1177 a.C.: o ano em que a civilização entrou em colapso

CLINE, E. H. 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2021 (Revised and Updated Edition) [2014], 304 p. – ISBN 9780691208015.

CLINE, E. H. 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2021 (Revised and Updated Edition)O livro de Eric H. Cline, da Universidade George Washington, Washington, D.C., é muito interessante. Embora não seja especificamente sobre os filisteus, o livro nos coloca no contexto da chegada dos “povos do mar”, dos quais os filisteus fazem parte, e oferece um panorama dos acontecimentos do Antigo Oriente Médio no final da Idade do Bronze.

A primeira edição do livro é de 2014. Esta edição de 2021 foi revista e atualizada, incorporando dados arqueológicos mais recentes.

Diz a editora:

Em 1177 a.C., grupos de saqueadores, que hoje chamamos de “povos do mar”, invadiram o Egito. As forças militares egípcias, sob o comando do faraó Ramsés III, conseguiram derrotá-los, mas a vitória enfraqueceu tanto o Egito que logo o então poderoso reino caiu em declínio, assim como a maioria das civilizações vizinhas. Depois de séculos de existência de brilhantes civilizações, o mundo da Idade do Bronze chegou a um fim abrupto e cataclísmico. Os reinos caíram como dominós ao longo de apenas algumas décadas. Não havia mais minoicos ou micênios. Não havia mais troianos, hititas ou babilônios. A prosperidade econômica e cultural do final do segundo milênio a.C., que se estendia da Grécia ao Egito e à Mesopotâmia, deixou repentinamente de existir, junto com sistemas de escrita, tecnologia e arquitetura monumental. Mas os povos do mar sozinhos não poderiam ter causado um colapso tão generalizado. Como isso aconteceu?

Neste novo e importante relato das causas desta “primeira idade das trevas”, Eric H. Cline conta a emocionante história de como o fim foi causado por múltiplos fatores interligados, desde invasão e revolta até terremotos, seca e bloqueio das rotas do comércio internacional. Trazendo à vida o vibrante mundo multicultural dessas grandes civilizações, ele desenha um panorama abrangente dos impérios e povos globalizados da Idade do Bronze Recente e mostra que foi sua própria interdependência que apressou seu colapso dramático e inaugurou uma idade das trevas que durou séculos.

Em uma atraente combinação de narrativa e pesquisa mais recente, 1177 a.C. lança nova luz sobre os processos complexos que deram origem, e finalmente destruíram, as florescentes civilizações do final da Idade do Bronze. E que prepararam o terreno para o surgimento da Grécia clássica.

Há uma versão em português, publicada em Portugal:

CLINE, E. H. 1177 a.C.: o ano em que a civilização colapsou. Odivelas: Alma dos Livros, 2022, 320 p. – ISBN 9789895700363.

Há também uma versão publicada no Brasil:

CLINE, E. H. 1177 a.C.: o ano em que a civilização entrou em colapso. Barueri: Avis Rara, 2023, 224 p. – ISBN 9786559573561.

Veja um vídeo com uma exposição de Eric H. Cline sobre o tema aqui.

 

In 1177 B.C., marauding groups known only as the “Sea Peoples” invaded Egypt. The pharaoh’s army and navy managed to defeat them, but the victory so weakened Egypt that it soon slid into decline, as did most of the surrounding civilizations. After centuries of brilliance, the civilized world of the Bronze Age came to an abrupt and cataclysmic end. Kingdoms fell like dominoes over the course of just a few decades. No more Minoans or Mycenaeans. No more Trojans, Hittites, or Babylonians. The thriving economy and cultures of the late second millennium B.C., which had stretched from Greece to Egypt and Mesopotamia, suddenly ceased to exist, along with writing systems, technology, and monumental architecture. But the Sea Peoples alone could not have caused such widespread breakdown. How did it happen?

In this major new account of the causes of this “First Dark Ages,” Eric Cline tells the gripping story of how the end was brought about by multiple interconnected failures, ranging from invasion and revolt to earthquakes, drought, and the cutting of international trade routes. Bringing to life the vibrant multicultural world of these great civilizations, he draws a sweeping panorama of the empires and globalized peoples of the Late Bronze Age and shows that it was their very interdependence that hastened their dramatic collapse and ushered in a dark age that lasted centuries.

A compelling combination of narrative and the latest scholarship, 1177 B.C. sheds new light on the complex ties that gave rise to, and ultimately destroyed, the flourishing civilizations of the Late Bronze Age―and that set the stage for the emergence of classical Greece.

Sobre o autor: Eric H. Cline is professor of classics and anthropology and director of the Capitol Archaeological Institute at George Washington University, Washington, D. C. An active archaeologist, he has excavated and surveyed in Greece, Crete, Cyprus, Egypt, Israel, Jordan, and the United States.

 

Eric H. Cline diz no prólogo de 1177 a.C.: o ano em que a civilização entrou em colapso, nas páginas 1-6:

Os guerreiros entraram no cenário mundial e se moveram rapidamente, deixando a morte e a destruição por onde passaram. Os estudiosos modernos referem-se a eles coletivamente como “povos do mar”, mas os egípcios que registraram seu ataque ao país nunca usaram esse termo, identificando-os como grupos independentes em empreitada comum: os Peleset, Tjekker, Shekelesh, Shardana, Danuna e Weshesh – nomes estranhos de pessoas com aparência estrangeira para os egípcios [nota: o nome “povos do mar” foi cunhado por Emmanuel de Rougé em 1867].

Nós sabemos pouco sobre eles, além do que os registros egípcios nos dizem. Não sabemos ao certo de onde veem os povos do mar: talvez da Sicília, Sardenha e Itália, de acordo com um cenário; talvez do Egeu ou da Anatólia ocidental, ou possivelmente até de Chipre ou do Mediterrâneo Oriental. Nenhuma localidade antiga foi identificada como sua origem ou ponto de partida. Pensamos neles como se movendo implacavelmente de um lugar para outro, vencendo países e reinos à medida que avançavam. De acordo com os textos egípcios, eles montaram acampamento na Síria antes de seguirem pela costa de Canaã (que inclui partes da moderna Síria, Líbano e Israel) e para o delta do Nilo, no Egito.

O ano era 1177 a.C. Era o oitavo ano do reinado do faraó Ramsés III. De acordo com os antigos egípcios, e segundo evidências arqueológicas mais recentes, alguns dos povos do mar vieram por terra, outros por mar. Não há vestígios de uniformes ou ferramentas. Imagens antigas retratam um grupo com elmos emplumados, enquanto outro grupo usava turbantes; outros ainda tinham capacetes com chifres ou tinham a cabeça descoberta. Alguns tinham barbas curtas e pontiagudas e estavam vestidos com saiotes curtos, com torso nu ou com túnica; outros não tinham barba e usavam saias mais compridas. Essas observações sugerem que os povos do mar compreendiam grupos diversos de diferentes geografias e culturas. Armados com afiadas espadas de bronze, lanças de madeira com pontas reluzentes de metal, e arcos e flechas, eles vieram em barcos, carroças, carros de boi e carruagens. Embora eu tenha tomado 1177 a.C. como uma data crucial, sabemos que os invasores vieram em ondas sucessivas durante um considerável espaço de tempo. Às vezes os guerreiros vinham sozinhos e às vezes as famílias os acompanhavam.

De acordo com as inscrições de Ramsés III, nenhum país foi capaz de se opor a essa massa de homens. A resistência foi inútil. As grandes potências da época – os Povos do mar retratados como prisioneiros em Medinet Habuhititas, os micênios, os cananeus, os cipriotas e outros – caíram uma a uma. Alguns dos sobreviventes fugiram da carnificina; outros se amontoavam nas ruínas de suas outrora orgulhosas cidades; outros ainda se uniram aos invasores, aumentando suas fileiras e a complexidade da horda de migrantes. Cada grupo dos povos do mar estava em movimento, cada um aparentemente motivado por razões individuais. Talvez tenha sido o desejo de despojos ou escravos que estimulou alguns; outros podem ter sido compelidos pelas pressões populacionais a migrar para o leste de suas próprias terras no Ocidente.

