A atuação dos cristãos no processo de redemocratização

Nos dias 26 e 27 de junho, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNNB), promove o Seminário Internacional Memória e Compromisso. O evento será realizado no Centro Cultural de Brasília (CCB) e tem por objetivo relembrar a atuação dos cristãos no processo de anistia política e de redemocratização do Brasil durante o período de 1964 a 1988.

Para a CBJP, o resgate dessa memória é fundamental para fazer justiça aos que vivenciaram diversas violações de direitos e para alimentar as esperanças em tempo de opressão, bem como para lançar luzes aos desafios da atualidade. Por isso, o evento pretende provocar reflexões a cerca da conjuntura político-social brasileira com discussões que envolvem o modelo atual de Estado e de desenvolvimento adotado pelo país e suas consequências para a sociedade.

A reflexão contará com a presença de nomes como padre Oscar Beozzo, Hamilton Pereira, padre Leonel Narvaez, Maria Clara Bingemer, Maria Vitória Benevides, frei Carlos Mesters, pastor Walter Altmann, dom Celso Queiroz, entre outros.

O encontro será pautado em análises da conjuntura nacional, internacional e eclesial, do período ditatorial. A reflexão será no sentido de entender quais eram os desafios teológicos e institucionais da Igreja nesse período. Os participantes ainda acompanharão falas sobre os cristãos em luta por transição em diversos países; resgate de experiências e memória da atuação dos cristãos e instituições cristãs; e uma reflexão sobre justiça de transição e desafio cristão de reconciliação, entre outros temas.

Memória e Compromisso

O Seminário consiste na primeira fase do projeto Memória e Compromisso. Esse projeto é realizado em parceria com a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, e conta com apoio da Comissão Nacional da Verdade e da Secretaria de Cultura do Governo do Distrito Federal.

O projeto também conta com a participação do padre Zezinho e Frei Betto, que não participarão do Seminário, mas vão colaborar em outras etapas (como a publicação do livro, do DVD e do CD com as conclusões do projeto).

Participação

Podem participar estudantes, pessoas de todas as denominações religiosas, agentes pastorais, membros de organismos, profissionais e militantes da área de direitos humanos, e demais interessados. Será emitido certificado de participação, com as horas correspondentes.

Os interessados devem acessar o site da Comissão Brasileira Justiça e Paz e preencher a ficha de inscrição.

Mais informações:
Tel: (61)3323-8713
E-mail: cbjpagenda@gmail.com

Fonte: Seminário pretende relembrar a atuação dos cristãos no período da ditadura: CNBB 06/06/2013

CEBs e os desafios do mundo contemporâneo

Nesses tempos de novo pontificado em Roma, há a esperança de – invertendo a clássica expressão de J. B. Libânio – um “retorno à grande abertura” operada pelo Concílio Ecumênico de 1962-65. Neste caso, o novo jeito de ser Igreja ensaiado pelas CEBs na primavera eclesial que se seguiu àquele grande evento poderá enfim desabrochar e dar frutos para o mundo – porque nosso País está precisando muito de quem leve a sério a evangélica opção preferencial pelos pobres aplicada à economia, à política e à cultura.

OROFINO, F.; COUTINHO, S. R.; RODRIGUES, S. S. (orgs.) CEBs e os desafios do mundo contemporâneo. São Paulo: Paulus/ISER Assessoria, 2012, 240 p. – ISBN 9788534934862.

Leia a interessante resenha deste livro escrita por Pedro A. Ribeiro de Oliveira e publicada pela Adital em 07.06.2013.

Ele explica:

“O livro em apreço resulta de quatro seminários promovidos por Iser-Assessoria e a Comissão para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – em 2011, para a formação da nova geração de assessores e assessoras de CEBs, como indica o pequeno texto da parte IV.

Essa contextualização é essencial para bem apreciarmos o valor da obra, uma vez que esta não é uma obra de erudição acadêmica e sim um livro que retrata o conhecimento elaborado a partir da reflexão sobre as práticas em curso nas próprias CEBs.

Seu fio condutor é o fato de que muitas pessoas hoje dispostas a ajudar na formação de lideranças das comunidades pouco conhecem de sua história. Recuperar a memória – antiga e recente – para bem entender a realidade atual, é o propósito desse trabalho que é de grande utilidade a quem quer conhecer a realidade atual das CEBs em nosso País.

Ao terminar a leitura do livro redigi esses breves comentários em forma de resenha, mas de fato trata-se antes de uma reflexão pessoal provocada pela leitura do que propriamente uma apresentação do livro e seu conteúdo”.

 

Marcha para Jesus é criticada por pastor

Pastor contesta poder de transformação propagada pela Marcha para Jesus

Embora seja o maior movimento evangélico de massa, a Marcha para Jesus, que nesta época do ano leva milhares de pessoas às ruas em capitais e cidades do interior do país, também sofre contestação de protestantes, de modo especial de líderes e pastores de denominações históricas.

No sábado, 1, a Marcha para Jesus juntou o rebanho de mais de 1 milhão de pessoas em Manaus, mais um número considerável em Fortaleza e Foz do Iguaçu. No sábado anterior, 500 mil evangélicos caminharam por ruas e avenidas do Rio de Janeiro. A chuva não impediu a participação de 5 mil fiéis em Belém do Pará. No feriado de Corpus Christi, na quinta-feira, 30 de maio, a capital Teresina assistiu a concentração de 200 mil pessoas e Porto Velho de outras 50 mil pessoas na Marcha. “A Marcha não celebra culto, mas show ‘gospel’. Tanta força e entusiasmo deveriam ser canalizados para a pregação do evangelho”, contestou o pastor Ageu Cirilo, da Igreja Presbiteriana de Vila Guarani, São Paulo, em artigo no jornal Brasil Presbiteriano. Ele listou dez motivos que cada cristão deveria considerar para não participar desse evento. Além da marcha ser conduzida por um líder que se autodenomina apóstolo, quando esse título foi reservado ao grupo de seguidores escolhidos por Cristo, ela se fundamenta numa Teologia Triunfalista – tudo vai dar certo na vida do crente – e na Teologia da Prosperidade, arrolou o pastor. “A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrado no alimento, pessoal e de relacionamento, como na Igreja primitiva”, comparou Cirilo. Outro ponto lembrado pelo pastor presbiteriano é o fato de os líderes da marcha anunciarem que ela tem o poder de “mudar o destino de uma nação”. Cirilo reportou-se, então, às pesquisas demográficas do país indicando que os evangélicos já somam um quarto da população do Brasil. No entanto, mesmo com esse percentual, “a imoralidade, a corrupção e a violência estão cada vez maiores em nosso país. Os canais de TV, os programas de rádio, bem como as marchas  não têm gerado transformação de vida em nosso povo”, apontou.

Fonte: ALC – 03/06/2013

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Francisco será o papa de uma transição crucial?

Apesar dos 76 anos de idade, é cada vez mais forte a impressão de que ele não será um pontífice transitório, mas sim o papa de uma transição crucial.

Nonostante i 76 anni di età, è sempre più forte l’impressione che non sarà un Pontefice transitorio, ma il Papa di una transizione cruciale.

O jornalista italiano Massimo Franco, em artigo publicado pelo jornal Corriere della Sera em 19/05/2013, defende que Francisco representa uma transição crucial na Igreja.

