Curso Bíblico Popular com José Luiz Gonzaga do Prado

O Padre José Luiz tem um convite para vocês.

Segunda -feira, dia 01 de novembro de 2021, iniciaremos um Curso Bíblico Popular.

Vamos estudar o Livro do Apocalipse.

Nosso encontro será às 19 horas, pela página, no Facebook, Curso Bíblico Popular.

Esperamos vocês com muita alegria e esperança.

Quem é José Luiz Gonzaga do Prado? Veja aqui, aqui e aqui.

Tempo histórico e tempo geológico

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos

Quando eu era menino pequeno lá na fazenda em que nasci em Minas Gerais e ia com minha família ao então povoado de Alagoas, hoje distrito, município de Patos de Minas, e ouvia essa frase na leitura do evangelho na missa que o Monsenhor celebrava, eu ficava imaginando um tempo muito, mas muito antigo, no começo do mundo.

Representação em formato de relógio mostrando algumas unidades geológicas e alguns eventos da história da Terra

Um tempo tão no começo de tudo que nunca poderia ser alcançado ou compreendido.

Saí pelo mundo, estudei, e a frase “Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos” perdeu o mistério, pois aquele tempo ficou bem mais real, mais histórico, mas próximo.

Como leciono História de Israel há anos, o que parecia muito antigo ficou, mesmo para as dimensões da História, muito recente.

Mas será que todo mundo tem esta oportunidade?

Em tempos de fundamentalismo crescente esta pergunta faz sentido.

Mesmo quando a gente estuda História, às vezes faz bem olhar para a idade do planeta Terra e para a idade da espécie humana que nele habita.

Pois encontrei um site que explica o tempo geológico de maneira clara em texto, gráficos e vídeos.

Explico:

O tempo histórico faz referência ao surgimento das civilizações humanas e sua capacidade de comunicação escrita.

Já o tempo geológico refere-se ao processo de surgimento, formação e transformação do planeta Terra.

Visite

A idade da Terra em medidas que você consegue entender – Por Adriano Liziero – Geografia Visual: 5 de fevereiro de 2018.

Hoje é o aniversário de Carlos Mesters: 90 anos

Carlos Mesters, nosso biblista maior, está comemorando hoje 90 anos de vida. Parabéns, mestre.

Leia mais sobre Carlos Mesters no Observatório Bíblico. Carlos Mesters

Do post mais recente ao mais antigo:

:. Entrevista com Carlos Mesters – 27.05.2020

:. Carlos Mesters: na brisa leve um suave perfume – 24.09.2016

:. Carlos Mesters: Jeremias, um homem apaixonado – 08.04.2016

:. Mesters e Orofino no Congresso Continental de Teologia – 10.10.2012

:. Hoje é o aniversário de Carlos Mesters: 80 anos – 20.10.2011

:. Mês da Bíblia 2011: Êxodo, segundo Mesters e Orofino – 03.09.2011

:. A homenagem de Marcelo Barros a Carlos Mesters – 13.08.2011

:. Carlos Mesters 80 anos – 07.07.2011

:. Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Mesters e Orofino – 31.08.2010

:. O biblista Carlos Mesters está se recuperando – 27.08.2010

:. Entrevista com Carlos Mesters, fundador do CEBI – 13.07.2009

:. Mesters: Uma entrevista com o Apóstolo Paulo – 02.05.2009

:. Carlos Mesters fala sobre o Sínodo – 20.10.2008

:. Homenagem a Carlos Mesters – 24.09.2008

Sobre a leitura popular da Bíblia, leia:

:. Ler a Bíblia no Brasil hoje, artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page, escrito em 1995 e atualizado em 2020

:. Leitura popular da Bíblia no Brasil, post publicado no Observatório Bíblico em 25.10.2007

Sobre Gn 3,1-24

A maçã do paraíso. Sobre Gn 3,1-24 – Por Johan Konings

Resumo

Diante da generalizada identificação do “pecado do paraíso” (e do pecado em geral) com o intercurso sexual (inclusive legítimo), convém uma leitura atenta de Gn 2–3 noEstudos Bíblicos - Dossiê: Gênesis a Apocalipse sem fundamentalismos. v. 35, n. 140, 2018. seu contexto canônico, isto é, em continuidade com a criação de homem e mulher como imagem e semelhança de Deus, conforme Gn 1 (prescindindo da diacronia da gênese literária). Uma leitura narrativa, mesmo sem análise aprofundada, evidencia que se trata do querer ser igual a Deus de um modo que não é o de Gn 1,27. A continuação da história do paraíso nas outras narrativas de Gn 1–11 confirma isso.

