Google Scholar em português tem o nome de Google Acadêmico

Está na Folha Online de hoje – 11.01.2006, às 16h35 – esta boa notícia: Google acadêmico ganha versão em português

 

Depois de criar uma versão em português para a busca de notícias, o gigante das buscas fez o mesmo com o Google Scholar, sua ferramenta voltada para trabalhos acadêmicos. Assim como em outras páginas da empresa, o usuário pode escolher se quer resultados em diversas línguas ou somente em português. Entre as alternativas estão relatórios técnicos, resumos e artigos científicos. Os internautas não têm acesso a parte deste conteúdo, pois ele está disponível somente off-line – ainda assim, é possível ver onde estes trabalhos foram citados e suas fontes de informação (editoras e universidades, por exemplo). Segundo a empresa, o objetivo desta busca segmentada é facilitar o trabalho de outros pesquisadores. “A ferramenta permite que eles [pesquisadores] resgatem o que já foi feito sobre o assunto de seu interesse até os dias de hoje”, diz um comunicado do Google (continua)…

Agora é preciso que editoras e bibliotecas brasileiras incluam o mais rápido possível suas publicações no Google Acadêmico!

Ouvir, Ler e Escrever: o curso de Língua Hebraica Bíblica

O curso de Língua Hebraica Bíblica compreende apenas 30 horas no segundo semestre do primeiro ano de Teologia. É um tempo insuficiente mesmo para a aprendizagem elementar do hebraico bíblico. Por isso – utilizando recursos de audição do hebraico, projeção com datashow, imagens gif que mostram a construção do alfabeto, somados à distribuição de CDs com o aplicativo e vários outros recursos para uso em casa – o curso se propõe apenas familiarizar o estudante de Teologia com o universo da língua hebraica e o modo semítico de pensar. No transcorrer das aulas os três itens principais – ouvir, ler e escrever – são trabalhados simultaneamente e não sequencialmente. Este curso está disponível para download na Ayrton’s Biblical Page.

I. Ementa
Introdução elementar à língua hebraica bíblica, que parte de um texto específico, Gn 1,1-8, e trabalha com os elementos de ortoépia (pronúncia normal e correta dos sons), ortografia (escrita correta das palavras) e etimologia (formação das palavras e suas flexões) encontrados neste pequeno trecho. O método escolhido foi o de ouvir, ler e escrever a língua hebraica. Informações complementares sobre a história da língua e análise do vocabulário de Gn 1,1-8 também são oferecidas.

II. Objetivos
Trabalha conceitos semíticos importantes para a compreensão do texto bíblico veterotestamentário.

III. Conteúdo Programático
História
O hebraico é uma língua semítica. As línguas semíticas constituem um ramo da grande família das línguas afro-asiáticas, anteriormente chamada camito-semítica. A família afro-asiática compreende seis ramos: semítico, egípcio, berbere, cuxita, homótico e chádico. Nesta seção o hebraico é situado no grande quadro das línguas semíticas e tenta-se, em seguida, esboçar uma rápida história da língua hebraica, salientando suas características específicas.

  • Línguas Semíticas
  • Hebraico

1. Ouvir
Ouvir repetidamente o hebraico. Até o ouvido se acostumar com os sons estranhos. Não há aqui a preocupação em entender. O objetivo é fixar a atenção nos sons e acompanhar o texto de cada versículo, palavra por palavra. Até começar a distinguir onde está o leitor, no caso o cantor.

  • Ouvir Gn 1,1-8

2. Ler
Nesta seção o objetivo é tentar ler o hebraico. Está disponível, para cada versículo de Gn 1,1-8, a pronúncia e a transliteração. A pronúncia está bem simplificada, somente chamando a atenção para as tônicas, sem dizer se o som da vogal é aberto ou fechado. Já a transliteração, representação dos caracteres hebraicos em caracteres latinos, é uma coisa complicada e tem que ser detalhada. Há transliteração de cada palavra, e também de cada consoante, vogal e semivogal (shevá, em hebraico). É algo trabalhoso e parece desnecessário, mas o estudante de hebraico tem que se acostumar com a idéia de que o som da língua nada, ou quase nada, tem a ver com o português! O hebraico tem suas próprias características. E a transliteração o ajuda a perceber isso.