O título, em português, é: Francisco, o primeiro papa global [em italiano: Il Papa global].

Reproduzo aqui apenas alguns trechos isolados e, até mesmo, fora de ordem. Mas convido o leitor a ler a análise completa, bastante interessante, em Notícias: IHU On-Line de 22/05/2013.

Jorge Mario Bergoglio é o primeiro papa que podemos definir como verdadeiramente global. Não só porque foi descoberto “quase no fim do mundo”, como ele disse brincando de si mesmo. As dinâmicas do conclave dos dias 12 e 13 de março mostraram o fim de uma era para o Vaticano. As Américas passaram da periferia para o coração do mundo católico. O eurocentrismo acabou. E a criação de um conselho de oito cardeais tomados dos cinco continentes para participar das decisões de Francisco, no dia 14 de abril, confirma a intenção de revolucionar o governo da Igreja.

As tendências para 2030 do US National Intelligence Council dizem que, nos próximos 20 anos, o número das megacidades vai crescer, criando áreas “periurbanas” e “megarregiões” que se tornarão poderosos atores não estatais, superando as dimensões nacionais. Francisco representa esse deslocamento de prioridade. E sinaliza uma notável diversidade com relação aos seus antecessores. A escolha de se chamar Francisco é mais um sintoma da sua natural atenção pelos pobres das favelas superpovoadas das maiores cidades do mundo.

E o mandato de Francisco parece exatamente isso: abrir a Igreja às periferias mundiais; libertar o Vaticano de pessoas comprometidas nos escândalos; mudar a estrutura e os objetivos do IOR; reescrever e ressuscitar a agenda de política externa da Santa Sé depois daquela que foi percebida no plano internacional como a passividade do pontificado de Bento XVI; e reconstruir a imagem amarrotada da Igreja, voltando a privilegiar os pobres.

Francisco, primeiro pontífice jesuíta, marca uma potencial revolução. Ele foi escolhido como reformador da Cúria, homem capaz de enfrentar e resolver os escândalos, e como diretor chamado a globalizar o Vaticano.

E, ao contrário do que foi escrito e pensado no início, é provável que a sua eleição não tenha sido de última hora. Senão programada, foi ao menos examinada e discutida alguns dias antes da abertura do conclave e depois aprovada por muitos cardeais norte-americanos e alemães, e por alguns italianos inimigos da Cúria.

Um papa proveniente da América Latina, sugeriu o vaticanista John Allen, significa ceticismo com relação ao capitalismo e à globalização; debate cultural duro com os EUA, apesar do número crescente da população católica de língua espanhola; mais atenção ao ambiente; e pacifismo.

No curto prazo, é provável,  [entretanto], que se vejam maiores mudanças em Roma: na Roma papal. O novo pontífice quer erradicar a imagem de um papado preso em uma “bolha” autorreferencial e bloqueado pela Cúria. E o IOR, o Instituto para as Obras de Religião, o chamado “Banco do Vaticano”, poderia ser o símbolo e a cobaia dessa transformação.

Apesar dos 76 anos de idade, é cada vez mais forte a impressão de que ele não será um pontífice transitório, mas sim o papa de uma transição crucial.

Il Papa global – Massimo Franco: Corriere della Sera 19/05/2013

Nonostante i 76 anni di età, è sempre più forte l’impressione che non sarà un Pontefice transitorio, ma il Papa di una transizione cruciale.

Le priorità: difendere i poveri e riformare lo Ior. La Chiesa di Francesco non è più eurocentrica.

Jorge Mario Bergoglio è il primo Papa che si possa definire veramente globale. Non solo perché è stato scovato «quasi alla fine del mondo », come ha detto scherzosamente di sé. Le dinamiche del Conclave del 12 e 13 marzo hanno mostrato la fine di un’era per il Vaticano. Le Americhe sono passate dalla periferia al cuore del mondo cattolico. L’eurocentrismo è finito. E la creazione di un consiglio di otto cardinali presi dai cinque continenti per concorrere alle decisioni di Francesco, il 14 aprile, conferma l’intenzione di rivoluzionare il governo della Chiesa. La scelta di chiamarsi Francesco è un altro sintomo della sua naturale attenzione ai poveri delle baraccopoli sovrappopolate nelle maggiori città del mondo. L’approccio nasce soprattutto dalla sua esperienza quotidiana di arcivescovo di Buenos Aires, attento alla povertà di gigantesche periferie; e riflette una tendenza mondiale. I trend per il 2030 dello Us National Intelligence Council dicono che nei prossimi vent’anni il numero delle megacity crescerà, creando aree «peri-urbane» e «mega-regioni» che diventeranno potenti attori non statali, superando le dimensioni nazionali. Francesco rappresenta questo spostamento di priorità. E segnala una diversità notevole rispetto ai predecessori.

Francesco, primo Pontefice gesuita, segna una potenziale rivoluzione. È stato scelto come riformatore della Curia, uomo in grado di affrontare e risolvere gli scandali, e come regista chiamato a globalizzare il Vaticano. E diversamente da quanto è stato scritto e pensato all’inizio, è probabile che la sua non sia stata un’elezione dell’ultima ora. Se non programmata, è stata almeno esaminata e discussa qualche giorno prima dell’apertura del Conclave, e poi approvata da molti cardinali americani e tedeschi, e da alcuni italiani nemici della Curia.

Un Papa proveniente dall’America Latina, ipotizzò nel 2009 il vaticanista John Allen, significa scetticismo verso capitalismo e globalizzazione; confronto culturale duro con gli Usa, nonostante il numero crescente della popolazione cattolica di lingua spagnola; più attenzione all’ambiente; e pacifismo.

Nel breve periodo, è probabile dunque che i maggiori cambiamenti si vedranno a Roma: nella Roma papale. Il nuovo Pontefice vuole sradicare l’immagine di un papato intrappolato in una «bolla» autoreferenziale e bloccato dalla Curia. E lo Ior, l’Istituto per le opere di religione, la cosiddetta «banca del Vaticano», potrebbe essere il simbolo e la cavia di questa trasformazione.

Nonostante i 76 anni di età, è sempre più forte l’impressione che non sarà un Pontefice transitorio, ma il Papa di una transizione cruciale.

A tragédia de um cristianismo arrogante

A tragédia de um cristianismo arrogante, uma reflexão sobre o caso Marco Feliciano

José Lisboa Moreira de Oliveira

Há várias semanas estamos acompanhando os acontecimentos que dizem respeito à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados. Os representantes de determinadas minorias, e pessoas militantes em espaços e instituições de defesa dos direitos humanos, não aceitam a eleição para presidente desta Comissão do Pastor Marcos Feliciano, conhecido por suas manifestações públicas homofóbicas, racistas, discriminadoras e preconceituosas. O deputado tenta defender-se afirmando que as acusações não procedem e que determinadas declarações ele não as fez como presidente da Comissão, mas enquanto pastor. Como se fosse possível negar o que foi postado em redes sociais e filmado em certas ocasiões e como se fosse também possível separar a atuação de uma pessoa na função pública da sua vida particular. Toda pessoa que aceita uma função pública deve estar consciente de que ela, enquanto estiver na função, não poderá separar isso daquilo.

