The Catholic Biblical Quarterly – October 2006

Acabo de receber o número de outubro de 2006 da revista The Catholic Biblical Quarterly, publicada por The Catholic Biblical Association of America.

Este é o n. 4 do volume 68, o último número do ano. São 5 artigos e 88 páginas de resenhas, cada uma com cerca de página e meia.


Os quatro números de 2006 totalizaram mais de 800 páginas de texto.

Estudos Biblicos 91 analisa textos de Jeremias

Coordenado por Milton Schwantes, o n. 91 da revista Estudos Bíblicos lê os capítulos 37-45 do livro do profeta Jeremias. São 17 textos curtos, onde autores e autoras analisam estes capítulos que dizem respeito aos últimos anos da vida do profeta, sob os governos de Sedecias e de Godolias.

No final há uma bibliografia que aponta 48 livros e artigos sobre Jeremias, com predominância de publicações em português.

Os textos podem ser úteis para estudo em comunidades e para alunos de graduação em Teologia.

Confirma-se, por outro lado, a tendência bem arraigada no país, quando se lida com as origens de Israel, de parar nas propostas de Gottwald, feitas em publicação de 1979.

Aproveite a oportunidade e leia também as Perguntas Mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias.

Lula: o melhor Presidente do Brasil

Pesquisa aponta Lula como melhor presidente do país

Fernando Canzian – Folha Online: 17/12/2006

Às vésperas da transição entre o primeiro e o segundo mandato, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) surge como o presidente mais bem avaliado da história do Brasil e cercado de uma forte expectativa positiva entre a maioria dos brasileiros: 59% esperam um segundo mandato ótimo/bom.

O principal legado do primeiro mandato, segundo nova pesquisa nacional do Datafolha, é uma diminuição na percepção de problemas relacionados à miséria e ao desemprego e um aumento relativo de dificuldades em outras áreas, como saúde, educação e corrupção.

Lula, que venceu a eleição com mais de 20 milhões de votos de diferença em relação ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) após uma campanha dominada por denúncias contra seu governo, é apontado espontaneamente por 35% dos entrevistados como o melhor mandatário que o Brasil já teve.

O percentual equivale a praticamente o dobro da preferência obtida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no final de 2002 (18%), quando o tucano encerrou seu segundo mandato.

Na pesquisa atual, enquanto Lula tem 35%, FHC caiu para 12%. Os próximos mais bem avaliados são Juscelino Kubitscheck (11%), Getúlio Vargas (8%; 21% entre os com mais de 60 anos) e José Sarney (5%).

Lula também encerra o primeiro mandato com 52% dos brasileiros considerando seu governo ótimo/bom, o maior patamar entre quatro presidentes avaliados pelo Datafolha desde a redemocratização. O melhor índice até aqui (53%) pertence ao próprio Lula, obtido às vésperas do 2º turno eleitoral de 2006.

Esperança menor

A expectativa para o segundo mandato de Lula, que começa em 1º de janeiro, é mais positiva que a sua atual avaliação: 59% esperam que ele faça um governo ótimo/bom. Nesse ponto, porém, há uma diminuição das esperanças depositadas em Lula. Antes da posse em 2003, 76% aguardavam um governo ótimo/bom –um recorde.

No caso de FHC, apenas 41% esperavam um governo ótimo/bom dias antes da transição do primeiro para o segundo mandato, no final de 1998. Na época, enquanto o país mergulhava em uma crise que levou a uma forte desvalorização do real em 99, apenas 35% avaliavam FHC como ótimo/bom.

A pesquisa Datafolha, feita no dia 13 de dezembro entre 2.178 brasileiros em 111 municípios de 23 Estados e do Distrito Federal, tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

A exemplo dos resultados dos levantamentos pré-eleitorais, destaca-se o fato de que quanto mais pobre e menos escolarizado for o entrevistado, maior será seu apoio e satisfação com Lula. Regionalmente, os moradores do Sul e do Sudeste também continuam como os maiores críticos.

No final de 1998, a aprovação de 35% do governo FHC era mais homogênea: 40% dos que tinham renda até dois salários mínimos o aprovavam; 33% dos com renda de cinco a dez salários; e 36% dos que ganhavam mais de dez mínimos.

Desemprego

Embora a falta de trabalho permaneça no topo das preocupações, caiu de 31% no início de 2003 para 27% agora o total dos que afirmam espontaneamente ser o desemprego o principal problema. O índice chegou a 49% em março de 2004.

Criados 5 milhões de novos empregos com carteira assinada e obtida uma melhor distribuição de renda entre 2003 e 2006, os brasileiros apontam agora para outros problemas.

