Os filisteus e a crise da Idade do Bronze

Nestes dias os filisteus estão novamente nas manchetes.

Sobre o colapso das grandes civilizações do Antigo Oriente Médio no final da Idade do Bronze e sobre o papel dos “povos do mar” nesta crise – época e contexto em que os filisteus começam a ser citados – há incontáveis bons estudos.

Entretanto, um alerta: graças às descobertas arqueológicas sobre os filisteus feitas nos últimos anos, muitos dos argumentos arqueológicos em obras com mais de uma década estão ultrapassados.

Diz Carl S. Ehrlich, no artigo Philistines, em Oxford Bibliographies, com data de 28 de agosto de 2018:

Escavações no cemitério filisteu de AscalonOs filisteus eram um povo com raízes no mundo Egeu ou na Anatólia. Eles se estabeleceram no sul da faixa costeira de Canaã por volta do ano 1200 a.C., durante o período de transição entre a Idade do Bronze Recente e a Idade do Ferro.

Nas fontes egípcias que datam desta época, eles são um dos chamados “povos do mar” que entraram em conflito com o Egito.

Embora sejam mencionados anacronicamente na Bíblia hebraica tanto nas narrativas patriarcais quanto nas tradições do êxodo, é apenas nas narrativas que tratam da época dos Juízes – particularmente no ciclo de Sansão, em Jz 13–16 – e com a ascensão da monarquia israelita, correspondendo respectivamente à Idade do Ferro Ib e IIa, que eles desempenham o papel de antagonistas dos israelitas. Particularmente de Sansão e do primeiro rei, Saul.

Apesar da atitude negativa do texto em relação a eles, Davi parece ter passado algum tempo como um vassalo filisteu antes de assumir a realeza israelita após a morte de Saul e de seus filhos nas mãos dos filisteus.

Depois da suposta neutralização da ameaça filisteia por Davi, os filisteus aparecem apenas esporadicamente nos textos bíblicos, principalmente nos oráculos proféticos contra as nações.

Segundo os textos bíblicos, os filisteus eram organizados em uma confederação de cinco cidades, a pentápole filisteia: Ashdod, Ascalon e Gaza na costa mediterrânea, e Ekron e Gat mais para o interior. Do ponto de vista dos textos bíblicos, os filisteus eram o “outro” por excelência, distintos dos outros habitantes da Palestina por não serem circuncidados.

Nossa compreensão da história e da cultura filisteias foi grandemente ampliada: primeiro por uma série de textos do Antigo Oriente Médio, particularmente do período do Reino Novo no Egito (séculos XIII-XII a.C.) e do período neoassírio (séculos VIII a VII a.C.); e, segundo, pelos resultados de escavações arqueológicas em sítios filisteus.

Embora um estilo específico de cerâmica bicromática fosse associado aos filisteus já no final do século XIX, foi somente na década de sessenta do século XX que começaram a ser realizadas intensas escavações em cidades da pentápole filisteia – com exceção de Gaza, que está sob a cidade moderna do mesmo nome – e em locais menores e mais periféricos. Isso nos permitiu traçar um quadro muito mais consistente da história, da sociedade e da cultura material dos filisteus.

 

The Philistines were a people with roots in the Aegean or Anatolian world who settled on the southern coastal strip of Canaan around the year 1200, during the transitional period between the Late Bronze Age and the Early Iron Age. In Egyptian sources dating to this time, they are one among a number of so-called Sea Peoples who came into conflict with Egypt. Although they are mentioned anachronistically in the Hebrew Bible in both the ancestral (i.e., patriarchal) narratives and the exodus traditions, it is only in narratives dealing with the period of the judges (particularly in the Samson cycle: Judges 13–16) and with the rise of the Israelite monarchy, corresponding respectively to Iron Age Ib and IIa, that they play a more central role as antagonists: particularly of Samson and of the first Israelite king, Saul. In spite of the text’s negative attitude toward them, David appears to have spent some time as a Philistine vassal before assuming the mantle of Israelite kingship following the deaths of Saul and most of his sons at Philistine hands. After David’s supposed neutralization of the Philistine threat, the Philistines appear only sporadically in the biblical text, most noticeably in prophetic oracles against the nations. According to biblical literature, the Philistines were organized in a loose confederation of five city-states (the Philistine Pentapolis): Ashdod, Ashkelon, and Gaza along the coast, and Ekron and Gath farther inland, although the latter city does not appear in later texts. From the perspective of the biblical text, the Philistines were the quintessential “other,” distinguished from the other inhabitants of the Levant through their uncircumcised state. Our picture of Philistine history and culture is greatly expanded first by a number of ancient Near Eastern texts, particularly from the late New Kingdom Period in Egypt (13th–12th centuries BCE) and from the neo-Assyrian period (8th–7th centuries BCE), and second by the results of archaeological excavations at Philistine sites. Although a distinctive style of bichrome pottery was associated with the Philistines already at the end of the 19th century, it was not until the 1960s that intensive excavations began to be carried out both at cities of the Philistine Pentapolis (with the exception of Gaza, which is covered by the modern city of the same name) and at smaller and more peripheral sites. These have allowed us to draw a much more nuanced picture of Philistine history, society, and material culture, which oftentimes provides a corrective to the witness of the biblical text.

Para saber mais sobre os filisteus e os “povos do mar”, recomendo o livro de CLINE, E. H. 1177 B.C.: The Year Civilization Collapsed. Princeton: Princeton University Press, 2014, 264 p. – ISBN 978691168388. Vou apresentá-lo no post seguinte. E há uma bibliografia, que cita também recursos online, aqui.

DNA indica origem europeia dos filisteus

Em minha História de Israel escrevi: Palestina é um nome derivado de “filisteus”, em hebraico pelishtim, um povo que habitava a faixa costeira situada entre o Egito e a Fenícia. Os filisteus são de origem egeia, talvez de Creta. Faziam parte dos “povos do mar”, que após 1177 a.C., mais ou menos, tentaram invadir o Egito, mas foram vencidos pelo faraó Ramsés III e passaram a viver naquela parte da Palestina.

