Quem dividiu a Bíblia em capítulos e versículos?

Uma resposta rápida:
. a divisão em capítulos foi feita por Stephen Langton, em Paris, em 1204-1205. Em 1226 a divisão foi usada em um texto da Vulgata.
. a divisão em versículos foi feita por Robert Estienne (citado, em latim, como Robert Stephanus) a partir de 1551, em Paris e Genebra.

Outras propostas de divisão da Bíblia em capítulos e versículos foram feitas, mas estas duas acabaram prevalecendo.Stephen Langton (c. 1150 – 9 de julho de 1228)

E são as que utilizamos hoje.

Uma síntese honesta do tema, em português, pode ser encontrada aqui.

Mas esta é uma resposta rápida.

Então pergunto: Como sabemos disso? Há documentos que comprovam estas afirmações?

Há sim.

Robert Estienne (Paris, 1503 – Genebra, 7 de setembro de 1559)Para uma ótima abordagem do tema, com referências primárias e secundárias, recomendo conferir, em inglês:

Stephen Langton and the modern chapter divisions of the bible – By Roger Pearse: June 21, 2013

É, obviamente, um pouco complicado, pois estamos lidando com manuscritos e textos impressos antigos.

Agora, para quem sabe alemão, uma boa referência do século XIX, também usada por Roger Pearse, disponível no Google books, é:

SCHMID, O. Über verschieden Einteilungen der heiligen Schrift, insbesondere über die Capitel-Einteilung Stephan Langtone im XIII Jahrhunderte [Sobre as divisões da Sagrada Escritura especialmente a divisão em capítulos de Stephen Langton no século 13], Graz, 1892, p. 56-106.

A partir da página 106 Otto Schmid trata da divisão em versículos feita por Robert Estienne.

Ele aborda também as propostas de predecessores de Robert Estienne, como:

. o rabino Isaac Nathan, em sua Concordância da Bíblia Hebraica, publicada em Veneza em 1523 [confira também aqui e aqui];

. e São Pagnino, de Lucca, Itália, em sua tradução da Bíblia, publicada em 1527: Veteris ac Novi Testamenti nova translatio per Rev. S. Theol. Doct. Sanct. Pagninum Lucensem nuper edita; impressa est Lugduni per Antonium de Ry chalcographum Anno D. 1527.

Uma história da cidade de Babilônia

DALLEY, S. The City of Babylon: A History, c. 2000 BC – AD 116. Cambridge: Cambridge University Press, 2021, 396 p. – ISBN 978-1316501771.DALLEY, S. The City of Babylon: A History, c. 2000 BC – AD 116. Cambridge: Cambridge University Press, 2021

A história de dois mil anos de Babilônia mostra sua evolução de uma cidade-estado para o centro de um grande império do mundo antigo. Permaneceu uma cidade real sob os impérios da Assíria, Nabucodonosor, Dario, Alexandre Magno, os selêucidas e os partos. As muralhas da cidade foram declaradas como uma maravilha do mundo, enquanto seu zigurate ganhou fama como a torre de Babel. Os visitantes de Berlim podem admirar, no museu, sua Porta de Ishtar, e a suposta localização dos jardins suspensos é explicada. A adoração de seu deus principal, Marduk, se difundiu amplamente, enquanto seus escribas bem treinados transmitiram obras jurídicas, administrativas e literárias por todo o mundo antigo, algumas das quais são uma referência fundamental para o Antigo Testamento. Sua ciência também lançou as bases para a astronomia grega e árabe por meio de um milênio de observações astronômicas contínuas. Esta narrativa acessível e atualizada é feita por uma reconhecida especialista em Babilônia.

 

Stephanie M. DalleyThe 2000-year story of Babylon sees it moving from a city-state to the centre of a great empire of the ancient world. It remained a centre of kingship under the empires of Assyria, Nebuchadnezzar, Darius, Alexander the Great, the Seleucids and the Parthians. Its city walls were declared to be a Wonder of the World while its ziggurat won fame as the Tower of Babel. Visitors to Berlin can admire its Ishtar Gate, and the supposed location of its elusive Hanging Garden is explained. Worship of its patron god Marduk spread widely while its well-trained scholars communicated legal, administrative and literary works throughout the ancient world, some of which provide a backdrop to Old Testament and Hittite texts. Its science also laid the foundations for Greek and Arab astronomy through a millennium of continuous astronomical observations. This accessible and up-to-date account is by one of the world’s leading authorities.