Eles são relacionados à qualidade da saúde (6% apontavam como problema em 2003, contra 17% agora), da educação (subiu de 4% para 9%) e à existência de corrupção no governo (2% para 6%, o maior percentual do primeiro mandato).

Também de forma espontânea, a saúde é avaliada como a área de pior desempenho no primeiro mandato de Lula. Subiu de 4% para 18% o total dos que avaliam mal a área entre 2003 e 2006.

Já o combate à corrupção teve o pior desempenho para 8% dos entrevistados na pesquisa da semana passada. No início do governo, era 1%.

Segurança

A avaliação do desempenho do governo Lula em outras áreas de grande interesse da população, como trabalho e segurança, ficou praticamente estável entre 2003 e agora.

Para Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil na Universidade de Paris-Sorbonne, a forte expectativa positiva em relação a Lula vem de uma “reiteração da legitimidade” do presidente.

“Depois de toda a crise política e da existência de um segundo turno, que foi apontado como uma derrota, Lula venceu com 20 milhões de votos, o que restabeleceu uma perspectiva de unanimidade”, afirma.

Em shevá contra shevá apenas um sobrevive

Você consegue pronunciar uma meia-vogal, uma semivogal? É algo assim como certas vogais pronunciadas em português de Portugal, que soam meio estranhas para ouvidos brasileiros, pois são muito rápidas ou, se preferir, curtas.

Pois em hebraico existe uma semivogal. Seu nome é shevá e consiste, na sua forma mais simples, de dois pontos colocados sob a consoante, como se fosse o nosso : Parece esquisito, mas o shevá serve para preencher o espaço vazio sob uma consoante desvocalizada (para quem já conhece, observo que a terminologia “vogal” aqui está sendo usada no lugar de “sinal massorético”). Este shevá simples tem um som rápido de “e” e aparece transliterado como um “e” sobrescrito.

Entretanto, no uso do shevá podem surgir muitos problemas. Considere a seguinte situação: em hebraico, uma sílaba é sempre composta por uma consoante e uma vogal (sílaba aberta, como em ba-na-na) ou por uma consoante, uma vogal e outra consoante (sílaba fechada, como em sol). E o que você faria se aparecessem dois shevás no início da palavra, um ao lado do outro – e aparecem – e você sabendo que uma sílaba não pode começar com duas consoantes sem vogal? O jeito é mudar pelo menos um shevá em vogal. Mas qual vogal ele tomaria emprestado? O hîreq qâton, que corresponde ao nosso “i“, como na palavra “fino”, e é representado em hebraico por um . debaixo da consoante.

Que tal ver isso em um filme? Pois é o que fez Chris Huff em sua página Designs by Chris. Veja The Shewa Fight.

Consulte também a Lev Software’s Animated AlefBet Page. Nesta página você verá, também em animação, como devem ser escritas as consoantes do hebraico.

E, se tiver vontade de aprender um pouco de hebraico, faça o download de meu curso para iniciantes, gratuito, aqui.

O Cilindro de Ciro

Quem quiser ver o Cilindro de Ciro, clique aqui.The Cyrus cylinder; clay cylinder; a Babylonian account of the conquest of Babylon by Cyrus in 539 BC, of his restoration to various temples of statues removed by Nabonidus, the previous king of Babylon, and of his own work at Babylon.

Uma tradução, em inglês, pode ser lida aqui.

Na página do Museu Britânico há algumas traduções. A de Irving Finkel é a seguinte:

[When …] … [… wor]ld quarters […] … a low person was put in charge of his country, but he set [a (…) counter]feit over them. He ma[de] a counterfeit of Esagil [and …] … for Ur and the rest of the cult-cities. Rites inappropriate to them, [impure] fo[od- offerings …] disrespectful […] were daily gabbled, and, intolerably, he brought the daily offerings to a halt; he inter[fered with the rites and] instituted […] within the sanctuaries. In his mind, reverential fear of Marduk, king of the gods, came to an end. He did yet more evil to his city every day; … his [people…], he brought ruin on them all by a yoke without relief. Enlil-of-the-gods became extremely angry at their complaints, and […] their territory. The gods who lived within them left their shrines, angry that he had made them enter into Babylon (Shuanna). Ex[alted Marduk, Enlil-of-the-Go]ds, relented. He changed his mind about all the settlements whose sanctuaries were in ruins and the population of the land of Sumer and Akkad who had become like corpses, and took pity on them. He inspected and checked all the countries, seeking for the upright king of his choice. He took under his hand Cyrus, king of the city of Anshan, and called him by his name, proclaiming him aloud for the kingship over all of everything. He made the land of the Qutu and all the Medean troops prostrate themselves at his feet, while he looked out in justice and righteousness for the black-headed people whom he had put under his care. Marduk, the great lord, who nurtures his people, saw with pleasure his fine deeds and true heart and ordered that he should go to Babylon He had him take the road to Tintir, and, like a friend and companion, he walked at his side. His vast troops whose number, like the water in a river, could not be counted, marched fully-armed at his side. He had him enter without fighting or battle right into Shuanna; he saved his city Babylon from hardship. He handed over to him Nabonidus, the king who did not fear him. All the people of Tintir, of all Sumer and Akkad, nobles and governors, bowed down before him and kissed his feet, rejoicing over his kingship and their faces shone. The lord through whose trust all were rescued from death and who saved them all from distress and hardship, they blessed him sweetly and praised his name.