Agora foi divulgado que uma equipe de pesquisadores usando avançadas tecnologias de DNA em amostras antigas de ossos encontrados durante escavações feitas em Ascalon, na costa palestina, de 1985 a 2016, e analisando os dados genômicos recuperados de pessoas que ali viveram durante as Idades do Bronze Recente e do Ferro (cerca de 1600 a 900 a.C.), descobriu que uma proporção substancial de seus ancestrais era derivada de uma população europeia. Essa ancestralidade derivada da Europa foi introduzida em Ascalon por volta da época da chegada estimada dos filisteus no século XII a.C. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Advances.

 

Ancient DNA sheds light on the origins of the Biblical Philistines

An international team, led by scientists from the Max Planck Institute for the Science of Human History and the Leon Levy Expedition, retrieved and analyzed, for the first time, genome-wide data from people who lived during the Bronze and Iron Age (~3,600-2,800 years ago) in the ancient port city of Ashkelon, one of the core Philistine cities during the Iron Age.

The team found that a European derived ancestry was introduced in Ashkelon around the time of the Philistines’ estimated arrival, suggesting that ancestors of the Escavações no cemitério filisteu de AscalonPhilistines migrated across the Mediterranean, reaching Ashkelon by the early Iron Age.

This European related genetic component was subsequently diluted by the local Levantine gene pool over the succeeding centuries, suggesting intensive admixture between local and foreign populations. These genetic results, published in Science Advances, are a critical step toward understanding the long-disputed origins of the Philistines.

The Philistines are famous for their appearance in the Hebrew Bible as the arch-enemies of the Israelites. However, the ancient texts tell little about the Philistine origins other than a later memory that the Philistines came from “Caphtor” (a Bronze Age name for Crete; Amos 9:7).

More than a century ago, Egyptologists proposed that a group called the Peleset in texts of the late twelfth century BCE were the same as the Biblical Philistines. The Egyptians claimed that the Peleset travelled from the “the islands,” attacking what is today Cyprus and the Turkish and Syrian coasts, finally attempting to invade Egypt.

These hieroglyphic inscriptions were the first indication that the search for the origins of the Philistines should be focused in the late second millennium BCE. From 1985-2016, the Leon Levy Expedition to Ashkelon, a project of the Harvard Semitic Museum, took up the search for the origin of the Philistines at Ashkelon, one of the five “Philistine” cities according to the Hebrew Bible.

Led by its founder, the late Lawrence E. Stager, and then by Daniel M. Master, an author of the study and director of the Leon Levy Expedition to Ashkelon, the team found substantial changes in ways of life during the 12th century BCE which they connected to the arrival of the Philistines. Many scholars, however, argued that these cultural changes were merely the result of trade or a local imitation of foreign styles and not the result of a substantial movement of people.

This new study represents the culmination of more than thirty years of archaeological work and of genetic research utilizing state of the art technologies, concluding that the advent of the Philistines in the southern Levant involved a movement of people from the west during the Bronze to Iron Age transition.

Genetic discontinuity between the Bronze and Iron Age people of Ashkelon

The researchers successfully recovered genomic data from the remains of 10 individuals who lived in Ashkelon during the Bronze and Iron Age. This data allowed the team to compare the DNA of the Bronze and Iron Age people of Ashkelon to determine how they were related.

The researchers found that individuals across all time periods derived most of their ancestry from the local Levantine gene pool, but that individuals who lived in early Iron Age Ashkelon had a European derived ancestral component that was not present in their Bronze Age predecessors.

“This genetic distinction is due to European-related gene flow introduced in Ashkelon during either the end of the Bronze Age or the beginning of the Iron Age. This timing is in accord with estimates of the Philistines arrival to the coast of the Levant, based on archaeological and textual records,” explains Michal Feldman of the Max Planck Institute for the Science of Human History, leading author of the study. “While our modelling suggests a southern European gene pool as a plausible source, future sampling could identify more precisely the populations introducing the European-related component to Ashkelon.”

Transient impact of the “European related” gene flow

In analyzing later Iron Age individuals from Ashkelon, the researchers found that the European related component could no longer be traced. “Within no more than two centuries, this genetic footprint introduced during the early Iron Age is no longer detectable and seems to be diluted by a local Levantine related gene pool,” states Choongwon Jeong of the Max Planck Institute of the Science of Human History, one of the corresponding authors of the study.

“While, according to ancient texts, the people of Ashkelon in the first millennium BCE remained ‘Philistines’ to their neighbors, the distinctiveness of their genetic makeup was no longer clear, perhaps due to intermarriage with Levantine groups around them,” notes Master.

“This data begins to fill a temporal gap in the genetic map of the southern Levant,” explains Johannes Krause of the Max Planck Institute for the Science of Human History, senior author of the study. “At the same time, by the zoomed-in comparative analysis of the Ashkelon genetic time transect, we find that the unique cultural features in the early Iron Age are mirrored by a distinct genetic composition of the early Iron Age people.”

Fonte: Archaeology News Network – 03/07/2019

 

Em 2016 a BBC já havia publicado o seguinte:

Arqueólogos fazem ‘descoberta inédita’ de cemitério filisteu em Israel – BBC News Brasil: 10 julho 2016

Pesquisadores em Israel afirmam ter descoberto um cemitério filisteu – seria, segundo eles, o primeiro a ser encontrado na história.

O achado, ocorrido em 2013 e tornado público neste domingo, pode trazer respostas sobre o antigo mistério em torno da origem do povo.

A descoberta marcou o fim da escavação realizada pela Expedição Leon Levy na região do Parque Nacional de Ashkelon, no sul de Israel. Os trabalhos duraram 30 anos.