  • Ler Gn 1,1-8
  • O Alfabeto

3. Escrever
Escrever o hebraico… parece ruim, mas é necessário! Nesta seção o estudante vai aprender algumas regras básicas da gramática hebraica. Regras que permitirão uma escrita mínima de palavras e expressões. Mas a gramática é muito mais do que isto que aí está. Para isso existe uma bibliografia com gramáticas, vocabulários, dicionários… E há revisões. Uma para cada versículo. As revisões ajudarão o estudante de hebraico verificar o seu nível de absorção do ouvir, do ler e do escrever. Poderão servir igualmente para as avaliações da disciplina.

  • As Sílabas
  • O Shevá
  • O Dâghesh
  • Revisão I
  • Vav Conjuntivo
  • O Artigo
  • As Preposições
  • Revisão II
  • O Substantivo
  • Revisão III
  • O Adjetivo
  • Os Numerais
  • Revisão IV
  • O Verbo I
  • Revisão V
  • O Verbo II
  • Vav Consecutivo
  • Revisão VI
  • O Verbo III
  • Revisão VII

Vocabulário
Nesta seção o que se pretende é analisar o vocabulário de Gn 1,1-8 no seu contexto. Serve, entre outras coisas, como preparação para o estudo de uma parcela (mínima, mas importante) do Pentateuco, que é estudado no mesmo semestre.

IV. Bibliografia
Básica
BUSHELL, M. BibleWorks 9. Norfolk, Virginia: BibleWorks, LLC, 2011. Confira também: Como usar o BibleWorks 8

DA SILVA, A. J. Noções de hebraico bíblico. Aplicativo em linguagem html. Brodowski, 2001. Revisto em 10.04.2014.

DA SILVA, A. J. Programas gratuitos ou não para estudos bíblicos – Observatório Bíblico: 24.05.2010

Complementar
DA SILVA, A. J. Barra de ferramentas para estudos bíblicos – Observatório Bíblico: 16.03.2008

ELLIGER, K.; RUDOLPH, W. Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, [1967/1977], 1997, lviii + 1574 p. – ISBN 9783438052193. A BHS pode ser encontrada e adquirida no site SBB pontocom > Edições Acadêmicas > Línguas Originais. Disponível também online gratuitamente.

FARFÁN NAVARRO, E. Gramática do hebraico bíblico. São Paulo: Loyola, 2010, 192 p. – ISBN 9788515037445

GESENIUS, W.; KAUTZSCH, E. (ed.) Gesenius’ Hebrew Grammar. 2. ed. Translated from German by A. E. Cowley, Oxford, Oxford University Press, 1995, 598 p. Também: New York: Dover Publications, 2006, 624 p. – ISBN 9780486443447, disponível na Amazon.com. Para uma versão online, confira Gesenius’ Hebrew Grammar is online (o link está nos comentários).

JOÜON, P.; MURAOKA, T. A Grammar of Biblical Hebrew. Rome: Biblical Institute Press, 2006, xlvi + 772 p. Em espanhol: Gramática del hebreo bíblico. Estella, Navarra: Verbo Divino, 2007, 928 p. – ISBN 9788481697223.

KELLEY, P. H. Hebraico Bíblico. Uma Gramática Introdutória. 8. ed. ampliada. São Leopoldo: Sinodal, 2011 (?), 488 p.

KIRST, N. et alii Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português. 28. ed. São Leopoldo/Petrópolis: Sinodal/Vozes, 2013, 305 p. – ISBN 8523301305.

LAMBDIN, T. O. Gramática do Hebraico Bíblico. São Paulo: Paulus, 2003 [3. reimpressão: 2013], 398 p. – ISBN 8534920931.

MENDES, P. Noções de Hebraico Bíblico. Texto Programado. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2011, 192 p. – ISBN 9788527504584.

MITCHEL, L. A.; OSVALDO C. PINTO, C.; METZGER, B. M. Pequeno dicionário de línguas bíblicas: hebraico e grego. São Paulo: Vida Nova, 2003, 312 p. – ISBN 8527502879.

ORTIZ, P. Dicionário do hebraico e aramaico bíblicos. São Paulo: Loyola, 2010, 176 p. – ISBN 9788515018970.

SAYÃO, L. (ed.) Antigo Testamento Poliglota. São Paulo: Vida Nova, 2003, 1952 p. – ISBN 8527503018.