Porém, o problema mais grave neste episódio é que o fato expressa um tipo de cristianismo arrogante e prepotente que, sob certos aspectos, nos faz voltar à Idade Média e ao período da “Santa” Inquisição. Desta vez os protagonistas da arrogância e da prepotência não são os católicos, mas grupos ou pessoas do segmento evangélico. Embora não faltem, no atual catolicismo ultraconservador de direita, pessoas e grupos imbuídos da mesma arrogância e da mesma prepotência.

Trata-se de arrogância e de prepotência porque, como nos lembrou décadas atrás Paul Ricoeur, tais pessoas ou grupos cristãos pretendem ocupar o lugar reservado exclusivamente para Deus. Essas pessoas e esses grupos não só pretendem dizer a Deus como ele deve comportar-se em relação aos que são diferentes delas e deles, mas se colocam como juízes para condenar quem pensa diferente ou quem quer ser diferente. Sentam-se solenemente em suas “cátedras” e, revestidos com as togas de acusadores, com ares de soberania de deuses tiranos, apontam o dedo contra aqueles que ousam pensar diferentemente ou viver diferentemente. “Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,4). Assim, por exemplo, pretendem ditar para todas as pessoas de uma sociedade pluralista, como é o caso do Brasil, normas que dizem respeito apenas ao seu próprio credo. Querem que todos, sem exceção, sejam submetidos aos dogmas por eles inventados e falsamente atribuídos a Deus (Mc 7,9). Não admitem que pessoas possam viver diferentemente, segundo suas convicções e crenças. Não querem permitir que tais pessoas expressem o que sentem e vivam publicamente segundo suas convicções, sob a alegação de que isso é ofensivo e imoral. Transformam o próprio credo e a própria moral em moralidade universal que, segundo eles, deveria ser imposta a todas as pessoas.

Na raiz do racismo, da homofobia, da discriminação e do preconceito praticados por estas pessoas ou segmentos cristãos está um ato profundamente diabólico: acusar os outros diante de Deus (Ap 12,10). Ao usarem de intransigência e ao apontarem arrogantemente o dedo contra quem não lê pela cartilha deles, tais pessoas ou grupos deixam de ser discípulos e discípulas de Jesus para serem seguidores do “Diabo”, o acusador dos irmãos diante do trono da divindade. Cena, aliás, muito bem retratada no Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Como no tempo de Jesus, pastores, padres, bispos e lideranças cristãs se unem para acusar e para apedrejar aqueles e aquelas que consideram imorais e infratores imperdoáveis da moralidade (Jo 8,1-11).

O resultado deste tipo de comportamento é o fato de que tais lideranças costumam esquecer-se de que suas falhas e seus pecados são muito mais graves do que os pecados daqueles e daquelas que acusam. Costumam esquecer-se de que, quase sempre, elas são responsáveis por tantas outras mazelas e por tantos outros pecados imperdoáveis e que ofendem muito mais a Deus do que as fragilidades dos que são por elas acusados (Jo 8,7). Vejo pastores, bispos e padres dando verdadeiros chiliques porque, de repente, viram dois homens se beijando ou uma mulher famosa revelando que ama outra mulher. Mas não os vejo dando chilique porque diariamente morrem no mundo milhares de crianças vítimas da fome, da subnutrição, das guerras e dos próprios conflitos religiosos, muitas vezes alimentados e patrocinados por países tidos como tradicionalmente cristãos. Não vi, por exemplo, a bancada evangélica no Congresso, ou padres e bispos católicos, se mobilizando para punir aquele pastor que, após enfiar na cueca e nas meias o dinheiro roubado dos moradores do Distrito Federal, fez com os outros ladrões a famosa “oração da propina”, agradecendo a Deus pelo roubo que acabavam de praticar.

Nota-se tanta obsessão e tanta histeria ao atacar a homossexualidade e atos sexuais considerados inadmissíveis, mas não vejo o mesmo empenho e o mesmo compromisso na luta contra a corrupção, contra o desvio de verbas públicas, especialmente da saúde, que terminam por matar tantas pessoas pobres e inocentes. Não vejo nenhum deputado evangélico, e nenhum padre e bispo católico obcecado por pecados sexuais, tendo a mesma postura de profetas como Amós que denunciava as “vacas de Basã” que moravam em palácios de luxo, oprimiam os fracos, maltratavam os necessitados e, com seus maridos, realizavam banquetes às custas dos mais pobres (4,1-3). Não vejo nenhum deles denunciando as maquinações de políticos, de latifundiários, do agronegócio etc. e que visam “comprar o fraco por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo” (Am 8,6).

Não custa lembrar o risco da hipocrisia nessas atitudes prepotentes e arrogantes, especialmente quando se concentram todos os pecados do mundo na questão da sexualidade. Carlos González Vallés no seu livro Querida Igreja (Paulus, 1998) já nos lembrava anos atrás que toda essa obsessão pelos pecados sexuais esconde um desejo de dominação e de manipulação por parte dos chefes cristãos. Como a sexualidade é algo inerente a toda pessoa humana, fica mais fácil dominá-las e controlá-las através da condenação obsessiva dos pecados do sexo. Tal condenação funciona como uma espécie de “quebra-molas”, freando todo e qualquer desejo de autonomia e de liberdade. “A razão do exagero que a Igreja sempre exerceu nesse domínio e da gravidade do pecado sexual é fácil de ver. A Igreja deseja controlar seus “súditos”, e o instrumento de controle mais eficaz é o medo” (Vallés, p. 109). A superação do medo e a liberdade diante da sexualidade tiram os fiéis do controle dos pastores, dos padres e dos bispos. Consequentemente tal liberdade afeta também os cofres das Igrejas. Pessoas livres se recusarão a pagar os dízimos com os quais as Igrejas se mantêm e mantêm seus programas religiosos na mídia, usados para acusar “nossos irmãos, dia e noite, diante do nosso Deus” (Ap 12,10). Pode-se concluir que a verdadeira razão de tanta obsessão pelos pecados do sexo é de ordem econômica e não de ordem cristã: pastores, padres e bispos temem perder o controle de seus fiéis e, com isso, perder também as vultosas somas de dinheiro que patrocinam sua arrogância e sua prepotência. É claro que eles negarão veementemente esta minha afirmação. E isso é normal, pois nem sempre isso é feito de forma consciente. Porém, hoje, com a ajuda da Psicologia, sabemos o que pode fazer o inconsciente, especialmente o inconsciente coletivo.

Por fim, não custa lembrar que o amor(ágape) é a essência do cristianismo. Quem ama é de Deus, permanece em Deus (1Jo 4,7-8) e, quando há este tipo de amor, não existe lugar para o medo e para o temor (1Jo 4,18). E os evangelhos nos mostram que não são as lideranças religiosas as pessoas que mais amam. São as pessoas, tidas pelo sistema religioso como as mais pecadoras, aquelas que mais amam neste sentido pleno e evangélico da palavra (Lc 7,36-50) Então por que não aceitar a possibilidade de que entre duas pessoas do mesmo sexo possa existir um amor autêntico? Um amor profundamente humano que pode ser comparado ao amor existente entre um homem e uma mulher (2Sm 1,23-27)? Um amor como o de Jesus que não escondia sua predileção, a sua afeição e a sua ternura por um discípulo, permitindo-se certa intimidade que era exclusiva da relação de um homem com sua esposa (Jo 13,23-25)? Ou será que tais pessoas já admitem a possibilidade de que o “discípulo amado” (Jo 21,7) possa, na verdade, ser uma “discípula amada”? Mas, neste caso, a história já seria outra e provocaria verdadeira revolução no cristianismo.