Recomendo a leitura deste excelente artigo.

Konings começa assim:

Se perguntássemos ao povo em geral o que foi o pecado de Adão e Eva, creio que boa parte responderia: o sexo. A maçã virou símbolo do desejo, não do desejo puro e angelical de ver a Deus, mas da concupiscência da “carne”. A expressão “fruto proibido” tornou-se sinônimo de intercurso sexual. A maçã mordida é usada como logotipo por motéis e marcas de computadores, para sugerir o desejo por excelência. Do ponto de vista humorístico, isso é até divertido, mas ao refletir um pouco mais sentimos com amargor que o ato mais fundamental e indispensável (pelo menos até pouco tempo atrás) para a subsistência do gênero humano é, sem mais, considerado como transgressão do mandamento de Deus – do mesmo Deus que ordenou: “Crescei e multiplicai-vos”. Sobretudo no momento atual, em que uma considerável parte da sociedade exime qualquer atividade sexual de qualquer culpa e, por outro lado, a própria moral católica reconhece a nobreza do ato sexual quando exercido no quadro da vocação matrimonial, não se pode permitir que continue pairando sobre o sexo um escuso sentimento de culpa, que só produz repressão e hipocrisia – ou seu antípoda, a libertinagem.

Pode-se ilustrar essa situação insana por exemplos da experiência pastoral. Na proximidade da Páscoa há ainda certo número de católicos que se sentem obrigados a fazer uma confissão pessoal – como “desobriga”. Vez por vez o confessor ouve: “Eu não tenho pecado, mas devo confessar para receber a hóstia”. Em tais casos, geralmente, faço uma pergunta sobre a ética social… Um dia perguntei a um “penitente sem pecado”, trajado de terno escuro e gravata, quanto ele pagava à empregada. O homem não respondeu, mas saiu furioso do confessionário.

Não pretendo aqui entrar em detalhes de moral sexual, pois os próprios moralistas estão pagando muitos pecados ao tentarem destrinchar esse assunto. A respeito da maçã, há outras interpretações que não a sexual – mas talvez menos populares. A opinião “sensata” é de que o pecado do paraíso foi a desobediência diante de Deus, e por causa dessa desobediência a humanidade sofre as consequências. A criação, que era tão boa (Gn 1!), torna-se um lugar de dor e sofrimento. A vida, que era para ser eterna, torna-se brevidade: “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos” (Sl 90,10). Tal interpretação é coerente com a doutrina clássica do pecado original, que se baseia no texto de Rm 5,12.19: “Como por um só homem o pecado entrou no mundo e, por meio do pecado, a morte […] Como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”.

Além dessa interpretação clássica, há outras, demais para serem examinadas uma por uma. Aponto apenas as principais. A maçã seria o símbolo do interdito que é necessário para que o ser humano reconheça seus limites e assim se torne sociável, suportável para seus semelhantes e para si mesmo, pois a ilusão da onipotência torna o homem insustentável, insuportável a si mesmo e aos outros. Na linha da antropologia cultural pode-se até dizer que a instituição da proibição ou interdito (o tabu) é a base da humanização. A exegese judaica identifica a árvore da vida no paraíso com a Torá, que dá vida, mas, como veremos, existe um problema pelo fato de se falar em duas árvores (Gn 3,6.22). Voltaremos, depois, a ver a relação entre a árvore da vida e a árvore da proibição.

Uma leitura “emancipacionista” da Bíblia vai mais longe ainda. A narrativa do paraíso significaria que, pela transgressão – comer da maçã –, os olhos do ser humano se abriram. As dificuldades da vida são o preço que ele paga pela emancipação de sua razão. A transgressão seria, assim, antes um bem do que um mal. É uma leitura “prometeica”, que merece ser levada em consideração.