SCHÖKEL, L. A. Dicionário Bíblico Hebraico-Português. 8. ed. São Paulo: Paulus, 1997 [5. reimpressão: 2012], 798 p. – ISBN 8534910464.

WALTKE, B.; O’CONNOR, M. Introdução à Sintaxe do Hebraico Bíblico. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, 784 p.

Desviados parcos recursos da pobre pesquisa brasileira

Verbas reservadas para financiar bolsas de formação e qualificação de pesquisadores são desviadas para despesas administrativas do CNPq.

A notícia revoltante está no blog do Josias de Souza, aqui.

Verbas públicas que deveriam ser aplicadas na concessão de bolsas para pesquisadores brasileiros vêm sendo sistematicamente desviadas para cobrir despesas administrativas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Só no último trimestre de 2004, foram desviados pelo menos R$ 12,640 milhões. Recursos destinados à concessão de bolsas de estímulo à pesquisa estão sendo usados para custear gastos com viagens, diárias e até com o funcionamento do Call-center do CNPq. Nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2004, os desvios somaram R$ 3,463 milhões. Dinheiro reservado para financiar bolsas de formação e qualificação de pesquisadores foram aplicados no seguinte tipo de gasto: contratação de mão-de-obra terceirizada, aquisição de material de expediente, reformas e manutenção predial, aluguel de imóvel em Brasília, pagamentos de estagiários, etc. Tudo somado, desviaram-se R$ 9,177 milhões entre outubro e dezembro de 2004. As cifras foram apuradas duante inspeção realizada por auditores do TCU nas contas do CNPq relativas ao último trimestre de 2004. A auditoria faz parte de um programa de fiscalização aprovado pelo tribunal no início de 2004 (continua)…

A historiografia deuteronomista à luz das pesquisas recentes

Escrevendo um artigo sobre o Contexto da Obra Histórica Deuteronomista para o próximo número da revista Estudos Bíblicos (n. 88), e agora elaborando meu programa de aula de Literatura Deuteronomista para 2006, li uma parte deste livro que eu já havia comentado, rapidamente, em minha bibliografia.

O livro é composto por 14 ensaios produzidos por vários autores em um seminário do terceiro ciclo realizado em 1995 pelas Faculdades de Teologia de Fribourg, Genève, Lausanne e Neuchâtel, todas da Suíça francesa.

Trechos dos livros de John Dominic Crossan online

Mark Goodacre assinala hoje em seu Mark Goodacre’s NT Blog um site [link retirado], da editora HarperSanFrancisco, onde são apresentados os livros de Crossan, sendo que pequenos trechos podem ser acessados online [clique em Browse Inside]. Há também, na página, uma biografia do autor, famoso por suas pesquisas sobre o Jesus Histórico [clique em Read more about John Dominic Crossan].

Literatura Deuteronomista: como responder aos desafios do presente repensando o passado?

Lecionar Literatura Deuteronomista é um desafio e tanto. Enquanto as questões da formação do Pentateuco são discutidas há séculos, a noção da existência de uma Obra Histórica Deuteronomista (= OHDtr) só foi formulada muito recentemente, como se pode ver aqui.

Além disso, há dois problemas com a disciplina: carga horária insuficiente para estudar textos de livros tão complexos como, por exemplo, Josué ou Juízes – a disciplina tem apenas 2 horas semanais durante o primeiro semestre do segundo ano de Teologia – e uma bibliografia mínima em português. Há excelente debate acadêmico hoje, contudo está em inglês e alemão, principalmente. Aparece na bibliografia complementar, mas é praticamente inacessível aos alunos.

Para completar, prefiro estudar o livro do Deuteronômio aqui e não no Pentateuco, também por duas razões: a disciplina Pentateuco já é por demais sobrecarregada e o Deuteronômio é a chave que abre o significado da OHDtr. Por isso, ele faz muito sentido aqui.

Por outro lado, há uma integração muito grande da Literatura Deuteronomista com três outras disciplinas bíblicas: com a História de Israel, naturalmente; com a Literatura Profética, irmã gêmea; com o Pentateuco, através do elo deuteronômico.

I. Ementa
A Obra Histórica Deuteronomista (OHDtr) tentará responder aos desafios do presente repensando o passado no final da monarquia e na situação de exílio e pós-exílio. Faz isso percorrendo toda a história da ocupação da terra, desde as vésperas da entrada em Canaã até a derrocada final da monarquia em Israel e Judá.