Nas paredes do seu templo mortuário em Medinet Habu, perto do Vale dos Reis, disse Ramsés III de maneira concisa:

“Os países estrangeiros fizeram uma conspiração em suas ilhas. De uma só vez as terras foram eliminadas e as pessoas dispersas no conflito. Nenhum país foi capaz de resistir às suas armas, de Hatti, Qode, Karkemish, Arzawa e Alashiya eles foram [eliminados] imediatamente. Um acampamento foi montado em uma localidade de Amurru. Humilharam seu povo, e sua terra nunca tinha enfrentado uma situação como essa. Eles se moveram em direção ao Egito e uma barreira de fogo foi colocada diante deles. Sua confederação era formada pelos Peleset, Tjekker, Shekelesh, Danuna e Weshesh, terras que se uniram. Eles puseram suas mãos sobre estas terras, com corações confiantes e esperançosos”.

Conhecemos as terras conquistadas pelos povos do mar, até porque algumas delas eram famosas naquela época, mas a identidade étnica dos 6 grupos que fizeram isso é bem mais problemática. Por exemplo: Danuna devem ser os Danaos de Homero, os Shekelesh podem ter vindo da Sicília e os Shardana [citados em outro documento] da Sardenha. Mas não há acordo sobre isso entre os estudiosos. E, então, diz Eric H. Cline:

De todos os grupos estrangeiros ativos em cena, apenas um foi identificado com certeza. O Peleset dos povos do mar quase certamente coincide com os filisteus, que, segundo a Bíblia, vieram de Creta.

(…)

Embora não saibamos com precisão as origens ou a motivação dos invasores, sabemos como eles se parecem – podemos ver seus nomes e rostos gravados nas paredes do templo mortuário de Ramsés III em Medinet Habu. Este sítio antigo é rico tanto em imagens quanto em textos gravados em hieróglifos. As armaduras, armas, roupas, barcos e carros de bois dos invasores carregados de pertences são claramente visíveis nas representações, tão detalhadas que os estudiosos publicaram análises das pessoas individuais e até mesmo dos diferentes barcos mostrados nas cenas.

(…)

Embora o debate acadêmico continue, a maioria dos especialistas concorda que as batalhas terrestres e marítimas descritas nas paredes de Medinet Habu foram provavelmente travadas quase simultaneamente no delta egípcio ou nas proximidades. É possível que elas representem uma única grande batalha, tanto no mar quanto em terra. Alguns estudiosos sugeriram que os exércitos dos povos do mar foram emboscados, sendo pegos de surpresa pelos egípcios. Em qualquer caso, o resultado final não está em questão. Em Medinet Habu, o faraó egípcio diz claramente:

“Eles alcançaram talvez a fronteira de minhas terras, mas não sua semente, e seus corações e almas terminaram para sempre e definitivamente. Aqueles que se reuniram do outro lado do mar tinham uma chama brilhante diante deles na foz do rio, e toda uma barreira de lanças os cercava na praia. Eles foram arrastados para a praia, cercados e vencidos, mortos e despedaçados da cabeça aos pés. Os navios afundaram e as mercadorias caíram na água. Eu me certifiquei de que essas terras evitassem (até mesmo) mencionar o Egito: porque quando pronunciam meu nome em suas terras, então eles são imediatamente queimados”.

Ramsés continua, em um famoso documento conhecido como Papiro Harris, novamente nomeando seus inimigos derrotados:

“Eu derrotei aqueles que os invadiram de suas terras. Eu matei os Danuna [que estão] em suas ilhas, os Tjekker e os Peleset foram incinerados. O Shardana e a Weshesh do mar, eles foram feitos como aqueles que não existem, todos aprisionados, trazidos como cativos para o Egito, como a areia da praia. Eu os estabeleci em fortalezas sujeitas a meu nome. Numerosos eles eram, como se fossem centenas de milhares. Eu taxava todos eles, em tecidos e grãos dos armazéns e celeiros, todos os anos”.

 

The warriors entered the world scene and moved rapidly, leaving death and destruction in their wake. Modern scholars refer to them collectively as the “Sea Peoples,” but the Egyptians who recorded their attack on Egypt never used that term, instead identifying them as separate groups working together: the Peleset, Tjekker, Shekelesh, Shardana, Danuna, and Weshesh—­foreign-­sounding names for foreign-­looking people.

We know little about them, beyond what the Egyptian records tell us. We are not certain where the Sea Peoples originated: perhaps in Sicily, Sardinia, and Italy, according to one scenario, perhaps in the Aegean or western Anatolia, or possibly even Cyprus or the Eastern Mediterranean. No ancient site has ever been identified as their origin or departure point. We think of them as moving relentlessly from site to site, overrunning countries and kingdoms as they went. According to the Egyptian texts, they set up camp in Syria before proceeding down the coast of Canaan (including parts of modern Syria, Lebanon, and Israel) and into the Nile delta of Egypt.

The year was 1177 BC. It was the eighth year of Pharaoh Ramses III’s reign. According to the ancient Egyptians, and to more recent archaeological evidence, some of the Sea Peoples came by land, others by sea. There were no uniforms, no polished outfits. Ancient images portray one group with feathered headdresses, while another faction sported skullcaps; still others had horned helmets or went bareheaded. Some had short pointed beards and dressed in short kilts, either barehested or with a tunic; others had no facial hair and wore longer garments, almost like skirts. These observations suggest that the Sea Peoples comprised verse groups from different geographies and different cultures. Armed with sharp bronze swords, wooden spears with gleaming metal tips, and bows and arrows, they came on boats, wagons, oxcarts, and chariots. Although I have taken 1177 BC as a pivotal date, we know that the invaders came in waves over a considerable period of time. Sometimes the warriors came alone, and sometimes their families accompanied them.

According to Ramses’s inscriptions, no country was able to oppose this invading mass of humanity. Resistance was futile. The great powers of the day—­the Hittites, the Mycenaeans, the Canaanites, the Cypriots, and others—­fell one by one. Some of the survivors fled the carnage; others huddled in the ruins of their once-­proud cities; still others joined the invaders, swelling their ranks and adding to the apparent complexities of the mob of invaders. Each group of the Sea Peoples was on the move, each apparently motivated by individual reasons. Perhaps it was the desire for spoils or slaves that spurred some; others may have been compelled by population pressures to migrate eastward from their own lands in the West.

On the walls of his mortuary temple at Medinet Habu, near the Valley of the Kings, Ramses said concisely:

The foreign countries made a conspiracy in their islands. All at once the lands were removed and scattered in the fray. No land could stand before their arms, from Khatte, Qode, Carchemish, Arzawa, and Alashiya on, being cut off at [one time]. A camp [was set up] in one place in Amurru. They desolated its people, and its land was like that which has never come into being. They were coming forward toward Egypt, while the flame was prepared before them. Their confederation was the Peleset, Tjekker, Shekelesh, Danuna, and Weshesh, lands united. They laid their hands upon the lands as far as the circuit of the earth, their hearts confident and trusting.

(…)

Of all the foreign groups active in this arena at this time, only one has been firmly identified. The Peleset of the Sea Peoples are generally accepted as none other than the Philistines, who are identified in the Bible as coming from Crete.

(…)

While we do not know with any precision either the origins or the motivation of the invaders, we do know what they look like—­we can view their names and faces carved on the walls of Ramses III’s mortuary temple at Medinet Habu. This ancient site is rich in both pictures and stately rows of hieroglyphic text. The invaders’ armor, weapons, clothing, boats, and ox-carts loaded with possessions are all clearly visible in the representations, so detailed that scholars have published analyses of the individual people and even the different boats shown in the scenes.

(…)

Although scholarly debate continues, most experts agree that the land and sea battles depicted on the walls at Medinet Habu were probably fought nearly simultaneously in the Egyptian delta or nearby. It is possible that they represent a single extended battle that occurred both on land and at sea, and some scholars have suggested that both represent ambushes of the Sea Peoples’ forces, in which the Egyptians caught them by surprise. In any event, the end result is not in question, for at Medinet Habu the Egyptian pharaoh quite clearly states:

Those who reached my frontier, their seed is not, their heart and soul are finished forever and ever. Those who came forward together on the sea, the full flame was in Batalha naval dos egípcios contra os povos do mar em imagem de Medinet Habufront of them at the river-­mouths, while a stockade of lances surrounded them on the shore. They were dragged in, enclosed, and prostrated on the beach, killed, and made into heaps from tail to head. Their ships and their goods were as if fallen into the water. I have made the lands turn back from (even) mentioning Egypt: for when they pronounce my name in their land, then they are burned up.

