Dom Demétrio: não faltará nosso apoio a Francisco

“De certa maneira, dá para dizer que o Papa Francisco, nesses seus primeiros dias de Bispo de Roma, escolheu as referências que traçam a linha do seu pontificado. Usou gestos e palavras, que servem de parâmetro, para ‘formatar’ esta linha.

Ele emitiu sua mensagem cifrada. Tentemos decifrá-la, para entender bem seu recado.

Sua jogada estratégica começou pela escolha do nome. Foi sua primeira decisão, depois de ter aceito sua eleição. Isto mostra que desde o seu primeiro momento como novo Bispo de Roma, foi logo traçando um rumo para a missão que acabava de abraçar.

Tendo São Francisco como referência, e como escudo para neutralizar possíveis resistências, foi colecionando gestos e palavras que foram cimentando as primeiras impressões positivas a respeito de sua pessoa e de suas intenções.

(…)

João XXIII teve a grande oportunidade de convocar um Concílio, para o qual canalizou as simpatias pessoais que ele tinha angariado, convocando a todos para o grande mutirão em que se constituiu o Concílio [Vaticano II].

Qual será o novo mutirão que o Papa Francisco vai desencadear, para justificar as grandes esperanças que ele despertou com sua insistente convocação nestes dias de Semana Santa?

Depois da Páscoa, a Igreja leva sua fé para o cotidiano da vida. Depois dos gestos e das palavras animadoras, o Papa Francisco precisa tomar suas primeiras iniciativas práticas.

Como pediu nossas orações, não lhe faltará nosso apoio para implementar suas decisões”.

Leia o texto completo de O papa e a páscoa, publicado por Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales, SP, na Adital em 28/03/2013. Também aqui.

A utopia de Boff: Francisco inaugura o 3º milênio?

A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, das injustiças, das ignorâncias e recusa religiosa, do pensamento, de toda miséria. Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece. Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico.

Papa Francisco: inaugura o terceiro milênio?

O primeiro milênio do Cristianismo foi marcado pelo paradigma da comunidade. As igrejas possuíam relativa autonomia com seus ritos próprios: a ortodoxa, a copta, a ambrosiana de Milão, a moçárabe da Espanha e outras. Veneravam seus próprios mártires e confessores e tinham suas teologias como se vê na florescente cristandade do norte da África com Santo Agostinho, São Cipriano e o leigo teólogo Tertuliano. Elas se reconheciam mutuamente e, embora em Roma já se esboçasse uma visão mais jurídica, predominava a presidência na caridade. O segundo milênio foi caracterizado pelo paradigma da Igreja como sociedade perfeita e hierarquizada: uma monarquia absolutista centrada na figura do Papa como suprema cabeça (cefalização), dotado de poderes ilimitados e, por fim, infalível quando se declara como tal em assuntos de fé e moral (…) Este modelo de Igreja, tudo indica, se encerrou com a renúncia de Bento XVI (…) A eleição do Papa Francisco, vindo “do fim do mundo” como ele mesmo se apresentou, da periferia da cristandade, do Grande Sul, onde vivem 60% dos católicos, inaugura o paradigma eclesial do Terceiro Milênio: a Igreja como vasta rede de comunidades cristãs, enraizadas nas diferentes culturas (…) Será praticamente impossível de se falar em paróquias territoriais; mas, em comunidades de vizinhança de prédios ou de ruas próximas. Esse cristianismo terá como protagonistas…

Leia o artigo completo de Leonardo Boff na Adital – 28/03/2103. Em pdf, aqui.

Luteranos convidam Papa para comemorações dos 500 anos da Reforma

A notícia está no site da ALC, com data de 22/03/2013 : Líderes luteranos convidam Francisco I para comemorações dos 500 anos da Reforma protestante [pode ser lida também em Notícias: IHU On-Line: 25/03/2013]

O presidente da Federação Luterana Mundial, bispo Munib A. Younan, entregou ao papa Francisco I, na quarta-feira, 20, no Vaticano, uma cruz pintada em El Salvador, com o desejo que de que ela o inspire no novo ministério. Younan esteve acompanhado do secretário geral do organismo ecumênico, pastor Martin Junge (…) O secretário geral reafirmou o compromisso da Comunhão Luterana com o diálogo ecumênico que, no caso com a Igreja Católica, já tem mais de cinco décadas. “Uma igreja não pode ser por si própria. Ela requer laços fortes de relações e intercâmbio mútuo e edificante. Os diálogos ecumênicos são uma expressão importante do que é ser igreja na sociedade de hoje”, assinalou. Os líderes luteranos reiteraram o convite a Francisco I para que participe, em 2017, das comemorações dos 500 anos da Reforma protestante.