Stephanie M. Dalley is a Retired Research Fellow in Assyriology, Faculty of Oriental Studies at Oxford. From 1979 to 2007, she taught Akkadian and Sumerian at the Oriental Institute, Oxford University, UK.

Morreu o filósofo Roberto Romano

Morre aos 75 anos, de covid, o filósofo Roberto Romano

Ele estava internado desde 11 de junho em São Paulo, em tratamento de problemas decorrentes da doença que já matou mais de 547 mil no paísRoberto Romano: Jaguapitã, 13 de abril de 1946 — São Paulo, 22 de julho de 2021

O filósofo Roberto Romano morreu em São Paulo nesta quinta-feira (22), aos 75 anos. Ele estava internado desde 11 de junho no Instituto do Coração (Incor), em tratamento de problemas decorrentes da Covid-19. Era professor aposentado de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Romano é autor de Igreja contra Estado. Crítica ao populismo católico (São Paulo – Ed. Kairós, 1979), Conservadorismo romântico (São Paulo – Ed. Unesp, 1997), entre outros livros. Doutor em filosofia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais) de Paris, nasceu em Jaguapitã (PR).

Quando o país chegou a 300 mil mortos pela covid-19, em março, o filósofo comentou sobre Bolsonaro, afirmando, sobre a eleição presidencial de 2018, que “na máquina enlouquecida colocamos um indivíduo sem o mínimo senso de responsabilidade, a mais leve noção do necessário dever, desprovido de saberes básicos em matéria científica, humanística”.

Em entrevista à RBA, em 2019, disse que “a situação dos poderes no Brasil é completamente anômala em relação a qualquer outro Estado que conhecemos”. Falando sobre a Operação Lava Jato, Judiciário e instituições, comentou: “Há uma promiscuidade enorme de setores judiciários, do Legislativo e do Executivo, em que a troca, o ‘é dando que se recebe’, funciona”.

Por ocasião da eleição do Papa Francisco, em março de 2013, Roberto Romano afirmou que tinha boas expectativas sobre o então novo pontífice, por ser jesuíta. “Muitos (dos jesuítas) são médicos, físicos, matemáticos, teólogos, filósofos. Dedicam-se a um diálogo com o mundo científico, tecnológico e político”, disse, em entrevista a Unisinos. Romano foi, durante 12 anos, frade dominicano,quando o Brasil vivia sob a ditadura militar.

Fonte: Rede Brasil Atual – 22/07/2021 – 21h12

 

Em nota, o reitor da Unicamp, Antônio José de Almeida Meirelles, o Tom Zé, lamentou a perda e ressaltou que o docente era um defensor do ensino público, da ética, das políticas de inclusão nas universidades e da justiça social no país:

“Nossa universidade lamenta profundamente o falecimento do Prof. Roberto Romano. Após enfrentar complicações em decorrência da Covid-19, ele se soma às tantas vítimas da pandemia em nosso país, decorrentes da pouca atenção que parte de nossas autoridades deram a esta tragédia que acomete o mundo. Roberto Romano, um intelectual de primeira grandeza, sempre se caracterizou pela defesa do ensino público e das nossas instituições de fomento à ciência e tecnologia. Representou uma voz muito forte a favor da ética em nossas instituições e no desenvolvimento das relações humanas, uma ética baseada na busca da igualdade e da solidariedade. Posicionou-se com firmeza pelas políticas de inclusão em nossas universidades e pela justiça social em nosso país. Temos muito orgulho de tê-lo tido como membro de nossa comunidade universitária. Expressamos nossas condolências a seus familiares, amigos e colegas e nossa grande tristeza por esta perda”, diz o texto do reitor.

Utilizei o livro dele, Brasil: Igreja contra Estado: crítica ao populismo católico. São Paulo: Kairós, 1979, em alguns textos meus. Confira aqui e aqui.

Roberto Romano foi preso e torturado durante a ditadura militar. Confira: Perfil – Roberto Romano, uma vida atravessada pela história – IHU On-Line: Edição 435 | 16 Dezembro 2013. Mais aqui.