José Lisboa Moreira de Oliveira possui graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (1982), mestrado em Teologia Sistemática pela Pontificia Facoltà Teologica dell’Italia Meridionale – Sezione San Luigi (1989) e doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (1991). Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (2008). Atualmente é Professor titular de Ética e Antropologia da Religião na Universidade Católica de Brasília, onde também é gestor do Centro de Reflexões sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR). Tem diversas publicações na área da Teologia das Vocações e da Espiritualidade. Desenvolve pesquisas sobre o tema das vocações, dos ministérios, da religião e da ética. É professor convidado do Curso de Especialização lato sensu para Formadores de Seminários e da Vida Religiosa no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA) em Belo Horizonte.

Fonte: Adital, maio de 2013.

 

A CNBB e as CEBs

CNBB quer recuperar as Comunidades Eclesiais de Base

Preocupada com a renovação das paróquias, a assembleia dos bispos, que terminou na última sexta, incluiu as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) entre as iniciativas para recuperar a presença da Igreja Católica nas áreas mais pobres, onde perde fiéis para evangélicos. “É um jeito de fazer com que os leigos lá na base comecem novamente a se articular”, disse d. Severino Clasen, presidente para comissão para o laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao defender uma CEB menos ideológica (…)  Para o padre Benedito Ferraro, assessor da Ampliada Nacional das CEBs, a volta da discussão é um reconhecimento de parte dos bispos de que a retração abriu espaço para as evangélicas, como a Assembleia de Deus. Hoje, diz, as CEBs são minoria entre os grupos eclesiais na periferia. Ferraro diz que não há números precisos sobre as CEBs, mas que elas estão presentes em todo o país…

Leia o texto completo.

Fonte: Fabiano Maisonnave: Folha de S. Paulo 22/04/2013 – 01h20. O texto pode ser lido também aqui.

Leia Mais:
Para padre Marcelo Rossi, o perigo é esquecer a oração e cair na política – Diógenes Campanha: Folha de S. Paulo 29/04/2013 – 03h00
Padre que defende homossexualidade pede afastamento da Igreja – Cristina Camargo: Folha de S. Paulo 27/04/2013 – 14h06
Mais padre Beto, menos padre Marcelo – Matheus Pichonelli: CartaCapital 30/04/2013 12:18

Feliciano e os defensores da moral e dos bons costumes

“Caso Marco Feliciano”: um paradigma na relação religião-mídia-política no Brasil

Magali do Nascimento Cunha

IHU: 15 abril 2013

“Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso”, afirma Magali do Nascimento Cunha, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora da Universidade Metodista de São Paulo e autora do livro A Explosão Gospel. Um Olhar das Ciências Humanas sobre o cenário evangélico contemporâneo (Ed. Mauad).

Segundo ela, “o caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os evangélicos se colocam como um blocoMagali do Nascimento Cunha organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos”.

“Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora – continua Magali – em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz”.

Para a jornalista, “é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica”.

Eis o artigo.

Nestes meses de março e abril de 2013 temos lido, ouvido e assistido a um episódio sem precedentes no Congresso Nacional, que coloca em evidência a relação religião-política-mídia. Em 5 de março foi anunciada pelo Partido Socialista Cristão (PSC), a indicação do membro de sua bancada o pastor evangélico deputado federal Marco Feliciano (SP) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal (CDH). Foram imediatas as reações de grupos pela causa dos Direitos Humanos ao nome de Marco Feliciano, com a alegação de que o deputado era conhecido em espaços midiáticos por declarações discriminatórias em relação a pessoas negras e a homossexuais. O PSC se defendeu dizendo que seguiu um protocolo que lhe deu o direito de indicar a presidência dessa comissão, um processo que estava dentro dos trâmites da democracia tal como estabelecida no Parlamento brasileiro. Isto, certamente, é fonte de reflexões, em especial quanto ao porquê da defesa dos Direitos Humanos ser colocada pelos grandes partidos como “moeda de troca barata”, como bem expôs Renato Janine Ribeiro em artigo publicado no Observatório da Imprensa (n. 740, 2/4/2013). Soma-se a isto o fato de o deputado indicado e o seu partido não apresentarem qualquer histórico de envolvimento com a causa dos Direitos Humanos que os qualificassem para o posto.

O que tem chamado a atenção neste caso, e que é objeto desta reflexão, é a “bola de neve” que ele provocou a partir das reações ao nome do deputado, formada por protestos públicos da parte de diversos segmentos da sociedade civil, mais a criação de uma frente parlamentar de oposição à eleição de Feliciano, e pelo estabelecimento de uma guerra religiosa entre evangélicos e ativistas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT), e entre evangélicos e não-cristãos. E esta bola de neve é produto de fatores que se apresentam para além da CDH, e a expõem como um elemento a mais no complexo quadro da relação entre religião e sociedade no Brasil. Pensemos um pouco sobre estes fatores; vamos elencar quatro.

1. A reconfiguração do lugar dos evangélicos na política

Desde o Congresso Constituinte de 1986 e a formação da primeira Bancada Evangélica e seus desdobramentos, a máxima “crente não se mete em política” construída com base na separação igreja-mundo foi sepultada. A máxima passou a ser “irmão vota em irmão”.

Depois de altos e baixos em termos numéricos, decorrentes de casos de corrupção e fisiologismo, a bancada evangélica se consolidou como força no Congresso Nacional, o que resultou na criação da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em 2004, ampliada nas eleições de 2010 para 73 congressistas, de 17 igrejas diferentes, 13 delas pentecostais. Os parlamentares evangélicos não são identificados como conservadores, do ponto de vista sociopolítico e econômico, como o é a Maioria Moral nos Estados Unidos, por exemplo. Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo.

Mais recentemente é o forte tradicionalismo moral que tem marcado a atuação da FPE, que trouxe para si o mandato da defesa da família e da moral cristã contra a plataforma dos movimentos feministas e de homossexuais, valendo-se de alianças até mesmo com parlamentares católicos tradicionalistas, diálogo impensável no campo eclesiástico.

Os números do Censo 2010 são fonte para a demanda de legitimidade social entre os evangélicos, e certamente de conquista de mais espaço de influência. Estudos mostram que desde 2002, período da legislatura em que a FPE foi criada, a cada eleição, o número de evangélicos no Parlamento (Câmara e Senado) aumenta em torno de 30% do total anterior. A estimativa, mantido este índice, é de chegarem a 100 cadeiras em 2014, o que representaria em torno de 20% das 513 do Congresso, refletindo a representatividade dos evangélicos no Brasil revelada pelo Censo 2010. Este é um projeto cada vez mais nítido deste segmento social que certamente visa, como os demais grupos políticos, muito mais do que cadeiras no Congresso, mas também presidências de comissões e de ministérios relevantes (para além do único atual tímido Ministério da Pesca, sob a liderança do bispo da Igreja Universal do Reino de Deus Marcelo Crivela).