Os líderes da pesquisa dizem ter encontrado 145 conjuntos de restos mortais em várias câmaras fúnebres, algumas cercadas por perfume, comida, joias e armas.

As ossadas são originárias do período compreendido entre os séculos 11 a.C. e 8 a.C.

 

Povo migrante

Os filisteus são mencionados na Bíblia como arqui-inimigos dos antigos israelitas.

Acredita-se que eles tenham migrado para as terras de Israel por volta do século 12 a.C, vindos de áreas do oeste.

O filisteu mais famoso nos dias atuais é Golias, guerreiro gigante que, segundo o livro sagrado, foi vencido pelo jovem Davi antes de ele se tornar rei.

“Após décadas estudando o que os filisteus deixaram para trás, nós finalmente ficamos cara a cara com essas pessoas”, afirmou Daniel M. Master, um dos líderes da escavação.

“Com essa descoberta, nós estamos próximos de desvendar o segredo em torno de suas origens.”

 

Segredo de três anos

O achado foi mantido em segredo por três anos até que os trabalhos fossem finalizados. O objetivo era evitar atrair a atenção de ativistas judeus ultraortodoxos, que já haviam feito atos contra escavações.

Os manifestantes acusavam os arqueólogos de perturbar locais de sepultamento.

“Nós tivemos que segurar as nossas línguas por um longo tempo”, disse Master.

Especialistas que estudaram o período divergem sobre a origem geográfica dos filisteus – Grécia, sua ilha Creta, Chipre e Anatólia, na Turquia, são apontados.

A equipe da expedição está agora fazendo exames de DNA, de datação por radiocarbono e outros testes nos restos mortais em uma tentativa de apontar com previsão sua ascendência.

A maioria dos corpos não foi enterrada com itens pessoais, afirmam os pesquisadores, mas perto de alguns havia utensílios onde eram guardados perfumes, jarras e pequenas tigelas.

Poucos indivíduos foram sepultados com pulseiras e brincos. Outros, com armas.

“É assim que filisteus tratavam seus mortos, e esse é o ‘livro de códigos’ para decifrar tudo”, disse o arqueólogo Adam Aja, um dos participantes da escavação.

 

DNA dos filisteus mostra suas origens europeias – AFP: 03/07/2019

Esqueletos antigos encontrados em Israel e analisados na Alemanha podem ser a chave para resolver o enigma do povo filisteu e estabelecer suas origens europeias pela primeira vez através da análise de seu DNA, de acordo com cientistas.

Esta descoberta sobre as origens deste povo estabelecido na antiguidade no sudoeste de Canaã, em uma faixa de terra que atualmente fica entre Tel Aviv e Gaza, foi publicado nesta quarta-feira (3) na revista Science Advances, e qualificada como “extraordinária” por um dos arqueólogos do projeto.

Até agora, os cientistas não tinham nenhuma informação que permitisse traçar a origem dos filisteus. Só sabiam que chegaram a esta região semita por volta do século XII a.C.

Os escritos bíblicos e egípcios os incluíam nos chamados “povos do mar”. Suas cerâmicas vermelhas e negras, assim como sua arquitetura, poderiam relacioná-los com as civilizações presentes no Mar Egeu.

“A ideia segundo a qual os filisteus eram migrantes nunca antes pôde ser demonstrada”, explica Daniel Master, que dirigiu a equipe arqueológica que fez escavações em Ascalon, uma das cinco cidades filisteias localizadas atualmente no sudoeste de Israel.

As ossadas encontradas em Ascalon, da Idade do Bronze e do Ferro, foram analisadas graças a avançadas tecnologias na Alemanha.

Ao comparar o genoma das ossadas dos dois períodos, “descobrimos que os filisteus, que estavam presentes na Idade do Ferro, tinham uma parte de seu genoma que não existia nos povos que viviam ali antes, na Idade do Bronze”, destaca Michal Felman, uma das pesquisadoras do Instituto Max Planck para as ciências da história humana em Jena, Alemanha.

“Esta parte do genoma parece derivar de um genoma europeu”, acrescentou.

“Há 150 anos arqueólogos de todo o mundo trabalham sobre este tema”, destaca por sua vez Daniel Master, que qualifica a descoberta como “extraordinária”.

“Agora, com os resultados do DNA à nossa disposição, que mostram um aporte de origem europeia em Ascalon no século XII a.C. podemos dizer (…) que estas pessoas eram migrantes vindos a esta região no século XII”, destacou.

– Primeira migração rastreada –

A equipe de Daniel Master descobriu em 2013 um cemitério filisteu em Ascalon do qual se pôde obter uma ampla diversidade de amostras de DNA para ser analisadas pelos arqueogeneticistas.

Os resultados, no entanto, não tinham sido publicados até agora, já que os métodos que permitiam este tipo de investigação não estavam disponíveis antes, assegura Michal Feldman.

Os cientistas podem averiguar a origem dos filisteus “na Europa e provavelmente no sul da Europa”, mas “ainda não têm suficientes dados para identificar a população exata”, destaca.

As razões que levaram os filisteus a se instalar no litoral ensolarado do leste do Mediterrâneo por volta do fim da Idade do Bronze continuam sendo, no entanto, um mistério.

Mas segundo Daniel Master, durante o século XIII a. C. ocorreram várias migrações rumo ao leste do Mediterrâneo. É a primeira vez que os cientistas conseguiram rastrear uma delas, afirma.

Os filisteus, experientes comerciantes e marinheiros, não praticavam a circuncisão e comiam carne de porco e de cachorro, como demonstram os ossos encontrados nas ruínas das outras quatro cidades filisteias vizinhas (Gat, Gaza, Ashdod e Ekron), que formavam seu Estado.

Esta população desapareceu por volta de 600 a.C., quando os babilônios conquistaram a região.