Ramses then continues, in a famous document known as the Papyrus Harris, again naming his defeated enemies:

I overthrew those who invaded them from their lands. I slew the Danuna [who are] in their isles, the Tjekker and the Peleset were made ashes. The Shardana and the Weshesh of the sea, they were made as those that exist not, taken captive at one time, brought as captives to Egypt, like the sand of the shore. I settled them in strongholds bound in my name. Numerous were their classes like hundred-­thousands. I taxed them all, in clothing and grain from the store-­houses and granaries each year.

 

Mais para o final do livro, no final do capítulo 5, em um item chamado A Review of Possibilities and Complexity Theory, Eric H. Cline resume da seguinte forma o que foi discutido ao longo do livro:

Não existe consenso sobre quem ou o que provocou o colapso de inteiras civilizações no final da Idade do Bronze. Pois certo é que havia importantes civilizações como os minoicos, micênios, hititas, egípcios, babilônios, assírios, cananeus e cipriotas, independentes uma das outras, mas interligadas por rotas de comércio. Certo é também que muitas cidades foram destruídas e as civilizações que floresceram do século XV ao século XIII chegaram ao fim em 1177 a.C. ou pouco depois.

Até hoje não existe uma prova definitiva do que provocou este colapso. Há muitas possibilidades, mas nenhuma parece ter sido capaz de provocar tal catástrofe sozinha. Talvez tenha ocorrido uma “tempestade perfeita” de calamidades? Terremotos? Fome? Seca? Mudanças climáticas? Rebeliões internas? Invasões?

Enfim, ele vai sugerir um conjunto de fatores para explicar o colapso.

 

There is still no general consensus as to who, or what, caused the destruction or abandonment of each of the major sites within the civilizations that came to an end in the twilight of the Bronze Age. The problem can be concisely summarized as follows:

Major Observations

1. We have a number of separate civilizations that were flourishing during the fifteenth to thirteenth centuries BC in the Aegean and Eastern Mediterranean, from the Mycenaeans and the Minoans to the Hittites, Egyptians, Babylonians, Assyrians, Canaanites, and Cypriots. These were independent but consistently interacted with each other, especially through international trade routes.

2. It is clear that many cities were destroyed and that the Late Bronze Age civilizations and life as the inhabitants knew it in the Aegean, Eastern Mediterranean, Egypt, and the Near East came to an end ca. 1177 BC or soon thereafter.

3. No unequivocal proof has been offered as to who or what caused this disaster, which resulted in the collapse of these civilizations and the end of the Late Bronze Age.

Discussion of Possibilities

There are a number of possible causes that may have led, or contributed, to the collapse at the end of the Late Bronze Age, but none seems capable of having caused the calamity on its own.A “Perfect Storm” of Calamities?

A. Clearly there were earthquakes during this period, but usually societies can recover from these.

B. There is textual evidence for famine, and now scientific evidence for droughts and climate change, in both the Aegean and the Eastern Mediterranean, but again societies have recovered from these time and time again.

C. There may be circumstantial evidence for internal rebellions in Greece and elsewhere, including the Levant, although this is not certain. Again, societies frequently survive such revolts. Moreover, it would be unusual (notwithstanding recent experience in the Middle East to the contrary) for rebellions to occur over such a wide area and for such a prolonged period of time.

D. There is archaeological evidence for invaders, or at least newcomers probably from the Aegean region, western Anatolia, Cyprus, or all of the above, found in the Levant from Ugarit in the north to Lachish in the south. Some of the cities were destroyed and then abandoned; others were reoccupied; and still others were unaffected.

E. It is clear that the international trade routes were affected, if not completely cut, for a period of time, but the extent to which this would have impacted the various individual civilizations is not altogether clear—­even if some were overly dependent upon foreign goods for their survival, as has been suggested in the case of the Mycenaeans.

(…)

However, despite my comments above, systems collapse might be just too simplistic an explanation to accept as the entire reason for the ending of the Late Bronze Age in the Aegean, Eastern Mediterranean, and Near East. It is possible that we need to turn to what is called complexity science, or, perhaps more accurately, complexity theory, in order to get a grasp of what may have led to the collapse of these civilizations.

 

Pode ser útil ler uma entrevista com Eric H. Cline, publicada, em espanhol, em 28 de março de 2015, em Mediterráneo Antiguo. Autor: Mario Agudo Villanueva.

Entrevista con Eric H. Cline: “estamos afrontando una situación muy parecida a la que tuvieron que hacer frente en 1177 a.C.”

El final de la Edad del Bronce en el Mediterráneo es uno de los acontecimientos más enigmáticos de nuestra historia. La irrupción de los Pueblos del Mar, sumada a otra serie de acontecimientos, provocó el colapso de los que hasta entonces eran los centros de poder más importantes de la civilización. Hemos querido conocer con más profundidad el problema de la mano de Eric H. Cline, profesor de Historia Antigua y Arqueología de la Universidad George Washington, autor de 1177 a.C. El año que la civilización se derrumbó, editado en castellano por Crítica.

Pregunta – Tras siglos de esplendor, el mundo civilizado se sumergió en una profunda crisis que afectó a todos los ámbitos de la vida cotidiana. Parece improbable que fuera desencadenada únicamente por los Pueblos del Mar. ¿Cuántas causas concurrieron en este cataclismo?
Respuesta – Hay al menos cinco, o quizás seis, que yo ordenaría siguiendo este orden de importancia: cambio climático, sequía, hambruna, terremotos, invasores y rebeliones internas. Uno podría optar por combinar el cambio climático con la sequía, en este caso serían cinco.

Pregunta – ¿Por qué sitúa este momento en el año 1177 a.C.? ¿No deberíamos hablar de un proceso largo y complejo que condujo al final de esta época?
Respuesta – Efectivamente, el proceso de colapso se tomó un siglo, desde alrededor del 1225 al 1125 a.C. , pero 1177 a.C. es un buen punto de referencia, porque es en este año cuando se produjo la segunda invasión de los Pueblos del Mar y también es cuando muchas de las ciudades iniciaron su declive, si no estaban ya destruidas. Entonces, he usado esa fecha como clave del colapso total, así como usamos el 476 como clave de la caída del Imperio Romano, incluso aunque sabemos que no cayó exactamente ese año.

Pregunta – ¿Cuál era el origen de los Pueblos del Mar?
Respuesta – Esta es una excelente pregunta, pero no sabemos la respuesta con certeza. Pienso que el origen de algunos de ellos fue la region de Sicilia, Sardinia, y el sur de Italia (algunos de estos grupos llamados los Shekelesh y los Shardana suenan similares), pero es más que probable se unieran al camino iniciado por otros, pues sabemos que se movieron desde el oeste al este a lo largo del Mediterráneo. Entonces, entre los Pueblos del Mar pueden haber también gentes procedentes de las actuales Grecia y Turquía. Pero no hemos identificado de forma definitiva una tierra de procedencia para ellos.

Pregunta – ¿Cuál fue el legado de los Pueblos del Mar?
Respuesta – Su principal legado ha sido los filisteos y su cultura. El grupo entre los Pueblos del Mar que los egipcios llamaron Peleset es probablemente el grupo que nosotros conocemos como los filisteos de la Biblia. Parece que se asentaron en la region de Canaán y quizás se asimilaron con los locales, antes del auge de Israel.

Pregunta – ¿Podría encontrar paralelismos entre el final de la Edad del Bronce y nuestra crisis actual?
Respuesta – En efecto, actualmente estamos afrontando una situación muy parecida a la que tuvieron que hacer frente en 1177 a.C. – cambio climático, hambruna, sequía, rebeliones y terremotos. Lo único que no tenemos en el escenario actual son los Pueblos del Mar – los misteriosos invasores del otro lado del mar – aunque uno puede sugerir que ISIS o ISIL es nuestra versión de los Pueblos del Mar. Deberíamos agradecer, sin embargo, que estamos lo suficientemente desarrollados como para entender qué está pasando y dar pasos para solucionar las cosas, en vez de aceptar simple y pasivamente que tienen que ocurrir.

Os filisteus e a crise da Idade do Bronze

Nestes dias os filisteus estão novamente nas manchetes.

Sobre o colapso das grandes civilizações do Antigo Oriente Médio no final da Idade do Bronze e sobre o papel dos “povos do mar” nesta crise – época e contexto em que os filisteus começam a ser citados – há incontáveis bons estudos.

Entretanto, um alerta: graças às descobertas arqueológicas sobre os filisteus feitas nos últimos anos, muitos dos argumentos arqueológicos em obras com mais de uma década estão ultrapassados.

