Queda de corpo celeste teria inspirado a história de Sodoma?

Há uma proposta, que já circula por aí de uns anos para cá, que diz que a narrativa bíblica de Gn 19, a destruição de Sodoma, seria inspirada em um evento cósmico que teria atingido a região por volta de 1650 a.C.

Isto tem algum fundamento científico ou é só mais uma daquelas empreitadas apologéticas para mostrar que a Bíblia tinha razão?

Pode ser, pode não ser…

Dizem por exemplo:

Localização de Tall el-Hammam. Foto: Scientific Reports - setembro de 2021É possível que uma descrição oral da destruição da cidade de Tall el-Hammam, a noroeste do Mar Morto, tenha sido transmitida por gerações até que fosse registrada como a história bíblica de Sodoma. A Bíblia descreve a devastação de um centro urbano perto do Mar Morto — pedras e fogo caíram do céu, mais de uma cidade foi destruída, fumaça densa subiu dos incêndios e os habitantes da cidade foram mortos (Gn 19).

Leia sobre isso um texto publicado em inglês em The Conversation e traduzido para o português pela Revista Galileu em 20 de setembro de 2021.

Leia também um texto mais documentado publicado em Scientific Reports em 20 de setembro de 2021.

Leia sobre o arqueólogo Steven Collins que dirige as escavações de Tall el-Hammam e defende esta proposta.

Para ver a posição de arqueólogos que discordam desta proposta, leia, por exemplo, Arguments Against Locating Sodom at Tall al-Hammam – By Todd Bolen: BiblePlaces – February 26, 2013.

Outras críticas podem ser lidas em Criticism engulfs paper claiming an asteroid destroyed Biblical Sodom and Gomorrah – By Adam Marcus: Retraction Watch – October 1, 2021.

 

Cidade destruída por asteroide teria inspirado história bíblica de Sodoma – Revista Galileu: Christopher R. Moore | The Conversation – 20 Set 2021

Equipe multidisciplinar de cientistas encontrou evidências do impacto de uma rocha espacial ocorrido há 3,6 mil anos na atual região de Tall el-Hammam, na Jordânia

Enquanto os habitantes de uma antiga cidade do Oriente Médio (agora chamada Tall el-Hammam) realizavam suas tarefas diárias há cerca de 3,6 mil anos, eles não tinham ideia de que uma rocha espacial gelada e despercebida estava vindo em sua direção a cerca de 61 mil quilômetros por hora.

Passando pela atmosfera, a rocha explodiu em uma enorme bola de fogo a cerca de 4 quilômetros acima do solo. A explosão foi cerca de mil vezes mais poderosa do que a bomba atômica de Hiroshima. Chocados, os moradores da cidade que olharam para ela ficaram cegos instantaneamente. A temperatura atmosférica subiu rapidamente acima dos 2 mil graus Celsius. Roupas e madeiras imediatamente arderam em chamas. Espadas, lanças, tijolos de barro e cerâmica começaram a derreter. Quase imediatamente, a cidade inteira estava em brasas.

Alguns segundos depois, uma enorme onda de choque atingiu a cidade. Movendo-se a cerca de 1,2 mil quilômetros por hora, foi mais poderosa do que o pior tornado já registrado. Os ventos mortais varreram a cidade, demolindo todos os prédios. Eles arrancaram os 12 metros superiores de um palácio de quatro andares e jogaram os destroços no vale ao lado. Nenhuma das 8 mil pessoas ou quaisquer animais dentro da cidade sobreviveram — seus corpos foram despedaçados e seus ossos explodiram em pequenos fragmentos.

Cerca de um minuto depois, a 22 quilômetros a oeste de Tall el-Hammam, os ventos da explosão atingiram a cidade bíblica de Jericó. As muralhas de Jericó desabaram e a cidade foi destruída pelo fogo.

Tudo soa como o clímax de um filme desastroso de Hollywood. Como sabemos que tudo isso realmente aconteceu perto do Mar Morto, na Jordânia, milênios atrás?

Obter respostas exigiu quase 15 anos de escavações meticulosas realizadas por centenas de pessoas. Também envolveu análises detalhadas de materiais escavados por mais de duas dúzias de cientistas em 10 estados norte-americanos, no Canadá e na República Tcheca.

Recentemente, nosso grupo finalmente publicou as evidências na revista Scientific Reports. Entre os 21 coautores, estão incluídos arqueólogos, geólogos, geoquímicos, geomorfologistas, mineralogistas, paleobotânicos, sedimentologistas, especialistas em impacto cósmico e médicos.

Foi assim que construímos essa imagem de devastação no passado.

 

Tempestade de fogo em toda a cidade

Anos atrás, quando os arqueólogos examinaram as escavações da cidade em ruínas, eles puderam ver uma camada escura com cerca de 1,5 m de espessura misturada com carvão, cinzas, tijolos e cerâmica derretida. Era óbvio que uma tempestade de fogo intensa havia destruído esta cidade há muito tempo. Essa faixa escura passou a ser chamada de camada de destruição.

Ninguém tinha certeza do que havia acontecido, mas essa camada não foi causada por um vulcão, terremoto ou guerra. Nenhuma dessas alternativas é capaz de derreter metal, tijolos de barro e cerâmica.

Para descobrir o que poderia ter acontecido, nosso grupo usou a Calculadora de Impacto Online para modelar cenários que se encaixam nas evidências. Construída por especialistas em impacto, esta calculadora permite aos pesquisadores estimar os muitos detalhes de um evento de impacto cósmico, com base em fenômenos conhecidos e detonações nucleares.