Vamos agora ao texto (continua).

Johan Konings é Doutor em Teologia (Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica), Mestre em Teologia (Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica). Professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), Belo Horizonte.

Fonte: Johan Konings. (2021). A maçã do paraíso. Sobre Gn 3,1-24. Estudos Bíblicos, 35(140), 440–450. Recuperado de https://revista.abib.org.br/EB/article/view/45

História da revista Estudos Bíblicos

Histórico da revista Estudos Bíblicos, de 1984 a 2020 – Por Ludovico Garmus

O artigo apresenta um histórico da revista Estudos Bíblicos, desde seu primeiro número, em 1984, até o número 143, em 2020.Estudos Bíblicos - Dossiê: Cuidar da vida v. 37 n. 143 (2021)

O período histórico analisado corresponde à fase em que a revista foi editada pela Editora Vozes, de Petrópolis, em forma impressa.

Situa-se na nova fase da revista, que passa a ser publicada online, sob a responsabilidade da ABIB.

O artigo começa pelas origens da Revista, a partir de um grupo ecumênico de exegetas, que se reunia nos inícios da década de 1980. Destaca o caráter ecumênico e pastoral que sempre pautou a publicação. Por algumas décadas a revista divulgou a produção literária de biblistas brasileiros e também estrangeiros, radicados no Brasil, sempre com foco na leitura popular da Bíblia.

Leia online ou faça o download gratuito em pdf.

Ludovico Garmus é Professor da Faculdade de Teologia do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, Brasil. Diretor e editor da revista Estudos Bíblicos de 1984 a 2020.

Fonte: Garmus, L. (2021). Histórico da revista Estudos Bíblicos, de 1984 a 2020. Estudos Bíblicos, 37 (143), 5–11. https://doi.org/10.54260/eb.v37i143.2

Biblistas mineiros publicam Estudos Bíblicos 140

Estudos Bíblicos – Dossiê: Gênesis a Apocalipse sem fundamentalismos. v. 35, n. 140, 2018.

Diz Telmo José Amaral de Figueiredo no editorial:Estudos Bíblicos - Dossiê: Gênesis a Apocalipse sem fundamentalismos. v. 35, n. 140, 2018.

Este número de Estudos Bíblicos vem em um momento extremamente oportuno!

A intenção do grupo de biblistas mineiro, como o denominamos carinhosamente, é provocar a reflexão, o debate, a pesquisa séria e profunda por parte de todos que tomam a Palavra de Deus a sério. O mundo todo parece ter sido tomado de assalto por uma onda neoconservadora, fundamentalista, nacionalista e xenófoba. Algo que, até poucos anos atrás, pareceria improvável e fruto de uma imaginação muito fértil!

O fundamentalismo bíblico, muitas vezes, é a base de apoio para fundamentalismos políticos e científicos. A atitude fundamentalista tem a pretensão de ler o texto bíblico literalmente, convencido de que não está interpretando o texto, na ilusão de que esteja recebendo diretamente luz do texto que lhe fala. Para o fundamentalista, ele pratica a verdadeira exegese (interpretação), pois não é arbitrário, uma vez que ele toma “objetivamente” o texto que está diante dele. Em segundo lugar, para ele o texto é sempre acessível, todos podem compreendê-lo e não somente os especialistas. O texto é utilizável, pois é um indicador moral inequivocável. E, finalmente, o texto é pessoal, não há necessidade da intervenção e da mediação de alguma autoridade da Igreja (cf. PINTO, Sebastiano. In nome di Dio. Dai fondamenti al fondamentalismo. Padova: EMP, 2018, p. 7).