Diz Carl S. Ehrlich, no artigo Philistines, em Oxford Bibliographies, com data de 28 de agosto de 2018:

Escavações no cemitério filisteu de AscalonOs filisteus eram um povo com raízes no mundo Egeu ou na Anatólia. Eles se estabeleceram no sul da faixa costeira de Canaã por volta do ano 1200 a.C., durante o período de transição entre a Idade do Bronze Recente e a Idade do Ferro.

Nas fontes egípcias que datam desta época, eles são um dos chamados “povos do mar” que entraram em conflito com o Egito.

Embora sejam mencionados anacronicamente na Bíblia hebraica tanto nas narrativas patriarcais quanto nas tradições do êxodo, é apenas nas narrativas que tratam da época dos Juízes – particularmente no ciclo de Sansão, em Jz 13–16 – e com a ascensão da monarquia israelita, correspondendo respectivamente à Idade do Ferro Ib e IIa, que eles desempenham o papel de antagonistas dos israelitas. Particularmente de Sansão e do primeiro rei, Saul.

Apesar da atitude negativa do texto em relação a eles, Davi parece ter passado algum tempo como um vassalo filisteu antes de assumir a realeza israelita após a morte de Saul e de seus filhos nas mãos dos filisteus.

Depois da suposta neutralização da ameaça filisteia por Davi, os filisteus aparecem apenas esporadicamente nos textos bíblicos, principalmente nos oráculos proféticos contra as nações.

Segundo os textos bíblicos, os filisteus eram organizados em uma confederação de cinco cidades, a pentápole filisteia: Ashdod, Ascalon e Gaza na costa mediterrânea, e Ekron e Gat mais para o interior. Do ponto de vista dos textos bíblicos, os filisteus eram o “outro” por excelência, distintos dos outros habitantes da Palestina por não serem circuncidados.

Nossa compreensão da história e da cultura filisteias foi grandemente ampliada: primeiro por uma série de textos do Antigo Oriente Médio, particularmente do período do Reino Novo no Egito (séculos XIII-XII a.C.) e do período neoassírio (séculos VIII a VII a.C.); e, segundo, pelos resultados de escavações arqueológicas em sítios filisteus.

Embora um estilo específico de cerâmica bicromática fosse associado aos filisteus já no final do século XIX, foi somente na década de sessenta do século XX que começaram a ser realizadas intensas escavações em cidades da pentápole filisteia – com exceção de Gaza, que está sob a cidade moderna do mesmo nome – e em locais menores e mais periféricos. Isso nos permitiu traçar um quadro muito mais consistente da história, da sociedade e da cultura material dos filisteus.

 

The Philistines were a people with roots in the Aegean or Anatolian world who settled on the southern coastal strip of Canaan around the year 1200, during the transitional period between the Late Bronze Age and the Early Iron Age. In Egyptian sources dating to this time, they are one among a number of so-called Sea Peoples who came into conflict with Egypt. Although they are mentioned anachronistically in the Hebrew Bible in both the ancestral (i.e., patriarchal) narratives and the exodus traditions, it is only in narratives dealing with the period of the judges (particularly in the Samson cycle: Judges 13–16) and with the rise of the Israelite monarchy, corresponding respectively to Iron Age Ib and IIa, that they play a more central role as antagonists: particularly of Samson and of the first Israelite king, Saul. In spite of the text’s negative attitude toward them, David appears to have spent some time as a Philistine vassal before assuming the mantle of Israelite kingship following the deaths of Saul and most of his sons at Philistine hands. After David’s supposed neutralization of the Philistine threat, the Philistines appear only sporadically in the biblical text, most noticeably in prophetic oracles against the nations. According to biblical literature, the Philistines were organized in a loose confederation of five city-states (the Philistine Pentapolis): Ashdod, Ashkelon, and Gaza along the coast, and Ekron and Gath farther inland, although the latter city does not appear in later texts. From the perspective of the biblical text, the Philistines were the quintessential “other,” distinguished from the other inhabitants of the Levant through their uncircumcised state. Our picture of Philistine history and culture is greatly expanded first by a number of ancient Near Eastern texts, particularly from the late New Kingdom Period in Egypt (13th–12th centuries BCE) and from the neo-Assyrian period (8th–7th centuries BCE), and second by the results of archaeological excavations at Philistine sites. Although a distinctive style of bichrome pottery was associated with the Philistines already at the end of the 19th century, it was not until the 1960s that intensive excavations began to be carried out both at cities of the Philistine Pentapolis (with the exception of Gaza, which is covered by the modern city of the same name) and at smaller and more peripheral sites. These have allowed us to draw a much more nuanced picture of Philistine history, society, and material culture, which oftentimes provides a corrective to the witness of the biblical text.

Para saber mais sobre os filisteus e os “povos do mar”, recomendo o livro de CLINE, E. H. 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2014, 264 p. – ISBN 978691168388. Vou apresentá-lo no post seguinte. E há uma bibliografia, que cita também recursos online, aqui.

DNA indica origem europeia dos filisteus

Em minha História de Israel escrevi: Palestina é um nome derivado de “filisteus”, em hebraico pelishtim, um povo que habitava a faixa costeira situada entre o Egito e a Fenícia. Os filisteus são de origem egeia, talvez de Creta. Faziam parte dos “povos do mar”, que após 1177 a.C., mais ou menos, tentaram invadir o Egito, mas foram vencidos pelo faraó Ramsés III e passaram a viver naquela parte da Palestina.

Agora foi divulgado que uma equipe de pesquisadores usando avançadas tecnologias de DNA em amostras antigas de ossos encontrados durante escavações feitas em Ascalon, na costa palestina, de 1985 a 2016, e analisando os dados genômicos recuperados de pessoas que ali viveram durante as Idades do Bronze Recente e do Ferro (cerca de 1600 a 900 a.C.), descobriu que uma proporção substancial de seus ancestrais era derivada de uma população europeia. Essa ancestralidade derivada da Europa foi introduzida em Ascalon por volta da época da chegada estimada dos filisteus no século XII a.C. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Advances.

 

Ancient DNA sheds light on the origins of the Biblical Philistines

An international team, led by scientists from the Max Planck Institute for the Science of Human History and the Leon Levy Expedition, retrieved and analyzed, for the first time, genome-wide data from people who lived during the Bronze and Iron Age (~3,600-2,800 years ago) in the ancient port city of Ashkelon, one of the core Philistine cities during the Iron Age.

The team found that a European derived ancestry was introduced in Ashkelon around the time of the Philistines’ estimated arrival, suggesting that ancestors of the Escavações no cemitério filisteu de AscalonPhilistines migrated across the Mediterranean, reaching Ashkelon by the early Iron Age.

This European related genetic component was subsequently diluted by the local Levantine gene pool over the succeeding centuries, suggesting intensive admixture between local and foreign populations. These genetic results, published in Science Advances, are a critical step toward understanding the long-disputed origins of the Philistines.

The Philistines are famous for their appearance in the Hebrew Bible as the arch-enemies of the Israelites. However, the ancient texts tell little about the Philistine origins other than a later memory that the Philistines came from “Caphtor” (a Bronze Age name for Crete; Amos 9:7).

More than a century ago, Egyptologists proposed that a group called the Peleset in texts of the late twelfth century BCE were the same as the Biblical Philistines. The Egyptians claimed that the Peleset travelled from the “the islands,” attacking what is today Cyprus and the Turkish and Syrian coasts, finally attempting to invade Egypt.

These hieroglyphic inscriptions were the first indication that the search for the origins of the Philistines should be focused in the late second millennium BCE. From 1985-2016, the Leon Levy Expedition to Ashkelon, a project of the Harvard Semitic Museum, took up the search for the origin of the Philistines at Ashkelon, one of the five “Philistine” cities according to the Hebrew Bible.

Led by its founder, the late Lawrence E. Stager, and then by Daniel M. Master, an author of the study and director of the Leon Levy Expedition to Ashkelon, the team found substantial changes in ways of life during the 12th century BCE which they connected to the arrival of the Philistines. Many scholars, however, argued that these cultural changes were merely the result of trade or a local imitation of foreign styles and not the result of a substantial movement of people.

This new study represents the culmination of more than thirty years of archaeological work and of genetic research utilizing state of the art technologies, concluding that the advent of the Philistines in the southern Levant involved a movement of people from the west during the Bronze to Iron Age transition.