II. Objetivos
Pesquisar a arquitetura, as ideias basilares e a teologia da Literatura Deuteronomista como uma obra globalizante, e de cada um de seus livros, a fim de dar fundamentos para sua interpretação e atualização.

III. Conteúdo Programático
1. O contexto da Obra Histórica Deuteronomista
2. O Deuteronômio
3. O livro de Josué
4. O livro dos Juízes
5. Os livros de Samuel
6. Os livros dos Reis

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. O contexto da Obra Histórica Deuteronomista. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 89, 2006. Artigo disponível na Ayrton’s Biblcal Page.

STORNIOLO, I. Como ler o livro do Deuteronômio: escolher a vida ou a morte. 4. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

STORNIOLO, I. Como ler o livro de Josué: terra = vida, dom de Deus e conquista do povo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

STORNIOLO, I. Como ler o livro dos Juízes: aprendendo a ler a história. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

STORNIOLO, I. Como ler os livros dos Reis: da glória à ruína. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1999.

STORNIOLO, I.; BALANCIN, E. M. Como ler os livros de Samuel: a função da autoridade. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1997.

Complementar
CHRISTENSEN, D. L. (ed.) A Song of Power and the Power of Song: Essays on the Book of Deuteronomy. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 1993.

DE PURY, A. (org.) O Pentateuco em questão: as origens e a composição dos cinco primeiros livros da Bíblia à luz das pesquisas recentes. Petrópolis: Vozes, 1996.

DE PURY, A.; RÖMER, T.; MACCHI, J.-D. (eds.) Israël construit son histoire: l’historiographie deutéronomiste à la lumière des recherches récentes. Genève: Labor et Fides, 1996.

FARIA, J. de Freitas (org.) História de Israel e as pesquisas mais recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.

FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001. Em português: A Bíblia Não Tinha Razão. São Paulo: A Girafa, 2003. Resenha na Ayrton’s Biblical Page.

KNOPPERS, G. N.; McCONVILLE J. G. (eds.) Reconsidering Israel and Judah: Recent Studies on the Deuteronomistic History. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2000.

LOHFINK, N. Studien zum Deuteronomium und zur deuteronomistischen Literatur V. Stuttgart: Katholische Bibelwerk, 2005.

LOWERY, R. H. Os reis reformadores: culto e sociedade no Judá do Primeiro Templo. São Paulo: Paulinas, 2004.

NAKANOSE, S. Uma história para contar… a Páscoa de Josias: metodologia do Antigo Testamento a partir de 2Rs 22,1-23,30. São Paulo: Paulinas, 2000.

NIELSEN, F. A. J. The Tragedy in History: Herodotus and the Deuteronomistic History. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1997.

NOTH, M. The Deuteronomistic History. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2001. Original: Überlieferungsgeschichtliche Studien: Die sammelnden und bearbeitenden Geschichtswerke im Alten Testament. Halle: Max Niemeyer Verlag, 1943, p. 1-110.

PERSON, R. F. Jr. The Deuteronomic School: History, Social Setting and Literature. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2002.

ROGERSON, J. W. (ed.) The Pentateuch: A Sheffield Reader. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1996.

RÖMER, T. C. (ed.) The Future of the Deuteronomic History. Leuven: Leuven University Press/Peeters, 2000.

SCHEARING, L. S.; McKENZIE, S. L. (eds.) Those Elusive Deuteronomists: The Phenomenon of Pan-Deuteronomism. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1999.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. São Paulo: Loyola, 2003.

VAN SETERS, J. The Pentateuch: A Social-Science Commentary. Sheffield: Sheffield Academic Press, 1999.

VV. AA. Recenti tendenze nella ricostruzione della storia antica d’Israele. Roma: Accademia Nazionale dei Lincei, 2005.

Studien zum Deuteronomium und zur deuteronomistischen Literatur

Três estudos interessantes sobre o Deuteronômio e a Obra Histórica Deuteronomista.