Sua história foi sobretudo transmitida por seus vizinhos e inimigos, os israelitas, na Bíblia, onde são mencionados em tons muito negativos.

Morreu o cantor e compositor João Gilberto

Morre, aos 88 anos, João Gilberto, o pai da Bossa Nova

O cantor e compositor João Gilberto faleceu neste sábado (6), aos 88 anos de idade, em sua casa no Rio de Janeiro. O músico baiano ficou mundialmente conhecido como um dos precursores da bossa nova, e sua obra e trajetória foram fundamentais para a música brasileira.

João Gilberto no Teatro Castro Alves, em Salvador, em janeiro de 1980 — Foto: Agliberto Lima/Estadão João Gilberto surgiu no cenário da música internacional com a canção Chega de Saudade, um de seus clássicos, e logo se estabeleceu como um dos pioneiros da Bossa Nova, estilo que revolucionou a música brasileira e a levou a abrir portas no mundo inteiro. Sua fama internacional o levou a ser considerado um dos artistas estrangeiros que mais influenciou o jazz norte-americano. Também o levou a ganhar prêmios importantes na Europa e nos Estados Unidos, entre eles o Grammy.

Apesar de ser um dos artistas mais importantes da história do Brasil, João Gilberto passou por problemas econômicos nos seus últimos anos de vida. Em março deste ano, a 25ª Vara Cível do Rio penhorou R$ 79.692,90 das contas bancárias do cantor, por ele ser fiador do contrato de aluguel de um imóvel no Leblon onde morava a ex-namorada, Maria do Céu Harris, que foi despejada.

Na ocasião, o jornalista da Revista Fórum, Julinho Bittencourt, denunciou o descaso do Estado brasileiro para com um dos ícones da nossa cultura, e propôs que ele fosse tombado, e não penhorado: “deveria ser tombado pelo patrimônio histórico e cultural. É o maior artista brasileiro vivo de todos os tempos. Com a partida de Portinari, Guimarães Rosa, Villa Lobos e Oscar Niemeyer não sobra pra ninguém. Assim como Brasília é intocável, João também deveria ser. João não é humano. É o inventor da nossa música popular contemporânea. Não fosse ele, não existiria Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano, Gil, Ivete Sangalo, Anitta e o escambau. Para o bem e para o mal, João nos fez do jeito que somos”.

Fonte: Revista Fórum – 06/07/2019

 

João Gilberto, pai da bossa nova, morre aos 88 anos

Um dos nomes mais importantes da música brasileira, cantor morreu no Rio de Janeiro segundo seu filho, João Marcelo Gilberto.

João Gilberto morreu neste sábado (6) aos 88 anos. O músico, um dos criadores da bossa nova, morreu em casa, no Rio de Janeiro. Ele enfrentava problemas de saúde há alguns anos. A informação foi confirmada ao G1 pelo seu filho, João Marcelo Gilberto, que mora nos Estados Unidos.

Além de Marcelo, ele deixa outros dois filhos, Bebel e Luísa.

Recluso, João foi interditado judicialmente pela filha, Bebel Gilberto, no fim de 2017. A interdição motivou uma disputa familiar entre Bebel e João Marcelo, que são meio-irmãos.

Em nota divulgada na época, a advogada de Bebel disse que a intervenção foi motivada por problemas de saúde e complicações financeiras do cantor.

Pai da bossa nova

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira concluiu em 1961 a trilogia de álbuns fundamentais que apresentaram a bossa nova ao mundo: “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto” de 1961.

O álbum que marcou o início do gênero em 1959, “Chega de saudade”, traz a música de mesmo nome composta por Tom Jobim (1927-1994) e Vinícius de Moraes (1913-1980).

A canção havia sido apresentada em um LP em abril de 1958 por Elizeth Cardoso (1920-1990), mas a versão mais conhecida, com a voz de João, foi lançada em agosto do mesmo ano.

João Gilberto nasceu em Juazeiro, na Bahia, em 10 de junho de 1931. Depois de alguns anos morando em Aracaju (SE), onde passou a tocar na banda escolar, voltou à sua cidade natal e, aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai.

Depois da consagração, lançou criações próprias e seguiu com shows e discos que se tornaram obras de arte, como é o caso de “Amoroso”, álbum gravado nos Estados Unidos entre 1976 e 1977 sob o selo Warner Music.

O álbum foi relançado no Brasil em formato longo durante os festejos dos 60 anos da Bossa Nova. O álbum celebra o encontro harmonioso do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman (1930 – 2016).

A produção de João foi objeto de uma disputa judicial em 2018. A defesa do cantor pedia uma revisão no valor de uma indenização da gravadora EMI Records, hoje controlada pela Universal Music. Em 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibiu a empresa de vender os discos do artista sem seu consentimento. A Universal não comenta o caso.

Começo de carreira

Por volta dos 16 anos de idade, abandonou os estudos para se dedicar à música após se mudar para Salvador (BA). Anos depois vai para o Rio de Janeiro, ao ser convidado para fazer parte do grupo Garotos da Lua.

Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, ainda antes de criar a batida característica da bossa nova, mas não conseguiu sucesso.

Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, percebe que ao cantar mais baixo e manter a batida poderia adiantar ou atrasar o canto. Esse novo tempo criado foi o responsável por encantar o compositor Roberto Menescal, que o apresentou a pessoas como o produtor musical Ronaldo Bôscoli.

Tom Jobim viu neste novo estilo uma forma de modernizar o samba ao simplificar seu ritmo, e resolveu apresentar a João uma música que tinha escrito com Vinícius de Moraes mas que estava encostada, “Chega de Saudade”.

Fonte: G1 – 06/07/2019

Ainda sobre o fragmento de Marcos

O debate sobre o fragmento de Marcos voltou.

Do que se trata?

