De 1973 a 1976 cursei o Mestrado de Teologia Bíblica na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), em Roma.
Porém, fiz quase todas as disciplinas no Pontifício Instituto Bíblico (PIB), em Roma, pois o PIB era mais interessante por causa dos cursos oferecidos e dos professores que ali lecionavam.
O PIB investia, com seriedade, na aprendizagem dos métodos de leitura dos textos bíblicos. E as disciplinas contextuais, como história, arqueologia e geografia da Palestina e do Antigo Oriente Médio, assim como as disciplinas instrumentais – línguas bíblicas e outras línguas semíticas – que o PIB disponibilizava, são fundamentais para o estudante de Bíblia.
As disciplinas oferecidas pelo PIB eram válidas, na sua maioria, para a Teologia Bíblica da Gregoriana.
Agora, 50 anos depois de iniciado o curso (1973-2023), recolhi todas as informações que consegui na internet sobre meus professores e aqui as disponibilizo.
É uma parte de minha história acadêmica. É também um exercício de recordação e uma homenagem aos meus mestres.
Quando perguntado, em entrevista em 2006, porque trabalho com a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento, respondi:
“Na verdade, trabalhei um bom tempo com o Novo Testamento [na década de 80, no CEARP], estudando e lecionando especialmente o Evangelho de Marcos, as Cartas de Paulo e o Grego do NT. [No Bíblico] tive a oportunidade de estudar com Jacques Dupont, por exemplo, o que me levou às parábolas e ao tema de minha Dissertação de Mestrado sobre Mt 25,1-13, com orientação do Professor Ugo Vanni.
Por outro lado, estava começando naqueles anos o uso cada vez mais persistente dos métodos sincrônicos nos estudos bíblicos, e eu me envolvi com estudos linguísticos e literários de Saussure, Benveniste, Barthes, Greimas, Umberto Eco, Genette, Todorov e tantos outros que nem me arrisco a citar todos.
Além disso, motivado pela luta contra a ditadura militar que persistia no Brasil desde 1964, luta na qual a Igreja estava fortemente envolvida, embrenhei-me pelo marxismo e pela leitura sociológica da Bíblia. Na França saía, naquela época, a obra de Fernando Belo, na qual Marx e Marcos caminhavam lado a lado, numa mistura bastante exótica até de abordagem estruturalista de Barthes com o marxismo de Althusser e a psicanálise de Lacan. Esta obra, por exemplo, gerou grande entusiasmo entre os estudantes de Bíblia.
Apesar de tudo isso, desde a época de Roma eu era fascinado pela História do Antigo Oriente Médio e pela Literatura Profética. O já citado professor Bernini me ensinou a gostar de Jeremias, e no PIB estudei com Alonso Schökel, J. Alberto Soggin, Ernst Vogt, Robert North, Rémi Lack e outros professores de Bíblia Hebraica. Se tento avaliar hoje mais corretamente as suas posturas, não creio que fossem hipercríticos — no PIB da época sempre se caminhava com independência, mas prudência — porém, eram mestres que nos incentivavam a encontrar nossos próprios caminhos. Isto tudo teve sua participação em minhas escolhas”.
Para conhecer a história do PIB, recomendo dois textos:
A novant’anni dalla fondazione del Pontificio Istituto Biblico – Conferenza tenuta dal Prof. Giacomo Martina in occasione del 90° anniversario del Pontificio Istituto Bíblico [07.05.1999]
Il Centenario dell’Istituto Biblico – Conferenza del Prof. Maurice Gilbert [testo italiano, inglese e francese] – Solenne atto accademico per il 100° Anniversario della fondazione dell’Istituto [07.05.2009].
A lista tem links para informações sobre os professores, nacionalidade, data de nascimento e morte e as disciplinas que com eles estudei. Os professores estão listados em ordem alfabética.
1. Dionisio Mínguez Fernández, espanhol: Análise estrutural dos Atos dos Apóstolos
MÍNGUEZ FERNÁNDEZ, D. Breve historia de la antigua Grecia. Madrid: Nowtilus, 2007, 302 p.
MÍNGUEZ, D. Pentecostés: ensayo de semiótica narrativa en Hch 2. Roma: Biblical Intitute Press, 1976, 217 p.