Genetic discontinuity between the Bronze and Iron Age people of Ashkelon

The researchers successfully recovered genomic data from the remains of 10 individuals who lived in Ashkelon during the Bronze and Iron Age. This data allowed the team to compare the DNA of the Bronze and Iron Age people of Ashkelon to determine how they were related.

The researchers found that individuals across all time periods derived most of their ancestry from the local Levantine gene pool, but that individuals who lived in early Iron Age Ashkelon had a European derived ancestral component that was not present in their Bronze Age predecessors.

“This genetic distinction is due to European-related gene flow introduced in Ashkelon during either the end of the Bronze Age or the beginning of the Iron Age. This timing is in accord with estimates of the Philistines arrival to the coast of the Levant, based on archaeological and textual records,” explains Michal Feldman of the Max Planck Institute for the Science of Human History, leading author of the study. “While our modelling suggests a southern European gene pool as a plausible source, future sampling could identify more precisely the populations introducing the European-related component to Ashkelon.”

Transient impact of the “European related” gene flow

In analyzing later Iron Age individuals from Ashkelon, the researchers found that the European related component could no longer be traced. “Within no more than two centuries, this genetic footprint introduced during the early Iron Age is no longer detectable and seems to be diluted by a local Levantine related gene pool,” states Choongwon Jeong of the Max Planck Institute of the Science of Human History, one of the corresponding authors of the study.

“While, according to ancient texts, the people of Ashkelon in the first millennium BCE remained ‘Philistines’ to their neighbors, the distinctiveness of their genetic makeup was no longer clear, perhaps due to intermarriage with Levantine groups around them,” notes Master.

“This data begins to fill a temporal gap in the genetic map of the southern Levant,” explains Johannes Krause of the Max Planck Institute for the Science of Human History, senior author of the study. “At the same time, by the zoomed-in comparative analysis of the Ashkelon genetic time transect, we find that the unique cultural features in the early Iron Age are mirrored by a distinct genetic composition of the early Iron Age people.”

Fonte: Archaeology News Network – 03/07/2019

 

Em 2016 a BBC já havia publicado o seguinte:

Arqueólogos fazem ‘descoberta inédita’ de cemitério filisteu em Israel – BBC News Brasil: 10 julho 2016

Pesquisadores em Israel afirmam ter descoberto um cemitério filisteu – seria, segundo eles, o primeiro a ser encontrado na história.

O achado, ocorrido em 2013 e tornado público neste domingo, pode trazer respostas sobre o antigo mistério em torno da origem do povo.

A descoberta marcou o fim da escavação realizada pela Expedição Leon Levy na região do Parque Nacional de Ashkelon, no sul de Israel. Os trabalhos duraram 30 anos.

Os líderes da pesquisa dizem ter encontrado 145 conjuntos de restos mortais em várias câmaras fúnebres, algumas cercadas por perfume, comida, joias e armas.

As ossadas são originárias do período compreendido entre os séculos 11 a.C. e 8 a.C.

 

Povo migrante

Os filisteus são mencionados na Bíblia como arqui-inimigos dos antigos israelitas.

Acredita-se que eles tenham migrado para as terras de Israel por volta do século 12 a.C, vindos de áreas do oeste.

O filisteu mais famoso nos dias atuais é Golias, guerreiro gigante que, segundo o livro sagrado, foi vencido pelo jovem Davi antes de ele se tornar rei.

“Após décadas estudando o que os filisteus deixaram para trás, nós finalmente ficamos cara a cara com essas pessoas”, afirmou Daniel M. Master, um dos líderes da escavação.

“Com essa descoberta, nós estamos próximos de desvendar o segredo em torno de suas origens.”

 

Segredo de três anos

O achado foi mantido em segredo por três anos até que os trabalhos fossem finalizados. O objetivo era evitar atrair a atenção de ativistas judeus ultraortodoxos, que já haviam feito atos contra escavações.

Os manifestantes acusavam os arqueólogos de perturbar locais de sepultamento.

“Nós tivemos que segurar as nossas línguas por um longo tempo”, disse Master.

Especialistas que estudaram o período divergem sobre a origem geográfica dos filisteus – Grécia, sua ilha Creta, Chipre e Anatólia, na Turquia, são apontados.

A equipe da expedição está agora fazendo exames de DNA, de datação por radiocarbono e outros testes nos restos mortais em uma tentativa de apontar com previsão sua ascendência.

A maioria dos corpos não foi enterrada com itens pessoais, afirmam os pesquisadores, mas perto de alguns havia utensílios onde eram guardados perfumes, jarras e pequenas tigelas.

Poucos indivíduos foram sepultados com pulseiras e brincos. Outros, com armas.

“É assim que filisteus tratavam seus mortos, e esse é o ‘livro de códigos’ para decifrar tudo”, disse o arqueólogo Adam Aja, um dos participantes da escavação.

 

DNA dos filisteus mostra suas origens europeias – AFP: 03/07/2019

Esqueletos antigos encontrados em Israel e analisados na Alemanha podem ser a chave para resolver o enigma do povo filisteu e estabelecer suas origens europeias pela primeira vez através da análise de seu DNA, de acordo com cientistas.

Esta descoberta sobre as origens deste povo estabelecido na antiguidade no sudoeste de Canaã, em uma faixa de terra que atualmente fica entre Tel Aviv e Gaza, foi publicado nesta quarta-feira (3) na revista Science Advances, e qualificada como “extraordinária” por um dos arqueólogos do projeto.

Até agora, os cientistas não tinham nenhuma informação que permitisse traçar a origem dos filisteus. Só sabiam que chegaram a esta região semita por volta do século XII a.C.

Os escritos bíblicos e egípcios os incluíam nos chamados “povos do mar”. Suas cerâmicas vermelhas e negras, assim como sua arquitetura, poderiam relacioná-los com as civilizações presentes no Mar Egeu.

“A ideia segundo a qual os filisteus eram migrantes nunca antes pôde ser demonstrada”, explica Daniel Master, que dirigiu a equipe arqueológica que fez escavações em Ascalon, uma das cinco cidades filisteias localizadas atualmente no sudoeste de Israel.

As ossadas encontradas em Ascalon, da Idade do Bronze e do Ferro, foram analisadas graças a avançadas tecnologias na Alemanha.

Ao comparar o genoma das ossadas dos dois períodos, “descobrimos que os filisteus, que estavam presentes na Idade do Ferro, tinham uma parte de seu genoma que não existia nos povos que viviam ali antes, na Idade do Bronze”, destaca Michal Felman, uma das pesquisadoras do Instituto Max Planck para as ciências da história humana em Jena, Alemanha.

“Esta parte do genoma parece derivar de um genoma europeu”, acrescentou.

“Há 150 anos arqueólogos de todo o mundo trabalham sobre este tema”, destaca por sua vez Daniel Master, que qualifica a descoberta como “extraordinária”.

“Agora, com os resultados do DNA à nossa disposição, que mostram um aporte de origem europeia em Ascalon no século XII a.C. podemos dizer (…) que estas pessoas eram migrantes vindos a esta região no século XII”, destacou.

– Primeira migração rastreada –

A equipe de Daniel Master descobriu em 2013 um cemitério filisteu em Ascalon do qual se pôde obter uma ampla diversidade de amostras de DNA para ser analisadas pelos arqueogeneticistas.

Os resultados, no entanto, não tinham sido publicados até agora, já que os métodos que permitiam este tipo de investigação não estavam disponíveis antes, assegura Michal Feldman.

Os cientistas podem averiguar a origem dos filisteus “na Europa e provavelmente no sul da Europa”, mas “ainda não têm suficientes dados para identificar a população exata”, destaca.

As razões que levaram os filisteus a se instalar no litoral ensolarado do leste do Mediterrâneo por volta do fim da Idade do Bronze continuam sendo, no entanto, um mistério.

Mas segundo Daniel Master, durante o século XIII a. C. ocorreram várias migrações rumo ao leste do Mediterrâneo. É a primeira vez que os cientistas conseguiram rastrear uma delas, afirma.

Os filisteus, experientes comerciantes e marinheiros, não praticavam a circuncisão e comiam carne de porco e de cachorro, como demonstram os ossos encontrados nas ruínas das outras quatro cidades filisteias vizinhas (Gat, Gaza, Ashdod e Ekron), que formavam seu Estado.

Esta população desapareceu por volta de 600 a.C., quando os babilônios conquistaram a região.