O fundamentalista, no fundo, é um simplificador! Ele pensa poder condensar toda a verdade sobre uma realidade em fórmulas simples, fáceis, óbvias e sintéticas. É a tentativa de fazer com que todos vejam o mundo segundo a minha curta visão. Umberto Eco (1932-2016), escritor e filósofo italiano, já nos advertia que “Fundamentalistas dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles que não compartilham suas visões de mundo”. Isso traz implicações concretas, graves e duradouras para as comunidades e pessoas atingidas por essa onda fundamentalista. Por isso, Estudos Bíblicos propõe, com este número, fornecer aos seus leitores os elementos necessários para resistir a essa “onda”, bem como saber bem interpretar as Sagradas Escrituras. Para isso, partiremos de textos bíblicos que, muitas vezes, foram usados e abusados pela leitura fundamentalista, desviando-os de seu autêntico sentido. Eis aquilo que você encontrará nestas páginas que seguem.

Meu artigo Histórias de criação e dilúvio na antiga Mesopotâmia, desde 2018 publicado em meu site, está lá.

A revista Estudos Bíblicos agora é da Abib

A partir de 2021, a Estudos Bíblicos passou a ser publicada pela Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib). A publicação no formato impresso foi suprimida em 2019, tendo um lapso de publicação no ano de 2020, sendo retomada e disponibilizada somente no formato on-line a partir de 2021, com periodicidade semestral.

Todos os números anteriores da revista estão sendo disponibilizados online em formato pdf. Clique em Arquivos, no menu, para acessar todos os números.

A revista é de acesso livre. Totalmente gratuita.

Leia mais sobre a revista neste novo formato, clicando aqui. E veja um vídeo aqui.

Uma história de Edom

CROWELL, B. L. Edom at the Edge of Empire: A Social and Political History. Atlanta: SBL Press, 2021, 510 p. – ISBN ‎ 9781628373066

O antigo Edom é mais conhecido como o vizinho do sudeste de Judá da Idade do Ferro, e aparece na Bíblia Hebraica como irmão de Israel ou como seu inimigo. EdomCROWELL, B. L. Edom at the Edge of Empire: A Social and Political History. Atlanta: SBL Press, 2021 at the Edge of Empire oferece uma abordagem interdisciplinar para a história do sul do Levante que combina evidências bíblicas, epigráficas e arqueológicas para reconstruir a história de um grupo de tribos nômades e trabalhadores em Wadi Faynan no que se refere à política posterior centrada em torno da cidade de Busayra nas montanhas do sul da Jordânia. Este é o primeiro livro a incorporar as evidências importantes das minas de cobre de Wadi Faynan em um relato abrangente da história de Edom, fornecendo um recurso fundamental para estudantes e estudiosos do Antigo Oriente Médio e da Bíblia Hebraica.

Brad Crowell é Professor de Estudos Religiosos na Departamento de Filosofia e Religião da Universidade Drake, em Des Moines, Iowa, USA.

 

Ancient Edom is best known as the southeastern neighbor of Iron Age Judah that appears in the Hebrew Bible either as Israel’s sibling or its reviled enemy. Edom at the Edge of Empire offers an interdisciplinary approach to southern Levantine history that combines biblical, epigraphic, archaeological, and comparative evidence to reconstruct the history of a collection of nomadic tribes and workers in the Wadi Faynan as it relates to the later polity centered around the city of Busayra in the mountains of southern Jordan. This is the first book to incorporate the important evidence from the Wadi Faynan copper mines into a comprehensive account of Edom’s history, providing a key resource for students and scholars of the ancient Near East and the Hebrew Bible.

Brad Crowell is Professor of Religious Studies in the Department of Philosophy and Religion at Drake University.

Questionando as teorias sobre as origens dos evangelhos sinóticos

Uma resenha feita por Brent Nongbri, MF Norwegian School of Theology, Religion, and Society, merece ser lida. É sobre:

WALSH, R. F. The Origins of Early Christian Literature: Contextualizing the New Testament Within Greco-Roman Literary Culture. Cambridge: Cambridge University Press,WALSH, R. F. The Origins of Early Christian Literature: Contextualizing the New Testament Within Greco-Roman Literary Culture. Cambridge: Cambridge Universiy Press, 2021 2021, 325 p. – ISBN ‎ 9781108835305.

e foi publicada pela Bryn Mawr Classical Review, em 11.09.2021.