Leia Mais:
O autoritarismo de Bolsonaro e a falta de autoridade do Congresso e do STF para coibir abusos comandados pelo presidente. Entrevista especial com Roberto Romano – IHU 23 julho 2021
Fratelli Tutti e a inacreditável lucidez de Francisco. Entrevista especial com Roberto Romano – IHU 23 julho 2021

Mês da Bíblia 2021: lendo a carta aos Gálatas

O tema do Mês da Bíblia 2021 é a Carta aos Gálatas e o lema: “pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). Indico alguns subsídios para a leitura da carta aos Gálatas.

CENTRO BÍBLICO VERBO, O Evangelho de Jesus Cristo Crucificado: É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1) – Entendendo a carta aos Gálatas. São Paulo: Paulus, 2021, 144 p. – ISBN 9786555622447.CENTRO BÍBLICO VERBO, O Evangelho de Jesus Cristo Crucificado: É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5,1) - Entendendo a carta aos Gálatas. São Paulo: Paulus, 2021

Além do evangelho do imperador romano, Paulo enfrenta “outro evangelho” (Gl 1,7), baseado na observância da lei da pureza, que justifica a segregação nas comunidades gálatas. Ele prega o “verdadeiro evangelho” (Gl 2,5), fundamentado na justiça que vem da fé no amor e na graça de Jesus Cristo crucificado (Gl 5,1-12), construindo a união das pessoas sem as barreiras étnica, social e de gênero (Gl 3,28).

 

MESTERS, C.; OROFINO, F. Carta de São Paulo aos Gálatas: “Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). São Leopoldo: CEBI, 2021, 47 p. – ISBN 9786586739138.

MESTERS, C.; OROFINO, F. Carta de São Paulo aos Gálatas: “Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). São Leopoldo: CEBI, 2021Paulo dirige sua carta para as Igrejas da Galácia. A carta foi escrita durante a terceira viagem de trabalhos da Equipe Missionária. Nesta carta Paulo revela uma profunda indignação com o que ele ouvia dizer a respeito dos conflitos dentro das comunidades da Galácia, bem como das fofocas que faziam a respeito do seu trabalho e da sua vida pessoal. Lendo a carta aos gálatas, percebemos algumas dificuldades com a linguagem usada por Paulo. É que a carta aos gálatas não é uma carta pastoral, tratando de problemas internos de uma comunidade. Ao escrever aos gálatas, Paulo começa a organizar e a sistematizar seu pensamento teológico. Ao escrever orientações para as comunidades a partir dos conflitos surgidos com as diferentes propostas de evangelização, Paulo vai se revelar como o primeiro teólogo do Cristianismo nascente.

 

SAB, Mês da Bíblia 2021: Carta aos Gálatas – Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). São Paulo: Paulinas, 2021, 80 p. – ISBN 9786558080404.

Neste ano, o tema do “Mês da Bíblia” é a Carta de Paulo aos Gálatas e o lema é “Todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), extraídoSAB, Mês da Bíblia 2021: Carta aos Gálatas - Todos vós sois um só em Cristo Jesus" (Gl 3,28d). São Paulo: Paulinas, 2021 do “hino batismal”, descrito em Gl 3,26-28, quando Paulo afirma que todos são filhos e filhas de Deus. Portanto, pelo Batismo, as divisões foram superadas e, dessa forma, “não há mais judeu ou grego, nem escravo ou livre, nem macho ou fêmea”, pois somos um em Cristo Jesus. Acreditamos que o aprofundamento da Carta aos Gálatas será uma linda forma de celebrar os 50 anos da realização do “Mês da Bíblia”.

 

SILVANO, Z. A. Carta aos Gálatas: até que Cristo se forme em nós (Gl 4,19). São Paulo, Paulinas, 2021, 248 p. – ISBN 9786558080510.