Especialistas avaliam que o P137 foi escrito entre 150 e 250 d.C. O manuscrito mede apenas 4,4 x 4 cm, e contém algumas letras dos versículos 7–9 e 16–18 do capítulo 1 do evangelho de Marcos. Mesmo que não seja tão antigo quanto muitos esperavam – fora divulgado que seria do século I -, o P137 ainda é uma descoberta significativa, pois é provável que este seja o mais antigo fragmento do evangelho de Marcos até agora descoberto.

Para entender o caso, três posts podem ser lidos:P137 ou P. Oxy. 5453

Descoberto fragmento de Marcos do século I?

Esclarecimentos sobre o fragmento de Marcos do século I

Fragmento de Marcos foi escrito entre 150 e 250 d.C.

Jim West fez um apanhado das várias intervenções no Biblical Studies Carnival 160, publicado ontem. É preciso conferir o original para os links. Ele diz:

So called ‘First Century’ Mark has returned… blerg. It is worth noting that the Green Collection, though having received title to the fragments (see point 10 of the purchase agreement), never took physical possession of the fragments. Instead, in accordance with other terms of the agreement (see points 10.1-10.2) the fragments were left in Obbink’s custody for research and publication (the intended venue of initial publication being specified in 10.3). You’ll have to read the post and its attachments to figure out what all that is supposed to mean. Blerg.

Larry Hurtado writes in connection with the scandal (this is as close to scandal as scholarship gets, unless you count Richard Pervo…): This new evidence is personally dismaying, as it raises questions about the actions of Obbink, in whom I placed trust earlier (as in my blog posting here). It now appears that my confidence may have been misplaced. In a comment on Nongbri’s posting [NB- It’s actually a comment on Elijah Hixson’s post, not Nongbri’s][JW], Peter Head says these developments now make me and Ehrman look “stupid”. I’m not clear how he reached that judgment. I may have been mistaken in my trust in Obbink, but trusting someone until there is reason to think otherwise is hardly stupid, Peter. Also chiming in is Elijah Hixson over on ETC. Enjoy the comments there too.

But the best analysis of the whole debacle is by Bart Ehrman. His take is here. And his response to demonstrably false claims and statements is here.

And then there’s this analysis of the receipt for the documents. Gonzo work! This first century (not) Mark thing will be made into a mystery film before long. I suggest ‘On the Trail of Mark: Fraud for Profit’…

But if you want a more Obbink friendly take on the whole thing, don’t worry. There’s this guy. He seems to think the whole thing is a setup…. And Larry Hurtado thinks the fragment probative. Allow me to remind you, however, that it is unprovenanced.

And, finally, as the month drew to a close, this shows up in Christianity Today. What a bunch of shady characters doing shady things. And worst of all, they knew they were.

Whew… That’s a lot of talk about an unprovenanced trinket. Hey, you know how these problems and scandals can be avoided in the future? Scholars can decide to have NOTHING to do with anything unprovenanced! ‘Oh, hey Bob, you have a trinket you think is ancient and you want me to stake my reputation on it but you got it from some dude in a back alley? Nah, hard pass, dude. You go ruin your reputation, I think I’ll keep mine’.

A isto acrescento algo que li hoje no blog Kiwi Hellenist e que nos ajuda a entender o imbróglio de 1903 até 29 de junho de 2019: The ‘FCM’ scandal: a timeline.

Estudos sobre Alexandre Magno

MOORE, K. R. (ed.) Brill’s Companion to the Reception of Alexander the Great. Leiden/Boston: Brill, 2018, 856 p. – ISBN 9789004285071

MOORE, K. R. (ed.) Brill's Companion to the Reception of Alexander the Great. Leiden/Boston: Brill, 2018, 856 p.This is the third time that Brill has graced us with a companion to Alexander. The first volume focused on the historical character (Roisman in 2002), whereas the second explored Alexander’s reception in medieval literature (Zuwiyya in 2011). The book under review has a more ambitious scope in collating ‘receptions’ from the ancient world to the present day. Print book readers and bookshelves alike will feel the weight of this endeavour; the number of pages is higher than that of its predecessors combined. The scholarly community has long anticipated the volume. I personally heard rumours about it at Alexander-related conferences as early as 2013, but one chapter refers to its own inception in 2011. The book has arrived at an opportune time. University courses, publications, and conference activity continue to confirm the increasing interest in different receptions of Alexander. For example, reception became a major theme at a 2018-conference in Edmonton, organised by Frances Pownall (University of Alberta). The present volume will no doubt help researchers and students in search of new horizons for Alexander’s ‘superlative legacy’ (p. xi).

The wide array of content is presented in thirty-three chapters of varying length, with bibliographies appended to each. No house style has been imposed. A short index of topics concludes the volume. The contributions are generally of high standard, and the editor is to be commended for gathering a diverse group of scholars (pp. xiv-xxiii). Moore has organised the book into three major parts, of which the longest concerns ‘Ancient Greek, Roman and Persian receptions’ (Part I). One may always discuss the coherence and inclusions/exclusions in such edited volumes, but I consider it a wise decision to devote less attention to the Middle Ages, considering the previous Brill volume on the market, as well as the grand French project on Mythalexandre.

Trecho da resenha feita por Christian Thrue Djurslev, da Universidade de Aarhus, Dinamarca, em Bryn Mawr Classical Review 2019.04.19.

Kenneth Royce Moore is Senior Lecturer in the History of Ideas at Teesside University, UK.

Na História de Israel abordo Alexandre Magno no item A época persa e as conquistas de Alexandre.

Morreu Dom Moacyr Grechi

Morre Dom Moacyr Grechi, aos 83 anos, em Porto Velho

Acabou de falecer Dom Moacyr Grechi. Foi bispo de Rio Branco, Acre, e de Porto Velho, Rondônia.

Dom Moacyr Grechi (1936-2019)A informação é de Paulo Barausse, jesuíta, coordenador do SARES, em Manaus.