I am Cyrus, king of the universe, the great king, the powerful king, king of Babylon, king of Sumer and Akkad, king of the four quarters of the world, son of Cambyses, the great king,, king of the city of Anshan, grandson of Cyrus, the great king, ki[ng of the ci]ty of Anshan, descendant of Teispes, the great king, king of Anshan, the perpetual seed of kingship, whose reign Bel and Nabu love, and with whose kingship, to their joy, they concern themselves.

When I went as harbinger of peace i[nt]o Babylon I founded my sovereign residence within the palace amid celebration and rejoicing. Marduk, the great lord, bestowed on me as my destiny the great magnanimity of one who loves Babylon, and I every day sought him out in awe. My vast troops marched peaceably in Babylon, and the whole of [Sumer] and Akkad had nothing to fear. I sought the welfare of the city of Babylon and all its sanctuaries. As for the population of Babylon […, w]ho as if without div[ine intention] had endured a yoke not decreed for them, I soothed their weariness, I freed them from their bonds(?). Marduk, the great lord, rejoiced at [my good] deeds, and he pronounced a sweet blessing over me, Cyrus, the king who fears him, and over Cambyses, the son [my] issue, [and over] my all my troops, that we might proceed further at his exalted command. All kings who sit on thrones, from every quarter, from the Upper Sea to the Lower Sea, those who inhabit [remote distric]ts (and) the kings of the land of Amurru who live in tents, all of them, brought their weighty tribute into Shuanna, and kissed my feet. From [Shuanna] I sent back to their places to the city of Ashur and Susa, Akkad, the land of Eshnunna, the city of Zamban, the city of Meturnu, Der, as far as the border of the land of Qutu – the sanctuaries across the river Tigris – whose shrines had earlier become dilapidated, the gods who lived therein, and made permanent sanctuaries for them. I collected together all of their people and returned them to their settlements, and the gods of the land of Sumer and Akkad which Nabonidus – to the fury of the lord of the gods – had brought into Shuanna, at the command of Marduk, the great lord, I returned them unharmed to their cells, in the sanctuaries that make them happy. May all the gods that I returned to their sanctuaries, every day before Marduk and Nabu, ask for a long life for me, and mention my good deeds, and say to Marduk, my lord, this: “Cyrus, the king who fears you, and Cambyses his son, may their … […] […….].” The population of Babylon call blessings on my kingship, and I have enabled all the lands to live in peace. Every day I copiously supplied [… ge]ese, two ducks and ten pigeons more than the geese, ducks and pigeons […]. I sought out to strengthen the guard on the wall Imgur-Enlil, the great wall of Babylon, and […] the quay of baked brick on the bank of the moat which an earlier king had bu[ilt but not com]pleted, [I …] its work. [… which did not surround the city] outside, which no earlier king had built, his troops, the levee from his land, in/to Shuanna. […] with bitumen and baked brick I built anew, and completed its work. […] great [doors of cedarwood] with copper cladding. I installed all their doors, threshold slabs and door fittings with copper parts. […] I saw within it an inscription of Ashurbanipal, a king who preceded me, […] … […] … [… for] ever.

Jim, seu blog e seus muitos nomes

Para quem ficou confuso, como eu, e não quer perder a trilha, aí está a dica: o Jim está à procura de novo nome para seu biblioblog, de novo. Como diz Guimarães Rosa, a vida é um vago variado

O “consolo” é que o endereço permanece, embora o blog tenha soletrado novos nomes. Clique aqui e não achará o blog do Jim [que foi completamente apagado em 2008].

Pinochet e os anos de chumbo

A morte de Pinochet e a luta pela memória e pela história

Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior – 10/12/2006

A ditadura Pinochet não foi uma aberração isolada, “típica de uma república sul-americana”, como querem alguns. Os aliados que teve em vida, nomes como Henry Kissinger, Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Milton Friedman, indicam em que contexto sua figura e seus atos foram possíveis.