A polêmica com Marco Feliciano deixa este projeto em evidência, já que não só uma presidência inédita de comissão foi alcançada, mas também maior visibilidade aos evangélicos na política e ao próprio PSC, que tem o nome “Cristão”, mas sempre se caracterizou como um partido de aluguel para quem desejasse candidatura independentemente de confissão de fé. Pelo fato de estar nas manchetes durante semanas, o PSC já prevê que Feliciano, eleito com 212 mil votos por São Paulo em 2010, se tornará um “campeão de votos” nas próximas eleições, podendo atingir um milhão de votos, e ainda alavancará a candidatura do pastor Everaldo Pereira (PSC/SP) a presidente da República. Aliado de Marco Feliciano, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Silas Malafaia, figura sempre presente nas mídias, declarou: “Se o Feliciano tiver menos de 400 mil votos na próxima eleição, eu estou mudando de nome”.

Mais uma vez, é possível afirmar que a cada novo episódio, a relação evangélicos- política é dinâmica complexa que inclui disputas por poder e hegemonia no campo religioso, ambição dos políticos que veem no pragmatismo dos evangélicos fonte para suas barganhas de campanha, concorrência de grupos que competem por poder sociopolítico e econômico como as empresas de mídia, como veremos adiante.

2. O conservadorismo de Marco Feliciano e de seus “soldados”

A imagem dos “evangélicos” foi construída fundamentalmente com base na identidade de dois grupos de cristãos não-católicos: os protestantes de diferentes confissões que chegaram ao Brasil por meio de missões dos Estados Unidos, a partir da segunda metade do século XIX, e os pentecostais, que aportaram em terras brasileiras na primeira década do século XX, vindos daquele mesmo país. Esta imagem sempre mostrou ao Brasil um segmento cristão predominantemente conservador teologicamente, marcado por um fundamentalismo bíblico, um dualismo que separava a igreja do “mundo”/a sociedade e um anticatolicismo.

Desta forma, não é surpresa que um pastor evangélico, no caso Marco Feliciano, reproduza em seus sermões modernos e de forte apelo emocional, uma abordagem teológica tão antiga como a que embasa a ideologia racista, por meio da leitura fundamentalista de textos do Gênesis que contêm a narrativa da descendência de Noé. Também não é surpresa que Marco Feliciano conduza sua reflexão teológica por meio de bases que justifiquem a existência de um Deus Guerreiro e Belicoso, que tem ao seu redor anjos vingadores, que destrói do Titanic a John Lenon ou aos Mamonas Assassinas, continuando o que já fazia com os povos africanos herdeiros do filho de Noé, e que, nesta linha, certamente fará aos que assumem e apregoam o homossexualismo. Menos surpreendente é ainda que o líder religioso reaja a quem lhe faz oposição ou tenha posição diferente da sua classificando-o como agente do diabo e assim foram sinalizadas a própria formação anterior da Comissão de Direitos Humanos e celebridades como o cantor Caetano Veloso.

Quem se surpreende com o que Feliciano diz e com o apoio que ele recebe de diversos segmentos evangélicos desconhece o DNA deste grupo. Não há nada de novo aqui. O que há é maior visibilidade pela projeção que a mídia religiosa e não-religiosa têm dado a este discurso. Em 2010, por exemplo, o pastor estadunidense Pat Robertson, dono de um canal de televisão, declarou que o trágico terremoto no Haiti naquele ano era consequência de um pacto dos haitianos com o diabo no passado para se tornarem independentes da França. A declaração de Robertson, amplamente veiculada, provocou manifestações contrárias em todo o mundo. As palavras de Marco Feliciano no Brasil de 2013 são apenas o eco da mesma teologia.

Há algo novo, sim, neste processo, relacionado à articulação dos apoios a Feliciano que coloca em evidência o conservadorismo, antes atribuído mais diretamente aos evangélicos, que reflete uma tendência forte na sociedade brasileira de um modo geral.

É nesse contexto que o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), suplente da CDH, afirmou que se sente como “irmão” do presidente da comissão. “Como capitão do Exército, sou um soldado do Feliciano”, declarou Bolsonaro, em matérias divulgadas pelas mídias em 27 de março, e acrescentou: “A agenda antes era outra, de uma minoria que não tinha nada a ver. Hoje, representamos as verdadeiras minorias. Acredito no Feliciano, de coração. Até parece que ele é meu irmão de muito tempo. Não sinto mais aquele cheiro esquisito que tinha aqui dentro e aquele peso nas costas. Aqui, era uma comissão que era voltada contra os interesses humanos, contra os interesses das crianças e contra os interesses da família. Agora, essa comissão está no caminho certo. Parabéns, Feliciano”.

O deputado Bolsonaro tem um histórico de posicionamentos racistas e de conflito com ativistas sociais e militantes de movimentos gays. Em novembro de 2011, ele chegou a pedir, da tribuna da Câmara, à presidente Dilma Rousseff para que ela assumisse se gostava de homossexuais. Em março do mesmo ano, respondeu que “não discutiria promiscuidade” ao ser questionado em um programa de TV pela cantora Preta Gil sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra.

No campo das igrejas, o já citado pastor Silas Malafaia, conhecido por polêmicas midiáticas desde a campanha presidencial de 2010, se alistou nas fileiras do deputado Feliciano e se tornou seu árduo defensor e colaborador desde o início da controvérsia da presidência da CDH. Até a Igreja Católica, explícita em suas posições quanto à ampliação de direitos civis de homossexuais, mas clássico “inimigo” dos evangélicos, é colocada por Feliciano na lista de aliados. Em entrevista à TV Folha-UOL (2/4/2013), o deputado explicitou: “Tenho alguns contatos com algumas pessoas da CNBB, mas com os grandes líderes do movimento católico não tive contato até porque quase não tenho tempo. Acredito que, nesse momento, todos eles me conhecem até porque o que eu sofro hoje de perseguição dado ao movimento LGBT, a Igreja Católica sofre isso no mundo todo. Inclusive, o novo papa, o papa Francisco, na Argentina quase foi linchado por esse grupo. Então, nós temos algumas coisas que, acredito, nos fazem pensar igual.(…) Eu fiquei feliz por termos ali um papa que ainda é bem ortodoxo, é bem conservador e que prima por aquilo eu acredito também, que a família é a base da sociedade. Aliás, a família é antes da sociedade”.

Estas alianças estão produzindo efeitos até na qualidade do discurso de Marco Feliciano. Os benefícios proporcionados pela aproximação com lideranças mais experientes ficam evidentes nas mudanças no discurso do deputado como: “Só saio da presidência da CDH morto” para “Só saio da presidência da CDH se os deputados condenados pelo julgamento do mensalão, José Genoíno e João Paulo Cunha, deixarem a Comissão de Constituição e Justiça”. Com isso, Feliciano atraiu para si a simpatia da mídia que se fartou na cobertura do julgamento do Superior Tribunal de Justiça e de segmentos conservadores, que, embora não concordem com seu nome na presidência da CDH, querem “a cabeça” dos condenados. Feliciano usa uma controvérsia ética para justificar a controvérsia de sua própria eleição – a CDH como moeda de troca partidária.