SILVANO, Z. A. Carta aos Gálatas: até que Cristo se forme em nós (Gl 4,19). São Paulo, Paulinas, 2021Ao mergulharmos no estudo da Carta aos Gálatas nos deparamos com a convicção paulina de que a fé consiste em se deixar envolver pela grandeza do amor de Deus revelado no Messias Jesus e que exige de nós uma adesão consciente, que é expressa no Batismo, pelo qual fazemos a experiência de participarmos do mistério pascal e sermos unidas/os a Cristo. Pelo batismo, recebemos também o Espírito Santo (Gl 4,6-7), que faz morada em nosso coração e constantemente pronuncia dentro de nós a oração do Filho Encarnado: “Abba, ó Pai”. É Ele que nos conscientiza de que somos filhas/os no Filho, pertencemos à família de Deus, e nos convoca a assumirmos nossa missão de proclamar o Evangelho. Que ao aprofundarmos os ensinamentos de Paulo, possamos ter a ousadia de anunciar o amor de Deus revelado no Messias Jesus, humanizar nossas relações, “até que Cristo seja formado em nós”.

Leia Mais:
Vem aí o mês da Bíblia, em 2021, com a Carta aos Gálatas – Por Gilvander Moreira – IHU: 07 Julho 2021
Live de lançamento do livro: “Carta aos Gálatas: até que Cristo se forme em nós” (Gl 4,19) – 22 junho de 2021
Enquetes Bíblicas: Qual carta de Paulo é a sua preferida?

Tarefas para futuras pesquisas sobre História de Israel

Gostaria de sugerir algumas tarefas para futuras pesquisas históricas sobre o antigo Israel.

a) A história tradicional dos eventos continuará a ser importante no futuro. Não é dispensável de forma alguma. Precisamos de um quadro cronológico estável para KALIMI, I. (ed.) Writing and Rewriting History in Ancient Israel and Near Eastern Cultures. Wiesbaden: Harrassowitz, 2020conectar outros fatos com esse quadro. Também precisamos dele para trabalhos arqueológicos. A datação arqueológica absoluta na Idade do Ferro está sempre ligada a uma história de eventos. Até agora, não temos métodos de datação exatos para os períodos anteriores à cunhagem de moedas. A datação por carbono 14 e outros métodos não são realmente exatos. Eles têm uma variação de 50 anos para mais ou para menos. A diferença de cinquenta anos pode fazer com que um item específico seja datado na época salomônica ou na época omrida.

b) A história dos eventos não pode ser limitada apenas à região de Israel e Judá. Eventos históricos no Egito, Ásia Menor, Mesopotâmia, Grécia, Síria, Arábia e Transjordânia sempre influenciaram o desenvolvimento de Israel e Judá. O Levante sul não era uma ilha, sempre esteve muito ligado aos países vizinhos. Isso é até confirmado pela própria Bíblia. As elites intelectuais em Judá e Israel observavam com muita atenção a situação nos países vizinhos, como podem demonstrar os oráculos contra as nações nos livros dos profetas.

c) A história de Israel e Judá não pode ser isolada da história da religião e do desenvolvimento das ideias teológicas. Datar textos bíblicos torna-se cada vez mais problemático, e os estudiosos até evitam datar um texto. No entanto, a história sempre interage com os desenvolvimentos das concepções teológicas e da história da religião. Um passo importante na pesquisa histórica futura será ligar esses dois campos e entender mais claramente por que as elites intelectuais influenciadas por ideias teológicas ou ideológicas reagiram de uma maneira específica, e como as concepções religiosas e teológicas são influenciadas pelas mudanças históricas.

d) Condições naturais quase permanentes, chamadas por Fernand Braudel e outros de longue durée, são muito importantes para reconstruir a história. As condições da agricultura, recursos naturais, rotas comerciais e outros ajudam a compreender melhor os desenvolvimentos históricos. Os resultados arqueológicos podem ser combinados com uma longue durée. A título de exemplo, as instalações produtoras de óleo de oliva encontradas apenas no período calcolítico na área de Golã demonstram um interesse econômico específico durante este período. O mesmo é verdade para a Sefelá durante a Idade do Ferro, com muitas instalações de prensagem de óleo, especialmente em Tel Miqne.

e) As ciências naturais precisam estar mais no foco da pesquisa histórica. Notas baseadas na história do clima, como análise de pólen, dendroclimatologia ou pesquisa sobre estalactites, raramente são mencionadas em livros que tratam da História de Israel. Em relatórios de escavações, artigos sobre arqueobotânica, arqueozoologia e análise de metais são, entretanto, comuns. No entanto, ainda carecemos de estudos significativos combinando essas abordagens científicas para entender os hábitos alimentares regionais, o impacto da agricultura ou conexões comerciais baseadas na metalurgia, comércio de marfim, comércio de basalto e outros.