No dia 11 de setembro de 1973, o compositor e cantor Victor Jara foi preso na universidade onde trabalhava, juntamente com cerca de 600 estudantes, e levado para o Estádio Nacional do Chile, em Santiago. Neste mesmo dia, é torturado e assassinado por militares que o retiraram de uma fila de prisioneiros que iam ser transferidos. Dias depois, seu corpo fuzilado, com as mãos amputadas, é identificado em um necrotério por sua esposa, a bailarina inglesa Joan Jara. Essa é uma das histórias que compõem o currículo do general Augusto Pinochet, que comandou uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina. O ex-ditador morreu neste domingo, aos 91 anos, no Hospital Militar de Santiago. Sob seu regime, mais de 3 mil pessoas foram assassinadas. Adotou a tortura e o extermínio como método sistemático para se livrar de opositores; e a limpeza étnica, como método para “se livrar” da pobreza extrema no país. Pesam contra ele acusações de assassinatos, torturas, seqüestros, enriquecimento ilícito e tráfico de drogas.

Entre os milhares de crimes cometidos sob a ditadura Pinochet, um deles tem significado especial. No dia 11 de setembro de 1973, o general comandou um golpe de Estado que derrubou o governo socialista de Salvador Allende. O Palácio La Moneda foi atacado por terra e bombardeado por aviões da Força Aérea chilena. Allende morreu dentro do palácio tentando resistir ao golpe de Pinochet, apoiado diretamente pelo governo dos Estados Unidos. Pinochet também é apontado como responsável direto pela morte de ministros e oficiais do governo Allende. Em setembro de 1976, Orlando Letelier, ex-embaixador chileno nos Estados Unidos e ex-ministro de Allende, foi assassinado em Washington, através de uma bomba deixada em seu carro. Dois anos antes, em 1974, o general Carlos Prats, comandante do Exército durante o governo Allende, foi assassinado em circunstâncias similares, em Buenos Aires. Tudo isso sob o olhar complacente dos EUA.

A tristeza de Thatcher
Durante os anos 70, Pinochet foi um dos principais articuladores da Operação Condor, movimento de repressão, tortura e extermínio de militantes de esquerda, que reuniu seis ditaduras sul-americanas, incluindo a brasileira, com o apoio político e logístico dos EUA, especialmente através da atuação da Escola das Américas. No auge da Guerra Fria, essa escola, criada pelo governo norte-americano, recebia militares latino-americanos para cursos de formação, que incluíam técnicas de tortura e assassinato. Entre seus principais aliados e apoiadores, aparecem nomes como o do ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, do ex-presidente Ronald Reagan, do economista Milton Friedman e da ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. Ao receber a notícia da morte do ditador, na tarde deste domingo, Thatcher disse, através de seu porta-voz, que estava “profundamente triste” e transmitiu condolências à família. Em 1982, Pinochet apoiou a Inglaterra contra a Argentina, na Guerra das Malvinas.

A manifestação de Thatcher ilustra o que representou a ditadura de Pinochet. Com o apoio dos economistas da Escola de Chicago, que teve em Milton Friedman um de seus principais expoentes, o governo militar chileno foi o seguidor mais ortodoxo do ideário neoliberal que se tornou hegemônico no mundo a partir dos governos de Ronald Reagan, nos EUA, e de Thatcher, na Inglaterra. Os governos destes dois países, entre outros, não hesitaram em apoiar a ditadura chilena e em fechar os olhos para os crimes de Pinochet sob o pretexto de garantir a “vitória do mundo livre” na região. Vitoriosa “a liberdade”, o próximo passo foi implementar um radical processo de privatizações no país e apontá-lo como modelo que deveria ser seguido pelos demais países da região. Pinochet foi a expressão mais clara do cinismo e da hipocrisia de um modelo que falava em liberdade, durante o dia, e apoiava torturas e assassinatos à noite.

O enterro de Pinochet
No final da vida, Pinochet conseguiu se livrar da cadeia. Na lista dos inúmeros processos movidos contra o ditador no Chile e na Europa estão 3.197 casos de assassinatos, mortes que permanecem vivas na memória do povo chileno. A atual presidente do Chile, Michelle Bachelet, foi detida junto com a mãe durante a ditadura, enquanto seu pai, um oficial da Força Aérea, morreu torturado pelos militares. Os crimes do general Pinochet não se limitam ao campo político. Investigadores internacionais descobriram contas abertas em seu nome no exterior, com pelo menos 27 milhões de dólares em depósitos, sem origem determinada. Agora, em 2006, o general Manuel Contreras, que chefiou a Dina, polícia secreta chilena, durante a ditadura militar, acusou Pinochet e o filho deste, Marco Antonio, de envolvimento na produção clandestina de armas químicas e biológicas e no tráfico de cocaína. Segundo Contreras, boa parte da fortuna de Pinochet veio daí.