Leia o texto completo.

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Lutero e os 500 anos da Reforma
Luteranos incentivam diálogo inter-religioso

Papa Francisco: primavera ou inverno na Igreja?

Depende do grupo que faz a avaliação. Os gestos surpreendentes de Francisco parecem que têm provocado  sensações, sentimentos e desejos diferentes, divergentes e convergentes. Prestemos atenção aos “sinais dos tempos”, pois para uns seria o início de uma “nova primavera” e para outros estaria chegando o seu fim. Saiba sobre as apropriações, interpretações e recuperações dos primeiros gestos do papa Francisco junto a diferentes grupos eclesiais no Brasil.

O artigo A recepção de Francisco no Brasil. Entre o início e o fim de uma “primavera”  é de Sérgio Ricardo Coutinho, presidente do Centro de Estudos em História da Igreja na América Latina – CEHILA-Brasil. Publicado em Notícias: IHU On-Line em 25/03/2013.

Destaco alguns trechos e, como sempre, recomendo a leitura do artigo completo.

(…) Entre os membros da estrutura eclesiástica, de modo especial os cardeais brasileiros que participaram do último Conclave, Francisco traz a esperança de uma Igreja “reformada”, mais simples, despojada, ao lado do povo, para ser capaz de uma “nova evangelização” e se tornar crível.

Dom Raymundo Damasceno Assis (presidente da CNBB) assim vê o novo papa: “Um pastor que ama o seu povo, que está inteiramente voltado para o cuidado do seu povo, mas ao mesmo tempo aberto ao mundo, a todos os demais povos, com os que pertencem a uma outra religião… um homem de grande simplicidade, de grande amor aos pobres”.

Para Dom Claudio Hummes: “o nome é todo esse programa. Hoje, a Igreja precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas. Será uma obra gigantesca. Alguém disse já que a escolha do nome Francisco já é uma encíclica, não precisa nem escrever”.

Outro grupo eclesial, formado pelos(as) teólogos(as) da libertação, o horizonte de expectativa é uma mescla da sensação de uma brisa de “primavera” em meio ao ainda pesado vento de “inverno” presente. Para Leonardo Boff, “o importante agora não é o homem, mas sim a figura de um papa que escolheu se chamar Francisco, que não é apenas um nome, mas sim um projeto de Igreja. Uma Igreja pobre, popular. Uma Igreja do Evangelho, distante do poder e próxima das pessoas. Penso que esse papa é o novo rosto da Igreja, humilde e aberta, que pode trazer a experiência do ‘Grande Sul’, onde vivem 70% dos católicos”.

Segundo José Oscar Beozzo, experiente historiador da Igreja, a presença de um papa jesuíta é uma grata ruptura na tradição histórica porque “sempre houve um temor de ter um jesuíta, de ser ao mesmo tempo um ‘papa branco’ e ‘papa negro’. Isso [a eleição de Francisco] rompeu com uma tradição histórica, pro bem da Igreja”. Para ele, a escolha do nome toca um tema fundamental na trajetória da Igreja latino-americana: a opção pelos pobres, como também um compromisso com a preservação ambiental.

Paulo Suess, missiólogo e assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), falando em nome das pastorais sociais do Brasil, deseja que o papa Francisco, inspirado no santo de Assis, “no abraço dos leprosos, que hoje se encontram não só na cúria romana, mas por toda parte do mundo, encontre sua missão profunda e conversão permanente” e que ele, “como São Francisco, na oração diante do ícone da cruz na Igreja de São Damião, escute a voz de Jesus, que o convida para a reconstrução da Igreja em ruína da qual todos fazemos parte”.

Apesar desta recepção positiva, entre as mulheres a percepção e a apropriação é bem diferente.

