O livro de Oseias na pesquisa do século XX

KELLE, B. E. Hosea 4–14 in Twentieth-Century Scholarship. Currents in Biblical Research, 8.3, p. 314-375, 2010. Disponível online.

Brad E. Kelle escreveu dois artigos importantes sobre a pesquisa de Oseias no século XX e primeira década do século XXI. Do primeiro, de 2009, sobre O casamento de Oseias na pesquisa do século XX, resumi alguns pontos aqui, aqui, aqui e aqui. Do segundo, sobre Oseias 4-14, de 2010, começo a falar agora. Ele diz na introdução do artigo, nas p. 315-316:

The study of the book of Hosea in the twentieth century and the opening decade of the twenty-first century has been a curious mixture of breadth and myopia, tradition and innovation. On the one hand, scholarship has ranged broadly across interpretive issues relevant to all aspects of the book as a whole, and many of these issues represent the traditional questions that have long been germane to the critical study of all the Hebrew Bible’s prophetic literature. On the other hand, Hosea scholarship in recent decades has witnessed the emergence of innovative approaches to various aspects of the book, including in particular the study of metaphor and its relationship to rhetoric, gender construction, and socio-economic ideologies and structures. Both the traditional and these innovative approaches, however, have operated with an overwhelmingly myopic focus on the marriage metaphor in Hosea 1–3, often to the exclusion of serious engagement with other parts of the book.

The contradictory tendencies toward breadth and myopia have shaped the modern study of Hosea 4–14 in particular (for major surveys of the history of interpretation of Hosea as a whole, see Craghan 1971; Clements 1975; Williams 1975; Seow 1992; Davies 1993; Heintz and Millot 1999; Neef 1999; Sherwood 2004; Kelle 2005). Interpreters have often overlooked the pressing issues found in chs. 4–14 in favor of those raised by the stories and sayings ostensibly related to Hosea’s personal life. For some scholars, chs. 1–3 have served to establish the primary interpretive framework through which all subsequent portions of the book were understood.

Since the final decades of the twentieth century, works within Hosea scholarship evidence an increasing move away from both of the tendencies to underemphasize the interpretive issues in chs. 4–14, and to drive a wedge between the content and dynamics of chs. 1–3 and 4–14. This move has led to fresh considerations of the materials in Hosea 4–14, with, for example, new attention being placed on the text’s metaphors on their own terms, and to the possible shared compositional settings and ideological functions for the book as a whole.

This article sketches the major contours and trends of the modern interpretation of Hosea 4–14, with particular attention being given to scholarship in the second half of the twentieth century (for a similar survey of Hosea 1–3, see Kelle 2009). Unlike the scholarly discussion of other major prophetic collections, such as the book of Isaiah, or even of the marriage imagery in Hosea 1–3, the study of chs. 4–14 does not exhibit a clear movement in which newer methodological perspectives have steadily replaced older, traditional approaches. Rather, nearly all of the long-standing scholarly pursuits concerning chs. 4–14 remain alive in the current critical conversation. Yet, scholars now ask the traditional questions from new angles and bring them into conversation with some previously unexplored lines of inquiry, both of which have largely been generated by interdisciplinary influences, especially those derived from social-scientific analysis and metaphor theory. Form criticism, for example, perhaps constitutes the classic approach to Hosea 4–14, and this perspective continues to occupy a prominent place in examinations of these chapters. But the scholarly literature now places Wolff’s seminal form-critical analysis (1974) alongside Ben Zvi’s reformulation of Hosea’s genre, setting, and function in the provenance of scribal circles in post-exilic Yehud (2005). These reconsiderations of traditional pursuits take shape alongside previously unexplored lines of inquiry, such as synchronic, literary, and theological readings, Book of the Twelve studies, and metaphor theory, which are finding an increasingly prominent place in Hosea scholarship.

 Currents in Biblical ResearchO estudo do livro de Oseias no século XX e na primeira década do século XXI foi uma mistura curiosa de abertura e miopia, tradição e inovação. Por um lado, a pesquisa abrange amplamente questões interpretativas relevantes para todos os aspectos do livro como um todo, e muitas dessas questões representam os problemas tradicionais que há muito tempo são pertinentes para o estudo crítico de toda a literatura profética da Bíblia Hebraica. Por outro lado, a pesquisa de Oseias nas últimas décadas testemunhou o surgimento de abordagens inovadoras para vários aspectos do livro, incluindo, em particular, o estudo da metáfora e sua relação com a retórica, a construção de gênero e as estruturas e ideologias socioeconômicas. As abordagens tradicional e inovadora, no entanto, operaram com um foco predominantemente míope quando trataram da metáfora do casamento em Oseias 1–3, levando muitas vezes à falta de envolvimento sério com outras partes do livro.

As tendências contraditórias em relação à abertura e à miopia moldaram, especialmente, o estudo moderno de Oseias 4–14. Os intérpretes negligenciaram frequentemente os problemas mais importantes encontrados no capítulos 4–14 em favor dos que foram levantados pelas narrativas relacionadas à vida pessoal de Oseias. Para alguns estudiosos, os capítulos 1-3 serviram para estabelecer a estrutura interpretativa primária através da qual todas as partes subsequentes do livro foram compreendidas.

Entretanto, desde as últimas décadas do século XX, a pesquisa de Oseias mostra um distanciamento cada vez maior destas tendências que subestimam as questões interpretativas nos capítulos 4–14 e que criam uma divisão entre o conteúdo e a dinâmica dos capítulos 1–3 e 4–14. Esse movimento levou a novas considerações sobre os materiais em Oseias 4–14, por exemplo, com nova atenção sendo dada às metáforas do texto em seus próprios termos e aos possíveis cenários de composição compartilhada e funções ideológicas para o livro como um todo.

Este artigo traça os principais contornos e tendências da interpretação moderna de Oseias 4–14, com especial atenção para os estudos da segunda metade do século XX. Ao contrário da discussão acadêmica de outras grandes coleções proféticas, como o livro de Isaías, ou mesmo das imagens do casamento em Oseias 1–3, o estudo dos capítulos 4–14 não apresenta um movimento claro no qual novas perspectivas metodológicas substituíram nitidamente as abordagens tradicionais mais antigas. Em vez disso, quase todas as antigas pesquisas acadêmicas sobre os capítulos 4–14 permanecem vivas na atual abordagem crítica. No entanto, os estudiosos agora fazem as perguntas tradicionais a partir de novos ângulos e as colocam em diálogo com algumas linhas de pesquisa anteriormente inexploradas, ambas amplamente geradas por influências interdisciplinares, especialmente aquelas derivadas da análise sociocientífica e da teoria da metáfora. A crítica formal, por exemplo, talvez constitua a abordagem clássica de Oseias 4–14, e essa perspectiva continua a ocupar um lugar de destaque nos exames desses capítulos. Mas a literatura erudita agora coloca a análise crítica da forma seminal de Wolff (1974), juntamente com a reformulação de Ben Zvi do gênero, cenário e função de Oseias na origem dos círculos de escribas no Yehud pós-exílico (2005). Essas reconsiderações das atividades tradicionais tomam forma ao lado de linhas de pesquisa anteriormente inexploradas, como leituras sincrônicas, literárias e teológicas, os estudos do Livro dos Doze e a teoria da metáfora, que estão encontrando um lugar cada vez mais destacado na pesquisa de Oseias.

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