A morte de Pinochet representa um problema político para o governo de Michelle Bachelet. Entre outras questões, ela terá de resolver como será o enterro do ex-ditador. Segundo uma pesquisa divulgada neste domingo pelo jornal La Tercera, a maioria da população chilena (55%) rejeita que o enterro seja acompanhado por honras de Estado. Apenas 27% dos consultados manifestaram-se favoráveis a honras de Estado para o general. Por outro lado, 51% dos chilenos aprovaram a idéia de que Pinochet recebesse honras como ex-comandante do Exército, contra 32% que rejeitaram a proposta. Também foi perguntado aos chilenos se eles aprovavam ou não a declaração de luto oficial de três dias após a morte de Pinochet. 72% responderam não, contra apenas 18% que se manifestaram a favor do luto oficial. Já a família do ditador disse preferir um funeral privado. As feridas da ditadura permanecem abertas no Chile. O tratamento que será dado à morte de Pinochet indicará como anda seu processo de cicatrização.

A luta dos mortos
Em Madri, ao tomar conhecimento da morte de Pinochet, a deputada Isabel Allende, filha de Salvador Allende, defendeu que os julgamentos devem continuar mesmo com a morte do ditador. Ela disse que dói o fato de nunca terem concluído nenhum julgamento contra Pinochet. “Os julgamentos têm que continuar. Com sua morte, não se fecha nenhum capítulo, nem o da verdade, nem o da justiça, nem o da responsabilidade”, declarou a jornalistas. Isabel Allende também rejeitou qualquer tipo de homenagem de Estado a Pinochet, observando que ele foi “a pessoa que liderou a pior ditadura na história do Chile”. A história do que aconteceu no Chile ainda está para ser contada. A ditadura Pinochet não foi uma aberração isolada, típica de uma república sul-americana como querem alguns. Os aliados que teve em vida, nomes como Kissinger, Reagan, Thatcher e Milton Friedman, indicam em que contexto sua figura e seus atos foram possíveis.

Quando Isabel Allende diz que a morte de Pinochet não fecha nenhum capítulo, indica que há contas que ainda estão em aberto, contas relativas à história e à memória do povo chileno. Suas palavras lembram uma das Teses Sobre o Conceito de História, de Walter Benjamin, escritas em 1940. Na tese VI Benjamin afirma: “O dom de atear ao passado a centelha da esperança pertence somente àquele historiador que está perpassado pela convicção de que também os mortos não estarão seguros diante do inimigo, se ele for vitorioso. E esse inimigo não tem cessado de vencer”.

 

1915-2006: Pinochet, uma marca sangrenta na história do Chile

Agência Ansa – 10/12/2006

Morto aos 91 depois de enfartar no Hospital Militar de Santiago, o general Augusto Pinochet enfrentava quatro processos por violação dos direitos humanos e outros dois por enriquecimento ilícito. Problemas de saúde retardaram andamento dos autos, impedindo julgamento do ditador.

Augusto Pinochet, que morreu neste domingo (10) aos 91 anos, esteve à frente de uma ditadura sangrenta e marcou a história política chilena das últimas três décadas, depois da sua irrupção com o golpe militar de 11 de setembro de 1973, que depôs o governo socialista de Salvador Allende.

Pelos fatos que ocorreram nos 17 anos que se seguiram, nos quais liderou uma ditadura sangrenta, Pinochet prestou contas à história somente em seus últimos anos de vida, quando viveu sob prisão domiciliar e foi processado pelo simbólico caso da Caravana da Morte, a missão militar que percorreu o país e deixou 75 mortos.

Seus processos judiciais, no entanto, não se limitaram às violações dos direitos humanos. Ele também foi investigado por uma suposta fortuna depositada em contas secretas no exterior.

Nascido em Valparaíso (140 quilômetros a oeste de Santiago) em 25 de novembro de 1915, Pinochet entrou aos 18 anos na Escola Militar. Galgou postos na corporação e em 23 de agosto de 1973 foi nomeado comandante em chefe do Exército pelo presidente Allende, por recomendação de seu antecessor, o general Carlos Prats.

Dezenove dias mais tarde se levantou contra Allende e, um ano mais tarde, Prats morreu em um atentado a bomba em Buenos Aires, onde vivia exilado, em uma ação planejada pela Direção de Inteligência Nacional (Dina), a temida polícia da ditadura.