Alianças do religioso com o não-religioso formando exércitos que marcham em defesa da moral e dos bons costumes – em defesa da família – não é algo novo no Brasil, mas é bastante novo no espaço político que envolve os evangélicos e suas conquistas na esfera pública. Em matéria na Folha de São Paulo, de 7/4/2013, o diretor do instituto de pesquisa Datafolha, Mauro Paulino, declarou que o discurso de Feliciano atinge preocupações de parte da população: “Entre os brasileiros, 14% se posicionam na extrema direita. As aparições na imprensa dão esse efeito de conferir notoriedade a ele.” Isto significa que apesar dos tantos slogans divulgados em manifestações presenciais e nas redes sociais – “Feliciano não me representa” – Feliciano, Bolsonaro e tantos outros são eleitos e ganham espaço e legitimidade. Portanto, há quem se sinta representado, sim, não somente do ponto de vista da popularidade mas do peso das articulações ideológicas em curso na sociedade brasileira.

3. Inimigos, um componente do imaginário evangélico

Exércitos precisam de inimigos. A teologia de um Deus Guerreiro e Belicoso sempre esteve presente na formação fundamentalista dos evangélicos brasileiros, compondo o seu imaginário e criando a necessidade da identificação de inimigos a serem combatidos. Historicamente a Igreja Católica Romana sempre foi identificadas como tal e sempre foi combatida no campo simbólico mas também no físico-geográfico. Da mesma forma as religiões afro-brasileiras também ocupam este lugar, especialmente, no imaginário dos grupos pentecostais.

Periodicamente, estes “inimigos” restritos ao campo religioso perdem força quando ou se renovam, como é o caso da Igreja Católica, a partir dos anos de 1960, ou quando aparecem outros que trazem ameaças mais amplas. Assim foram interpretados os comunistas no período da guerra fria no mundo e da ditadura militar. Há também um imperativo imaginário de se atualizar os combates, quando a insistência em determinados grupos leva a um desgaste da guerra. Durante o processo de redemocratização brasileira nos anos 80, o espaço que vinha sendo conquistado pelo Partido dos Trabalhadores, interpretado como nítido representante do perigo comunista, foi reconhecido como ameaça e campanhas evangélicas contra o PT reverberaram de forma religiosa o que se expunha nas trincheiras da política.

Com o enfraquecimento do ideal comunista nos anos 90 e com o PT chegando ao poder nacional com o apoio dos próprios evangélicos, a força das construções ideológicas estadunidenses abriu lugar à atenção à ameaça islâmica e houve algum espaço entre evangélicos no Brasil para discursos de combate ao islam. No entanto, como esta ameaça está bem distante da realidade brasileira – não se configura um inimigo tão perigoso nestas terras -, emerge, mais uma vez, o imperativo de se atualizar os combates. Não mais catolicismo, nem comunismo, não tanto islamismo… quem se configuraria como novo inimigo? Desta vez, um inimigo contra a religião e seus princípios, contra a Bíblia, contra Deus, contra o Brasil e as famílias: o homossexualismo.

Declarações de Marco Feliciano na mídia noticiosa expressam bem este espírito belicoso: “É um assunto tão podre! Toda vez que se fala de sexo entre pessoas do mesmo sexo ninguém quer colocar a mão, porque é podre. Por causa disso, um grupo de 2% da população – os gays – consegue se levantar e oprimir uma nação com 90% de cristãos, entre católicos e evangélicos, e até pessoas que não têm religião, mas que primam pelo bem-estar da família, pelo curso natural das coisas” (Rede Brasil Atual, 1/3/2013). “Existe uma ditadura chamada (…) “gayzista”. Eles querem impor o seu estilo de vida e a sua condição sobre mim. E eles lutam contra a minha liberdade de pensamento e de expressão. Eles lutam pela liberdade sexual deles. Só que antes da liberdade sexual deles, que é secundária, tem que ser permitida a minha liberdade intelectual. A minha liberdade de expressão. Eu posso pensar. Se tirarem o meu poder de pensar, eu não vivo. Eu vegeto e morro”. (TV Folha-UOL, 2/4/2013).

Consequência da eleição de inimigos e do combate a eles é o discurso de que há uma perseguição a quem se faz contrário, promovida pelo maior inimigo de Deus, Satanás. Esta ideia está claramente presente em afirmações de Feliciano como: “Eu morro, mas não abandono minha fé”; “A situação está tomando dimensões muito estranhas. É assustador, estou me sentindo perseguido como aquela cubana lá. Como é o nome? A Yoani Sánchez”; “Se é para gritar, tem um povo que sabe o que é grito. […] Nós (evangélicos) sabemos qual é o poder da nossa fé.”

A insistência da mídia noticiosa em enfatizar a guerra Feliciano-homossexuais, com o lado “inimigo” representado por um deputado, na mesma condição do primeiro, Jean Wyllys (PSOL/RJ), ativista do movimento LGBT, só faz reforçar a reconstrução do imaginário evangélico da guerra aos inimigos e da perseguição consequente. Isso tem gerado manifestações diversas de apoio a Feliciano entre evangélicos dos mais diferentes segmentos e ações como a da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), realizada em Brasília neste abril, que aprovou uma moção de apoio a Feliciano, aprovada em votação simbólica por unanimidade. Feliciano agradeceu o apoio dizendo que “nunca houve uma comissão com tanta oração. Os pastores estão orando pela minha vida e pela comissão. Venceremos esta batalha”.

Há ainda uma explosão de postagens em nas mídias digitais, em especial nas redes sociais. Por exemplo, uma montagem com foto de Marco Feliciano com uma faixa presidencial tem sido veiculada por usuários do Facebook, e, na primeira semana de abril já havia superado a marca de 65 mil compartilhamentos. A campanha pede que favoráveis à candidatura do pastor à presidência da República em 2014 compartilhem a imagem para demonstrar força nas redes sociais: “Campanha urgente: Marco Feliciano presidente do Brasil”, diz o texto.

Uma segunda imagem com comparações entre Marco Feliciano e Jean Wyllys também veiculada no Facebook, já havia superado 100 mil compartilhamentos em meados de abril, registrando mais de 7,5 mil comentários. Na imagem, há dados sobre o número de votos de cada um dos deputados, além de comparações entre as bandeiras políticas defendidas por cada um deles. A imagem quando compartilhada revela declarações pessoais de quem “curtiu” com texto que manifesta apoio ao pastor Feliciano: “Eu sou cristão, a favor da democracia, da vida e da família brasileira. Marco Feliciano me representa”.

A declaração de Silas Malafaia à Folha de São Paulo (7/4/2013) sobre a repercussão do caso entre os evangélicos e simpatizantes reflete bem este espírito: “Quero agradecer ao movimento gay. Quanto mais tempo perderem com o Feliciano, maior será a bancada evangélica em 2014”.

Toda e qualquer análise e ação em torno da presença dos evangélicos nas mídias e na política não pode ignorar esta dimensão do imaginário da necessidade da criação de inimigos e da consequente perseguição. Isto é característico de religiões numericamente não-majoritárias, sendo portanto, fruto, entre outros aspectos, do caráter minoritário da presença evangélica em terras brasileiras.

4. As transformações e as revelações na relação mídia-religião

O histórico da presença evangélicas nas mídias não-religiosas no Brasil revela a hegemonia católica-romana que vem pouco a pouco sendo diminuída por conta do espaço que os evangélicos vêm conquistando na esfera pública. Enquanto católicos sempre apareceram para expressar sua fé nas datas clássicas do calendário religioso e para se manifestar sobre temas amplos, à exceção dos casos controversos inevitáveis como a pedofilia praticada por clérigos, cuidadosamente tratados, evangélicos tinham espaço garantido quando se tratava de escândalos de corrupção ou situações bizarras.