Sobre o livro, diz o resumo da editora:

As abordagens convencionais dos evangelhos sinóticos argumentam que os autores dos evangelhos atuaram como porta-vozes letrados de suas comunidades religiosas. Quer sejam descritos como documentando “tradições orais” intragrupo ou preservando as perspectivas coletivas dos seguidores de Jesus de Nazaré, esses escritores são tratados como algo semelhante ao poeta romântico falando por sua comunidade – uma estrutura questionável herdada do romantismo alemão do século XIX. Neste livro, Robyn Faith Walsh argumenta que os evangelhos sinóticos foram escritos por produtores culturais de elite trabalhando dentro de um quadro dinâmico de especialistas letrados, incluindo pessoas que podem ou não ter sido cristãs. Comparando os evangelhos com a literatura antiga, seu estudo inovador demonstra que os evangelhos são obras criativas produzidas por elites cultas interessadas em ensinamentos, práticas e assuntos da Judeia após a Guerra Judaica e em diálogo com a literatura de sua época. O estudo de Walsh, portanto, preenche a divisão artificial entre a pesquisa sobre os evangelhos sinóticos e os clássicos.

 

Por sua vez, na resenha, diz Brent Nongbri:

Apesar do título amplo, este livro trata principalmente dos chamados evangelhos sinóticos – os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Walsh procura recontextualizar essas obras deixando de lado o modelo interpretativo comum (“míope” e “idiossincrático”) que as vê principalmente como produtos das primeiras comunidades cristãs e como fontes potenciais de informação sobre essas comunidades. Em vez disso, Walsh tenta “entender os evangelhos como literatura antiga ‘normal’ produzida por membros cultos da elite da sociedade greco-romana” (13). O projeto é pensado como “uma abordagem a esses escritos e à história que coloca em primeiro plano dados concretos sem apelar para suposições herdadas” (15).

(…)

O livro é interessante na medida em que questiona vários pressupostos profundamente arraigados e conhecidos objetivos tradicionais da pesquisa exegética sobre os evangelhos, quando, por exemplo, diz a autora: pare de pesquisar as primeiras tradições orais sobre Jesus; desista da ideia de “comunidades” associadas aos evangelhos; considere a possibilidade dos evangelhos terem sido escritos por e/ou para não-cristãos. No entanto, essa enorme quantidade de questionamentos também confere ao livro uma qualidade desigual. Todas esses pressupostos podem precisar ser derrubados, mas fazê-lo simultaneamente deixa pouco espaço para uma argumentação detalhada.

(…)

Mesmo que eu não esteja convencido sobre alguns dos argumentos de Walsh sobre autoria e cultura do livro na antiguidade romana, esses capítulos são uma leitura estimulante. O livro é altamente provocante e deve suscitar debates acalorados entre os estudiosos do Novo Testamento.

Robyn Faith Walsh é professora da Universidade de Miami.

Até aqui o livro e a resenha. Quero observar que vejo este tipo de empreendimento – o do livro, claro – com muita suspeita. Vejo uma possível tentativa, talvez mais inconsciente do que planejada, de, mais uma vez, cooptar a mensagem evangélica de Jesus de Nazaré. Como? Deslegitimando-a como expressão de comunidades formadas por pessoas oprimidas e marginalizadas que anseiam por libertação e transferindo-a para os círculos da elite do poder central do Império Romano que, na verdade, se diverte, e muito, observando o sofrimento dos outros como apenas mais um espetáculo macabro. Vigilância hermenêutica nunca é demais.

 

The Book:

Robyn Faith WalshConventional approaches to the Synoptic gospels argue that the gospel authors acted as literate spokespersons for their religious communities. Whether described as documenting intra-group ‘oral traditions’ or preserving the collective perspectives of their fellow Christ-followers, these writers are treated as something akin to the Romantic poet speaking for their Volk – a questionable framework inherited from nineteenth-century German Romanticism. In this book, Robyn Faith Walsh argues that the Synoptic gospels were written by elite cultural producers working within a dynamic cadre of literate specialists, including persons who may or may not have been professed Christians. Comparing a range of ancient literature, her ground-breaking study demonstrates that the gospels are creative works produced by educated elites interested in Judean teachings, practices, and paradoxographical subjects in the aftermath of the Jewish War and in dialogue with the literature of their age. Walsh’s study thus bridges the artificial divide between research on the Synoptic gospels and Classics.