O arcebispo emérito de Porto Velho, dom Moacyr Grechi faleceu na tarde desta segunda-feira (17), na capital de Rondônia. O religioso foi arcebispo de Rio Branco entre 1972 e 1998 e arcebispo de Porto Velho de 1998 a 2011. A primeira informação da morte foi dada em um grupo de WhatsApp para casais católicos, e às 18h30min a Igreja confirmou a informação.

Foi um dos criadores do Conselho Indigenista Missionário – CIMI e da Comissão Pastoral da Terra – CPT, entidade que presidiu por oito anos. Destacou-se pela defesa dos indígenas, dos seringueiros e dos trabalhadores rurais.

Lutou pela punição dos assassinos de Chico Mendes, que conheceu pela atuação nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s).

Fez denúncias contra Hildebrando Pascoal.

Como arcebispo de Porto Velho, contribuiu para a criação da Faculdade Católica de Rondônia, da Comissão Justiça e Paz de Rondônia e para o fortalecimento dos Centros Sociais da Arquidiocese.

Teve como lema: “O último de todos e o servo de todos”.

Foi membro delegado pela CNBB da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e Caribenho (Conferência de Aparecida), que aconteceu em maio de 2007, onde teve contato com Jorge Mário Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires, que futuramente seria o Papa Francisco.

Convivi muitos anos com Dom Moacyr. Era um pastor muito preocupado com o povo. Foi muito corajoso nas denúncias contra Hildebrando Pascoal. Não podemos esquecer que foi a primeira vez que foi quebrada a imunidade parlamentar de um deputado federal.

Que Deus o acolha na sua bondade e misericórdia.

Fonte: IHU On-Line – 18 junho 2019

Nota da CNBB

Morre dom Moacyr Grechi, bispo emérito de Porto Velho (RO), aos 83 anos

O arcebispo emérito de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi faleceu na tarde desta segunda-feira (17), na capital do Estado de Rondônia. Dom Moacir foi arcebispo de AmazôniaRio Branco, Acre, de 1972 a 1998 e arcebispo de Porto Velho, Rondônia, de 1998 a 2011.

Seu lema episcopal era: “O último de todos e o servo de todos”!

Sempre sensível à causa dos que sofrem, assumiu a defesa dos indígenas, dos seringueiros e dos trabalhadores rurais. Foi um dos criadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que presidiu por oito anos.

Além disso, participou da criação da Faculdade Católica de Rondônia, bem como da Comissão Justiça e Paz.

Atuou ainda como delegado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Conferência de Aparecida que aconteceu em maio de 2007. Dom Moacir também era membro da Comissão da Amazônia, embora nos últimos tempos estivesse afastado por razões de saúde.

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A contribuição da Laudato Si’ para a consciência ecológica

«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras»

“A Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica”. Entrevista com Michel Löwy – IHU On-Line: 14 junho 2019

“A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo”, afirma Michael Löwy, em entrevista abaixo.

Michel Löwy é um dos principais intelectuais do marxismo atual e um destacado impulsionador do ecossocialismo anticapitalista. Diretor de pesquisa emérito do Centre National da Recherche Scientifique e professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris. Entre suas obras, destacamos A teoria da revolução no jovem Marx, O pensamento de Che Guevara, Walter Benjamin: aviso de incêndio e Ecossocialismo. Há alguns meses, a editora El Viejo Topo publicou Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas.LÖWY, M. Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019

A entrevista é de Juanjo Sánchez e Evaristo Villar, publicada pela revista Éxodo e reproduzida por Rebelión, 13-06-2019.

Ele diz no final da entrevista:

Uma parte de seu livro [Cristianismo de liberación: Perspectivas marxistas y ecosocialistas. Barcelona: El Viejo Topo, 2019] aborda as relações entre cristianismo de libertação, ecossocialismo e anticapitalismo. O que pensa da posição do Papa Francisco no âmbito da ecologia?

A encíclica Laudato Si’ é uma contribuição de extraordinária importância para o desenvolvimento, em escala planetária, de uma consciência ecológica. Para o Papa Francisco, os desastres ecológicos e a mudança climática não são simplesmente o resultado de comportamentos individuais, mas dos atuais modelos de produção e de consumo.

Bergoglio não é um marxista e a palavra capitalismo não aparece na encíclica. Mas, fica muito claro que para ele os dramáticos problemas ecológicos de nossa época são o resultado das “engrenagens da atual economia globalizada”, engrenagens que constituem um sistema global. É, segundo suas palavras, “um sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”.

Quais são, segundo o papa Francisco, estas características “estruturalmente perversas”?. Antes de tudo, é um sistema no qual predominam os interesses limitados das empresa e uma questionável racionalidade econômica, uma racionalidade instrumental que tem por único objetivo maximizar o lucro. Afirma este Papa: “O princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceptual da economia: desde que aumente a produção, pouco interessa que isso se consiga à custa dos recursos futuros ou da saúde do meio ambiente”.

Esta distorção, esta perversidade ética e social, não é própria de um ou outro país, mas, sim, de um “sistema mundial actual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente. Assim se manifesta como estão intimamente ligadas a degradação ambiental e a degradação humana e ética”. São citações textuais. Penso que fica claro seu pensamento quando relaciona capitalismo, destruição ambiental e ecologia.

Há quatro categorias de estudos das metáforas em Oseias

Nas p. 355-360 de seu artigo sobre Oseias 4-14, Brad E. Kelle classifica os estudos das metáforas no livro de Oseias, ao longo do século XX e primeira década do século XXI, em quatro categorias. Ele diz:

Overall, developments in the metaphorical study of Hosea can be grouped into four categories: (1) attention to divine and human metaphors; (2) religious, socio-economic, and political interpretations; (3) the indeterminate and unstable nature of the book’s metaphors; and (4) new variations in feminist (and masculinist) approaches to imagery throughout the book.

