Hoje comecei a estudar, com meus alunos do Segundo Ano de Teologia do CEARP, na disciplina Literatura Profética, o livro de Isaías, mais precisamente o Proto Isaías, que está em Is 1-39. Os capítulos normalmente considerados como provenientes da pregação do profeta Isaías, que atuou em Jerusalém entre 740 e 701 a.C., são cerca de 20 apenas, havendo vários acréscimos mesmo neste primeiro dos três grandes blocos que compõem o livro de Isaías.
Agora, lendo biblioblogs de meus colegas, encontro interessante post de Claude Mariottini, exegeta brasileiro que vive e trabalha nos Estados Unidos. O que meu colega aborda é algo com que já tive que me confrontar algumas vezes, por isso o seu post me chamou a atenção: há pessoas que não aceitam a corrente divisão do livro de Isaías em três blocos, Primeiro, Segundo e Terceiro Isaías, respectivamente, Is 1-39; 40-55; 56-66. Pode-se ver um exemplo muito interessante desta postura em um post que escrevi em 21 de setembro de 2006, respondendo a uma mensagem deixada em meu Guestbook por um visitante da Ayrton’s Biblical Page. Naquele caso específico, o que exigiu minha intervenção foi perceber que há pessoas que jamais aceitaram ou aceitam que se negue, como objetivo último da profecia, o elemento preditivo.
No post de hoje do Dr. Claude Mariottini, com o título de The Book of Isaiah and Zionism, ele cita – e critica – um artigo publicado pela revista Israel Today, em 30 de abril de 2007, onde a leitura de Isaías – visto como um livro único do tempo de Isaías de Jerusalém – vai, entretanto, além: serve aos interesses do sionismo de maneira atrevida e deslavada.
Diz o artigo Debit and Credit, entre outras coisas, que:
Modern theologians have invented the Deutero-Isaiah theory, which claims that the second part of Isaiah was written later than the first by another author. Their works were later compiled together under the name of the first author, the “real” Isaiah. However, anyone who really looks at Isaiah in context will see clearly that there were not two of them who supposedly contradicted each other, but rather there was one writer who prophesied regarding two different periods of time. In chapters 1 to 39, Isaiah prophecies about the destruction of the Temple (70 AD) and the banishment of the Jews from Israel (135 AD). Then from chapter 40 to the end, Isaiah prophecies about the end of the Jewish Diaspora when modern – day Zionism begins, fulfilled by the founding of the State of Israel.
Explicando para os leitores brasileiros: segundo o artigo, Is 1-39 profetiza sobre a destruição do Templo em 70 d.C. e a expulsão dos judeus de Israel em 135 d.C., enquanto que em Is 40-66 o profeta trata do fim da diáspora judaica ocorrida com a fundação do atual Estado de Israel.
É preciso dizer mais?
O que é Israel Today? Em About Us se explica:
Israel Today is a Jerusalem-based news agency providing a biblical and objective perspective on local news. Founded in 1978, when it began publishing a monthly German news magazine, the English language edition of Israel Today was launched in January 1999 (…) Israel Today’s mission is to be the definitive source for a truthful and balanced perspective on Israel and to provide timely news directly from Jerusalem – the focus of world attention. This is especially important in these times when we see prophetic events unfolding before our eyes.
Traduzo o final: “A missão de Israel Today [Israel Hoje] é ser a fonte definitiva para uma perspectiva confiável e equilibrada sobre Israel e para oferecer notícias atualizadas diretamente de Jerusalém – o foco da atenção mundial. Isto é especialmente importante nestes tempos quando nós vemos eventos proféticos acontecendo diante de nossos olhos”.
É preciso dizer mais?
Airton,
Muito obrigado por ter mencionado o meu post no Isaias e o Zionismo. Muitas pessoas nao aplicam principios hermeneuticos de interpretacao e por isso produzem falsas interpretacoes do texto biblico. A interpretacao que Israel Today faz do livro de Isaiah nao representa a menssagen que o profeta pregou para a sua audiencia.
Claude Mariottini
Claude,
A questão hermenêutica é muito importante e cada vez que uma “barbaridade” destas é publicada é uma boa oportunidade para a gente retomar o assunto. Jim West ficou “uma fera” com o artigo sionista do Israel Today!
Agradeço pelo post. Veio a calhar, já que, exatamente hoje, tratei do assunto em sala de aula e amanhã levarei o artigo sionista e sua análise crítica para debate em aula. Isto alerta nossos alunos para o risco deste fundamentalismo radical que se espalhou muito hoje em dia.
Um abraço
Airton