Sua história foi sobretudo transmitida por seus vizinhos e inimigos, os israelitas, na Bíblia, onde são mencionados em tons muito negativos.

Morreu o cantor e compositor João Gilberto

Morre, aos 88 anos, João Gilberto, o pai da Bossa Nova

O cantor e compositor João Gilberto faleceu neste sábado (6), aos 88 anos de idade, em sua casa no Rio de Janeiro. O músico baiano ficou mundialmente conhecido como um dos precursores da bossa nova, e sua obra e trajetória foram fundamentais para a música brasileira.

João Gilberto no Teatro Castro Alves, em Salvador, em janeiro de 1980 — Foto: Agliberto Lima/Estadão João Gilberto surgiu no cenário da música internacional com a canção Chega de Saudade, um de seus clássicos, e logo se estabeleceu como um dos pioneiros da Bossa Nova, estilo que revolucionou a música brasileira e a levou a abrir portas no mundo inteiro. Sua fama internacional o levou a ser considerado um dos artistas estrangeiros que mais influenciou o jazz norte-americano. Também o levou a ganhar prêmios importantes na Europa e nos Estados Unidos, entre eles o Grammy.

Apesar de ser um dos artistas mais importantes da história do Brasil, João Gilberto passou por problemas econômicos nos seus últimos anos de vida. Em março deste ano, a 25ª Vara Cível do Rio penhorou R$ 79.692,90 das contas bancárias do cantor, por ele ser fiador do contrato de aluguel de um imóvel no Leblon onde morava a ex-namorada, Maria do Céu Harris, que foi despejada.

Na ocasião, o jornalista da Revista Fórum, Julinho Bittencourt, denunciou o descaso do Estado brasileiro para com um dos ícones da nossa cultura, e propôs que ele fosse tombado, e não penhorado: “deveria ser tombado pelo patrimônio histórico e cultural. É o maior artista brasileiro vivo de todos os tempos. Com a partida de Portinari, Guimarães Rosa, Villa Lobos e Oscar Niemeyer não sobra pra ninguém. Assim como Brasília é intocável, João também deveria ser. João não é humano. É o inventor da nossa música popular contemporânea. Não fosse ele, não existiria Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano, Gil, Ivete Sangalo, Anitta e o escambau. Para o bem e para o mal, João nos fez do jeito que somos”.

Fonte: Revista Fórum – 06/07/2019

 

João Gilberto, pai da bossa nova, morre aos 88 anos

Um dos nomes mais importantes da música brasileira, cantor morreu no Rio de Janeiro segundo seu filho, João Marcelo Gilberto.

João Gilberto morreu neste sábado (6) aos 88 anos. O músico, um dos criadores da bossa nova, morreu em casa, no Rio de Janeiro. Ele enfrentava problemas de saúde há alguns anos. A informação foi confirmada ao G1 pelo seu filho, João Marcelo Gilberto, que mora nos Estados Unidos.

Além de Marcelo, ele deixa outros dois filhos, Bebel e Luísa.

Recluso, João foi interditado judicialmente pela filha, Bebel Gilberto, no fim de 2017. A interdição motivou uma disputa familiar entre Bebel e João Marcelo, que são meio-irmãos.

Em nota divulgada na época, a advogada de Bebel disse que a intervenção foi motivada por problemas de saúde e complicações financeiras do cantor.

Pai da bossa nova

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira concluiu em 1961 a trilogia de álbuns fundamentais que apresentaram a bossa nova ao mundo: “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto” de 1961.

O álbum que marcou o início do gênero em 1959, “Chega de saudade”, traz a música de mesmo nome composta por Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980).

A canção havia sido apresentada em um LP em abril de 1958 por Elizeth Cardoso (1920-1990), mas a versão mais conhecida, com a voz de João, foi lançada em agosto do mesmo ano.

João Gilberto nasceu em Juazeiro, na Bahia, em 10 de junho de 1931. Depois de alguns anos morando em Aracaju (SE), onde passou a tocar na banda escolar, voltou à sua cidade natal e, aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai.

Depois da consagração, lançou criações próprias e seguiu com shows e discos que se tornaram obras de arte, como é o caso de “Amoroso”, álbum gravado nos Estados Unidos entre 1976 e 1977 sob o selo Warner Music.

O álbum foi relançado no Brasil em formato longo durante os festejos dos 60 anos da Bossa Nova. O álbum celebra o encontro harmonioso do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman (1930 – 2016).

A produção de João foi objeto de uma disputa judicial em 2018. A defesa do cantor pedia uma revisão no valor de uma indenização da gravadora EMI Records, hoje controlada pela Universal Music. Em 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibiu a empresa de vender os discos do artista sem seu consentimento. A Universal não comenta o caso.

Começo de carreira

Por volta dos 16 anos de idade, abandonou os estudos para se dedicar à música após se mudar para Salvador (BA). Anos depois vai para o Rio de Janeiro, ao ser convidado para fazer parte do grupo Garotos da Lua.

Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, ainda antes de criar a batida característica da bossa nova, mas não conseguiu sucesso.

Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, percebe que ao cantar mais baixo e manter a batida poderia adiantar ou atrasar o canto. Esse novo tempo criado foi o responsável por encantar o compositor Roberto Menescal, que o apresentou a pessoas como o produtor musical Ronaldo Bôscoli.

Tom Jobim viu neste novo estilo uma forma de modernizar o samba ao simplificar seu ritmo, e resolveu apresentar a João uma música que tinha escrito com Vinícius de Moraes mas que estava encostada, “Chega de Saudade”.

Fonte: G1 – 06/07/2019

Ainda sobre o fragmento de Marcos

O debate sobre o fragmento de Marcos voltou.

Do que se trata?

Especialistas avaliam que o P137 foi escrito entre 150 e 250 d.C. O manuscrito mede apenas 4,4 x 4 cm, e contém algumas letras dos versículos 7–9 e 16–18 do capítulo 1 do evangelho de Marcos. Mesmo que não seja tão antigo quanto muitos esperavam – fora divulgado que seria do século I -, o P137 ainda é uma descoberta significativa, pois é provável que este seja o mais antigo fragmento do evangelho de Marcos até agora descoberto.

Para entender o caso, três posts podem ser lidos:P137 ou P. Oxy. 5453

Descoberto fragmento de Marcos do século I?

Esclarecimentos sobre o fragmento de Marcos do século I

Fragmento de Marcos foi escrito entre 150 e 250 d.C.

Jim West fez um apanhado das várias intervenções no Biblical Studies Carnival 160, publicado ontem. É preciso conferir o original para os links. Ele diz:

So called ‘First Century’ Mark has returned… blerg. It is worth noting that the Green Collection, though having received title to the fragments (see point 10 of the purchase agreement), never took physical possession of the fragments. Instead, in accordance with other terms of the agreement (see points 10.1-10.2) the fragments were left in Obbink’s custody for research and publication (the intended venue of initial publication being specified in 10.3). You’ll have to read the post and its attachments to figure out what all that is supposed to mean. Blerg.

Larry Hurtado writes in connection with the scandal (this is as close to scandal as scholarship gets, unless you count Richard Pervo…): This new evidence is personally dismaying, as it raises questions about the actions of Obbink, in whom I placed trust earlier (as in my blog posting here). It now appears that my confidence may have been misplaced. In a comment on Nongbri’s posting [NB- It’s actually a comment on Elijah Hixson’s post, not Nongbri’s][JW], Peter Head says these developments now make me and Ehrman look “stupid”. I’m not clear how he reached that judgment. I may have been mistaken in my trust in Obbink, but trusting someone until there is reason to think otherwise is hardly stupid, Peter. Also chiming in is Elijah Hixson over on ETC. Enjoy the comments there too.

But the best analysis of the whole debacle is by Bart Ehrman. His take is here. And his response to demonstrably false claims and statements is here.

And then there’s this analysis of the receipt for the documents. Gonzo work! This first century (not) Mark thing will be made into a mystery film before long. I suggest ‘On the Trail of Mark: Fraud for Profit’…

But if you want a more Obbink friendly take on the whole thing, don’t worry. There’s this guy. He seems to think the whole thing is a setup…. And Larry Hurtado thinks the fragment probative. Allow me to remind you, however, that it is unprovenanced.

And, finally, as the month drew to a close, this shows up in Christianity Today. What a bunch of shady characters doing shady things. And worst of all, they knew they were.