The Review:

Despite its broad title, this book is primarily about the so-called synoptic gospels—the gospels according to Matthew, Mark, and Luke. Walsh seeks to recontextualize these works by setting aside the common (“myopic” and “idiosyncratic”) interpretive model that views them chiefly as products of early Christian communities and as potential sources of information about such communities. Walsh attempts instead to “understand the gospels as ‘normal’ ancient literature produced by educated, elite members of Greco-Roman society” (13). The project is framed as “an approach to these writings and history that foregrounds concrete data without appealing to inherited assumptions” (15).

(…)

The book has a refreshing edge in that it challenges so many deeply held assumptions and traditional goals of scholarship on the gospels (stop the search for early oral traditions about Jesus; give up the idea of “communities” associated with the gospels; entertain the possibility that the gospels were written by and/or for non-Christians). Yet, that breadth of interest also gives the book an uneven quality. All of these gauntlets may need to be thrown down, but doing so simultaneously leaves little space for detailed argumentation.

(…)

Even if I am unpersuaded by some of Walsh’s arguments about authorship and book culture in Roman antiquity, these chapters make for stimulating reading. The book is highly provocative and should elicit spirited debate among New Testament scholars.

 

Robyn Faith Walsh is an Associate Professor at the University of Miami (UM).

Bíblia Hebraica e racismo

BURRELL, K. Slavery, the Hebrew Bible and the Development of Racial Theories in the Nineteenth Century. Religions 12 (9): 742, 2021.

Este artigo pertence ao número especial de Religions sobre A Bíblia Hebraica, Raça e Racismo. Disponível para leitura online ou download em pdf.Religions, Volume 12, Número 9 - Setembro de 2021

Resumo

Ideias raciais que se desenvolveram no Ocidente moderno foram forjadas com referência a uma cosmovisão cristã e informadas pela Bíblia, particularmente o Antigo Testamento. Até a reformulação científica de Darwin do debate sobre as origens, os cientistas raciais europeus e americanos eram fundamentalmente cristãos em sua orientação. Este artigo descreve como as interpretações da Bíblia Hebraica dentro desta Weltanschauung cristã facilitaram o desenvolvimento e a articulação de teorias raciais que floresceram no discurso intelectual ocidental até e durante o século XIX. O livro do Gênesis foi uma sementeira particular para a política de identidade, já que as histórias das origens da Bíblia Hebraica foram colocadas a serviço da articulação de uma hierarquia racial que justificou tanto o lugar dos europeus no pináculo da criação divina quanto a difamação, bestialização e escravidão dos africanos como o pior da humanidade. O fato de o ethos racial do período ditar tanto as questões colocadas pelos exegetas quanto as conclusões que eles derivaram do texto demonstra que a interpretação bíblica dentro desse clima nunca foi uma busca inocente, mas sim refletiu os valores e crenças correntes no contexto social do exegeta.

 

Abstract

Racial ideas which developed in the modern west were forged with reference to a Christian worldview and informed by the Bible, particularly the Old Testament. Up until Darwin’s scientific reframing of the origins debate, European and American race scientists were fundamentally Christian in their orientation. This paper outlines how interpretations of the Hebrew Bible within this Christian Weltanschauung facilitated the development and articulation of racial theories which burgeoned in western intellectual discourse up to and during the 19th century. The book of Genesis was a particular seedbed for identity politics as the origin stories of the Hebrew Bible were plundered in service of articulating a racial hierarchy which justified both the place of Europeans at the pinnacle of divine creation and the denigration, bestialization, and enslavement of Africans as the worst of human filiation. That the racial ethos of the period dictated both the questions exegetes posed and the conclusions they derived from the text demonstrates that biblical interpretation within this climate was never an innocuous pursuit, but rather reflected the values and beliefs current in the social context of the exegete.

This article belongs to the Special Issue The Hebrew Bible, Race, and Racism.