Pinochet exerceu o poder com mão-de-ferro: fechou o Parlamento e os meios de comunicação que comungavam ideologicamente com o governo de Allende; declarou ilegais os partidos políticos e as organizações sindicais; e converteu o Estádio Nacional de futebol em um gigantesco campo de concentração de prisioneiros políticos.

O seu regime acumulou 16 condenações das Nações Unidas (ONU) por violações aos direitos humanos e em 1991 a Comissão Rettig, conformada para investigar internamente tais violações, constatou que entre 1973 e 1990 houve 1.197 presos desaparecidos e 1.888 executados sem julgamento prévio. O posterior Relatório Valech recebeu as denúncias de 35 mil sobreviventes das prisões secretas, além de um milhão de exilados, impedidos de voltarem ao país.

Em 1978 decretou uma Lei de Auto-anistia para proteger os membros dos temidos aparatos de segurança, a Dina, que mais tarde se tornou a Central Nacional de Informações (CNI), integrada por militares e civis que mantiveram o país sob um estado de terror.

Em 1980, ordenou uma nova Constituição que concentrava todos os poderes na sua pessoa e prolongou o seu mandato presidencial por oito anos. Em 7 de setembro de 1986, saiu ileso do único atentado perpetrado contra ele. Foi um ato da pró-comunista da Frente Patriótica Manuel Rodríguez, que atacou a sua comitiva quando voltava de sua residência de descanso, a 30 quilômetros de Santiago.

Em agosto de 1988 foi designado pela Junta Militar (que durante toda a ditadura exerceu uma espécie de função de poder legislativo) candidato único à presidência de 5 de outubro, quando 55,2% dos chilenos responderam “não” ao plebiscito sobre a continuidade do governo de Pinochet por mais oito anos. Então, teve que convocar eleições para dezembro de 1989.

Pinochet entregou o cargo em 11 de março de 1990 no novo Congresso Nacional situado em Valparaíso, mas continuou a exercer o poder através do Comando em Chefe do Exército, que reteve constitucionalmente por oito anos e por onde defendeu os enclaves autoritários da Constituição, garantiu a impunidade aos militares e civis comprometidos nas violações aos direitos humanos e impediu uma transição de fato para a democracia, favorecendo ações que marcaram o início de uma fraca transição à democracia.

Em 16 de outubro de 1998, foi preso em uma clínica em Londres por ordem do juiz espanhol Baltazar Garzón, que pretendia processá-lo por violações aos direitos humanos. Permaneceu detido por 503 dias até que o ministro do Interior britânico, Jack Straw, autorizou o seu retorno ao Chile por motivos de saúde.

No Chile, se apresentaram mais de 300 acusações por familiares das vítimas da ditadura, e o juiz Juan Guzmán conseguiu interrogá-lo, processá-lo e prendê-lo pelos crimes da Caravana da Morte. No entanto, a Corte Suprema acatou os motivos de saúde apresentados pela defesa e determinou o perdão provisório em julho de 2002.

No dia seguinte, Pinochet renunciou ao seu cargo vitalício no Senado, com o que parecia encerrar a sua história política, pois os partidos de direita (nos quais participavam colaboradores de seu governo) se afastaram dele.

Em junho de 2004, uma investigação do Senado norte-americano descobriu que Pinochet mantinha contas secretas milionárias no Banco Riggs, levantando suspeitas de que a origem desse dinheiro podia vir do comércio ilegal de armas, do narcotráfico ou do desvio de fundos do Fisco chileno.

Pinochet enfrentou a reabertura dos processos por violações aos direitos humanos, a perda de sua imunidade como ex-presidente e estava sendo julgado em quatro destes processos, além de outros dois por enriquecimento ilícito. O ex-ditador morreu hoje às 14h15, horário chileno, ao enfartar no Hospital Militar de Santiago.

Hans Küng foi premiado na Alemanha

Teólogo suíço é homenageado na Alemanha

Pelo seu combate por uma melhor compreensão entre as religiões, o teólogo suíço Hans Küng recebeu o prêmio Lev Kopelev pela paz e os direitos humanos, na Alemanha.

Hans Küng nasceu em 1928 em Sursee, cantão de Lucerna, SuíçaPresente à cerimônia, a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey saudou o “intelectual engajado”, enquanto Küng criticou a política dos Estados Unidos.

Hans Küng, de 78 anos, foi premiado pelo seu “engajamento infatigável para uma melhor compreensão entre as grandes religiões”. O prêmio Lev Kopelev, que lhe foi entregue domingo (03/12), em Colônia, não tem qualquer dotação financeira.