2. Eduardo Zurro Rodríguez, espanhol (1934-2004): Língua Hebraica
Dialnet: Eduardo Zurro Rodríguez
Necrológica: Eduardo Zurro Rodríguez
3. Giuseppe Bernini, italiano (1915-1991): A teologia do Antigo Testamento e seus problemas no momento atual; Jó e sua mensagem
4. Ignace de la Potterie, belga (1914-2003): O Evangelho de Lucas (cap. 3-4); João 1
Pontificio Istituto Biblico: R. I. P. Prof. R. P. Ignace de la Potterie, S. J. (1914-2003)
Wikipedia: Ignace de la Potterie
5. Jacques Dupont, belga (1915-1998): O discurso em parábolas (Mc 4,1-34); As parábolas da misericórdia (Lc 15)
Wikipedia: Jacques Dupont (biblista)
Camille Focant, In memoriam Jacques Dupont. Revue Théologique de Louvain, 1999, 30-1, p. 147-148
6. James Swetnam, norte-americano (1928- ): Grego do Novo Testamento
James Swetnam’s Thoughts on Scripture – Website
Resenha de SWETNAM, J. Gramática do grego do Novo Testamento I-II. São Paulo: Paulus, 2002, vol I: 456 p; vol. II: 336 p.
7. Jan Alberto Soggin, italiano (1926-2010): Observações sobre os textos do Servo de Iahweh no Dêutero Isaías; Introdução às origens de Israel
J. Alberto Soggin: 1926-2010 – Observatório Bíblico: 29.10.2010
8. Juan Alfaro Jiménez, espanhol (1914-1993): Curso de metodologia prática
El Pensamiento Teológico de Juan Alfaro S.J. – Carlos Ábrigo Otey: PUCV
Juan Alfaro – Ediciones Sígueme
Pressupostos antropológicos da Teologia de Juan Alfaro (PDF) – PUC Rio
9. Klemens Stock, alemão (1934- ): Evangelho de São Marcos: algumas perícopes sobre os doze; A obra inicial de Jesus: Mc 1,1-3,6
L’Aula Magna del Biblico: ricordi e attivitá – Lezione del professore Klemens Stock: 4 ottobre 2011
10. Luis Alonso Schökel, espanhol (1920-1998): A ideia de justiça no Antigo Testamento
Pontificio Istituto Biblico: R. I. P. Prof. R.P. Luis Alonso Schökel, S.J. (1920-1998)
Wikipedia: Luis Alonso Schökel
Eduardo Zurro Rodríguez, In Memoriam: Luis Alonso Schökel (1920-1998) – Escritor, escriturario, espejo. Estudios Ecclesiásticos 73 (1998) 565-573
11. Prosper Grech, maltês (1925-2019): Metodologia da teologia bíblica do Novo Testamento
12. Rémi Lack, francês: Gêneros literários, formas literárias e forma estilística; O livro de Oseias: estrutura e exegese; Análise da narrativa bíblica veterotestamentária
LACK, R. La symbolique du livre d’Isaie: Essai sur l’image littéraire comme élément de structuration. Rome: Biblical Institute Press, 1973, 282 p.
LACK, R. Letture strutturaliste dell’Antico Testamento. Roma: Borla, 1978, 164 p.
13. Robert North, norte-americano (1916-2007): Arqueologia bíblica; Geografia bíblica
Faleceu o Professor Robert North – Observatório Bíblico: 09.06.2007
Diz a lenda sobre Robert North – Observatório Bíblico: 30.11.2007
Rev. Robert North, S.J. 1916-2007 – James Swetnam: SBL Forum Archive
14. Stanislas Lyonnet, francês (1902-1986): Exegese da carta aos Romanos
O jesuíta Lyonnet, caçador de talentos da Bíblia – Fillipo Rizzi: IHU 10 Junho 2016
J.-N. Aletti, Lyonett, Stanislaus – Enciclopedia.com
Wikipedia: Stanislas Lyonnet (jésuite)
15. Ugo Vanni, italiano (1929-2018): O Apocalipse: introdução e exegese; A escatologia pessoal em Paulo; Dissertação de Mestrado: A parábola das dez virgens (Mt 25,1-13)
Homenagem ao biblista Hugo Vanni – Observatório Bíblico: 24.11.2018
16. Viliam Pavlovsky, tcheco: História da época do Antigo Testamento: período dos reinos; História da época do Novo Testamento
PAVLOVSKY, V.; VOGT, E. Die Jahre der Könige von Juda und Israel. Biblica, Roma, n. 45, p. 321-347, 1964.
Por último é preciso lembrar que o Reitor do PIB era o italiano Carlo Martini (1927-2012) e o Diretor da Teologia da PUG era o canadense René Latourelle (1918-2017). Sobre Latourelle, cf. também aqui e aqui.