Para a teóloga feminista Ivone Gebara, “a figura bondosa e sem ostentação eleita pelos cardeais… escondeu o homem real com suas numerosas contradições e temos [agora] uma percepção mais realista de sua biografia”, ou seja, a aproximação do então cardeal Jorge Maria Bergoglio com a ditadura militar argentina. Daí ela recupera uma tese típica dos anos de “Guerra Fria” e também utilizada agora pelo governo venezuelano após a morte de Hugo Chávez: o “complô”. “Foi possível intuir que sua eleição é, sem dúvida, parte de uma geopolítica de interesses divididos e de equilíbrio de forças no mundo católico. A cátedra de Pedro e o Estado do Vaticano devem mover suas pedras no xadrez mundial para favorecer as forças dos projetos políticos do norte e dos seus aliados do sul. O sul foi de certa maneira co-optado pelo norte. Um chefe político da Igreja, vindo do sul vai equilibrar as pedras do xadrez mundial, bastante movimentadas nos últimos anos pelos governos populares da América latina e pelas lutas de muitos movimentos entre eles os movimentos feministas do continente com reivindicações que atormentam o Vaticano.”

Na linha dos movimentos feministas que “atormentam” o Vaticano, a socióloga Lúcia Ribeiro revelou seu mal-estar ao acompanhar toda a cobertura dada pela mídia, por muitos artigos e entrevistas sobre a eleição de Francisco. Isto porque “todo o processo visibiliza e deixa explícita a exclusão da mulher da esfera de poder da Igreja Católica”. Reconhece que as mudanças estruturais são demoradas, mas “o fundamental é a transformação que vem das bases. É aí que as mulheres começam a ocupar um lugar fundamental, como agentes de pastoral, coordenadoras de comunidades, assessoras, participantes de ministérios não ordenados, ou de tantas outras formas, como membros ativos de suas comunidades”.

Outra interpretação vem da teóloga, respeitada nos meios eclesiais e eclesiásticos no Brasil e em Roma, Maria Clara Bingemer. Para ela, Francisco chamou a atenção por sua profunda espiritualidade inaciana e esta poderá ajudá-lo muito no exercício do seu ministério petrino: “Inclinando a cabeça pediu a oração do povo por sua pessoa e seu ministério. Foi um gesto típico de alguém formado na escola de Inácio de Loyola, cuja maior aspiração é seguir e servir o Cristo pobre e humilde”.

Entre os carismáticos, este mesmo gesto de Francisco proporcionou outra interpretação e outra apropriação. Para o fundador da Comunidade Canção Nova, Monsenhor Jonas Abib, e para Luzia Santiago, uma das coordenadoras deste movimento, ir até a Praça de São Pedro foi uma “obrigação” porque tinham “que estar onde a Igreja está”. Para Monsenhor Jonas, Francisco “pede para que a Igreja seja orante, simples, pobre, totalmente a serviço” e “estamos aqui dispostos a fazer o que o papa nos diz a fazer”. E o que ele disse a fazer? “Que orem por ele”. Como um dos fundadores da Renovação Carismática Católica no Brasil, Monsenhor Jonas viu naquele gesto (de baixar a cabeça) o mesmo que acontece em muitos grupos de oração da RCC: “estava à espera da luz do Espírito Santo. Espera que seja conduzido pelo Espírito Santo e só faltou a Praça inteira estender a mão, para que orássemos em língua sobre o papa, porque o Espírito Santo estará presente para governar a barca de Pedro”.

Para este grupo, nunca houve “inverno” na Igreja. Somente “primavera” e ela continuará com a ajuda do Espírito Santo.

Por fim, o grupo dos restauradores da identidade católica. Para estes a “primavera” trazida por Bento XVI (mais que João Paulo II) parece que se transformará em um “outono” e temem o frio do “inverno”.

O desafio posto para este grupo vem da seguinte pergunta: Como ser obediente a um papa que se aproxima demais dos pobres e do Concílio Vaticano II? A resposta: recuperar a continuidade do papado.

Para Pe. Marcelo Tenório, articulista do site Montfort, o “Magistério de Bento XVI foi um magistério claro, preciso, tendo como fundamento a Verdade sobre Deus, sobre a Igreja e sobre o Homem. Preocupou-se profundamente com a questão da Sagrada Liturgia. Condenou severamente o relativismo”. No entanto, ficou deveras surpreso e decepcionado quando viu surgir o papa Francisco: “Não posso negar minha surpresa ao vê-lo surgir no balcão da Basílica. Também não posso negar que fiquei confuso diante de seus primeiros gestos, desde as vestes, como também o uso da Estola Petrina (que indica a autoridade do Vigário de Cristo), concluindo com sua inclinação diante do povo, além de se colocar, várias, vezes, apenas como ‘o bispo de Roma’”. Ao final do artigo não perde a esperança de um futuro melhor: “Os teólogos da libertação e escravidão das consciências, os boffes heréticos e baderneiros, os liberais, modernistas e positivistas apressadamente já se juntam para gritar ‘Viva Francisco!’ Contra eles e pela Igreja gritamos também nós, junto de Dom Bosco: VIVA O PAPA!”