O teólogo católico foi lembrado também pelo seu projeto “Fundação Ética Planetária”, fundado na ideia de que a paz entre as nações não é possível sem paz entre as religiões.

Perda de credibilidade sem precedentes

Durante a cerimônia, Hans Küng fez uma crítica severa ao presidente George W. Bush. Qualificou a administração atual de “política neoimperial e desrespeitosa, fundada em interesses, potência e prestígio”.

Bush ousa inclusive apresentar-se como Cristo mas, na realidade, pratica uma política dominadora que despreza os direitos humanos, afirmou o teólogo.

Hans Küng falou ainda de “uma atitude militar agressiva, tratamento desumano dos prisioneiros de guerra, e violações em massa dos direitos humanos”. Tudo isso levou a uma perda de credibilidade sem precedentes para os Estados Unidos, inclusive nos países aliados e amigos.

Pela tolerância

No discurso de cumprimentos, a ministra das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, descreveu o compatriota como “a encarnação do intelectual que se engaja na vida pública e nos debates da sociedade”.

Hans Küng dedica-se, de fato, a sublinhar os traços comuns entre as diferentes religiões e ampliar o conhecimento delas. Para ele, nada é mais importante do que o respeito mutual em matéria de religião.

“Se, por exemplo, o problema é o véu usado por uma funcionária de um supermercado, não devemos interpretar de maneira muito restrita esses sinais. Ainda me lembro exatamente do tempo em que era perfeitamente natural para a minha avó usar um lenço que cobria os cabelos”, declarou Hans Küng.

Um prêmio para dissidentes

Desde 2001, o prêmio Lev Kopelev é atribuído todo ano a personalidades engajadas, organizações e projetos na área dos direitos humanos.

O prêmio foi entregue por Fritz Pleitgen, primeiro presidente do Fórum Lev Kopelev, que também é diretor geral da WDR, maior rede regional de rádio e tv da Alemanha.

O jornalista israelense Uri Avnery, o politólogo palestino Sari Nusseibeh e o jurista checheno Sainap Gaschajewa estão entre as personalidades premiadas até agora.

Fatos

Hans Küng nasceu em 1928 em Sursee, cantão de Lucerna.
Estudo filosofia e teologia em Roma e foi ordenado padre em 1954.
Em 1960, tornou-se professor da Universidade de Tübingen, sul da Alemanha.
1962/65: Hans Küng participou do Concílio Vaticano II como perito, junto com Joseph Ratzinger, futuro papa Bento XVI.
1979: porque coloca em causa a infalibilidade do papa em questões teológicas, Hans Küng foi proibido de dar aulas.
Em 1995, Hans Küng tornou-se presidente da Fundação Ética Planetária.

Prêmio Lev Kopelev

O prêmio Lev Kopelev foi instituído em memória de um escritor e ex-oficial do Exército Vermelho que ficou dez anos preso nos campos soviéticos.

Privado na nacionalidade russa, Lev Kopelev (1912-1997) instalou-se em Colônia em 1981. Esse judeu russo originário da Ucrânia, sempre foi defensor da Europa.

Em Colônia, ele fundou o Fórum Lev Kopelev que, desde 2001, recompensa personalidades, projetos e organizações que atuam na mesma direção de Lev Kopelev.

Fonte: SWI swissinfo.ch – 04/12/2006

 

Hans Küng – Theologe für den Frieden

Hans Küng ist für sein Bemühen um eine bessere Verständigung der Religionen der Lew-Kopelew-Preis für Frieden und Menschenrechte verliehen worden.

Der Schweizer Theologe nahm den Preis am Sonntag in Köln entgegen. Bundesrätin Micheline Calmy-Rey würdigte ihn dabei als engagierten Intellektuellen.

Der 78-jährige Hans Küng erhielt den undotierten Lew-Kopelew-Preis für seinen, laut Kopelew-Forum, “unermüdlichen Einsatz um ein besseres Verständnis zwischen den grossen Religionen der Welt”.

So geht das “Projekt Weltethos” auf Küng, einen der bekanntesten katholischen Theologen der Schweiz, zurück. Dessen Grundidee lautet, dass Frieden unter den Nationen ohne Frieden unter den Religionen unmöglich ist.

Küng arbeitete auch mit Papst Benedikt XVI zusammen. Als Kardinal hatte Joseph Ratzinger im Vatikan wenig Freude an Küngs progressiven theologischen Ansätzen.

Weil Küng die Unfehlbarkeit des Papstes in theologischen Fragen anzweifelte, wurde ihm 1979 vom Vatikan die Lehrerlaubnis entzogen.

Küng setzte sich auch für eine gleichberechtigtere Rolle der Frauen innerhalb der Kirche ein.

