Elior “inventou” que Josefo inventou os essênios

Segundo a Professora Rachel Elior, da Universidade Hebraica de Jerusalém, especializada em mística judaica, os essênios são uma invenção de Flávio Josefo, nunca existiram.

Os Manuscritos do Mar Morto, por sua vez, foram redigidos por saduceus de Jerusalém e guardados nas grutas de Qumran.

Acho que a proposta não é nova, pelo menos no que diz respeito a uma possível origem saduceia dos Manuscritos.

Mas e a “invenção” essênia de Flávio Josefo?

O que você acha? Há uma boa quantidade de posts nos biblioblogs sobre mais este bafafá envolvendo os Manuscritos do Mar Morto. Quando o episódio Golb ainda nem esfriou…

Leia sobre o caso aqui.

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3 comentários em “Elior “inventou” que Josefo inventou os essênios”

  1. Professor Airton,

    Eu também li a preliminar da tese dela no site do Jim West. Me parece também meio forçada.

    Não digo nem tanto a conexão entre os essênios e os habitantes de Quram. Eu acredito que eles eram essênios (e sigo, basicamente, a opinião do Geza Vermes no assunto), mas entendo que tem gente muito boa por aí que contesta.

    Acho que o mais problemático e dizer que os essênios nunca existiram.

    Se Filo, Josefo e Plinio Velho nos dizem que existia uma comunidade ou grupo chamado essênios vivendo na Palestina, me parece que é um bom motivo para aceitar a existência deles. Três testemunhos históricos, mais ou menos contemporâneos, aparentemente independentes, são prima facie evidência para estabelecer historicidade. Filo não era um completo alienado sobre as questões da “terrinha”, ele escreve, por exemplo, sobre Pilatos. E porque ele inventaria os essênios? E Josefo? Ele estava lá, vivia lá em Israel.

    E se Josefo inventou os essênios para demonstrar que existiam judeus que não eram belicosos, mas sim pacíficos, que viviam em uma comunidade idílica, pacífica, contemplativa e utópica, porque ele inventaria também um personagem como João, o essênio, que teria sido um dos líderes da revolta contra os romanos? Me parece um gol contra. Porque se ele queria provar que os judeus poderiam ser contemplativos e pacíficos como os essênios, porque inventar também um lider guerrilheiro que era a completa negação desse estilo de vida.

    E se diz que não há fontes aramaicas e hebraicas que mencionam os essênios. Mas peraí, quais são as fontes aramaicas e hebraicas, contemporâneas, que nos temos? Isto é, até onde eu saiba, quando se fala em Israel I sec. DC, as fontes são Filo e Flávio Josefo. As fontes rabínicas foram escritas séculos mais tarde.

    E por fim, os sectários de Quram, Saduceus?!!! Poxa, mas as fontes (Josefo, Novo Testamento) associam, ate onde eu saiba, os saduceus a aristocracia do Templo? Os caras não eram os grandes apoiadores do domínio romano, então como eles podiam ser sectários, escrever sobre o apocalipse iminente e falar de anjos, ressureição e imortalidade da alma, que os saduceus não aceitavam?

    Abs,

    Nehemias

  2. Nehemias,

    Boa argumentação a sua. Muito do que diz Rachel Elior sobre Josefo e Fílon é pura especulação, sem apresentar dados concretos. Vamos aguardar o que dirão os especialistas nestes dois mestres judaísmo, e tem gente da pesada nesta área.

    Isto está com cheiro de marketing puro, na esteira do caso Golb, para manter o assunto nas manchetes, já que a autora vai publicar livro sobre os Manuscritos do Mar Morto e, certamente, quer vender. Por isso mesmo é que não tive receio de usar o “inventou”…

    Ah, quando você lê o “Rachel Elior Responds to Her Respondents”, no blog do Jim, de hoje, vê que ela não progrediu um milímetro na argumentação!

    Airton

  3. Também concordo.

    É interessante que todo ano, mais ou menos nesse período, é um tal de Código da Vinci, Tumba de Jesus, Visão de Gabriel, Jesus-Project, e agora os essênios.

    Outro fato interessante é que Josefo também descreve João Batista com algumas similaridades com os essênios (um profeta, que vivia no deserto, se dedicava a virtude, fazia banhos de purificação…).

    E mais interessante ainda que João foi executado por Antipas, o que parece, a primeira vista, sem razão pois, segundo Josefo, ele um “pregador da virtude” e nada mais.

    Ai eu me lembro do Crossan (Jesus uma Biografia revolucionária) falando sobre essa passagem. Quando ele pergunta porque as multidões iam ao deserto ouvir João; E qual era o conteúdo de seus sermãos; E porque ficavam tão alvoroçados, e o seguiam em tudo que fazia;

    Quer dizer, me parece que os sermãos de João poderiam ser até virtuosos, mas com certeza eram revolucionários. Provavelmente não da forma de um Judas Galileu, mas algo como um dos profetas do Velho Testamento. Nesse aspecto, o relato do Novo testamento parece mais crível que Josefo. Uma crítica a vida promiscua dos monarcas herodianos parece um bom motivo para justificar sua execução. De qualquer forma, ter multidões alvoroçadas por um profetas que o seguem em tudo que fazem (e dispostas a proclama-lo Rei?) pode ser um bom motivo para cortar uma cabeças.

    Ai a gente volta aos essênios. Me parece que Josefo sabia mais sobre João do que ele conta. É bem provável que isso também se aplique aos essênios. No seu afã de tentar provar a seus leitores romanos e gregos que existiam grupos e profetas judeus que pregavam a virtude e não seguiam a quarta filosofia, ele dá uma torcida nos fatos. Nem João era um simples pregador da virtude, nem os essênios eram monges inofensivos
    (e também por isso, possivelmente, é que na parte josefana do Testemunho Flaviano, ele pode chamar Jesus de “homem sábio” e “realizador de feitos maravilhosos”, ocultando o conhecido fato de que Jesus foi executado como “Rei dos Judeus”).

    Nehemias

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