f) A arqueologia não apenas apresenta a história dos sítios, mas a arqueologia regional também pode demonstrar os desenvolvimentos históricos mais amplos. Geralmente, temos que considerar cada vez mais os desenvolvimentos regionais dentro de um país ou estado. Algumas regiões podem florescer durante um período específico por causa de seus centros econômicos e novos métodos de produção, enquanto outras ficarão para trás.

g) Além disso, ainda existem tópicos específicos quase esquecidos pelos arqueólogos como relevantes para a reconstrução da história. Ainda necessitamos de mais estudos tratando de equipamento e organização militar, desenvolvimentos arquitetônicos, infraestrutura comercial, artesanato e outros.

h) A história 2.0 deve ser, em minha opinião, o resultado de uma combinação de todos os campos importantes para reconstruir a história: exegese bíblica, linguística, filologia, epigrafia, teologia, arqueologia, história da religião, arquitetura, instituições sociais, comércio, economia, jurisdição, culto e diferentes campos das ciências naturais. Apenas uma equipe de pesquisadores trabalhando em conjunto e discutindo seus resultados será capaz de fazer tal programa de pesquisa. A verdadeira crise da pesquisa histórica sobre o antigo Israel é, a meu ver, uma crise produzida pela concentração principalmente na Bíblia como fonte. Se adicionarmos mais disciplinas para compreender melhor o desenvolvimento histórico, obteremos mais testemunhas para provar ou refutar uma teoria – assim como é exigido em Dt 19,15 que, no âmbito jurídico, diz: Uma única testemunha não é suficiente contra alguém, em qualquer caso de iniquidade ou de pecado que haja cometido. A causa será estabelecida pelo depoimento pessoal de duas ou três testemunhas.

 

Fonte: ZWICKEL, W. Perspectives on the Future of Biblical Historiography. In: KALIMI, I. (ed.) Writing and Rewriting History in Ancient Israel and Near Eastern Cultures. Wiesbaden: Harrassowitz, 2020, p. 43-44.

Sobre o autor, confira aqui.

 

VII. Summary: History 2.0

To sum up, I would like to suggest some goals for future historical work:

Wolfgang Zwickel - Johannes Gutenberg-University Mainz, Alemanhaa) The traditional history of events will continue to be important in the future. It is not dispensable at all. We need a stable chronological frame in order to connect other facts with this frame. We also need it for archaeological work. Absolute archaeological dating in the Iron Age is always linked to a history of events. Until now we do not have exact dating methods for the periods before minting coins. C14 and other methods are not really exact in our sense. They have a range of 50 years or so. Fifty-year difference can make a specific item be dated either to the Solomonic or to the Omride period!

b) History of events cannot be limited to the area of Israel and Judah alone. Historical events in Egypt, Asia Minor, Mesopotamia, Greece, Syria, Saudi-Arabia and Transjordan always influenced the development in Israel and Judah. The southern Levant was not an isolated insula but was always well connected with the neighboring countries. This is even confirmed by the Bible itself. Elites in Judah and Israel observed very carefully the situation in all other countries as the judgements on neighboring countries in the books of prophets may demonstrate.

c) History of Israel and Judah cannot be isolated from history of religion and the development of theological ideas. Dating biblical texts becomes more and more problematic, and scholars even avoid dating a text. Nevertheless, history always interacts with developments in theological conceptions and history of religion. An important step in future historical research will be to link these two fields and to understand more clearly why elites influenced by theological or ideological ideas reacted in a specific way, and how religious and theological conceptions are influenced by historical changes.

d) Nearly permanent natural conditions, called by Fernand Braudel and others as longue durée, are very important for reconstructing history. Conditions for agriculture, natural resources, trade routes and others help to understand historical developments much better. Archaeological results can be combined with a longue durée. As an example oil producing installations only found in the Chalcolithic period in the Golan area demonstrate a specific economical interest during this period. The same is true for the Shephelah during the Iron Age with plenty of oil pressing installations especially in Tel Miqne.

e) Natural sciences need to be more in the focus of historical reseach. Notes based on climate history like pollen analysis, dendroclimatology or research on stalactites are seldom referred to in books dealing with the History of Israel. In excavations reports, papers about archaeobotany, archaeozoology and metal analysis are meanwhile typical. However, we still lack significant studies combining these scientific approaches to understand regional food habits, impact of agriculture or trade connections based on metallurgy, ivory trade, basalt trade and others.