Outro articulista do site, Alberto Zucchi, interpreta o nome Francisco de forma positiva em vista do projeto de Igreja que defendem: “A escolha do nome de Francisco lembrando ao Santo de Assis tem sido apresentada pela imprensa como sendo uma menção especial à proteção da natureza, mas a obra deste grande santo foi sobretudo a restauração da Igreja em um tempo de grande corrupção e heresia. Nosso Senhor pediu a São Francisco ‘restaura minha Igreja’. Sem dúvida o Papa precisará de muitas forças para restaurar a Igreja como pediu Nosso Senhor a São Francisco. Unamos nossas orações as do Papa. No momento é o que devemos e o que é possível”.

Outro que também comunga deste mesmo projeto eclesiológico é o Pe. Paulo Ricardo, que possui um programa em sua home-page “Christo Nihil Praeponere” (“A nada dar mais valor que a Cristo”).

Pe. Paulo organizou um longo programa, com mais de uma hora, para explicar aos seus fiéis seguidores os “novos” gestos do papa Francisco, especialmente na Liturgia. Segundo ele, seria um programa com um tom de “direção espiritual”, pois muitos estavam agitados, perplexos e com algum temor sobre o futuro da Igreja, e de sua liturgia, após a eleição de Francisco.

Diante de muitas questões recebidas por e-mail, entre elas sobre se deveria ou não obedecer ao papa, Pe. Paulo com muito cuidado diz: “Primeiro, precisamos crer, precisamos ter fé, fé na graça que ele recebeu ao ser eleito. Precisamos dar passos espirituais em diante. Esqueçam o passado e vamos ver o futuro que ele nos dará. Se nós estamos condenando antes de fazer as coisas assim não haverá condições de continuar”. E, com certa dose de constrangimento, arremata… (continua)

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Oposição a Francisco e risco João Paulo I

Oposição a Francisco e risco João Paulo I

Os primeiros gestos e decisões de Bergoglio geraram uma onda de otimismo e apoio sem precedentes nos últimos pontífices. E, paralelamente, embora em silêncio ou sob o amparo do anonimato, começam a surgir as críticas à “humildade” do novo papa, que é acusado de querer “enterrar” a involução pós-conciliar desejada pelos dois pontífices anteriores.

“Esperemos que le dejen trabajar, y que no acabe como el pobre Juan Pablo I”, es el deseo que se escucha en muchos ámbitos eclesiales, tanto en Roma como en Madrid. Unas palabras que denotan cierta intranquilidad ante las reservas que el “tsunami Bergoglio” ha suscitado en los sectores más ultraconservadores. El tiempo dará o quitará razones.

Artigo de Jesús Bastante: La “silenciosa oposición” al Papa Bergoglio. Publicado em Religión Digital em 22/03/2013.

Traduzido e publicado em português em Notícias: IHU On-Line, em 24/03/2013: A ”oposição silenciosa” ao Papa Bergoglio.

Trechos:

Ele é papa há apenas uma semana, e parece que a história fez uma reviravolta. Francisco é o pontífice de que a Igreja precisava? Além disso, é o pontífice de que a sociedade globalizada do século XXI precisa? Em um mundo cada vez menor, onde qualquer notícia chega imediatamente aos lugares mais remotos do globo, os primeiros gestos e decisões de Bergoglio geraram uma onda de otimismo e apoio sem precedentes nos últimos pontífices. E, paralelamente, embora em silêncio ou sob o amparo do anonimato, começam a surgir as críticas à “humildade” do novo papa, que é acusado de querer “enterrar” a involução pós-conciliar desejada pelos dois pontífices anteriores. O chamado de Francisco a uma maior austeridade, seu sonho de que esta seja uma “Igreja pobre e para os pobres”, a ausência de enfeites em sua vestimenta e gestos como o de pedir a bênção do povo ou de ficar à porta da paróquia de Santa Ana para se despedir dos seus fiéis são gestos certamente revolucionários. E também indicativos de que certas coisas estão mudando. Para o desgosto de alguns. De quem?