Whew… That’s a lot of talk about an unprovenanced trinket. Hey, you know how these problems and scandals can be avoided in the future? Scholars can decide to have NOTHING to do with anything unprovenanced! ‘Oh, hey Bob, you have a trinket you think is ancient and you want me to stake my reputation on it but you got it from some dude in a back alley? Nah, hard pass, dude. You go ruin your reputation, I think I’ll keep mine’.

A isto acrescento algo que li hoje no blog Kiwi Hellenist e que nos ajuda a entender o imbróglio de 1903 até 29 de junho de 2019: The ‘FCM’ scandal: a timeline.

Estudos sobre Alexandre Magno

MOORE, K. R. (ed.) Brill’s Companion to the Reception of Alexander the Great. Leiden/Boston: Brill, 2018, 856 p. – ISBN 9789004285071

MOORE, K. R. (ed.) Brill's Companion to the Reception of Alexander the Great. Leiden/Boston: Brill, 2018, 856 p.This is the third time that Brill has graced us with a companion to Alexander. The first volume focused on the historical character (Roisman in 2002), whereas the second explored Alexander’s reception in medieval literature (Zuwiyya in 2011). The book under review has a more ambitious scope in collating ‘receptions’ from the ancient world to the present day. Print book readers and bookshelves alike will feel the weight of this endeavour; the number of pages is higher than that of its predecessors combined. The scholarly community has long anticipated the volume. I personally heard rumours about it at Alexander-related conferences as early as 2013, but one chapter refers to its own inception in 2011. The book has arrived at an opportune time. University courses, publications, and conference activity continue to confirm the increasing interest in different receptions of Alexander. For example, reception became a major theme at a 2018-conference in Edmonton, organised by Frances Pownall (University of Alberta). The present volume will no doubt help researchers and students in search of new horizons for Alexander’s ‘superlative legacy’ (p. xi).

The wide array of content is presented in thirty-three chapters of varying length, with bibliographies appended to each. No house style has been imposed. A short index of topics concludes the volume. The contributions are generally of high standard, and the editor is to be commended for gathering a diverse group of scholars (pp. xiv-xxiii). Moore has organised the book into three major parts, of which the longest concerns ‘Ancient Greek, Roman and Persian receptions’ (Part I). One may always discuss the coherence and inclusions/exclusions in such edited volumes, but I consider it a wise decision to devote less attention to the Middle Ages, considering the previous Brill volume on the market, as well as the grand French project on Mythalexandre.

Trecho da resenha feita por Christian Thrue Djurslev, da Universidade de Aarhus, Dinamarca, em Bryn Mawr Classical Review 2019.04.19.

Kenneth Royce Moore is Senior Lecturer in the History of Ideas at Teesside University, UK.

Na História de Israel abordo Alexandre Magno no item A época persa e as conquistas de Alexandre.

Morreu Dom Moacyr Grechi

Morre Dom Moacyr Grechi, aos 83 anos, em Porto Velho

Acabou de falecer Dom Moacyr Grechi. Foi bispo de Rio Branco, Acre, e de Porto Velho, Rondônia.

Dom Moacyr Grechi (1936-2019)A informação é de Paulo Barausse, jesuíta, coordenador do SARES, em Manaus.

O arcebispo emérito de Porto Velho, dom Moacyr Grechi faleceu na tarde desta segunda-feira (17), na capital de Rondônia. O religioso foi arcebispo de Rio Branco entre 1972 e 1998 e arcebispo de Porto Velho de 1998 a 2011. A primeira informação da morte foi dada em um grupo de WhatsApp para casais católicos, e às 18h30min a Igreja confirmou a informação.

Foi um dos criadores do Conselho Indigenista Missionário – CIMI e da Comissão Pastoral da Terra – CPT, entidade que presidiu por oito anos. Destacou-se pela defesa dos indígenas, dos seringueiros e dos trabalhadores rurais.

Lutou pela punição dos assassinos de Chico Mendes, que conheceu pela atuação nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s).

Fez denúncias contra Hildebrando Pascoal.

Como arcebispo de Porto Velho, contribuiu para a criação da Faculdade Católica de Rondônia, da Comissão Justiça e Paz de Rondônia e para o fortalecimento dos Centros Sociais da Arquidiocese.

Teve como lema: “O último de todos e o servo de todos”.

Foi membro delegado pela CNBB da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho (Conferência de Aparecida), que aconteceu em maio de 2007, onde teve contato com Jorge Mário Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, que futuramente seria o Papa Francisco.

Convivi muitos anos com Dom Moacyr. Era um pastor muito preocupado com o povo. Foi muito corajoso nas denúncias contra Hildebrando Pascoal. Não podemos esquecer que foi a primeira vez que foi quebrada a imunidade parlamentar de um deputado federal.

Que Deus o acolha na sua bondade e misericórdia.

Fonte: IHU On-Line – 18 junho 2019

Nota da CNBB

Morre dom Moacyr Grechi, bispo emérito de Porto Velho (RO), aos 83 anos

O arcebispo emérito de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi faleceu na tarde desta segunda-feira (17), na capital do Estado de Rondônia. Dom Moacir foi arcebispo de AmazôniaRio Branco, Acre, de 1972 a 1998 e arcebispo de Porto Velho, Rondônia, de 1998 a 2011.

Seu lema episcopal era: “O último de todos e o servo de todos”!

Sempre sensível à causa dos que sofrem, assumiu a defesa dos indígenas, dos seringueiros e dos trabalhadores rurais. Foi um dos criadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que presidiu por oito anos.

Além disso, participou da criação da Faculdade Católica de Rondônia, bem como da Comissão Justiça e Paz.

Atuou ainda como delegado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Conferência de Aparecida que aconteceu em maio de 2007. Dom Moacir também era membro da Comissão da Amazônia, embora nos últimos tempos estivesse afastado por razões de saúde.

Leia Mais:
”A Igreja não pode ficar alheia à realidade, ela tem de correr riscos, inclusive de morte”. Entrevista especial com Dom Moacyr Grechi
A Amazônia não é uma colônia a ser explorada. Entrevista especial com Dom Moacyr Grechi

A contribuição da Laudato Si’ para a consciência ecológica

«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras»

“A Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica”. Entrevista com Michel Löwy – IHU On-Line: 14 junho 2019

“A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo”, afirma Michael Löwy, em entrevista abaixo.

Michel Löwy é um dos principais intelectuais do marxismo atual e um destacado impulsionador do ecossocialismo anticapitalista. Diretor de pesquisa emérito do Centre National da Recherche Scientifique e professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Entre suas obras, destacamos A teoria da revolução no jovem Marx, O pensamento de Che Guevara, Walter Benjamin: aviso de incêndio e Ecossocialismo. Há alguns meses, a editora El Viejo Topo publicou Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas.LÖWY, M. Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019

A entrevista é de Juanjo Sánchez e Evaristo Villar, publicada pela revista Éxodo e reproduzida por Rebelión, 13-06-2019.

Ele diz no final da entrevista:

Uma parte de seu livro [Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019] aborda as relações entre cristianismo de libertação, ecossocialismo e anticapitalismo. O que pensa da posição do Papa Francisco no âmbito da ecologia?

A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo.

Bergoglio não é um marxista e a palavra capitalismo não aparece na encíclica. Mas, fica muito claro que para ele os dramáticos problemas ecológicos de nossa época são o resultado das “engrenagens da atual economia globalizada”, engrenagens que constituem um sistema global. É, segundo suas palavras, “um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”.

Quais são, segundo o papa Francisco, estas características “estruturalmente perversas”?. Antes de tudo, é um sistema no qual predominam os interesses limitados das empresa e uma questionável racionalidade econômica, uma racionalidade instrumental que tem por único objetivo maximizar o lucro. Afirma este Papa: “O princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceptual da economia: desde que aumente a produção, pouco interessa que isso se consiga à custa dos recursos futuros ou da saúde do meio ambiente”.

Esta distorção, esta perversidade ética e social, não é própria de um ou outro país, mas, sim, de um “sistema mundial actual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente. Assim se manifesta como estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética”. São citações textuais. Penso que fica claro seu pensamento quando relaciona capitalismo, destruição ambiental e ecologia.