  • KNOPPERS, G. N.; McCONVILLE J. G. (eds.) Reconsidering Israel and Judah: Recent Studies on the Deuteronomistic History. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 2000.
  • LOHFINK, N. Studien zum Deuteronomium und zur deuteronomistischen Literatur V. Stuttgart: Katholische Bibelwerk, 2005.
  • RÖMER, T. C. (ed.) The Future of the Deuteronomic History. Leuven: Leuven University Press/Peeters, 2000.

 

Literatura Profética: farei de minhas palavras um fogo em tua boca

Dando continuidade à exposição dos programas das disciplinas bíblicas que leciono na Teologia, abordarei agora a Literatura Profética, que é estudada no primeiro semestre do segundo ano de Teologia, com carga horária semanal de 4 horas. A Literatura Profética trabalha, além de questões globais do profetismo, uma seleção de textos dos profetas pré-exílicos. O texto que orienta a maior parte do estudo é o meu livro A Voz Necessária. Os profetas do exílio e do pós-exílio são estudados na Literatura Pós-Exílica, que vem logo no semestre seguinte.

I. Ementa
A disciplina apresenta, como ponto de partida, uma discussão sobre as origens, o teor e os limites do discurso profético israelita. Busca compreender a necessidade da profecia como resultado da ruptura provocada pelo surgimento do Estado monárquico que pressiona as tradicionais estruturas tribais de solidariedade. Aborda, em seguida, os profetas pré-exílicos, de Amós a Jeremias, passando por Oseias, Isaías, Miqueias, Habacuc e outros. Cada um é tratado no seu contexto, nas características de sua atuação e textos escolhidos são lidos. Procura-se identificar em cada um deles a sua função de crítica e de oposição ao absolutismo do Estado classista, em nome da fé em Iahweh, que exige um posicionamento solidário em favor dos mais fracos.

II. Objetivos
Coloca em discussão as características e a função do discurso profético e confronta os textos dos profetas pré-exílicos com o contexto da época, possibilitando ao aluno uma leitura atualizada e crítica dos textos proféticos em confronto com a realidade contemporânea e suas exigências.

III. Conteúdo Programático

1. A origem do movimento profético em Israel
2. O teor do discurso profético
3. Os profetas pré-exílicos

  • Amós
  • Oseias
  • Isaías 1-39
  • Miqueias
  • Sofonias
  • Naum
  • Habacuc
  • Jeremias

IV. Bibliografia
Básica
DA SILVA, A. J. A Voz Necessária: encontro com os profetas do século VIII a.C. São Paulo: Paulus, 1998.

GAMELEIRA SOARES, S. A. et al. Profetas ontem e hoje. 3. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 4, 1987.

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas 2v. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002-2004.

SICRE, J. L. A justiça social nos profetas. São Paulo: Paulus, 1990.

SICRE, J. L. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem. Petrópolis: Vozes, 1996.

Complementar
BLENKINSOPP, J. Isaiah 1-39: A New Translation with Introduction and Commentary. New York: Doubleday, 2000.

BRUEGGEMANN, W. A Commentary on Jeremiah: Exile and Homecoming. Grand Rapids, MI/Cambridge, U.K: Eerdmans, 1998.

CARROLL R., M. Daniel, Amos – The Prophet and His Oracles: Research on the Book of Amos. Louisville: Westminster John Knox, 2002.

CROATO, J. S. et al. Os livros Proféticos: a voz dos profetas e suas releituras. RIBLA, Petrópolis, n. 35/36, 2000/1/2.

DA SILVA, A. J. Nascido Profeta: a vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992.

DA SILVA, A. J. Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Amós. Disponível na Ayrton’s Biblical Page

DA SILVA, A. J. Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Isaías. Disponível na Ayrton’s Biblical Page

DA SILVA, A. J. Perguntas mais Frequentes sobre o Profeta Jeremias. Disponível na Ayrton’s Biblical Page

DA SILVA, A. J. Vale a Pena Ler os Profetas Hoje? Disponível na Ayrton’s Biblical Page

GORDON, R. P. (ed.) The Place Is Too Small for Us: The Israelite Prophets in Recent Scholarship. Winona Lake, Indiana: Eisenbrauns, 1995.

GRABBE, L.; BELLIS, A. O. (eds.) The Priests in the Prophets: The Portrayal of Priests, Prophets and Other Religious Specialists in the Latter Prophets. London/New York: T. & T. Clark, 2005. Apresentação disponível no Observatório Bíblico > CBQ – Catholic Biblical Quarterly de outubro: considerações sobre profetas e sacerdotes.