Em primeiro lugar, da Cúria. Jorge Mario Bergoglio não é o papa que eles elegeriam a partir da estrutura (…)

Em segundo lugar, os novos movimentos. Viu-se isso na missa de início de pontificado de Bergoglio, por outro lado muito numerosa. Ali cabiam todos na Igreja. Não só os Kikos [membros do Caminho Neocatecumenal], o Comunhão e Libertação, os Legionários de Cristo e afins, cujas bandeiras, certamente, praticamente desapareceram da outrora conquistada Praça de São Pedro. Os “apóstolos da nova evangelização”, a quem João Paulo II havia conferido exclusivamente a capacidade de se considerarem Igreja, têm que se relocalizar e buscar o seu lugar em uma instituição em que parece que, finalmente, todos podem entrar. As congregações religiosas, autênticas vilipendiadas durante os últimos 30 anos, voltam a respirar e se sentem com a liberdade e a confiança para continuar realizando o seu trabalho, em alguns casos milenar. Também os fiéis “a pé”, que consideram o novo papa muito mais próximo em seus gestos e atitudes do que os papas anteriores.

Em terceiro lugar, os apologetas. Muitos representantes da “caverna” eclesial, midiática, social e política se encontram diante da tessitura da obediência cega à figura papal e da sensação de que o novo pontífice pode “trair” alguns princípios irrenunciáveis. Se já foram muitos os que, mais ou menos abertamente, criticaram a renúncia de Bento XVI por ter “descido da cruz”, eles temem que a abertura sugerida por Bergoglio “acabe quebrando a Igreja” (…)

Em quarto lugar, muitos bispos, principalmente nos países da “velha Europa”, especialmente a Espanha, aos quais a nomeação pegou-os “no contrapé” e que, por enquanto, optaram por esperar para ver se Francisco freia os passos que está dando ou que o tempo passe e a Cúria consiga “atar” alguns dos seus movimentos. Em todo caso, essa estrutura está disposta a “morrer matando”.

[Em quinto lugar]: o prestigioso vaticanista Marco Politi (do jornal Il Fatto Quotidiano) também alertou para as resistências internas ao “papa dos pobres”, que provêm de setores tradicionalistas e conservadores da Cúria Romana e que já começaram. Para Politi, é precisamente a determinação mostrada por Francisco que gerou essas reações subterrâneas internas à estrutura eclesiástica. “Exigir uma Igreja pobre e eclesiásticos irrepreensíveis significa pôr em contradição estilos de vida e comportamentos, que envolvem milhares de ‘hierarquias’ grandes e pequenas”, escreveu. Essa exigência também pressupõe, nas palavras do vaticanista, “pôr em discussão palácios, carros, servidões, consumismo, carreirismo que proliferam no mundo eclesiástico, assim como em qualquer organismo social, convivendo lado a lado com existências totalmente desinteressadas dedicadas à missão” (…)

[Em sexto lugar], a resistência ao primeiro papa que se chama Francisco começa a ser percebida também entre algumas das penas de renome da Itália. Assim, Giuliano Ferrara, diretor do jornal Il Foglio, considerado um “ateu devoto”, que passou de jovem comunista a liberal de direita, escreveu uma carta aberta diretamente a Francisco, intitulada “Padre, tenho medo da ternura”, jogando com a homilia que o papa pronunciou na missa de inauguração do pontificado, em que convidou a não ter medo da ternura e da bondade.

O artigo termina assim:
“Esperemos que o deixem trabalhar e que ele não acabe como o pobre João Paulo I”, é o desejo que se escuta em muitos âmbitos eclesiais, tanto em Roma quanto em Madri. Palavras que denotam uma certa intranquilidade diante das reservas que o “tsunami Bergoglio” despertou nos setores mais ultraconservadores. O tempo lhes dará ou não razão.

Leia o texto completo.

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Leituras possíveis sobre o Papa Francisco
Ultraconservadores em estado de choque com o Papa Francisco
A eleição de Bergoglio foi considerada ótima ou boa por 74% dos brasileiros, segundo o Datafolha

Ultraconservadores em estado de choque com o Papa Francisco

A insatisfação dos católicos ultraconservadores começou na noite de quarta-feira, no mesmo instante em que o nome de Jorge Mario Bergoglio foi anunciado como Papa Francisco. Desde então, fóruns tradicionalistas na internet veem como apocalíptico o futuro da Igreja nas mãos do argentino.

A reportagem de Andrei Netto foi publicada em O Estado de S. Paulo, hoje, 19/03/2013. O título: Estilo informal do papa revolta ultraconservadores.