Há quatro categorias de estudos das metáforas em Oseias

Nas p. 355-360 de seu artigo sobre Oseias 4-14, Brad E. Kelle classifica os estudos das metáforas no livro de Oseias, ao longo do século XX e primeira década do século XXI, em quatro categorias. Ele diz:

Overall, developments in the metaphorical study of Hosea can be grouped into four categories: (1) attention to divine and human metaphors; (2) religious, socio-economic, and political interpretations; (3) the indeterminate and unstable nature of the book’s metaphors; and (4) new variations in feminist (and masculinist) approaches to imagery throughout the book.

The first category of metaphor study, which explores the book’s images for God and the people, is the most common, with some emerging engagement with Hosea’s depictions of the natural world and their ecological implications (e.g., Loya 2008). Commentaries from throughout the twentieth century highlight the use of family images (husband–wife, parentchild) as the major depictions of the relationship between God and the people, but also stress the vast array of metaphors used for both God and the people, especially in the oracles in Hosea 4–14 (see Östborn 1956; Wolff 1974; Limburg 1988). These metaphors fall into several clusters, including representations of God with personal imagery (judge, farmer, physician), animal imagery (moth, lion, she-bear), and plant imagery (cypress tree, rottenness), as well as representations of the people with similar animal and agricultural metaphors (stubborn heifer, silly dove, grapes, cake, chaff). The common critical judgment is that no single metaphor holds the key to the entire book, and one cannot use the presence of certain kinds of metaphors (e.g., baking) to reach biographical conclusions about Hosea’s past (Landy 1995b; Eidevall 1996; J.P. Lewis 1997; but cf. Beeby 1989: 3).

(…)

One aspect of Hosea’s metaphors for God that has drawn increasing attention concerns the question of whether certain passages in the book portray God in feminine terms that counter the more prevalent masculine, animal, and royal imagery. The text of ch. 11 in particular has generated a large number of studies on this point, as some feminist interpreters claim that the chapter’s language and imagery depicts Yahweh in feminine terms as a mother who breastfeeds an infant (Schüngel-Straumann 1986; Nissinen 1991; Seifert 1996). The presence of such language, it is argued, can give rise to a feminist theology that offers an alternative to the predominantly patriarchal nature of Hosea’s metaphors, especially as seen in chs. 1–3. Yet some recent studies of the book’s metaphors, including some works produced by feminist scholars,
follow the trend of older commentaries and argue that the language of ch. 11 remains ambiguous, and overtly feminist interpretations rely too heavily on imported assumptions (see Mays 1969: 150; Kreuzer 1989; Eidevall 1996:175; Yee 1996: 277-79; Sweeney 2000: 115).

The second major category of metaphor studies in Hosea scholarship, which offers religious, socio-economic, and political interpretations of the book’s imagery, appears in recent works that try to elucidate the primary underlying issue(s) or rhetorical focus that stands behind Hosea’s discourse (…) The most long-standing interpretation of the book’s metaphors, which has attained nearly unanimous support during various periods of the twentieth century, understands the imagery as addressing a widespread religious conflict in eighthentury Israel between Yahwism and Baalism (…) Several recent works suggest a socio-economic reading of Hosea’s metaphors, based largely upon reconstructions in newer sociological research. These works interpret the prophet’s metaphors as symbols of shifting social and economic relationships among king, cult, priest, and peasantry within Israel’s body politic.

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The third category of metaphor study in Hosea scholarship has garnered less attention in recent years, but builds upon approaches influenced by postmodernist literary perspectives. Since the mid-1990s, a few important studies have stressed the interdeterminacy and instability of the metaphors in Hosea, extending observations about the book’s language in general to the analysis of its metaphors in particular. The characterization by Landy is representative: ‘Metaphorical language, especially in Hosea, is often fractured, baffling, and claims a status verging on madness’ (1995b: 56). From this vantage point, Landy identifies a ‘disintegration’ of metaphors at work in the book, in which the metaphors remain inconsistent and resist coherent integration.

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The fourth category of metaphorical study consists of new variations on feminist approaches to Hosea’s imagery. As noted in the discussion of Israelite religion, some feminist approaches to the book’s metaphorical language published since the 1980s associate Hosea’s female and sexual imagery with traces of goddess worship and other female religious practices that the prophet sought to abolish (Balz-Cochois 1982; Wacker 1996; cf. Adams 2008). More recently, however, Moughtin-Mumby’s comprehensive examination (2008) of Hosea’s sexual and marital metaphors in the context of similar imagery found in Isaiah, Jeremiah, and Ezekiel foregrounds with a new intensity the question of whether the marital metaphor in Hosea 1–3 should establish the meaning for all subsequent sexual and marital imagery in the chapters that follow. In contrast to older studies (Light 1991; J.P. Lewis 1997), Moughtin-Mumby answers in the negative (see also Eidevall 1996), asserting that the diverse types and uses of sexual imagery in Hosea resist any formulation of a ‘standard’ marriage metaphor concept. She argues for a ‘cognitive contextual approach’ that focuses on the specific context and rhetorical function of each use of sexual and marital imagery (2008: 31). Moreover, the other, non-marital and non-sexual metaphors in Hosea, she concludes, provide the wider interpretive frame for the sexual imagery in chs. 4–14 (…) One of the most promising new variations of feminist criticism turns from traditional feminist-critical questions to masculinity studies, exploring the literary, ideological, and theological aspects of masculine imagery for God and people in the book.

 

Os estudos das metáforas no livro de Oseias podem ser agrupados em quatro categorias:MOUGHTIN-MUMBY, S. Sexual and Marital Metaphors in Hosea, Jeremiah, Isaiah, and Ezekiel. Oxford: Oxford University Press, 2008, 330 p. - ISBN 9780199239085
1. atenção às metáforas divinas e humanas
2. interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas
3. a natureza indeterminada e instável das metáforas do livro
4. novas variações nas abordagens feministas de imagens ao longo do livro

1. A primeira categoria de estudo das metáforas, que explora as imagens do livro que falam de Deus e das pessoas, é a mais comum, com algumas abordagens que tratam das representações da natureza e suas implicações ecológicas. Comentários ao longo de todo o século XX destacam o uso de imagens familiares – marido-esposa, pais – como as principais representações da relação entre Deus e o povo, mas também enfatizam a vasta gama de metáforas usadas tanto para Deus quanto para o povo. Essas metáforas se enquadram em vários agrupamentos, incluindo representações de Deus com imagens de atividades humanas, de animais e da natureza, assim como representações do povo com imagens de animais e da agricultura.

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As metáforas do livro de Oseias para falar de Deus são predominantemente masculinas. Mas o capítulo 11 tem provocado grandes debates, pois algumas intérpretes feministas afirmam que a linguagem do capítulo retrata Iahweh em termos femininos, como uma mãe que alimenta uma criança, quando fala de Iahweh que cuida de seu povo. A presença de tal linguagem, argumenta-se, pode dar origem a uma teologia feminista que oferece uma alternativa à natureza predominantemente patriarcal das metáforas de Oseias. No entanto, alguns estudos recentes sobre as metáforas do livro, incluindo algumas obras produzidas por estudiosos feministas, argumentam que a linguagem do capítulo 11 é ambígua, e que as interpretações abertamente feministas têm uma fundamentação frágil.

2. A segunda categoria de estudo das metáforas no livro de Oseias, que oferece interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas das imagens do livro, aparece em trabalhos recentes que tentam explicar o contexto do discurso de Oseias (…) A interpretação mais persistente das metáforas do livro, que alcançou apoio quase unânime durante vários períodos do século XX, compreende as imagens como referência a um conflito generalizado entre o javismo e o baalismo no século VIII a.C. (…) Vários trabalhos recentes, entretanto, sugerem uma leitura socioeconômica das metáforas de Oseias, baseada em grande parte nas reconstruções da pesquisa histórica mais recente. Essas obras interpretam as metáforas do profeta como símbolos das mudanças nas relações sociais e econômicas ocorridas em Israel no século VIII a.C.

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3. A natureza indeterminada e instável das metáforas no livro de Oseias constituem a terceira categoria de estudos. Há autores, embora sejam minoria, que percebem a linguagem do livro como fraturada e suas metáforas como desintegradas, refletindo, propositalmene, a situação da época.

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4. A quarta categoria de estudo das metáforas de Oseias traz novas abordagens feministas, postulando que as metáforas matrimonias do livro não devem ser vistas como padrão para a interpretação das outras metáforas, mas sim que cada metáfora deve ser lida no seu contexto e na sua função retórica própria. E há, na primeira década do século XXI, outras variações nas abordagens das metáforas femininas e masculinas de Oseias.