MÖLLER, K. A Prophet in Debate: The Rhetoric of Persuasion in the Book of Amos. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2003.

SCHWANTES, M. “A terra não pode suportar suas palavras” (Am 7,10): reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2004.

SCHWANTES, M. et al. Profetas e profecias: novas leituras. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 73, 2002.

Fundamentalismo: um desafio ecumênico

A revista Concilium, em um fascículo um tanto datado (1992!), mas com um tratamento dado ao tema que me parece ainda atual, aborda a questão do fundamentalismo como um desafio ecumênico. É claro que há questões novas, que devem ser lidas em outras obras, porém, transcrevo aqui pequenos trechos da Concilium, que acredito dignos de reflexão, especialmente quando vejo, nestes dias, as notícias sobre as atitudes fundamentalistas, tanto de um conhecido pregador norte-americano, quanto de radicais judeus que, ancorados no texto bíblico e/ou em suas tradições, vêem a doença de Sharon como castigo divino por ter retirado os colonos judeus da faixa de Gaza e ter entregue aos palestinos terra que, segundo eles, pertencia a Deus… o qual, por sua vez, a dera a Israel!

KÜNG, H.; MOLTMANN, J. Fundamentalismo: um desafio ecumênico. Concilium, Petrópolis, v. 241, n. 3, 1992, 165 p.

Para complementar a Concilium podem se lidos:
MARTY, M. E; APPLEBY, R. S.(eds.) Accounting for Fundamentalisms: The Dynamic Character of Movements. Chicago: University of Chicago Press, 2004, 862 p.
MARTY, M. E; APPLEBY, R. S.(eds.) Fundamentalisms Comprehended. Chicago: University of Chicago Press, 2004, 528 p.
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação da Bíblia na Igreja. São Paulo: Paulinas, 1994 (Leitura fundamentalista: p. 82-86).

What is Biblical Fundamentalism All About?

[Uma definição do fundamentalismo pelos fundamentalistas da Fundamental Evangelistic Association:] Biblical fundamentalism is neither a political movement nor an adherence to the culture of a bygone era. Rather, it is a movement of men and ministries who, recognizing God’s Word as completely authoritative in every area of which it speaks, are dedicated to theological orthodoxy and an attitude of disdain for unbelief as well as theological, ecclesial or ministerial compromise. Biblical fundamentalism is a worldview put into action-a worldview that recognizes man’s need to honor and glorify God in every area of life as revealed through His written Word, the Bible. The Biblical fundamentalist lives out his worldview by manifesting his beliefs through action-particularly, through his love for others, his obedience to God’s Word and his loyalty to God Himself. Biblical fundamentalism, then, is all about love, obedience and loyalty!

COLEMAN, J. A. Fundamentalismo global: perspectivas sociológicas. Concilium, o. c., p. 55-56:

Entre muitas definições conflitantes e – às vezes – puramente convencionais, proponho, como base útil para o estudo comparado dos fundamentalismos, a seguinte definição e explicação de fundamentalismo dada pelos sociólogos Anton Shupe e Jeffrey Hadden (Secularization and Fundamentalism Reconsidered, vol. III. New York: Paragon House, 1989, p. 111): “Em termos extremamente simples, definimos o fundamentalismo como um movimento que visa recuperar a autoridade sobre uma tradição sagrada que deve ser reintegrada como antídoto contra uma sociedade que se soltou de suas amarras institucionais. Do ponto de vista sociológico o fundamentalismo implica: 1) repúdio à radical separação entre sagrado e secular, que foi se impondo sempre mais com a modernidade; e 2) um plano para anular esta bifurcação institucional e com isso trazer a religião de volta para o centro do palco, como importante fator ou parte interessada nas decisões relativas ao interesse público”. O fundamentalismo visa recuperar a autoridade sobre uma tradição sagrada. Distingue-se dos apelos utópicos a criar uma ordem social nova, até agora apenas sonhada. Os fundamentalistas conclamam as pessoas a voltar a uma tradição perdida. Exigem a recuperação dos valores de uma época anterior, presumivelmente mais pura e mais íntegra. Buscam, assim, reorientar a sociedade e a cultura para um futuro mais desejável. Essa época anterior reconstruída pode, evidentemente, padecer de uma idealização em alto grau ou depender de uma ênfase exagerada, mas muito criativa, dada a um ou outro traço da época anterior imaginada. Os historiadores que prezam a exatidão científica terão grande dificuldade em descobrir as provas do pretenso passado idealizado, agora recuperado de forma seletiva. Se numa época anterior existiu uma sociedade mais perfeita e mais honesta, devem necessariamente os fundamentalistas explicar como essa ordem social se desencaminhou. As ideologias ou cosmovisões fundamentalistas apontam, então, símbolos do mal. Apontam e condenam várias ideologias, movimentos sociais e forças ou indivíduos que desencaminharam a sociedade do antigo estado moral idealizado. Conceitos relacionados com ‘colapso moral’ e corrupção dos valores abundam no discurso fundamentalista. Às vezes esses conceitos vêm ligados a supostas conspirações de inimigos tachados de ‘modernistas’ ou ‘humanistas seculares’. Os fundamentalistas procuram apresentar elos de continuidade entre seu movimento fundamentalista e a tradição de fé que este afirma desejar recuperar. Os símbolos centrais evocados pelas reações fundamentalistas ocupam geralmente também um lugar central na ortodoxia da religião. Assim, por exemplo, a sola scriptura transformada em Escritura inerrante ou o primado papal transformado em fundamentalismo papal unem os fundamentalistas à corrente ortodoxa do Protestantismo ou do Catolicismo onde possuem aliados potenciais. Evidentemente, os integristas católicos e os fundamentalistas protestantes tendem a manipular desproporcionalmente os símbolos ortodoxos e a apresentar uma caricatura dos mesmos. Ainda assim, muitas vezes os fundamentalismos retroalimentam a corrente ortodoxa e são, por sua vez, alimentados por aliados na corrente ortodoxa. Às vezes é difícil traçar limites nítidos entre os fundamentalistas e os tradicionalistas ou conservadores mais nuançados. Esta ambigüidade confere ao fundamentalismo uma força que ultrapassa os grupos marginais radicais que o adotam integralmente.

VOLF, M. O desafio do fundamentalismo protestante. Concilium, o. c., p. 127;129-130:

Historicamente, o fundamentalismo protestante foi uma tardia reação religiosa à modernidade. Mais precisamente: foi uma reação à reação do cristianismo liberal à modernidade. O livro de um estudioso do Novo Testamento, J. Gresham Machen, de Princeton, que é provavelmente a melhor expressão do programa teológico fundamentalista, sugere isto através de seu título: Christianity and Liberalism (1923). Na seção histórica do presente artigo, tratarei de Machen como sendo o ‘fundamentalista padrão’ (…) A obra de Machen, Christianity and Liberalism, consiste principalmente de contraposições entre doutrinas bíblicas e as pretensões teológicas do liberalismo. A Bíblia exalta a ‘terrível transcendência de Deus’; o liberalismo aplica o nome de Deus ao ‘processo do mundo’. A Bíblia ensina que ‘o homem é um pecador sob a justa condenação de Deus’; o liberalismo acredita que ‘sob as grosseiras feições exteriores do homem… é possível descobrir a abnegação suficiente para servir de fundamento à esperança da sociedade’. A Bíblia proclama Jesus Cristo como objeto divino e humano da fé; o liberalismo vê nele um exemplo humano de fé. A mensagem central da Bíblia é a salvação da culpa do pecado pelo sacrifício expiatório de Cristo, o Filho de Deus; o liberalismo ensina que a salvação vem pelos próprios seres humanos, vencendo sua preguiça para fazer o bem (…) O ímpeto mais forte que está por trás do fundamentalismo americano se compara à força propulsora da neo-ortodoxia européia: é a crítica da adaptação da teologia liberal à modernidade, partindo da posição vantajosa de redescobrir a ‘terrível transcendência’ de Deus e a ação salvífica de Deus em favor da humanidade pecadora. O acento na Bíblia como Palavra de Deus em ambos os movimentos é parte e parcela desta descoberta.