O mesmo papa que será celebrado por milhares de pessoas na Praça São Pedro na manhã de hoje já é desprezado por grupos ultraminoritários da Igreja. Cristãos que romperam com Roma desde a aprovação do Concílio Vaticano II, há 50 anos, os “tradicionalistas” estão em estado de choque com a escolha de Francisco como novo líder católico.

A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-03-2013.

Para eles, um papa que se define como “bispo de Roma”, e não como sumo pontífice, que pede a bênção dos fiéis antes de lhes conceder a sua, que troca a cruz de ouro pela de ferro e prega uma Igreja “pobre e para os pobres” não é digno de ser o sucessor de Pedro.

A insatisfação dos católicos ultraconservadores começou na noite de quarta-feira, no mesmo instante em que o nome de Jorge Mario Bergoglio foi anunciado como papa Francisco. Desde então, fóruns tradicionalistas na internet veem como apocalíptico o futuro da Igreja nas mãos do argentino. Entre os mais moderados, as palavras são de decepção profunda. Para os mais radicais, Bergoglio não será jamais reconhecido como papa, por ser visto como reformador, progressista e ligado à Teologia da Libertação.

Francisco também é criticado por sua disposição ao diálogo com judeus, muçulmanos e por supostamente ser “amigo” dos “sectos” maçônico e protestante. Não bastasse, o novo pontífice tem sido acusado de ser “inimigo da Santa Missa” e da “santa doutrina católica” por ser defensor do Concílio Vaticano II, o verdadeiro vilão aos olhos dos tradicionalistas.

Nos fóruns online, os textos não falam Habemus Papam, mas Habent Papam (“Eles têm um papa”). “O trono de Pedro continua vago”, diz o site Catholique Sedevacantiste, da França, em um artigo denominado Bergoglio, amigo íntimo dos judeus, inimigo de Nosso Senhor. Tradicionalista francês, Clément Lecuyer se refere a Francisco como “João Paulo IV”, herdeiro de uma linhagem de “falsos papas” formada por João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

“Não é só sua linguagem, mas todo o seu passado. O problema é de adesão aos valores do catolicismo. O que é grave é sua linha miserabilista e terceiro-mundista, que é inaceitável. Na Itália e na Europa vamos viver em breve uma fuga imensa de fiéis”, disse ao Estado Maurizio Ruggiero, secretário do Comitata Antirisorgimentali, um grupo ultraconservador italiano.

Ruggiero é um dos porta-vozes de um movimento chamado Sedevacantista, uma referência à Sé Vacante, o período em que o Vaticano não tem papa.

Para esses ultraconservadores, nenhum papa desde o Concílio Vaticano II é reconhecido como tal, por “violarem” os ritos do catolicismo tradicional, como a missa em latim. A cada novo conclave, grupos como o Comitata Antirisorgimentali esperam pela nomeação com a esperança de que o novo pontífice suspenda as regras do Concílio e encerre o diálogo com outras religiões.

Para eles, Francisco é o oposto do que se espera do líder católico. “É impossível não ser um sedevacantista com Francisco no Vaticano”, afirma Ruggiero. “Se pensar que um papa católico vai se encontrar com judeus e muçulmanos, como nos representará, se está escrito no nosso evangelho que só a Igreja Católica salva?”

A desilusão com Francisco é compartilhada por Michael Brendan Dougherty, jornalista e correspondente da revista The American Conservative. Para ele, Francisco é um retrocesso em relação a Bento XVI, que liberou a missa tradicional em latim. “As medidas não foram aplicadas na diocese do cardeal Bergoglio.”

O vaticanista italiano Marco Politi adverte para o fato de que os grupos mais tradicionalistas estão perdendo a paciência. “Eles já ficaram extremamente irritados quando Bento XVI renunciou, já que reduziu a imagem do papa, transformando-o em apenas mais um dos cardeais”, lembrou. “Agora, Francisco mantém a tendência de se mostrar mais próximo do povo, dispensando e mudando ritos.”

Fonte: Estadão: 19/03/2013. O texto pode ser lido também em IHU On-Line – 19/03/2013.

Leituras possíveis sobre o Papa Francisco

Venho de um lugar que fica quase no fim do mundo. Mas estamos aqui.