Kritik an US-Präsident Bush

Bei der Verleihung kritisierte der in Köln lebende Küng US-Präsident George W. Bush, dem er eine “rücksichtslose, neo-imperiale Interessen-, Macht- und Prestigepolitik” vorwarf.

Bush präsentiere sich zwar als Christ, doch in Wahrheit betreibe er eine menschenverachtende Machtpolitik. Dazu gehörten “Angriffskriege, unmenschliche Behandlung von Kriegsgefangenen und Zivilpersonen und massive Verletzung der Menschenrechte”, sagte er.

Dies alles habe zu einem “noch nie da gewesenen Verlust an moralischer Glaubwürdigkeit der Vereinigten Staaten selbst bei Alliierten und Freunden” geführt.

Nicht Abgrenzung, sondern Respekt

Die Schweizer Aussenministerin, Bundesrätin Micheline Calmy-Rey, bezeichnete ihren Landsmann in ihrer Laudatio als den “Inbegriff des Intellektuellen, der sich in die öffentliche Sache einmischt”.

Ganz im Sinne Küngs gelte es, die Gemeinsamkeiten der unterschiedlichen Religionen zu betonen und zu fördern.

Abgrenzung beginnt schon beim Kopftuch

Nicht Abgrenzung, sondern gegenseitiger Respekt sei gefragt: “Wenn es also um das Kopftuch der Kassiererin geht, sollten wir alle die Zeichen und Formen (…) nicht allzu eng begreifen.”

Sie erinnere sich noch ganz genau, wie selbstverständlich es für ihre katholische Grossmutter gewesen sei, immer ein Kopftuch zu tragen, erklärte Calmy-Rey.

Bisherige Preisträger der Auszeichnung, die in Erinnerung an Lew Kopelow vergeben wird, sind unter anderen der israelische Publizist Uri Avnery, der palästinensische Politologe Sari Nusseibeh sowie die tschetschenische Menschenrechtlerin Sainap Gaschajewa.

Fakten

Hans Küng ist 1928 in Sursee im Kanton Luzern geboren.
Studium der Philosophie und Theologie in Rom, 1954 Ordination zum katholischen Priester.
Ab 1960 Ordentlicher Professor Uni Tübingen.
1962/65: Offizieller Berater des 2. Vatikanischen Konzils, zusammen mit Joseph Ratzinger, dem jetzigen Papst Benedikt XVI.
1966: Küng holt Ratzinger nach Tübingen.
Bis 1996 Lehrstühle Uni Tübingen.
1995 Präsident Stiftung Weltethos.
Zahlreiche Gastprofessuren, zahlreiche Dr. h.c., zahlreiche Preise.

Lew-Kopelew-Preis

Der Preis führt seinen Namen auf den russischen Schriftsteller, ukrainischen Juden und ex-Offizier der Roten Armee Lew Kopelew zurück.

Dieser wurde in den 50er-Jahren zu Lagerhaft verurteilt, wo er Alexander Solschenizyn kennen lernte.

Kopelew (1912-1997) wurde in der Spätfolge des “Prager Frühlings” die Staatsbürgerschaft aberkannt.

1981 zog der Literaturwissenschaftler, Germanist und überzeugte Europäer nach Köln.

In Köln wird seit 2001 jährlich vom Kopelew-Forum ein Preis verliehen, womit Menschen, Projekte oder Organisationen auszeichnet werden, die im Sinne Lew Kopelews tätig sind.

Der Name Kopelew steht für Kultur, Humanität, Völkerverständigung und die deutsch-russische Freundschaft.

Fonte: SWI swissinfo.ch – 04/12/2006

A campanha de Shosenq I na Palestina

Em 30 de dezembro de 2005 noticiei o lançamento do livro de Kevin A. Wilson no post The Campaign of Pharaoh Shoshenq I in Palestine.

Hoje, o autor, em seu biblioblog Blue Cord, nos comunica, em A Review of My Book, que uma resenha do livro acaba de sair na Review of Biblical Literature. Feita por Youri Volokhine, da Universidade de Genebra, Suiça. Em francês. Clique aqui e baixe o pdf.

Veja mais resenhas do livro aqui.

Philip Davies avalia o Congresso da SBL

The SBL is like a discotheque without the music

Gostei desta frase. Que é parte do texto de Philip R. Davies, escrito para o biblioblog do Jim West, avaliando o recente Congresso da SBL.

Não perca a leitura de SBL Reflections: A Guest Column by Philip Davies [Obs.: vai ter que perder: blog apagado em 2008]

Philip Davies, professor emérito de Sheffield, todo mundo conhece, não? Na dúvida, confira aqui e aqui.