The first category of metaphor study, which explores the book’s images for God and the people, is the most common, with some emerging engagement with Hosea’s depictions of the natural world and their ecological implications (e.g., Loya 2008). Commentaries from throughout the twentieth century highlight the use of family images (husband–wife, parentchild) as the major depictions of the relationship between God and the people, but also stress the vast array of metaphors used for both God and the people, especially in the oracles in Hosea 4–14 (see Östborn 1956; Wolff 1974; Limburg 1988). These metaphors fall into several clusters, including representations of God with personal imagery (judge, farmer, physician), animal imagery (moth, lion, she-bear), and plant imagery (cypress tree, rottenness), as well as representations of the people with similar animal and agricultural metaphors (stubborn heifer, silly dove, grapes, cake, chaff). The common critical judgment is that no single metaphor holds the key to the entire book, and one cannot use the presence of certain kinds of metaphors (e.g., baking) to reach biographical conclusions about Hosea’s past (Landy 1995b; Eidevall 1996; J.P. Lewis 1997; but cf. Beeby 1989: 3).

(…)

One aspect of Hosea’s metaphors for God that has drawn increasing attention concerns the question of whether certain passages in the book portray God in feminine terms that counter the more prevalent masculine, animal, and royal imagery. The text of ch. 11 in particular has generated a large number of studies on this point, as some feminist interpreters claim that the chapter’s language and imagery depicts Yahweh in feminine terms as a mother who breastfeeds an infant (Schüngel-Straumann 1986; Nissinen 1991; Seifert 1996). The presence of such language, it is argued, can give rise to a feminist theology that offers an alternative to the predominantly patriarchal nature of Hosea’s metaphors, especially as seen in chs. 1–3. Yet some recent studies of the book’s metaphors, including some works produced by feminist scholars,
follow the trend of older commentaries and argue that the language of ch. 11 remains ambiguous, and overtly feminist interpretations rely too heavily on imported assumptions (see Mays 1969: 150; Kreuzer 1989; Eidevall 1996:175; Yee 1996: 277-79; Sweeney 2000: 115).

The second major category of metaphor studies in Hosea scholarship, which offers religious, socio-economic, and political interpretations of the book’s imagery, appears in recent works that try to elucidate the primary underlying issue(s) or rhetorical focus that stands behind Hosea’s discourse (…) The most long-standing interpretation of the book’s metaphors, which has attained nearly unanimous support during various periods of the twentieth century, understands the imagery as addressing a widespread religious conflict in eighthentury Israel between Yahwism and Baalism (…) Several recent works suggest a socio-economic reading of Hosea’s metaphors, based largely upon reconstructions in newer sociological research. These works interpret the prophet’s metaphors as symbols of shifting social and economic relationships among king, cult, priest, and peasantry within Israel’s body politic.

(…)

The third category of metaphor study in Hosea scholarship has garnered less attention in recent years, but builds upon approaches influenced by postmodernist literary perspectives. Since the mid-1990s, a few important studies have stressed the interdeterminacy and instability of the metaphors in Hosea, extending observations about the book’s language in general to the analysis of its metaphors in particular. The characterization by Landy is representative: ‘Metaphorical language, especially in Hosea, is often fractured, baffling, and claims a status verging on madness’ (1995b: 56). From this vantage point, Landy identifies a ‘disintegration’ of metaphors at work in the book, in which the metaphors remain inconsistent and resist coherent integration.

(…)

The fourth category of metaphorical study consists of new variations on feminist approaches to Hosea’s imagery. As noted in the discussion of Israelite religion, some feminist approaches to the book’s metaphorical language published since the 1980s associate Hosea’s female and sexual imagery with traces of goddess worship and other female religious practices that the prophet sought to abolish (Balz-Cochois 1982; Wacker 1996; cf. Adams 2008). More recently, however, Moughtin-Mumby’s comprehensive examination (2008) of Hosea’s sexual and marital metaphors in the context of similar imagery found in Isaiah, Jeremiah, and Ezekiel foregrounds with a new intensity the question of whether the marital metaphor in Hosea 1–3 should establish the meaning for all subsequent sexual and marital imagery in the chapters that follow. In contrast to older studies (Light 1991; J.P. Lewis 1997), Moughtin-Mumby answers in the negative (see also Eidevall 1996), asserting that the diverse types and uses of sexual imagery in Hosea resist any formulation of a ‘standard’ marriage metaphor concept. She argues for a ‘cognitive contextual approach’ that focuses on the specific context and rhetorical function of each use of sexual and marital imagery (2008: 31). Moreover, the other, non-marital and non-sexual metaphors in Hosea, she concludes, provide the wider interpretive frame for the sexual imagery in chs. 4–14 (…) One of the most promising new variations of feminist criticism turns from traditional feminist-critical questions to masculinity studies, exploring the literary, ideological, and theological aspects of masculine imagery for God and people in the book.

 

Os estudos das metáforas no livro de Oseias podem ser agrupados em quatro categorias:MOUGHTIN-MUMBY, S. Sexual and Marital Metaphors in Hosea, Jeremiah, Isaiah, and Ezekiel. Oxford: Oxford University Press, 2008, 330 p. - ISBN 9780199239085
1. atenção às metáforas divinas e humanas
2. interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas
3. a natureza indeterminada e instável das metáforas do livro
4. novas variações nas abordagens feministas de imagens ao longo do livro

1. A primeira categoria de estudo das metáforas, que explora as imagens do livro que falam de Deus e das pessoas, é a mais comum, com algumas abordagens que tratam das representações da natureza e suas implicações ecológicas. Comentários ao longo de todo o século XX destacam o uso de imagens familiares – marido-esposa, pais – como as principais representações da relação entre Deus e o povo, mas também enfatizam a vasta gama de metáforas usadas tanto para Deus quanto para o povo. Essas metáforas se enquadram em vários agrupamentos, incluindo representações de Deus com imagens de atividades humanas, de animais e da natureza, assim como representações do povo com imagens de animais e da agricultura.