:: Com a eleição de Bergoglio afundam uma doutrina de política vaticana e uma escola teológica. Artigo de Marco Politi

:: Papa Francisco: “É a melhor escolha possível. Que agora ele não aceite compromissos”. Entrevista com Hans Küng

:: Francisco, um bispo de Roma que vem da periferia. Artigo de Luiz Alberto Gómez de Souza

:: Os sete espantos do papa Francisco. Artigo de Paulo Suess

:: Francisco: um Papa que presidirá na caridade. Artigo de Leonardo Boff

:: O papa Francisco que eu conheço. Artigo de Margaret Hebblethwaite

:: O papa e a ditadura argentina. Artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

:: Francisco e aquele ciclo que talvez irá se fecharFrancesco, quel cerchio che forse si chiude. Artigo de Sergio Soave

:: A ”oposição silenciosa” ao Papa BergoglioLa “silenciosa oposición” al Papa Bergoglio. Artigo de Jesús Bastante

:: A recepção de Francisco no Brasil. Entre o início e o fim de uma “primavera”. Artigo de Sérgio Ricardo Coutinho

:: “Ditadura do relativismo” e “sujeira”: Já se vê uma continuidade entre Bento XVI e Francisco? Artigo de  Sérgio Ricardo Coutinho

:: ”Os males da Igreja se chamam vaidade e carreirismo”. Entrevista com Jorge Mario Bergoglio, atual Papa Francisco

Precisamos de um Papa como São Francisco

O cardeal de Buenos Aires, Argentina, Jorge Mario Bergoglio, eleito Papa hoje, adotou o nome de Francisco.

Fratelli e sorelle, buonasera! Voi sapete che il dovere del Conclave era di dare un Vescovo a Roma. Sembra che i miei fratelli Cardinali siano andati a prenderlo quasi alla fine del mondo… ma siamo qui… Vi ringrazio dell’accoglienza.

Explode o caso Vatileaks. Os cardeais querem saber

Na manhã de ontem foram três cardeais que manifestaram o desejo de saber o que consta na “Relatio” preparada pela comissão dos cardeais que fizeram a investigação. O conteúdo do relatório, até o momento, é secreto. O pedido foi feito pelo cardeal alemão Walter Kasper (…), pelo austríaco Cristoph Schönborn, arcebispo de Viena (…), e [pelo] húngaro Peter Erdö, arcebispo de Budapeste (…) Não por acaso também os cardeais de Washington e de Chicago, Donald Wuerl e Francis George, afirmaram, depois da primeira congregação geral, que o caso Vatileaks precisa ser discutido e “que algumas perguntas serão feitas aos cardeais envolvidos na investigação” (…). Sabe-se que Bento XVI não quis divulgar o relatório, mas permitiu que os três cardeais que investigaram o caso – Herranz, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi – forneçam informações de caráter geral (…) Mas seria um erro considerar que escândalos e Vatileaks tenham sido o tema principal do primeiro dia de trabalho: a preocupação da maioria dos presentes é encontrar um novo Papa que saiba falar ao mundo, anunciar o Evangelho de maneira positiva. “Seria preciso um Papa como São Francisco [sublinhado meu] – diz um cardeal influente no final dos trabalhos de ontem – um homem que saiba sorrir como João Paulo I, que possa mostrar o rosto da misericórdia de Deus. E que saiba reformar a Cúria para torná-la mais crível e transparente”.

Leia o texto completo.

A reportagem é de Andrea Tornielli e foi publicada pelo jornal La Stampa [Vatican Insider] em 05/03/2013. Fonte: Notícias: IHU On-Line – 05/03/2013.

Esplode il caso Vatileaks. Le porpore vogliono sapere – Andrea Tornielli – Vatican Insider/La Stampa: 05/03/2013

Tre cardinali di peso chiedono di conoscere i segreti dell’ultimo scandalo. La richiesta è stata avanzata dal tedesco Walter Kasper, ottant’anni appena compiuti, in conclave per un soffio, appartiene all’ala dei vecchi curiali più critici verso la gestione della Segreteria di Stato degli ultimi anni. Stessa domanda anche da due «papabili» europei di peso. Il primo è l’austriaco Cristoph Schönborn, arcivescovo di Vienna, che nel 2010 criticò pubblicamente l’ex Segretario di Stato Angelo Sodano per come erano stati gestiti i casi di abusi nell’ultimo periodo wojtyliano. Il secondo è l’ungherese Peter Erdö, arcivescovo di Budapest, considerato un possibile candidato europeo al Soglio di Pietro (…) Sarebbe però un errore considerare scandali e Vatileaks come il segno distintivo della prima giornata di dibattito: la preoccupazione della maggior parte dei presenti è quella di trovare un nuovo Papa che sappia parlare al mondo, annunciare il Vangelo in modo positivo. «Ci vorrebbe un Papa come San Francesco – confida a La Stampa un porporato influente a fine giornata – un uomo che sappia sorridere come Giovanni Paolo I, che possa mostrare il volto della misericordia di Dio. E che sappia riformare la Curia per renderla più credibile e trasparente».