Parece que o culpado em Tall el-Hammam foi um pequeno asteroide semelhante ao que derrubou 80 milhões de árvores em Tunguska, na Rússia, em 1908. Teria sido uma versão muito menor da rocha gigante com quilômetros de largura que levou os dinossauros à extinção há 65 milhões de anos.

Tínhamos um provável culpado. Agora, precisávamos de uma prova do que aconteceu naquele dia em Tall el-Hammam (continua).

Leia o texto completo.

 

A giant space rock demolished an ancient Middle Eastern city and everyone in it – possibly inspiring the Biblical story of Sodom – Christopher R. Moore | The Conversation – September 20, 2021

As the inhabitants of an ancient Middle Eastern city now called Tall el-Hammam went about their daily business one day about 3,600 years ago, they had no idea an unseen icy space rock was speeding toward them at about 38,000 mph (61,000 kph).

Flashing through the atmosphere, the rock exploded in a massive fireball about 2.5 miles (4 kilometers) above the ground. The blast was around 1,000 times more powerful than the Hiroshima atomic bomb. The shocked city dwellers who stared at it were blinded instantly. Air temperatures rapidly rose above 3,600 degrees Fahrenheit (2,000 degrees Celsius). Clothing and wood immediately burst into flames. Swords, spears, mudbricks and pottery began to melt. Almost immediately, the entire city was on fire.

Some seconds later, a massive shockwave smashed into the city. Moving at about 740 mph (1,200 kph), it was more powerful than the worst tornado ever recorded. The deadly winds ripped through the city, demolishing every building. They sheared off the top 40 feet (12 m) of the 4-story palace and blew the jumbled debris into the next valley. None of the 8,000 people or any animals within the city survived – their bodies were torn apart and their bones blasted into small fragments.

About a minute later, 14 miles (22 km) to the west of Tall el-Hammam, winds from the blast hit the biblical city of Jericho. Jericho’s walls came tumbling down and the city burned to the ground.

It all sounds like the climax of an edge-of-your-seat Hollywood disaster movie. How do we know that all of this actually happened near the Dead Sea in Jordan millennia ago?

Getting answers required nearly 15 years of painstaking excavations by hundreds of people. It also involved detailed analyses of excavated material by more than two dozen scientists in 10 states in the U.S., as well as Canada and the Czech Republic. When our group finally published the evidence recently in the journal Scientific Reports, the 21 co-authors included archaeologists, geologists, geochemists, geomorphologists, mineralogists, paleobotanists, sedimentologists, cosmic-impact experts and medical doctors.

Here’s how we built up this picture of devastation in the past.

Firestorm throughout the city

Years ago, when archaeologists looked out over excavations of the ruined city, they could see a dark, roughly 5-foot-thick (1.5 m) jumbled layer of charcoal, ash, melted mudbricks and melted pottery. It was obvious that an intense firestorm had destroyed this city long ago. This dark band came to be called the destruction layer.

No one was exactly sure what had happened, but that layer wasn’t caused by a volcano, earthquake or warfare. None of them are capable of melting metal, mudbricks and pottery.

To figure out what could, our group used the Online Impact Calculator to model scenarios that fit the evidence. Built by impact experts, this calculator allows researchers to estimate the many details of a cosmic impact event, based on known impact events and nuclear detonations.

It appears that the culprit at Tall el-Hammam was a small asteroid similar to the one that knocked down 80 million trees in Tunguska, Russia in 1908. It would have been a much smaller version of the giant miles-wide rock that pushed the dinosaurs into extinction 65 million ago.

We had a likely culprit. Now we needed proof of what happened that day at Tall el-Hammam…

 

Bunch, T.E., LeCompte, M.A., Adedeji, A.V. et al. A Tunguska sized airburst destroyed Tall el-Hammam a Middle Bronze Age city in the Jordan Valley near the Dead Sea. Sci Rep 11, 18632 (2021)

Abstract

We present evidence that in ~ 1650 BCE (~ 3600 years ago), a cosmic airburst destroyed Tall el-Hammam, a Middle-Bronze-Age city in the southern Jordan Valley northeast of the Dead Sea. The proposed airburst was larger than the 1908 explosion over Tunguska, Russia, where a ~ 50-m-wide bolide detonated with ~ 1000× more energy than the Hiroshima atomic bomb. A city-wide ~ 1.5-m-thick carbon-and-ash-rich destruction layer contains peak concentrations of shocked quartz (~ 5–10 GPa); melted pottery and mudbricks; diamond-like carbon; soot; Fe- and Si-rich spherules; CaCO3 spherules from melted plaster; and melted platinum, iridium, nickel, gold, silver, zircon, chromite, and quartz. Heating experiments indicate temperatures exceeded 2000 °C. Amid city-side devastation, the airburst demolished 12+ m of the 4-to-5-story palace complex and the massive 4-m-thick mudbrick rampart, while causing extreme disarticulation and skeletal fragmentation in nearby humans. An airburst-related influx of salt (~ 4 wt.%) produced hypersalinity, inhibited agriculture, and caused a ~ 300–600-year-long abandonment of ~ 120 regional settlements within a > 25-km radius. Tall el-Hammam may be the second oldest city/town destroyed by a cosmic airburst/impact, after Abu Hureyra, Syria, and possibly the earliest site with an oral tradition that was written down (Genesis). Tunguska-scale airbursts can devastate entire cities/regions and thus, pose a severe modern-day hazard.

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