferindo a mãe terra, só para possuir um pouco mais. Se, pelo menos, as pessoas que participarem voltarem às suas regiões dizendo que a terra é uma mãe que precisa ser cuidada, o resultado já será ótimo.
IHU On-Line – Para quem não puder ir a Rondônia, como poderá acompanhar o encontro?
Luiz Ceppi – Se der tudo certo, a Rede Vida vai transmitir algumas atividades e fazer alguns flashes durante sua programação. Além disso, teremos representantes do jornal Mundo Jovem, algumas rádios e outras TVs, como a TV Aparecida. Atualizaremos também as notícias no nosso site. Porém, tem outra coisa que acho muito interessante: acompanhar com a oração. Não é aquela oração feita de palavras, mas aquele pensamento que busca trazer algo de novo e só vem acrescentar na nossa missão.