Igrejas cristãs e ditadura brasileira

Colaboração com a ditadura preocupa igrejas cristãs

As Igrejas Cristãs que atuam no Brasil de forma ecumênica deverão dispor ainda este ano de informações sobre a colaboração de padres, bispos, pastores e leigos com a repressão política durante a ditadura de 1964. Um grupo de pesquisa, integrado por cientistas sociais e políticos, além de líderes eclesiásticos, já está dando os primeiros para realizar essa tarefa.

Antes mesmo de serem iniciados os trabalhos, já foram identificados foram identificados vários colaboradores, entre os quais três arcebispos já falecidos. São eles o ex-arcebispo de Belém (PA), d. Alberto Gaudêncio Ramos e seus colegas, da corrente tradicionalista da Igreja, d. Geraldo Sigaud, de Diamantina (MG), e d. Antônio de Castro Meyer de Campos (RJ), um dos fundadores, ao lado de Plinio Corrêa de Oliveira, da organização de extrema-direita Tradição, Família e Propriedade, a TFP.

D. Alberto era uma das principais fontes de denúncias contra os seus colegas e subordinados, na Igreja Católica da Amazônia. Já d. Sigaud liderou uma campanha contra seu colega d. Pedro Casaldáliga, de São Félix do Araguaia e contra d. Tomás Balduíno, da ordem dominicana, de Goiás Velho/GO. Com base em dossiês preparados por Sigaud e Meyer, o governo militar decidiu expulsar Casaldáliga do Brasil. Para a ditadura, d. Pedro, por ser catalão, estava proibido de denunciar problemas brasileiros, como o fez em uma carta em que denunciava o caráter escravocrata do latifúndio na região amazônica.

A ameaça de expulsar Casaldáliga provocou uma discreta, mas objetiva e imediata reação do papa Paulo VI. Em reunião com seu staff, declarou que pela primeira vez na história da diplomacia do Vaticano, a Igreja poderia romper as suas relações com o Brasil. À ameaça abortou, de acordo com o relato do ex-cardeal arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns.

D. Eugênio
Entre as personalidades da Igreja permanentemente vigiadas por colaboradores da repressão está também incluído o ex-cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, d. Eugênio de Araújo Sales. Investigações oficiosas em andamento, feitas por organizações de Direitos Humanos, indicam que d. Eugênio era espionado por assessores do seu próprio staff. A mesma espionagem atingiu um outro arcebispo de Natal/RN, d. Nivaldo Monte.

Ele promoveu, nos anos 70, uma reunião reservada com o governador do Rio Grande do Norte José Cortez Pereira e o clero arquidiocesano. No dia seguinte, foi convidado a comparecer ao comando do então IV Exército (atual Comando Militar do Nordeste), em Recife, onde foi questionado sobre vários itens de sua palestra para o clero sobre a situação socioeconômica do seu Estado.

Deops
Outro ponto a ser levado ao grupo de trabalho das igrejas é o funcionamento informal e ilegal, durante a ditadura de uma “delegacia” no Deops paulista, no centro paulistano, dedicada especialmente às denúncias de clérigos e de pastores contra seus colegas.

Entre os colaboradores dessa “delegacia” – chefiada pelo delegado Alcides Cintra Bueno – estava o jornalista Lenildo Tabosa Pessoa, do jornal “O Estado de S. Paulo”. Formado em Filosofia e em Teologia na Universidade Gregoriana de Roma, Lenildo dispunha da formação adequada para participar, até mesmo, no interrogatório de integrantes das pastorais católicas, presos pela repressão…

Fonte: Dermi Azevedo – Carta Maior: 24/02/2013

Especiais sobre a renúncia de Bento XVI

Alguns são mesmo especiais. Outros são apenas resultados de buscas. E há também sites que só tratam do assunto. Em que línguas? Português, espanhol, inglês, italiano, francês e alemão.

:: Benedict Resigns – National Catholic Reporter

:: Papa Bento XVI – CartaCapital

:: Papst Benedikt XVI – Der Spiegel

:: Pope Benedict XVI – The Guardian

:: Renúncia de Bento XVI – G1

:: Renuncia Papal – El País

:: Transição na Igreja – Folha de S. Paulo