f) Archaeology not only presents history of sites, but landscape and regional archaeology can also demonstrate the historical developments of regions. Generally, we have to consider more and more the regional developments within a country or a state. Some regions may flourish during a specific period because of their economic centers and new methods of production, while others will drop behind.

g) Additionally, there are still specific topics being nearly forgotten by archaeologists as relevant topics for reconstructing history. We still require some studies dealing with military equipment and organization, architectural developments, trade infrastructure, handcraft and others.

h) History 2.0 must be in my opinion result in a combination of all fields being important for reconstructing history: Biblical exegesis, linguistic, philology, epigraphy, theology, archaeology, history of religion, architecture, social institutions, trade, economy, jurisdiction, cult and different fields of natural sciences. Only a group of researchers working closely together and discussing their results will be able to do such a research program. The actual crisis of historical research is, in my eyes, a crisis produced by the concentration on mostly the Bible as a source. If we add more disciplines to understand historical development better, we will get more witnesses to prove or disprove a theory – just as it is demanded in Deut 19:15.

Um debate sobre os rumos da Igreja

Rumo a uma Igreja sem padres? Um só povo de Deus, muitos ministérios. Um debate – IHU: 06 Julho 2021

No Ocidente, está caindo o número de presbíteros, mas não está diminuindo o clericalismo. Enquanto nas paróquias tudo continua girando em torno da figura do padre, o Paola Lazzarini OrrùPapa Francisco se concentra nos ministérios instituídos reconhecendo o papel dos catequistas e abrindo às mulheres o leitorado e o acolitado. Estamos indo rumo a uma Igreja em que o único povo sacerdotal exercerá diversos ministérios, ordenados e instituídos? Será um tema do próximo Sínodo?

Falamos sobre isso neste debate em que reunimos em torno de uma mesa virtual algumas vozes autorizadas de protagonistas e especialistas:

:. Dom Erio Castellucci, 60 anos, arcebispo de Modena-Nonantola, bispo de Carpi e novo vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI).

:. Paola Lazzarini Orrù, 45, presidente do movimento Donne per la Chiesa [Mulheres pela Igreja] e autora do livro “Non tacciano le donne in assemblea. Agire da protagoniste nella Chiesa” [Não calem as mulheres na assembleia. Agir como protagonistas na Igreja, em tradução livre] (Ed. Effatà, 2021).

:. Marco Marzano, 58 anos, professor de Sociologia da Universidade de Bérgamo, especialista em processos organizacionais e estudioso dos aspectos sociológicos do catolicismo, autor do livro “La casta dei casti. I preti, il sesso e l’amore” [A casta dos castos. Os padres, o sexo e o amor, em tradução livre] (Ed. Bompiani, 2021).

:. O Pe. Dario Vitali, 65 anos, diretor do Departamento de Teologia Dogmática da Pontifícia Universidade Gregoriana e estudioso de eclesiologia e ministérios, autor do livro “Diaconi: che fare?” [Diáconos: o que fazer?, em tradução livre] (Ed. San Paolo 2019).

A reportagem é de Giovanni Ferrò e Paola Rappellino, publicada por Jesus, de julho de 2021.

Algumas frases:

Dario VitaliDevemos ter a coragem – até mesmo correndo o risco de sermos impopulares – de reestruturar os bens que podem verdadeiramente estar a serviço do Evangelho e das pessoas, especialmente dos mais desfavorecidos, mas não devemos perder tempo e energias demais tentando conservar aquilo que, pelo contrário, não serve mais (Erio Castellucci).

Imagino uma Igreja que finalmente supere o modelo feudal, que não tenha mais na paróquia o único eixo em torno do qual se constrói toda a sua presença. Mas diria mais: uma Igreja que deve manter em mente o fato de que a presença física e territorial não é a única com a qual é preciso lidar. No lockdown, todos experimentamos uma vida comunitária e formas de ritos que foram vividos fora das paróquias, que nos colocaram em comunicação e criaram comunidades sem ter o seu eixo no pertencimento territorial. É claro que os sacramentos são os nossos “pés no chão”, que nos fazem ficar fisicamente no território. Mas existe toda uma outra dimensão da partilha, da oração, do apoio recíproco que é cada vez mais – e provavelmente em parte sempre foi – extraterritorial e também vive fora das paróquias (Paola Lazzarini Orrù).