MOLTMANN, J. Fundamentalismo e modernidade. Concilium, o.c., p.142-143:

Os fundamentalistas não reagem às crises do mundo moderno, mas às crises que o mundo moderno provoca em sua comunidade de fé e em suas convicções básicas. A convicção de fé se baseia na segurança da autoridade divina. Nas assim chamadas Religiões do Livro, é a autoridade divina do documento da revelação: a palavra de Deus é, como o próprio Deus, sem erro e infalível (…) As ciências históricas e empíricas do mundo moderno são reconhecidas enquanto concordarem com [o documento divino da revelação], mas são rejeitadas se questionarem esta autoridade intemporal (…) O documento divino da revelação não pode estar sujeito à interpretação humana mas, ao contrário, a interpretação humana deve estar sujeita ao documento divino da revelação. O fundamentalismo exclui todo juízo racional sobre a condicionalidade histórica de sua origem e sobre a diferença hermenêutica em relação às condições mudadas do presente. O conteúdo de verdade do documento da revelação é intemporal e não precisa ser constantemente explicado ou atualizado, mas apenas conservado intocável. O fundamentalismo baseado na revelação não argumenta, apenas afirma. Não pede compreensão, mas sujeição. Não se trata absolutamente de um problema hermenêutico mas de uma luta pelo poder: ou a palavra de Deus ou o ‘espírito da época’. O fundamentalismo também não é um fenômeno de retirada ou de defesa, mas de avanço sobre o mundo moderno para dominá-lo. Faz parte das várias estratégias teopolíticas atuais…

HEBBLETHWAITE, P. O fundamentalismo romano-católico… Concilium, o. c., p. 114:

Se considerarmos o fundamentalismo não como um corpo doutrinal mas como uma atitude em face da crença religiosa, atitude caracterizada pela canonização de um texto antigo, pelo apego ao seu sentido literal e pela convicção de que só um pequeno resto há de salvar o mundo pela fidelidade à inspiração original, então sem dúvida, existem fundamentalismos romano-católicos. Mas eles tendem a rejeitar essa qualificação, por causa de suas conotações protestantes. Os fundamentalistas católicos diferenciam-se de seus irmãos (e irmãs) protestantes pelo fato de substituir a Bíblia, que não apreciam tanto e nem lêem, pelos Concílios da Igreja, especialmente o Tridentino (Concílio anti-protestante) ou pelo Vaticano I (Concílio antimoderno). Ou então combinam os dois. Esses Concílios representam a ‘idade de ouro’, quando ‘a Igreja sabia para onde ia’.

NEUSNER, J. O desafio do fundamentalismo judaico contemporâneo. Concilium, o. c. p. 67-68:

O ‘fundamentalismo’, categoria teológica cristã protestante, não se aplica a nenhum dos judaísmos contemporâneos. Para nenhum judaísmo hoje – seja Reformista, Reconstrucionista, Conservador, Ortodoxo em qualquer uma das numerosas formas de Judaísmo Ortodoxo atualmente florescentes – a proposição da veracidade literal e inerrante da Escritura, lida segundo suas próprias condições e em seus próprios parâmetros, constitui uma opção. Isso porque todos os Judaísmos abordam as Escrituras hebraicas, conhecidas no Judaísmo como Torá escrita, pelo método estabelecido pela Torá oral, hoje conservada em forma escrita nos dois Talmudes e em várias compilações de Midrashes; e na leitura da Torá oral, embora a Torá escrita seja sempre verdadeira, ela nunca é lida de modo literal, como a hermenêutica fundamentalista protestante sustenta que deve ser. Por conseguinte, em sentido estrito não podemos falar de fundamentalismo no contexto de nenhum Judaísmo ou, portanto, do Judaísmo em geral. Mas, enquanto o fundamentalismo designa um fenômeno mais amplo do que dá a entender o fundamentalismo hermenêutico, podemos apontar pontos de concordância em recentes desdobramentos entre os Judaísmos e correlativos em vários Cristianismos e Islamismos. Pois entre os Judaísmos de hoje levantaram-se de forma intensa questões que, em geral, as pessoas supunham não estarem mais sujeitas a debate. E descobrimos que questões consideradas encerradas suscitam discussões intensas e violentas. Na medida em que podemos identificar como ‘fundamentalismo’ uma renovação do debate sobre as questões fundamentais de organização social da fé – a ordem social judaica – podemos afirmar que existe um fundamentalismo florescendo entre os Judaísmos contemporâneos, e que constitui um importante desafio à ordem social judaica, por um lado, e ao lugar ocupado pelo complexo religioso judaico entre os outros complexos religiosos, por outro.