(…)

As metáforas do livro de Oseias para falar de Deus são predominantemente masculinas. Mas o capítulo 11 tem provocado grandes debates, pois algumas intérpretes feministas afirmam que a linguagem do capítulo retrata Iahweh em termos femininos, como uma mãe que alimenta uma criança, quando fala de Iahweh que cuida de seu povo. A presença de tal linguagem, argumenta-se, pode dar origem a uma teologia feminista que oferece uma alternativa à natureza predominantemente patriarcal das metáforas de Oseias. No entanto, alguns estudos recentes sobre as metáforas do livro, incluindo algumas obras produzidas por estudiosos feministas, argumentam que a linguagem do capítulo 11 é ambígua, e que as interpretações abertamente feministas têm uma fundamentação frágil.

2. A segunda categoria de estudo das metáforas no livro de Oseias, que oferece interpretações religiosas, socioeconômicas e políticas das imagens do livro, aparece em trabalhos recentes que tentam explicar o contexto do discurso de Oseias (…) A interpretação mais persistente das metáforas do livro, que alcançou apoio quase unânime durante vários períodos do século XX, compreende as imagens como referência a um conflito generalizado entre o javismo e o baalismo no século VIII a.C. (…) Vários trabalhos recentes, entretanto, sugerem uma leitura socioeconômica das metáforas de Oseias, baseada em grande parte nas reconstruções da pesquisa histórica mais recente. Essas obras interpretam as metáforas do profeta como símbolos das mudanças nas relações sociais e econômicas ocorridas em Israel no século VIII a.C.

(…)

3. A natureza indeterminada e instável das metáforas no livro de Oseias constituem a terceira categoria de estudos. Há autores, embora sejam minoria, que percebem a linguagem do livro como fraturada e suas metáforas como desintegradas, refletindo, propositalmene, a situação da época.

(…)

4. A quarta categoria de estudo das metáforas de Oseias traz novas abordagens feministas, postulando que as metáforas matrimonias do livro não devem ser vistas como padrão para a interpretação das outras metáforas, mas sim que cada metáfora deve ser lida no seu contexto e na sua função retórica própria. E há, na primeira década do século XXI, outras variações nas abordagens das metáforas femininas e masculinas de Oseias.

As metáforas de Oseias falam da crise social de Israel

Citando o artigo de Brad E. Kelle sobre Oseias 4-14, nas p. 337-338:

Since the 1980s, the traditional study of history and institutions has undergone one of the most significant reformulations in Hosea scholar ship, and within the current decade this reformulation has come to occupy a central place in the study of the book. Under the rising influence of social-science perspectives within biblical studies generally, the final years of the twentieth century and the beginning of the twenty-first century have witnessed the expansion of the kinds of study outlined above into a complex socio-economic/socio-materialist analysis of the background and dynamics that gave rise to and are reflected in the texts of Hosea. While there had been a relative dearth of major sociological studies of Hosea (but see Utzschneider 1980), several such comprehensive analyses have appeared within the last decade. Taken as a whole, these works focus on the primary metaphors in Hosea, especially sexual metaphors related to promiscuity, and interpret them as tropes for particular social and economic developments in eighth-century Israel and Judah. By drawing upon anthropological and sociological perspectives from the comparative study of agrarian societies, these newer approaches identify the eighth century as a time when Israel underwent a dramatic change in its economic system and modes of production due to the expansion of royal power at home and the demands of political and economic relations abroad. Israelite society experienced increased disparity between elites and peasants, the emergence of a tributary economy with royal land grants and cash-crops, and the growth of foreign trade. Hosea’s oracles and metaphors, it is argued, reflect these developments, especially the ways in which all other elements of the cult, politics, etc. became embodiments of the social crisis (…) Accordingly, Keefe (2001: 12) concludes that Hosea’s female and sexual imagery is a symbol of Israel’s disintegrating social body and the intertwined political, social, and religious aspects of the new royal economy.

 

Desde a década de 80 do século XX, o estudo tradicional da história e das instituições israelitas passou por uma das reformulações mais significativas nas abordagens acadêmicas KEEFE, A. A. Woman's Body and the Social Body in Hosea 1-2. Sheffield: Sheffield Academic Press, 2002, 254 p. - ISBN 9781841272856de Oseias. E na primeira década do século XXI essa reformulação passou a ocupar um lugar central no estudo do livro. Sob a crescente influência das perspectivas das ciências sociais nos estudos bíblicos em geral, os últimos anos do século XX e a primeira década do século XXI testemunharam o aparecimento de análises socioeconômicas para explicar o contexto do livro de Oseias. Tomados como um todo, esses trabalhos interpretam as metáforas mais significativas de Oseias, especialmente as metáforas sexuais relacionadas à promiscuidade, como figuras de linguagem para determinados desenvolvimentos sociais e econômicos em Israel no século VIII a.C. Baseando-se em perspectivas antropológicas e sociológicas do estudo comparativo das sociedades agrárias, essas novas abordagens identificam o século VIII a.C. como uma época em que Israel passou por uma mudança dramática em seu sistema econômico devido à expansão do poder real no território e à política externa implantada. A sociedade israelita experimentou um aumento da desigualdade entre a elite e os camponeses, viu o surgimento de uma economia tributária com concessões reais de terra e com a criação de culturas rentáveis e o crescimento do comércio exterior. Os oráculos e as metáforas de Oseias refletem esses desenvolvimentos, especialmente as maneiras pelas quais todos os outros elementos do culto, da política, etc. se tornaram personificações da crise social (…) Há autores, por exemplo, que interpretam as imagens da prostituição usadas no livro de Oseias como um símbolo do corpo social desintegrado de Israel.