Na última década, a expressiva representatividade dos evangélicos no país com o consequente declínio do catolicismo, e a ampliação de sua presença nas mídias e na política, torna este segmento não só visível mas um alvo mercadológico. As mídias passam a prestar a atenção no segmento e na lucratividade possível, em torno da cultura do consumo vigente.

Um exemplo ilustrativo se dá quando um personagem, por vezes protagonista, por vezes coadjuvante, como o pastor Silas Malafaia, que assume o papel da pessoa controvertida em todo este contexto e constrói sua imagem midiática como “aquele que diz as verdades”, é convidado para uma conversa com o vice-diretor das Organizações Globo, João Roberto Marinho (PINHEIRO, Daniela. Vitória em Cristo. Revista Piauí, n. 60, set 2011). Aí é possível identificar o patamar em que se encontra o segmento evangélico nas mídias. Segundo depoimento do pastor depois da conversa, Marinho teria alegado precisar conhecer mais o mundo dos evangélicos já que a emissora teria percebido que Edir Macedo não seria “a voz” dos protestantes no Brasil. O pastor Malafaia ganhou, então, trânsito em um canal destacado de comunicação e teve várias aparições no programa de maior audiência da Rede Globo, o Jornal Nacional.

Além do contato com Malafaia, as Organizações Globo, por meio da gravadora Som Livre, já contrataram grandes nomes do mercado da música evangélica que têm, a partir daí, espaço garantido na programação da Rede Globo. A Globo tirou da Rede Record, em 2011, o evento de premiação dos melhores da música evangélica, tendo criado o Troféu Promessas. A Rede Globo é também, a partir de 2011, patrocinadora de eventos evangélicos como a Marcha para Jesus e de festivais gospel.

Noticiário inédito do mundo evangélico tem ganhado espaço na Rede, como por exemplo, a matéria sobre a reeleição de José Wellington Bezerra à presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus veiculada em matéria de 1’44 no Jornal da Globo, de 1’52 na Globo News, em 11 de abril, além de nota na CBN e no portal G1.

Neste contexto, o caso Marco Feliciano tem sido amplamente tratado pela grande mídia. Feliciano já foi entrevistado por todos os grandes veículos de imprensa e já participou dos mais variados programas de entretenimento – de talk-shows a games. Foi tratado com simpatia na entrevista de Veja e defendido pelo jornalista Alexandre Garcia em comentário na Rádio Metrópole (5/4/2013) com o argumento de “liberdade de opinião”. Fica nítido que estes veículos não desprezam a dimensão do escândalo e da bizarrice relacionada ao caso, somada à atraente questão da homossexualidade que mexe com as emoções e paixões humanas e expõe a vida íntima de celebridades, como o caso da cantora Daniela Mercury que veio à tona na trilha desta história.

No entanto, o amplo espaço dado para que Feliciano e seus aliados exponham seus argumentos e sejam exibidos como simpáticos bons sujeitos revela que estas personagens ganham um tratamento bastante afável em comparação à execração imposta a outras em situações críticas da política brasileira, como a que envolveu os parlamentares do PT. Não temos aqui apenas os evangélicos como um segmento de mercado a ser bem tratado, mas, retomando a constatação de que Feliciano, Malafaia e Bolsonaro representam uma parcela conservadora da sociedade brasileira, é possível que haja uma identidade entre estes líderes e quem emite e produz conteúdos das mídias. Afinal, é a mesma mídia que constrói notícias sobre crimes protagonizados por crianças e adolescentes de forma a promover uma “limpeza” das cidades por meio de campanha por redução da maioridade penal no Brasil, ou que veicula programas que trazem enquetes durante um noticiário sobre crimes urbanos que indagam: “Ligue XXX ou YYY para indicar qual pena merece o criminoso? XXX para prisão ou YYY para morte”.

São transformações na relação mídia e religião, com efeitos políticos, que merecem ser monitoradas e esclarecidas, tendo em vista a complexidade das relações sociais, em especial no que diz respeito à religião, e que devem ser potencializadas no ano eleitoral que se aproxima.

Um paradigma

O caso Marco Feliciano pode ser considerado um paradigma pelo fato de ser a primeira vez na história em que os evangélicos se colocam como um bloco organicamente articulado, com projeto temático definido: uma pretensa defesa da família. Com a polarização estimulada pelas mídias entre o deputado Feliciano e ativistas homossexuais foi apagada a discussão de origem quanto à indicação do seu nome em torno das afirmações racistas e de seu total distanciamento da defesa dos direitos humanos.

Torna-se nítida uma articulação política e ideológica conservadora em diferentes espaços sociais – do Congresso Nacional às mídias – que reflete um espírito presente na sociedade brasileira, de reação a avanços sociopolíticos, que dizem respeito não só a direitos civis homossexuais e das mulheres, como também aos direitos de crianças e adolescentes, às ações afirmativas (cotas, por exemplo) e da Comissão da Verdade, e de políticas de inclusão social e cidadania. Nesta articulação a religião passa a ser instrumentalizada, uma porta-voz.

A postagem de um pastor de uma igreja evangélica no Facebook reflete bem este espírito: “Devemos nos unir cada vez mais, já somos milhões de evangélicos no Brasil, fora os simpatizantes. Temos força, é claro que nossa força vem de Deus. Precisamos nos mobilizar contra as forças das trevas, que querem desvirtuar os bons costumes e a moral e, principalmente que querem afetar a honra da família. Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar e orar, não tem capeta que resista”. E as palavras de Marco Feliciano ecoam como profecia: “Graças a Deus permanecemos firmes até aqui. Chegará o tempo que nós, evangélicos, vamos ter voz em outros lugares. O Brasil todo encara o movimento evangélico com outros olhos”.

Nesse sentido é possível afirmar que os grupos políticos e midiáticos conservadores no Brasil descobriram os evangélicos e o seu poder de voz, de voto, de consumo e de reprodução ideológica. A ascensão de Celso Russomano nas eleições municipais de São Paulo, em 2012, já havia sido exemplar: um católico num partido evangélico, apoiado por grupos evangélicos os mais distintos. A eleição da presidência da CDH é paradigmática no campo nacional e ainda deve render muitos dividendos a Feliciano, ao PSC, à Bancada Evangélica e a seus aliados. O projeto político que se desenha, de fato, pouco ou nada tem a ver com a defesa da família… os segmentos da sociedade civil, incluindo setores evangélicos não identificados com o projeto aqui descrito, que defendem um Estado laico e socialmente justo, têm grandes tarefas pela frente.

Reflexões sobre o Conselho criado pelo Papa Francisco

O jornalista norte-americano John L. Allen Jr., responsável pela cobertura do Vaticano para a publicação online National Catholic Reporter, fez, em 14/04/2013, uma análise preliminar sobre o Conselho de 8 cardeais criado pelo Papa Francisco para aconselhá-lo no governo da Igreja universal e para estudar um projeto de revisão da Constituição Apostólica Pastor Bonus sobre a Cúria romana.

Escrevendo apenas 24 horas após a criação do Conselho, ele destaca, em seu texto, cinco pontos que considera importantes.

O artigo tem o título de Cinco pensamentos sobre o novo ‘G8’ do Papa – Five thoughts on the pope’s new ‘G8’.