Em síntese extrema, como estudioso, eu vejo assim: uma grande estrutura como a Igreja Católica, a mais importante, impressionante, extraordinária organização da história humana, com 2.000 anos de história, com um enraizamento enorme, não muda pelas mãos dos teólogos. A Igreja é uma estrutura de poder – do modo como nos foi transmitida até hoje – baseada em três pilares: o poder dos homens sobre as mulheres; o do clero sobre os leigos; e o de Roma sobre o resto do mundo. Essas três características são o núcleo duro que se cristalizou ao longo do tempo. A cristalização é a consequência de uma inércia estrutural que diz respeito a todas as organizações e certamente não apenas à Igreja Católica. A inércia se manifesta também na permanência de uma atitude conservadora enraizada na classe dirigente, mas também no povo. Além disso, deve-se levar em conta que a mudança seria muito custosa, a ponto de produzir um cenário altamente incerto. Em outras palavras, se sairmos do velho modelo, para onde iremos? Quem deveria promover uma mudança, portanto, deveria ser uma classe dirigente eclesiástica que decidisse que as reformas devem ser feitas de forma absoluta, a todo o custo. Mas também seriam necessárias pressões populares reformadoras, que não me parecem existir ou que, no mínimo, não são suficientes hoje (Marco Marzano).

Será decisivo abordar as questões referentes à sinodalidade. Parece-me que esse é o único caminho verdadeiro, que está realizando uma recepção do Vaticano II,Marco Marzano inserindo um debate de verdade que pode levar a uma reavaliação das posições. Deve ser posto em prática aquele processo sinodal desenhado pela constituição apostólica Episcopalis communio (2018) de Francisco, que infelizmente passou em silêncio. Fazendo o Sínodo passar de evento a processo, o papa indica três fases de um processo que realiza a participação de todos na Igreja: a consulta ao povo de Deus, o discernimento sobre as realidades que surgiram do povo de Deus e a implementação daquilo que foi decidido com base em uma escuta e em um diálogo contínuo. Portanto, acho que é possível começar a fazer perguntas de grande importância como o direito de palavra, o direito de decisão com base na corresponsabilidade, dar importância ao consenso – aquilo que na Igreja antiga era conhecido como conspiratio – para se chegar a um pensamento compartilhado e a uma prática compartilhada (…) O próximo Sínodo dos Bispos poderá ser uma grande, grandíssima oportunidade nesse sentido. Também por causa do protagonismo do Povo de Deus. Aqui tomo a liberdade de dizer que seria bom insistir no Povo de Deus, e não nos leigos, como ouço em muitos lados. Por quê? Na relação padres-leigos, jogada inevitavelmente no registro do poder, o risco é de que os leigos acabem sempre em uma posição subordinada. Prefiro insistir no Povo de Deus, em relação ao qual o ministro é sempre aquele que serve. Na minha opinião, é uma questão de grande importância, que permite introduzir o tema do sacerdócio comum como fundamento dos carismas, ministérios, vocações, uma realidade multiplicada na ordem do Espírito que pode fazer uma Igreja verdadeira e totalmente ministerial (Dario Vitali).

Verso una Chiesa senza preti?

Dom Erio CastellucciIn Occidente cala il numero dei presbiteri ma non diminuisce il clericalismo. Mentre nelle parrocchie tutto continua a ruotare attorno alla figura del prete, papa Francesco punta sui ministeri istituiti riconoscendo il ruolo dei catechisti e aprendo alle donne il lettorato e l’accolitato. Si va verso una Chiesa in cui l’unico popolo sacerdotale eserciterà diversi ministeri, ordinati e istituiti? Sarà un argomento del prossimo Sinodo? Ne dibattiamo in queste pagine con quattro pastori e studiosi: monsignor Erio Castellucci, vescovo di Modena e vicepresidente della Cei; don Dario Vitali, docente della Gregoriana; Paola Lazzarini Orrù, presidente di Donne per la Chiesa e Marco Marzano, professore di Sociologia all’Università di Bergamo.