Resumidamente, ele diz que:
1. Mais do que reformar a Cúria, a função primordial do grupo é aconselhar o Papa no governo da Igreja
2. Os escolhidos têm personalidades fortes e não são “vaquinhas de presépio” que vão dizer apenas o que o Papa quer ouvir
3. Na escolha dos cardeais há uma evidente ampliação da colegialidade na Igreja, pelo menos em três níveis. As Conferências Episcopais, por exemplo, podem estar recuperando sua importância na linha do Vaticano II
4. A Secretaria de Estado tem, assim, suas asas cortadas, ficando, como se previa, muito mais enfraquecida
5. E, finalmente, percebe-se uma inversão de papeis no “quem é quem” do Vaticano, com a importância que, a partir de agora, assumem cardeais como Maradiaga e O’Malley

Recomendo a leitura completa do artigo, do qual transcrevo apenas trechos. E, se entendi direito, penso que os conservadores já podem ficar preocupados com a orientação descentralizadora de alguns dos nomes do Conselho…

Diz John L. Allen Jr. (veja o texto em português aqui):

1. A Cabinet, not a blue-ribbon commission
In some early reporting, the mission of this body has been described as helping Francis to reform the Roman Curia. Yet reading Saturday’s announcement, that’s not what it says. The key line states that Francis has assembled this group “to advise him in the government of the universal church,” and only then “to study a plan for revising the Apostolic Constitution on the Roman Curia, Pastor Bonus.” In other words, curial reform is only the second task. The first is to advise the pope on decisions about the universal church, meaning there’s almost nothing that falls outside its purview…

2. Not ‘yes’ men
Looking at the list of eight cardinals Francis picked, they’re strong personalities rather than ‘yes’ men inclined simply to tell the pope what he wants to hear…

3. Collegial on multiple levels
The decision to assemble this group of advisers comes off as an act of collegiality, meaning shared authority, on at least three levels (…) First (…) this is a way of implementing the call for greater collegiality that goes all the way back to the Second Vatican Council (1962-65). Second, this group is clearly designed to be geographically representative, including at least one cardinal from each continent (…) Third (…) those picks were unlikely to have been accidents. They suggest a revitalization of the role of bishops’ conferences, both nationally and regionally…

4. Clipped wings for the Secretariat of State
Since the election of the new pope, there has been a steady drumbeat of speculation in Rome about whom Francis might pick as the next Secretary of State, with that choice usually styled as the key first test of how serious Francis may be about reform. In light of Saturday’s announcement, however, it now seems less critical who takes over from Bertone because the role of the Secretariat of State seems destined to be diminished under Francis. Rather than being the über-dicastery where all the important decisions about church governance are made, it may function more like a support staff to the pope and his body of eight advisers…

5. Role reversals for Rodriguez Maradiaga and O’Malley
There’s nothing like the election of a new pope to reshuffle the deck in the church in terms of who’s up and who’s down, and the choice of Francis clearly illustrates that principle for two of the cardinals named to this “G8”: Rodriguez Maradiaga of Honduras and O’Malley of Boston. Not so long ago, the consensus among church-watchers was that Rodriguez Maradiaga was basically dead in the water…

Francisco cria Conselho para a reforma da Cúria

Los “hombres” del Papa: Bertello, Errázuriz, Gracias, Marx, Pasinya, O’Malley, Pell, Maradiaga, Semeraro… Con representación de los cinco continentes, y sin presencia del aparato curial… Se acabaron los gestos, comienza la limpieza (Jesús Bastante).

Papa cria comissão de cardeais para reformar a Cúria – Notícias: IHU On-Line 13/04/2013

O papa Francisco acaba de anunciar, na manhã de hoje, 13/04/2013, a criação de um Conselho de Cardeais para reformar a Cúria Romana. No mesmo dia em que Jorge Mario Bergoglio cumpre um mês da sua eleição como Papa, o Bispo de Roma cumpre um dos compromissos assumidos nas congregações gerais prévias do Conclave: a reforma da Cúria Romana. Segundo Jesús Bastante, diretor do sítio Religión Digital, “acabaram-se os gestos, começa a limpeza”.

A sala de imprensa do Vaticano, na manhã de hoje, publica a seguinte informação:

Il Santo Padre Francesco, riprendendo un suggerimento emerso nel corso delle Congregazioni Generali precedenti il Conclave, ha costituito un gruppo di Cardinali per consigliarLo nel governo della Chiesa universale e per studiare un progetto di revisione della Costituzione Apostolica Pastor Bonus sulla Curia Romana.

O Santo Padre Francisco, seguindo uma sugestão surgida no decorrer das Congregações gerais que precederam o conclave, constituiu um grupo de cardeais para aconselhá-lo no governo da Igreja universal e para estudar um projeto de revisão da Constituição Apostólica Pastor Bonus sobre a Cúria Romana. O Conselho será coordenado por Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras. A primeira reunião coletiva do grupo será realizada nos dias 1 a 3 de outubro de 2013.

O grupo é constituído pelos seguintes cardeais:

  • Cardeal Giuseppe Bertello, Presidente da Governadoria do Estado da Cidade do Vaticano
  • Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arcebispo emérito de Santiago do Chile
  • Cardeal Oswald Gracias, Arcebispo de Bombaim – Índia
  • Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de München [Munique] e Freising – Alemanha
  • Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo di Kinshasa – República Democrática do Congo
  • Cardeal Sean Patrick O’Malley, Arcebispo de Boston – USA
  • Cardeal George Pell, Arcebispo di Sydney – Austrália
  • Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, Arcebispo di Tegucigalpa – Honduras, que coordenará o Conselho
  • Dom Marcello Semeraro, Bispo di Albano – Itália, secretário do Conselho

El Papa crea una comisión de cardenales para reformar la Curia –  Jesús Bastante: Religión Digital 13/04/2013

Maradiaga será el coordinador de la misma. Bertello se perfila como futuro Secretario de Estado. Con representación de los cinco continentes, y sin presencia del aparato curial. Se acabaron los gestos: Francisco acaba de anunciar la creación de un consejo de cardenales para reformar la Curia Romana. El mismo día en que Jorge Mario Bergoglio cumple un mes de su elección como Papa, el Obispo de Roma cumple con uno de los compromisos que ya apuntó en las congregaciones previas al Cónclave: la reforma del aparato curial. Comienza la limpieza.

Os não-católicos e o Papa Francisco

É extremamente duvidoso que venhamos a ter outro João XXIII. Mas também era extremamente duvidoso que fôssemos ter o primeiro João XXIII.


Uma coisa que vale a pena assinalar é que mesmo aqueles católicos proeminentes que foram tratados mais duramente pela Igreja ou que estão mais desiludidos com o estado da Igreja – estou a pensar em Frei Betto do Brasil, Ernesto Cardenal da Nicarágua, Hans Küng da Alemanha, ou Garry Wills dos Estados Unidos – não renegam a sua pertença à Igreja. Continuam a tentar transformá-la ou, no seu ponto de vista, a trazê-la de volta à sua original e verdadeira missão. Nós, os restantes, não podemos “desistir” do Vaticano, como não o podemos fazer em relação à China ou aos Estados Unidos ou a qualquer outro lugar que seja uma sede de comportamento humano e de potencial transformação social.

Leia o artigo de Immanuel Wallerstein: Os não-católicos devem se preocupar com um papa? Em Carta Maior: 07/04/2013.

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